A CONSOLIDAÇÃO DA APOSTASIA CRISTÃ
Nesta
segunda parte, abordaremos o período inicial da igreja sem a jurisdição da
tradição judaica que sempre se fez presente desde o primeiro pentecoste, além
de apontar o mitraísmo como principal doador do embrião chamado Igreja Católica Apostólica Romana.
Após a
rebelião de Inácio e seu martírio em Roma, ocorrido entre os anos de 98 a 107,
o cristianismo começou a emergir como religião distinta da seita judaica
original dos nazarenos, quando removeu tudo que era judaico das “igrejas”.
A remoção da
identidade judaica da fé em Yeshua gerou uma fragmentação doutrinária e
cultural nas igrejas. Nesse ponto surgiu a necessidade de se incorporar um novo
sistema de prática religiosa, que substituísse o Judaísmo praticado pelos
discípulos de Yeshua, e mantivesse a coesão do corpo de crentes cristãos. Esse
sistema foi forjado a partir de várias adaptações de diversos rituais pagãos.
Uma das
primeiras comunidades cristãs a adotar práticas religiosas pagãs foi a igreja
de Alexandria, que adotou elementos da adoração egípcia à Ísis, a rainha dos
céus e a seu filho.
Acerca
dela, o historiador Samuel Dill escreve:
“O ritual
diário de Ísis, que aparentemente era tão regular e complicado quanto o da
igreja católica, produziu um imenso efeito na mente romana. Todos os dias,
havia dois serviços solenes, nos quais sacerdotes com tonsuras e vestes
brancas, com acólitos e assistentes dos mais variados níveis oficiavam. A
litania da manhã e o sacrifício era um serviço impressionante. A multidão de
adoradores lotava o lugar perante a capela logo ao amanhecer. O sacerdote,
subindo por uma escada oculta, levantava o véu do santuário e adorava à imagem
santa. Então ele circulava os altares, recitando a litania [ou ladainha -
palavras místicas de línguas estranhas], aspergindo água benta de uma fonte
secreta”. [1]
Outro
ponto a destacar é a teologia de bispos como Marcião de Sincope, que defendiam
a existência de dois deuses distintos: um representado o “velho testamento”,
o deus mau, que seria o deus dos judeus; outro do “novo testamento”, o
deus bom, que seria o deus dos cristãos. Para a sua mentalidade fundamentada no
pensamento gnóstico, o deus de Jesus seria diferente do deus dos judeus, em uma
tentativa de explicar a “aparente contradição entre o novo e o velho
testamento”, termos que, inclusive, foram criados por ele.
Não à toa
que Policarpo, discípulo de João, o chamava de “primogênito de Satanás”.
Sua teologia era tão ofensiva e caótica que foi excomungado da igreja de Roma. Fundou
uma comunidade independente, a qual se expandiu com extrema força, alcançou
multidões e perdurou por muitos séculos.
Logo após
a morte de Marcião, Tertuliano (160 a 220 d.C), um dos pais apostólicos foi o responsável
por lançar as bases do politeísmo por meio do pensamento trinitário. Visto pela
cristandade como um exímio escritor e teólogo, seus ensinos foram absorvidos
pela igreja católica romana e, posteriormente, pela reforma protestante.
Foi o
primeiro a usar a palavra latina “trinitas” (trindade) para desenvolver
o dogma cristão de que o ETERNO são três pessoas diferentes: o Pai, o Filho e o
Espírito Santo. O dogma trinitário sustenta que “o ETERNO é um e que, por um
mistério, ao mesmo tempo são três pessoas”.
“A
teologia de Tertuliano muito se assemelha a Nimrod, Semíramis e Tamuz, que eram
originalmente a trindade da babilônia, e ele [Tertuliano] inseriu as ‘pessoas’
do Pai, do Filho e do Espírito Santo, tornando-os extremamente populares entre
os cristãos gentios pagãos.” [2]
Com
efeito, a crença em três deuses permeou diversas culturas pagãs, nas religiões
da Babilônia, Assíria, Egito, Índia etc., já se pregava uma tríade de deuses.
Muito
antes do advento do Messias, religiosos da Grécia e de Roma adotavam três
principais deuses no panteão. Em síntese, o paganismo que formava o pano de
fundo cultural dos chamados “pais” da igreja, terminou exercendo poderosa
influência na emergente teologia cristã.
Consultando
os escritos do próprio Tertuliano, pai da trindade, nota-se que escreveu sua
obra no século II e que, nesta época, a maioria dos crentes não cria em uma
doutrina trinitária, como admitiu:
“Os
simples, de fato, (não os chamarei de não-sábios nem de indoutos), que
constituem a maioria dos crentes, ficam assombrados com a dispensação (dos três
em um), no sentido de que a sua própria regra de fé os afasta da pluralidade de
deuses para um único e verdadeiro Deus’. [3]
As
tentativas de sincretismo entre o cristianismo e o paganismo existente na
cultura greco-romana aumentam. Entre 220 e 230 d.C., o imperador Alexandre Severo
constrói um santuário para Jesus, junto aos santuários dos deuses pagãos
romanos. Um sincretismo bando com o politeísmo romano começa a tomar forma,
onde o pai é associado a “Júpiter”, chefe do panteão romano
(equivalente a Zeus no panteão grego), e Jesus e o Espírito Santo são tidos
como deuses cristãos.
Outro
sincretismo que também vai ganhando força e seguidores está em associar Jesus à
figura de Mitra, o deus-sol do Mitraísmo, do qual o cristianismo assimilará
muitas de suas práticas. Segundo Justino, o mártir (pai apostólico da igreja
romana), existia uma eucaristia de mitra onde os fiéis compartilhavam pequenos
pães redondos e água consagrada simbolizando, respectivamente, a carne e o
sangue do deus encarnado. Esse ritual, que ocorria sempre aos domingos (dia da
semana consagrado ao sol), possuía uma correspondência com a eucaristia dos
cristãos.
Do
Mitraísmo, a igreja cristã incorporou as seguintes práticas:
- A liturgia do batismo,
- Da Crisma,
- Da Eucaristia,
- Da Páscoa,
- A utilização do incenso,
- Das Velas,
- Dos Sinos etc.
Até as
vestimentas usadas pelo clero católico eram extremamente parecidas com as dos
sacerdotes de Mitra, como a batina, a tiara e a mitra, barretes usados pelos
antigos persas. Também os sacerdotes de Mitra usavam a água benta a qual era
aspergida por meio de um galho de loureiro (aspergilium) que simbolizava a
fecundidade universal. Portanto, o uso da água benta na cristandade é um ritual
de origem fálica e pagã.
Dado a
gigantesca influência do Mitraísmo no Cristianismo, foi uma questão de tempo
para que figuras como a de Gaius Flavius Valerius Aurelius Constantinus (Constantino
I), surgissem com poder e influência para determinar os rumos que o Cristianismo
deveria tomar. Embora a igreja romana não admita, na prática, ele se tornou o
primeiro papa.
Como
legado, Constantino promoveu a fusão do Mitraísmo com o Cristianismo, fazendo
um sincretismo entre o que sobrou da fé original de Jesus, com a adoração ao
deus-sol e demais ritos pagãos. Como resultado desse sincretismo surgiu o
protótipo do que seria a Igreja Católica Apostólica Romana.
“Ele [Constantino] continuou a usar linguagem
monoteísta vaga que qualquer pagão aceitaria. Durante os primeiros anos de sua
supremacia, ele realizou pacientemente todo o cerimonial que dele era requerido
por ser o Pontifex Maximus do tradicional culto [pagão]. Ele restaurou templos
pagãos [posteriormente transformados em igrejas]. Ele usou tanto ritos cristãos
quanto pagãos na dedicação de Constantinopla. Ele usava fórmulas mágicas para
proteger a colheita e curar doenças”. [4]
Em 321 d.C.,
Constantino proclamou o seu famoso édito acerca do dominus dei (dia do
senhor), onde determinava que todos os juízes, cidadãos e ocupações de todos os
negócios descansassem no venerável dia do sol.
“Ele [Constantino], enviou às legiões, para
ser recitado naquele dia [dominus dei] uma forma de oração que poderia ser
empregada por um adorador de mitra, ou de Serapis, ou de Apolo, bem como por
qualquer crente cristão. Esta foi a sanção oficial do velho costume de fazer
uma prece ao sol nascente”. [5]
Para os
cristãos, Constantino transferiu a adoração do sábado definitivamente para o
domingo. Sobre esta transferência, Eusébio, bispo de Cesaréia e consultor
pessoal de Constantino, escreveu:
“Todas as coisas que se faziam no sábado,
estas nós [líderes de Roma] transferimos para o dia do senhor...” [6]
Sob a liderança do imperador Constantino, o Concílio de Nicéia,
ocorrido em 325 d.C. excluiu todos os seguidores judeus de Jesus,
deliberadamente, além de ter levado ao ostracismo grupos que não criam na
doutrina da trindade, que não eram poucos. Sabe-se também, historicamente, que
alguns grupos foram igualmente compelidos a aceitar as crenças romanas, em prol
da unidade, por força política do imperador.
Nesse
concílio foram estabelecidos os seguintes principais pontos doutrinários:
- A Trindade
- A fórmula batismal católica
- A mudança da Páscoa Bíblica para a páscoa católica
Até essa
época, além de comunidades com as mais variadas práticas, havia ainda diversas
comunidades judaicas de seguidores de Jesus, que foram posteriormente
destruídas devido à perseguição romana.
Desde
então e cada vez mais se afastando da Torá e do Judaísmo Bíblico praticado por Jesus
e seus discípulos, a igreja foi estabelecendo pontos doutrinários contrários às
escrituras ao longo dos séculos. Eis os principais:
- 300 D.C. - ORAÇÃO PELOS MORTOS
- 321 D.C. - EUCARISTIA
- 375 D.C. - VENERAÇÃO DE ANJOS E SANTOS MORTOS
- 375 D.C. - USO DE IMAGENS
- 431 D.C. - MARIOLATRIA
- 450 D.C. - NATAL
- 526 D.C. - RITOS DE EXTREMA UNÇÃO
- 600 D.C. - ORAÇÃO AOS SANTOS
- 786 D.C. - ADORAÇÃO A OBJETOS
- 1079 D.C. - CELIBATO
- 1090 D.C. - ROSÁRIO
- 1190 D.C. - INDULGÊNCIAS
- 1229 D.C. - PROIBIÇÃO DA LEITURA DA BÍBLIA POR LEIGOS
- ENTRE MUITAS OUTRAS...
Continua na parte III
Francisco Adriano Germano
Compilação de diversas fontes
Notas
[1] Roman Society from Nero to Marcus Aurelius, páginas 577-578
[2] Aramaic
English New Testament, 4ª Edição, 2011, Página 834
[3] Contra
Práxeas, capítulo 3
[4] Will Durant, historiador, na obra Caesar and Christ,
página 656
[5] Victor Duruy,
historiador, na obra History of Rome., vol. 7, pg. 489.l
[6] Comentário sobre os salmos, em Migne, Patrologia
Graeca, vol. 23, col. 1171.
Completo estudo
ResponderExcluirHalleluYAH