Carla acordou atrasada para
levar seu filho à escola. Desesperada, trocou-se rapidamente, ajeitou o filho e
saíram. No caminho, acabou acelerando demais e passou da velocidade permitida.
Ela se desesperou quando escutou as sirenes de um carro de polícia e a ordem
para que parasse o carro.
Muito nervosa, Carla mostrou os
documentos ao policial e foi informada que estava acima da velocidade máxima
permitida e, portanto, seria multada pela infração grave. Carla começou a
tentar se justificar ao policial. Disse que sempre era muito cuidadosa ao
volante, respeitando todas as regras de trânsito. Apenas naquele dia acabou se
descuidando e passando da velocidade máxima para que seu filho não chegasse atrasado
à escola. Ela começou a pedir desculpas ao policial e implorou para que não
fosse multada por aquele pequeno deslize. Com lágrimas nos olhos, prometeu que
seria mais prudente das próximas vezes.
O policial, ao ver o estado da
mulher, acabou tendo dó. Devolveu os documentos e disse que daquela vez ela
estava perdoada e poderia ir embora sem nenhuma multa, mas que tomasse mais
cuidado das próximas vezes. Porém, Carla ficou olhando para o policial,
balançando negativamente a cabeça. Ela perguntou:
- Não entendi, Sr. policial. Como
assim, estou perdoada? O senhor não vai me dar uma multa? Nem mesmo uma
advertência?
- Não, minha senhora, você está
liberada - repetiu calmamente o policial - tenha uma boa viagem.
- Sr. policial, você não entendeu
- disse Carla, um pouco exaltada - Você precisa me dar uma multa! Eu errei,
passei da velocidade máxima permitida! Você não pode me mandar embora sem
nenhum tipo de consequência!
O policial não entendeu o que
estava acontecendo. Será que aquela mulher era louca? Carla então explicou:
-
Sr. policial, você está vendo meu filho sentado no banco de trás? Ele
assistiu toda esta cena. Ele viu que, apesar de estar errada, eu dei uma
desculpa, chorei e fui perdoada. Sabe o que isto significa? Que ele vai aprender
que na vida ele pode fazer o que quiser. Ele pensará que poderá cometer falhas
sem nenhum tipo de consequência, pois basta depois ele pedir desculpas e tudo
estará bem. Não é isto que eu quero para ele! Eu quero que ele aprenda que,
quando cometemos uma falha, precisamos pagar por ela. Ele precisa estar ciente
que não podemos fazer o que queremos. Por isso, Sr. policial, eu te peço. Pela
educação do meu filho, por favor, me dê uma multa.
É com esse tipo de atitude que podemos educar nossos filhos para que sejam pessoas mais responsáveis. Pequenos detalhes na educação dos nossos filhos podem fazer uma enorme diferença no futuro.
Nesta semana iniciamos o segundo livro da Torá, Shemot (Êxodo), que começa descrevendo o processo de escravização do povo hebreu e os duros sofrimentos que os egípcios nos impuseram por mais de 200 anos. O Sefer Shemot (Livro do Êxodo) também descreve a salvação milagrosa de Elohim, como as pragas que devastaram o Egito e a abertura do Mar. Além disso, neste Sefer também está contida a construção do Mishkan, o Templo Móvel que acompanhava o povo durante as viagens no deserto. O Mishkan também é parte da redenção do povo hebreu da escravidão egípcia, pois não foi apenas uma escravidão física, mas também uma escravidão espiritual.
A Parashá desta semana, Shemót
(literalmente "Nomes"), descreve o nascimento de Moshé (Moisés),
aquele que seria o escolhido de Elohim para salvar o povo hebreu da terrível
escravidão egípcia. Segundo a tradição rabínica, o nascimento de Moshé envolveu um acontecimento incrível.
Os magos do Faraó haviam previsto o nascimento do bebê que estava predestinado
a ser o libertador do povo hebreu. Em uma tentativa de impedir a concretização
dos planos de Elohim, o Faraó ordenou que todos os bebês fossem atirados no rio
Nilo. Yocheved (Joquebede), a mãe de Moshé, em uma tentativa desesperada de
salvar a vida de seu filho, colocou o pequeno bebê dentro de uma cestinha e
deixou que o rio Nilo o levasse, na esperança de que uma alma caridosa
encontrasse aquele frágil bebê e cuidasse dele. Bitya, a filha do Faraó, ao
sair para banhar-se, encontrou a cestinha e, apesar de saber que era um bebê
hebreu, ela teve misericórdia e o resgatou do rio. Bitya trouxe Moshé para o
palácio e criou-o como um príncipe. Ironia das ironias, Moshé foi alimentado e
educado na casa do mesmo Faraó que havia feito de tudo para matá-lo.
Porém, este acontecimento
desperta um enorme questionamento. Se Moshé já estava predestinado a ser o
libertador do povo hebreu, era óbvio que Elohim o salvaria de alguma maneira.
Moshé poderia ter sido encontrado por qualquer pessoa, não precisava ter sido
justamente Bitya, a filha do Faraó. Ou, melhor ainda, Elohim poderia ter
salvado Moshé na tranquilidade de sua casa, sem que ele precisasse ter sido
colocado em uma cestinha no rio Nilo. Por que Elohim fez com que Moshé fosse
justamente encontrado por Bitya e criado no palácio do Faraó?
A resposta está nas sábias palavras de Shlomo HaMelech (O Rei Salomão):
Muitos são os pensamentos no coração do homem, mas é a vontade de Elohim que sempre se cumpre. (Mishlei/Provérbios 19:21).
O Faraó tentou impedir um decreto de Elohim ao
planejar matar todos os bebês, mas acabou criando o libertador do povo judeu
dentro de sua própria casa. Elohim quis demonstrar que Ele tem controle total
sobre tudo o que acontece e que ninguém pode impedi-lo, através de nenhum tipo
de esforço, de cumprir sua vontade.
Porém, o Rav Avraham ben Meir
zt"l (Espanha, 1092 - 1167), mais conhecido como Ibn Ezra, traz uma
resposta ainda mais profunda e interessante. Moshé estava destinado a ser o
maior líder da história do povo de Israel e teria pela frente uma missão
extremamente difícil. Ele precisaria de coragem, sabedoria e atitude para se
tornar uma pessoa com capacidade de liderança. Se Moshé tivesse sido educado
como um escravo e, como consequência, pensasse e agisse como tal, teria sido
muito mais difícil para ele se tornar o líder de três milhões de pessoas e
assumir a difícil missão de tirar um povo inteiro do Egito. Portanto, a Providência
Divina fez com que Moshé fosse levado para o palácio do Faraó para que ele
fosse criado em um ambiente de realeza e poder, ao invés de ter sido criado em
um ambiente de escravidão e submissão.
Esta "majestade" com a
qual Moshé foi educado foi justamente o que permitiu que ele tivesse a coragem
de se levantar contra as injustiças. Por exemplo, enquanto vários hebreus
presenciaram um hebreu sendo covardemente espancado por um egípcio e não
fizeram nada, apesar de sua superioridade numérica, Moshé se levantou e matou o
egípcio. Por que os outros hebreus não fizeram nada para deter aquele terrível
ato de covardia? Pois eles tinham "cabeça de escravo", estavam sempre
sendo pisados e rebaixados e, por isso, não tinham a força e a atitude para protestar
contra as injustiças e punir os transgressores. Já Moshé, criado na casa do
rei, com a moral de um príncipe, possuía a confiança necessária para intervir
em situações nas quais pessoas com uma menor autoestima certamente evitariam.
Este traço de caráter de Moshé
também pôde ser percebido quando ele salvou as filhas de Yitró (Jetro). Ao
chegar em Midian, Moshé presenciou quando elas, ao se aproximarem do poço para
dar água aos seus rebanhos, foram importunadas e hostilizadas de forma covarde
por pastores locais. Sem pensar duas vezes, Moshé se levantou corajosamente
para protegê-las. Como pode um completo estranho, que havia acabado de chegar, ter a audácia de se intrometer nos assuntos dos outros?
Somente alguém que cresceu em um ambiente de liderança e autoridade teria a
coragem e a confiança necessárias para fazer justiça quando ela se faz
necessária.
Estas características de
liderança são mais absorvidas no palácio de um rei do que na casa de escravos.
Isto quer dizer que Moshé ter sido criado no palácio do Faraó providenciou o
treinamento de liderança necessário para que ele se tornasse o libertador que
futuramente tiraria o povo judeu do Egito.
Explica o Rav Yerucham Leibovitz zt"l (Bielorússia, 1873 - 1936) que aprendemos aqui o poder da educação. Dois gêmeos idênticos serão indivíduos completamente diferentes se forem expostos a educações distintas durante a infância.
Quando incentivamos uma
criança e deixamos que ela tenha a coragem de tentar, mesmo que às vezes
erre, e que saiba as consequências de seus atos, estamos preparando-a para se
tornar um vencedor. Porém, quando apenas a criticamos e a
limitamos, sem deixar que ela faça escolhas e assuma riscos, estamos
preparando-a para ser um perdedora, que não acredita no seu potencial.
Não é surpreendente a relação de causa e efeito entre a forma como alguém é criado e no que ele se transforma? Atualmente, ao olharmos para o mundo, perceberemos que vivemos em uma sociedade desequilibrada. Muitas pessoas com baixa autoestima, depressivas e sem a coragem de ousar. Isto ocorre pois, infelizmente, muitas crianças não têm uma estrutura familiar adequada. Muitos pais estão tão focados no trabalho, nos seus hobbies e em suas diversões que acabam não dando o suporte psicológico necessário aos filhos.
Se a criança é educada com amor e confiança, desenvolve
um senso de autoestima e tem grandes chances de demonstrar capacidade de
liderança. Porém, uma criança com talento que não é estimulada acaba não se
desenvolvendo. Assim entendemos o famoso ditado americano "A mão que
balança o berço é a mão que governa o mundo". Grandes líderes são criados
em casas nas quais as crianças são incentivadas. Grandes personalidades
receberam estímulo e coragem em casa. Comece agora a criar os grandes líderes
do futuro.
R' Efraim Birbojm
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