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YESHUA E O PESSACH - RESPONDENDO A PERGUNTAS CONTROVERSAS

 


Introdução

 

Há cinco perguntas que há muito tempo intrigam aqueles que creem no Mashiach, e que são perguntas normalmente propostas por antimissionários, com o objetivo de tentar desacreditar a obra de Yeshua. Este pequeno estudo visa demonstrar, de uma forma definitiva, que muito longe de desaprovar a obra do Mashiach, essas perguntas vêm apenas confirmar a nossa fé nEle. São elas:

 

1) Por que Marcos 14:12 diz que se sacrificava o Pessach no primeiro dia de Chag HaMatsot, se na verdade a Torá nos diz que o sacrifício do Pessach era feito no dia anterior ao de Chag HaMatsot – a festa de pães ázimos? (Lv. 23:5-7)

 

2) As Boas Novas de Marcos, Lucas e de Yochanan (João) se contradizem sobre quando Ele celebrou o Pessach e morreu?

 

3) Se Yeshua é o sacrifício do Pessach, como poderia Ele ter expiado pecados?

 

4) Se Yeshua morreu após o Pessach, como poderia ser o cordeiro? Se Yeshua morreu antes do Pessach, como poderia tê-lo celebrado?

 

5) Por que teria Yeshua tomado primeiro o pão e depois o cálice, se a tradição judaica diz o oposto?

 

Daremos a estas 5 perguntas uma resposta bastante especial, que demonstra com clareza ímpar o objetivo da obra do Messias.

  

1) Harmonizando Marcos e a Torá

 

A primeira pergunta é a mais fácil de ser respondida, visto que se trata apenas de um erro de tradução do grego.  De fato, a Torá nos diz que o Pessach ocorre no dia anterior a Chag HaMatsot (festa dos pães ázimos):

 

“No mês primeiro, aos catorze do mês, pela tarde, é o Pessach de YHWH. E aos quinze dias deste mês é a festa dos pães ázimos de YHWH; sete dias comereis pães ázimos. No primeiro dia tereis santa convocação; nenhum trabalho servil fareis.” (Vayicrá/Levítico 23:5-7)

 

Como é de conhecimento comum, o Pessach era sacrificado ao 14º. dia, na véspera da festa de pães ázimos, e era comido em um jantar após o pôr-do-sol, já no 15º dia.

 

A Almeida, a partir do texto grego, assim traduz Marcos 14:12:

 

“E, no primeiro dia dos pães ázimos, quando sacrificavam a páscoa, disseram-lhe os discípulos: Onde queres que vamos fazer os preparativos para comer a páscoa?” (JFA Atualizada)

 

Na palavra destacada em vermelho há um equívoco de tradução, o qual demonstraremos a seguir. O equívoco ocorre não por má vontade do tradutor para o grego, mas por conta de uma ambiguidade no aramaico, que só quem possuía uma ampla compreensão da Torá teria percebido.

 

A palavra no aramaico a que se refere é o termo “kadmaia”. Tanto a concordância The Way International quanto o dicionário siríaco Payne Smith definem a palavra como podendo significar “primeiro” ou ainda “anterior”.

 

Evidentemente, pela Torá, que a tradução correta é “anterior”. Nesse caso, temos:

 

“E, no dia anterior à festa dos pães ázimos, quando sacrificavam o Pessach, disseram-lhe os talmidim: Onde queres que vamos fazer os preparativos para comer o Pessach?”

 

Verifica-se que não há contradição entre Marcos e a Torá. É apenas uma questão de traduzir corretamente o texto.

 

2) Mas e quanto a Lucas?

 

Lucas 22:7 diz:

 

“Chegou, porém, o dia dos ázimos, em que importava sacrificar a páscoa.” (JFA Atualizada)

 

O texto aramaico diz:

 

“wmatiy yoma d’patiyre d’beh iyt hoa yada d’net’nkes pescha”

 

A melhor tradução para “yoma d’patiyre” não é “dia dos ázimos”, e sim “dia da festa dos pães ázimos”, pois embora “patiyre” significa ázimos, é uma menção implícita à festa.

 

Assim sendo, poderíamos ler da seguinte forma:

 

“E chegou o dia da festa de pães ázimos, em que se deveria sacrificar o Pessach.”

 

Ora, que dia era esse? A véspera da festa de pães ázimos! Não há necessariamente aqui uma menção ao primeiro dia. Muitas vezes na própria Torá temos menção à véspera de uma festa como parte de seu relato. Isso pode ser visto, por exemplo, no caso do Yom Kipur:

 

“Mas aos dez dias desse sétimo mês será o dia da expiação... aos nove do mês à tarde, de uma tarde a outra tarde, celebrareis o vosso Shabat.” (Vayicrá/Levítico 23:27,32)

 

Podemos, portanto, ver que não há erro algum em Marcos, e que o texto do relato é absoluta e totalmente fiel à Torá.

  

3) A Cronologia Sinótica de Yochanan: Esclarecendo a Suposta Contradição

 

A questão de Yochanan já é um pouco mais complexa por natureza, mas também não é difícil de ser compreendida com relativa tranquilidade. Como vimos anteriormente, Yeshua no dia em que o cordeiro do Pessach era imolado, pediu para que seus talmidim preparassem o seder (jantar de Pessach):

 

“E, no dia anterior à festa dos pães ázimos, quando sacrificavam o Pessach, disseram-lhe os talmidim: Onde queres que vamos fazer os preparativos para comer o Pessach?”

 

O cordeiro era imolado no 14º dia. Isso significa dizer que Yeshua teria celebrado o Pessach no 15º dia, ao pôr-do-sol, e teria morrido no madeiro no mesmo dia. Isso não tem qualquer relação com a correção que fizemos acerca do aramaico, pois no texto grego também teríamos essa mesma impressão. Se o cordeiro era sacrificado no 14º dia antes do pôr-do-sol, e se o versículo enfatiza que era o dia de sacrifício do Pessach, então de fato Yeshua celebrou o Pessach no 15º dia, à noite. Consequentemente, Yeshua teria morrido no 15º dia. Segundo a Torá, o 15º dia é o Shabat do primeiro dia da festa de pães ázimos.

 

No entanto, Yochanan (João) 19:31 diz:

 

“Os habitantes de Yehudá, pois, para que no Shabat não ficassem os corpos no madeiro, visto como era a preparação (pois era grande o dia de Shabat), rogaram a Pilatos que se lhes quebrassem as pernas, e fossem tirados.”

 

Ora, aqui temos um problema. Pelo relato de Yochanan, esses habitantes de Yehudá exigiram que Yeshua fosse removido do madeiro, pois não queriam que ficassem corpos no madeiro no Shabat! Yochanan dá a impressão de que Yeshua teria morrido no 14º dia!

 

A outra possibilidade seria a de admitir a tese cristã de que Yeshua teria morrido numa véspera de sexta-feira. Nesse caso, o Shabat mencionado por Yochanan seria o Shabat semanal mesmo. Mas aí teríamos o problema óbvio da tão criticada tese cristã tradicional, que já é pouco aceita até no meio acadêmico: Se Yeshua morreu numa sexta-feira, quase ao pôr-do-sol, e ressuscitou no domingo, Ele não teria ficado três dias e três noites, ou seja, um período de 72 horas na terra, como Ele afirmou. Pois, teríamos duas noites apenas (a de sexta e a do sábado) e dois dias (a do sábado e a do domingo.) Ou seja, a tese cristã tradicional é justamente criticada por ser cronologicamente inviável.

 

Mas então, será que Yochanan de fato contradiz o relato das Boas Novas de Marcos e Lucas? Não necessariamente. Existe uma resposta bastante pertinente.

 

Primeiramente, é importante entender quem mandou prendeu Yeshua, e desejava que Ele fosse morto. O próprio texto de Yochanan (João) 18:2-3 nos revela isso:

 

“E Yehudá, que o traía, também conhecia aquele lugar, porque Yeshua muitas vezes se ajuntava ali com os seus discípulos. Tendo, pois, Judas tomado um bando, e tomado oficiais dos cohanim hag’dolim e dos fariseus, veio para ali com lanternas, e archotes e armas.”

 

Ora, aqui vemos que Yehudá tomou oficiais dentre os fariseus e dentre os cohanim. Ora, mas quem era o cohen que estava servindo naquela ocasião? Caifás!

 

Yochanan atribui a seguinte frase a Caifás:

 

“Caifás era quem tinha aconselhado aos judeus que convinha que um homem morresse pelo povo.” (Yochanan/João 18:14)

 

Vejamos o que a Enciclopédia Judaica diz acerca de Caifás:

 

"É relatado que Caifás naquela ocasião disse que convinha que um homem morresse pelo povo (Jo. 18:14), um provérbio também encontrado entre os rabinos (Gen. Rabá 94:9)."

 

Podemos perceber que é muito pouco provável que um saduceu mencionasse algo que é parte da tradição oral. Isso mostra o alinhamento de Caifás com os fariseus. Mais especificamente, os historiadores estimam que Caifás se aliasse à Beit Shamai, conhecida como a facção mais violenta dentre os fariseus.

 

O relato da reunião do Sanhedrin dos p’rushim, com a presença de Caifás, aparece no trecho abaixo:

 

“Depois os principais dos sacerdotes e os fariseus formaram conselho, e diziam: Que faremos? porquanto este homem faz muitos sinais.” (Yochanan/João 11:47)

 

Como podemos ver, Caifás não se alinhava politicamente com os saduceus, inimigos ferrenhos dos fariseus. Nem tampouco se alinhava com a Beit Hillel, a facção dos fariseus que se opunha à manifestação violenta. Caifás, um sumo sacerdote ilegítimo escolhido por Roma, procurava se aproximar dos fariseus da Beit Shamai para obter o apoio necessário para sua liderança.

 

Em Ma’assei haSh’lichim (Atos dos Emissários), constata-se pelo posicionamento de Gam’liel, líder da Beit Hillel em sua época, que a Beit Hillel não se opunha com violência aos seguidores de Yeshua:

 

“Mas, levantando-se no conselho um certo fariseu, chamado Gam’liel, doutor da Torá, venerado por todo o povo, mandou que por um pouco levassem para fora os emissários; E disse-lhes: Homens israelitas, acautelai-vos a respeito do que haveis de fazer a estes homens. Porque antes destes dias levantou-se Teudas, dizendo ser alguém; a este se ajuntou o número de uns quatrocentos homens; o qual foi morto, e todos os que lhe deram ouvidos foram dispersos e reduzidos a nada. Depois deste levantou-se Yehudá, o galileu, nos dias do alistamento, e levou muito povo após si; mas também este pereceu, e todos os que lhe deram ouvidos foram dispersos. E agora digo-vos: Dai de mão a estes homens, e deixai-os, porque, se este conselho ou esta obra é de homens, se desfará, mas, se é de Elohim, não podereis desfazê-la; para que não aconteça serdes também achados combatendo contra Elohim.” (Ma’assei haSh’lichim/Atos 5:34-39)

 

A posição pacífica e tolerante da Beit Hillel não condiz com a postura de armar emboscada contra Yeshua, e certamente não teria sido aprovada por seus líderes. Contudo, a Casa de Shamai é historicamente documentada como violenta, sanguinária e até mesmo assassina.

 

Repare, portanto, que aqueles que foram prender Yeshua, os mesmos que incitaram no povo o desejo de vê-Lo morto, eram fariseus da Beit Shamai, e Caifás, e os sacerdotes ilegítimos que a eles se aliaram. Repare ainda que o relato não menciona os saduceus. Há um motivo para isso.

 

Esse relato é importante para compreender a questão. Havia à época do Segundo Beit HaMikdash (Templo), dois calendários ativos. O próprio Talmud relata a controvérsia de calendários entre os seguidores de Boethus (saduceus) e os fariseus. Os rabinos da atualidade admitem que ambos os calendários eram praticados à época de Yeshua. De um lado, saduceus e essênios praticavam um calendário. De outro, fariseus praticavam o seu próprio calendário.

 

Não pretendemos nos estender por demais nessa questão, que já está relatada e extensivamente discutida no material supracitado. Embora haja hoje controvérsias sobre qual era o calendário original, a existência de ambos os calendários na época do Segundo Beit HaMikdash é fato mais do que atestado e documentado historicamente.

 

Voltemos para Yochanan/João 19:31:

 

“Os habitantes de Yehudá, pois, para que no Shabat não ficassem os corpos no madeiro, visto como era a preparação (pois era grande o dia de Shabat), rogaram a Pilatos que se lhes quebrassem as pernas, e fossem tirados.”

 

Quem era que estava lá desejando rapidamente se desfazer do corpo de Yeshua? Os mesmos que vieram matá-lo! Os fariseus da Beit Shamai, juntamente com os membros da corja de Caifás, aliada política da Beit Shamai.

 

Ora, se eram fariseus, então o calendário utilizado era o calendário fariseu.  O Shabat de Pessach dos fariseus não era o mesmo Shabat de Pessach dos saduceus e dos essênios!

 

Se havia dois calendários à época, a questão fica bem simples. Sabemos, por estudos aqui publicados, que Yeshua ressuscitou no final do Shabat, ao iniciar o primeiro dia (Domingo). Ou seja, Yeshua ressuscitou no nosso sábado à noite.

 

Para que isso tivesse acontecido, Yeshua teria que ter sido sacrificado exatamente na quarta-feira, pouco antes do pôr-do-sol. Isso significa que Yeshua teria que ter celebrado o Pessach na terça-feira à noite.

 

O restante não é difícil de entender: O calendário fariseu, por usar uma forma diferente de contar os dias do mês, costuma ter as festas em época muito semelhante à do calendário essênio/saduceu, porém pode apresentar variação de alguns dias com relação ao mesmo. Naquele ano, o calendário fariseu apresentou variação de um dia com relação ao calendário essênio/saduceu, algo perfeitamente comum e bastante frequente.

 

Abaixo, portanto, temos uma tabela com a cronologia:

Dia da Semana (Bíblico)

Calendário Gregoriano

Dia do Mês (essênio/saduceu)

Dia do Mês (fariseu)

Evento

Terceiro Dia

Terça à tarde

14/01 (sacrifício do Pessach p/ essênios e saduceus)

13/01

Talmidim preparam Pessach

Quarto Dia

Terça à noite

15/01 (Shabat p/ essênios e saduceus)

14/01

Yeshua celebra o Pessach

Quarto Dia

Quarta à tarde

15/01

14/01 (sacrifício do Pessach p/ fariseus)

Yeshua morre. Casa de Shamai e Caifás pedem removação do corpo. Yeshua é posto no túmulo.

Quinto Dia

Quarta à noite até Quinta à tarde

16/01

15/01 (Shabat p/ fariseus)

Talmidim de Yeshua aguardam o término

Sexto Dia

Quinta à noite até Sexta à tarde

17/01

16/01

Mulheres preparam especiarias para o corpo de Yeshua

Shabat

Sexta à noite até Sábado à tarde

18/01

17/01

Shabat. Yeshua ressuscita na porção final

Primeiro Dia

Sábado à noite até domingo à tarde

19/01

18/01

Mulheres vão ao sepulcro levando as especiarias.

 

Com essa cronologia, tudo se encaixa. Além de ser precisa do ponto de vista histórico, ela harmoniza plenamente as Boas Novas de Marcos e Lucas, e Yochanan (João).

 

Apesar de insistirem no erro de celebrar a “páscoa” no dia da festa da deusa babilônia Ishtar, os romanos não podem dizer que não conhecem a verdade, pois até mesmo o papa Bento XVI afirmou recentemente:

 

“Durante sua homília na "missa da Santa Ceia" desta quinta-feira, realizada na basílica romana de São João de Latrão, o Papa Ratzinger declarou que Jesus "celebrou a Páscoa com seus discípulos provavelmente segundo o calendário de Qumran, e por isso, pelo menos um dia antes" da data estabelecida na época.”

Fonte: http://noticias.uol.com.br/ultnot/afp/2007/04/05/ult34u178149.jhtm

               

Como podemos ver, os antimissionários ficam completamente sem argumentos quando estudamos todas as evidências textuais e históricas, o que só reforça a superficialidade de suas afirmações.

 

4) A Expiação do Pecado

 

A cronologia conforme a ressaltamos acima também demonstra algo muito importante. Por décadas, os antimissionários têm afirmado que Yeshua não poderia ter expiado os nossos pecados, visto que em tese não há expiação dos pecados no Pessach.

 

Vemos que não é bem assim. A Torá nos relata em Bamidbar (Números) 28:

 

“E aos quinze dias do mesmo mês haverá festa; sete dias se comerão pães ázimos. No primeiro dia haverá santa convocação; nenhum trabalho servil fareis; Mas oferecereis oferta queimada em holocausto a YHWH, dois novilhos e um carneiro, e sete cordeiros de um ano; eles serão sem defeito. E a sua oferta de alimentos será de flor de farinha misturada com azeite; oferecereis três décimas para um novilho, e duas décimas para um carneiro. Para cada um dos sete cordeiros oferecereis uma décima; E um carneiro para expiação do pecado, para fazer expiação por vós.” (Bamidbar/Números 28:17-22)

 

Repare no que acontece aqui: No 15º dia havia a oferta de um carneiro que era oferecido para fazer expiação do pecado.

 

                Vemos, portanto, que a expiação dos pecados não se restringia ao Yom Kipur, mas era também realizada na época do Pessach! Esse carneiro era morto exatamente quando Yeshua o foi! Assim sendo, podemos dizer que Yeshua morreu para expiar nossos pecados.

 

Yeshua também iniciou em Pessach, no início do ano, a nossa expiação, tendo-a concluído ao apresentar Seu sangue no Kodesh Kodashim (Santo dos Santos) celestial, no Yom Kipur!

 

Mas, alguém poderia nos perguntar: Se Yeshua era o carneiro de sacrifício em expiação pelos pecados, então como poderia ser Ele o cordeiro?

 

A resposta é: Todos os elementos das festas bíblicas apontam para Yeshua. Ruhomayah (Romanos) 11:36 nos diz:

 

“ Porque dEle e por Ele, e para Ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amen.”

 

Desde as primícias em Bikurim, até o sacrifício do Yom Kipur, passando também pelas tendas de Sukot, TUDO aponta para Yeshua.

 

Se analisarmos bem a narrativa, veremos que há dois momentos em que Yeshua entrega a Sua vida. Num primeiro momento, Yeshua entrega a Sua vida em Seu propósito:

 

“Ora, antes do seder de Pessach, sabendo Yeshua que já era chegada a sua hora de passar deste mundo para o Pai, como havia amado os seus, que estavam no mundo, amou-os até o fim.” (Yochanan/João 13:1)

 

Este foi o exato momento em que Yeshua, sabendo o que se aproximava, aceitou sobre si ser o cordeiro do Pessach, amando a nós, seu povo, até o fim. Neste momento, Yeshua voluntariamente abdicou de sua vida, pois até aquele momento ainda havia volta. Yeshua poderia, se possível fosse mudar de ideia, desistir do sofrimento. Mas ali, naquele momento, Ele decidiu ir até o fim. Dessa forma, Yeshua entregou espiritualmente a Sua vida, tornando-se o cordeiro, quando decidiu ir até o fim.

 

Mas por que Ele precisou ser o cordeiro do Pessach, além de ser a expiação? A resposta está na Torá:

 

“Porque YHWH passará para ferir aos egípcios, porém quando vir o sangue na verga da porta, e em ambas as ombreiras, YHWH passará aquela porta, e não deixará o destruidor entrar em vossas casas, para vos ferir.” (Shemot/Êxodo 12:23)

 

Vamos supor por um breve instante que um marido, em um acesso de raiva, agrida sua esposa, desferindo sobre ela um chute que a fira em seu ventre. Vamos supor que essa esposa se torne estéril, devido ao ferimento ter atingido o útero. Suponhamos ainda que, posteriormente, o marido peça perdão a Elohim e à sua esposa, e que ela aceite seu perdão. O homem foi liberto de sua culpa perante Elohim. Contudo, ele ainda terá que conviver com as consequências que o seu pecado trouxe sobre ele.

 

Assim também é conosco. Não bastava que Elohim nos perdoasse. Era preciso reverter a morte espiritual que se abateu sobre nós. Nós nos tornamos escravos do inimigo ao nos alinharmos com ele. Esse alinhamento requeria a morte.

 

No Egito, quando o devorador vinha confiscar as vidas que a ele pertenciam, Elohim passava pela casa dos filhos de Israel e, ao ver o sangue, impedia que o devorador entrasse. Aquele cordeirinho havia pagado com seu próprio sangue pela vida daqueles que nos seus lares estavam. Da mesma forma com Yeshua, o cordeiro de YHWH. Quando o devorador cobra a nossa morte espiritual, pois dele nos tornamos escravos, Elohim aponta para o sangue de Yeshua e repreende o devorador de almas!

 

Graças damos a Elohim Avinu, porque Aquele que se entregou por nós, é suficiente para expiar por todos os nossos pecados, e nos livrar da morte. Veja como é lindo e perfeito o plano de salvação de YHWH!

 

5) O Banquete do Mashiach

 

Outra crítica dos antimissionários é a de que Yeshua teria tomado primeiro o pão e depois o vinho, invertendo a ordem do seder de Pessach tradicional. Evidentemente que na Torá nada está escrito sobre a ordem com a qual se deve tomar o pão e o vinho.

 

Contudo, ao fazer tal coisa, sem querer os antimissionários acabam apontando para uma belíssima mensagem que passa totalmente desapercebida para aqueles que não estão familiarizados com o contexto judaico da fé.

 

De fato, tradicionalmente toma-se o vinho primeiro no seder de Pessach. Mas, por que razão teria Yeshua enfatizado a celebração de forma distinta? Afinal, certamente que Ele, um judeu de cerca de 30 anos, havia celebrado o Pessach por diversas vezes, assim como seus talmidim (discípulos). Certamente que todos conheciam a tradição. A Torá não faz exigência alguma, portanto não podemos dizer que Yeshua pecou ou transgrediu qualquer mandamento ao inverter a ordem. Mas, por que Yeshua não seguiu a tradição neste caso?

 

A resposta pode ser encontrada em um dos manuscritos do mar morto:

 

O procedimento para a reunião dos homens de reputação [quando forem chamados] ao banquete realizado pela sociedade da Yahad, quando [Elohim] revelar o Mashiach dentre eles. [O Cohen], como cabeça de toda a congregação de Israel, entrará primeiro, acompanhado por todos os [seus] irmãos, [os filhos de] Aharon, aqueles cohanim [apontados] para o banquete dos homens de reputação. Eles se sentarão perante [ele] por ordem. Então o Mashiach de Israel entrará e os cabeças dos milhares [de Israel] se sentarão perante ele por ordem... todos os cabeças das tribos da kehilá, juntamente com [seus] sábios... Pois [ele] abençoará a primeira porção do pão e do vinho, [buscando] o pão primeiro. Depois, o Mashiach de Israel [buscará] o pão...” (Frag. 1QSa 11-22)

 

Como já vimos, Yeshua celebrou o Pessach segundo o calendário essênio/saduceu. Já vimos também anteriormente que boa parte de seus talmidim (discípulos) eram de origem essênia.


O fragmento 1QSa aponta para uma profecia atribuída aos sacerdotes da ordem de Tsedek: Um dos sinais do Messias, quando Ele se revelasse, seria inverter a ordem do seder de Pessach. Primeiramente Ele buscaria o pão, para depois buscar o vinho. Certamente que o golpe sofrido após a perda de Yochanan HaMat’vil (João, o Imersor) havia ferido os corações e o ânimo da ordem sacerdotal de Tsedek. Imaginem o aperto em seus corações ao saber que eles também estavam prestes a perder Yeshua. Certamente seria um momento de dúvida e apreensão.

 

Ao fazer esse gesto, portanto, Yeshua estava confortando a ordem de sacerdotal de Tsedek: EU SOU MALKI-TSEDEK (MELQUISEDEQUE), O VOSSO MASHIACH! O banquete messiânico de 1QSa era muito mais do que um Pessach – era a promessa do Pessach no Olam Habá (Mundo Vindouro). A promessa de que os mártires não haviam morrido em vão. A promessa de que Avraham, Yitschak e Ya’akov, patriarcas de Yisra’el, celebrariam conosco no Reino do Mashiach. Esse pequeno detalhe que quase passa desapercebido revela mais uma preciosidade da Palavra de YHWH.

 

Conclusão

 

Como podemos ver, quem segue a verdade não teme questionamentos nem investigar a história. Sabemos em quem temos crido. Sabemos que Ele morreu por nós. Sabemos que porque Ele vive, podemos crer na ressurreição dos mortos.

 

Muito diferente de causar qualquer embaraço em nossa fé, essas perguntas só nos apontam na direção de respostas que confirmam ainda mais, se possível fosse pois já temos toda a confirmação da Palavra, que YESHUA HAMASHIACH, O CORDEIRO DO PESSACH, É REI SOBRE ISRAEL.


 Por Sha’ul Bentsion

Texto adaptado e corrigido por Francisco Adriano Germano

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