DEIXANDO DOUTRINAS HUMANAS - PARTE I
Emília* (nome fictício) vai ao culto
de uma importante denominação. Ela, que começou a ler a Bíblia recentemente,
resolveu fazer uma visita. Logo ela percebe, pelos olhares que a cercam, que há
algo inadequado na forma como ela se veste. Ela encontra alguém que pacientemente
lhe instrui que ela deveria ter trajado saia, e não calças.
Não muito longe dali Oswaldo* (nome
fictício) está muito feliz. Na semana passada foi o seu batismo, e pela
primeira vez ele poderá participar da santa ceia em sua denominação, que impõe
como condição para participação o batismo. Afinal, para participar da santa
ceia, é preciso discernir o corpo, e somente um batizado se torna parte desse
corpo.
Em outra cidade, Robson* (nome
fictício) entra em contato pela primeira vez com uma denominação que diz
resgatar as raízes judaicas da fé. Ao chegar no local, Robson é informado de
que ele só poderia entrar se colocasse um solidéu, chamado pelos presentes de
kipá. Ao final da reunião, a esposa de Robson recebe uma tabelinha com horários
e é instruída a acender velas em tal horário, como forma de observar o shabat.
Em outra comunidade semelhante, Alfredo*
(nome fictício) aguarda ansiosamente a chegada da festa de Chanuká, uma popular
festa judaica. Alfredo já comprou sua chanukiá – um candelabro de nove braços -
e sabe que deve acender as velas diariamente, para celebrar o milagre do óleo.
Para Alfredo, essa festa é muito importante, pois nessa época Alfredo seguia
enganosamente a festa do natal. Alfredo está feliz por ter se libertado de tal
coisa.
Vamos analisar as quatro histórias e
ver o que elas têm em comum. Comecemos pela história de Emília.
Primeiramente é importante entender
que a Bíblia ensina que deve haver decência de comportamento, o que obviamente
passa por decência ao se vestir:
Que do
mesmo modo as mulheres se ataviem em traje honesto, com pudor e modéstia, não
com tranças, ou com ouro, ou pérolas, ou vestidos preciosos, mas com boas obras,
como convém a mulheres que professam temor a Elohim.” (1 Timóteo 2:9-10)
Não sigais
o costume dos estrangeiros de adornos de cabelo, usar joias extravagantes, ou
roupas exageradas. Mas sigais o costume do homem modesto, que tem espírito
humilde, o qual é como adorno incorruptível e excelente perante Elohim.” (1 Pedro
3:3-4)
Ou seja, o que as Escrituras estão
dizendo passa por duas coisas, as quais, aliás, são de muito bom senso. A
primeira é que a mulher deve se vestir com modéstia, e não com roupas
provocativas ou excessivamente sensuais. A segunda é que uma congregação não é
um desfile de moda. Nem o homem nem a mulher devem se vestir de forma
extravagante, de modo a chamar atenção por suas roupas. Pelo contrário, o que
deve se sobressair é o comportamento de fazer o bem e agir em humildade.
De onde vem então a ideia de que a
mulher supostamente não deva usar calças? Vem da passagem a seguir:
Não haverá
traje de homem na mulher, e nem vestirá o homem roupa de mulher; porque,
qualquer que faz isto, abominação é a YHWH teu Elohim.” (Deuteronômio 22:5)
Nesse ponto, é interessante notar que
nos tempos bíblicos tanto homens quanto mulheres usavam as mesmas peças de
roupas. Um exemplo disso é o ketonet, que é traduzido como vestido ou túnica. O
primeiro momento em que aparece, é quando o próprio ETERNO os faz tanto para Adão
quanto para Eva:
E fez YHWH
Elohim a Adão e à sua mulher túnicas de peles, e os vestiu.” (Gênesis 3:21)
A diferença, nos tempos bíblicos,
estava nos detalhes. Uma túnica de uma mulher seria adornada com cores e
padrões diferentes dos masculinos. Isso se pode dizer para os seus xales, entre
outras coisas. De um jeito ou de outro, a sociedade da época sabia distinguir o
que era de homem e o que era de mulher.
Torá, a Lei dada pelo ETERNO a Moisés,
proíbe o travestismo, ou seja, um homem não deve se vestir de mulher, nem uma
mulher se vestir de homem. A partir daí a denominação de Emília criou um
mandamento próprio: mulheres não devem usar calças. Mesmo que as calças sejam
femininas e claramente vestimentas de mulher.
Existe aí um acréscimo às Escrituras, um mandamento criado por homens e que é imposto sobre a comunidade, a qual Emília deve seguir caso deseje fazer parte dessa denominação. Mandamento esse que não tem qualquer respaldo nas escrituras.
Analisemos agora a história de Oswaldo.
Nos passos anteriores falamos sobre o erro de considerar a “santa ceia”
como a instituição de uma nova prática, desconectada do seu evidente contexto
bíblico, que é a Pessach - a chamada “páscoa bíblica”. Mas não
será essa a nossa abordagem aqui. Vamos, por hora, ignorar essa diferença para
falarmos da questão da exigência do batismo. Será mesmo que para participar da
mesa de Yeshua é preciso ser batizado?
O texto que é usado pela denominação
de Oswaldo para justificar essa exigência é o seguinte:
Porque o
que come e bebe indignamente, come e bebe para sua própria condenação, não
discernindo o corpo do Senhor. (1 Coríntios 11:29)
Leia, porém, o contexto que leva a
essa conclusão de Paulo:
Nisto,
porém, que vou dizer-vos não vos louvo; porquanto vos ajuntais, não para
melhor, senão para pior. Porque antes de tudo ouço que, quando vos ajuntais na
congregação, há entre vós dissensões; e em parte o creio. E até importa que
haja entre vós heresias, para que os que são sinceros se manifestem entre vós.
De sorte que, quando vos ajuntais num lugar, não comeis nem bebeis de forma
adequada ao dia de nosso Senhor. Porque, comendo, cada um toma antecipadamente
a sua própria ceia; e assim um tem fome e outro embriaga-se. Não tendes
porventura casas para comer e para beber? Ou desprezais a congregação de Elohim,
e envergonhais os que nada têm? Que vos direi? Louvar-vos-ei? Nisto não vos
louvo.” (1 Coríntios 11:17-22)
Observe o que estava acontecendo em Corinto.
As pessoas se reuniam para celebrar a Pessach (“Páscoa”) e
brigavam! E além de brigar uns iam para se embriagar! Outros logo enchiam o
prato, e com isso deixavam alguns com fome! Ou seja, não havia em Corinto
naquela ocasião uma atmosfera de comunidade, um senso de coletividade. Não compreendiam
que estavam juntos para celebrar a alegria de pertencerem ao povo que o ETERNO
havia libertado da escravidão, tanto do Egito quanto do pecado.
E o ato de se embriagar ou de se
empanturrar de comida - ao ponto até mesmo de deixar os outros sem nada -
indica que eles estavam mais preocupados com si próprios e com sua satisfação
pessoal do que com estarem em comunhão, compartilhando com seus irmãos.
Esse, portanto, era o discernimento
que faltava a Corinto, e não o conhecimento sobre dogmas denominacionais, muito
menos ainda o batismo!
Essa prática, na realidade, deriva do
catolicismo romano, que vê o batismo e a eucaristia como ritos iniciáticos, e
que devem seguir uma ordem:
"hoje
em todos os ritos, latino e do oriente, a iniciação de adultos começa quando
eles entram no catecumenato e atinge sua culminação numa única celebração dos
três sacramentos de iniciação: batismo, confirmação e eucaristia. Nos ritos do
oriente a iniciação cristã de crianças também começa com batismo seguido
imediatamente da confirmação e da eucaristia, enquanto no rito romano é seguido
de anos de catequese antes de ser concluído posteriormente pela confirmação e
eucaristia, o ápice de sua iniciação cristã." (Catecismo da Igreja Católica
2:1:1233)
Evidentemente, tal ideia de ritos
iniciáticos é contrário às Escrituras, que também não coloca nenhuma condição
para participar da mesa do ETERNO. Pelo contrário, quando estudamos as Escrituras,
vemos que a Pessach, a “Páscoa”, era celebrada inclusive por
crianças - que, nas Escrituras, não aparecem recebendo imersão (outra invenção
romana):
E
acontecerá que, quando vossos filhos vos disserem: que serviço é este? Então
direis: este é o sacrifício do Pessach a YHWH, que passou as casas dos filhos
de Israel no Egito, quando feriu aos egípcios, e livrou as nossas casas. Então
o povo inclinou-se, e adorou.” (Êxodo 12:26-27)
Observe que as crianças que estavam
participando sequer sabiam o que estava acontecendo, e aprenderiam na hora, na
prática! Sem qualquer tipo de “profissão de fé” ou “catequese”,
conforme quer fazer crer a doutrina romana.
Falemos agora da história de Robson.
Quando Robson chega à denominação que busca restaurar suas raízes judaicas, ele
logo é orientado a cobrir sua cabeça com um solidéu - uma kipá. Sem isso, Robson
sequer pode adentrar o local.
Porém, não há nas Escrituras nenhuma
menção ao ato de cobrir a cabeça para adentrar a presença do ETERNO. Esse
costume não acontece nem mesmo no meio judaico até a idade média!
Segundo Shmuel Safrai, professor emérito
de história judaica do período talmúdico e mishnaico, da Hebrew University,
afirma:
"é certo que Yeshua, um judeu residindo na terra de Israel no primeiro século, não usava uma kipá (solidéu). O costume de usar uma kipá surgiu na babilônia entre os séculos terceiro e quinto, entre os residentes não judeus - os residentes judeus da babilônia ainda não haviam adotado esse costume, conforme as pinturas da [sinagoga] dura-europos mostram - e passaram de lá para a comunidade judaica na Europa. Apesar dos sacerdotes usarem um migba'at (uma cobertura de cabeça tipo um turbante - ex. 28:4, 40; lv. 8:13), outros judeus do período do segundo templo não usavam uma cobertura de cabeça. Isto é confirmado tanto pela literatura quanto por restos arqueológicos do período. Por exemplo, as gravuras no arco de Tito em Roma, que representam a procissão da vitória em Roma logo em seguida à conquista de Jerusalém em 70 dc., mostram os judeus cativos de cabeças descobertas. Semelhantemente, as pinturas da sinagoga de meados do terceiro século escavados em dura-europos representam todos os homens judeus com as cabeças descobertas, exceto por Aarão o sacerdote." (did jesus wear a kippah?)
A partir do séc. XIII, o costume de
cobrir a cabeça durante o culto tornou-se cada vez mais obrigatório, conforme
as perseguições da igreja aumentavam. Por conta disso, a aversão judaica a tudo
o que era cristão se aprofundava. Enquanto o descobrir da cabeça tornou-se
associado à etiqueta na igreja, ele tornou-se repugnante no meio judaico.
Adorar ou mesmo ir a sinagoga com a
cabeça descoberta era considerado uma imitação aos cristãos e um ato de
irreverência para com Elohim. Por outro lado, segundo os rabinos, a cobertura
da cabeça se tornou um ato de piedade judaica. E por conveniência a kipá, ou
seja, o solidéu foi adotado.
Observe que a denominação de Robson
impõe a ele um costume extrabíblico como sendo obrigatório, coisa que constitui
um mandamento de homem. A denominação de Robson cai no mesmo erro tão comum a
muitas delas: o de adotar, sem critério, diversos costumes e práticas do
judaísmo rabínico, que é essencialmente o descendente moderno do farisaísmo.
Semelhantemente, a esposa de Robson
recebe como instrução para o shabat o acendimento de velas - coisa que, mais
uma vez, as Escrituras não determinam. E pior: a esposa de Robson não faz a
menor ideia de como é o shabat, como observá-lo, o que deve ou não ser feito, e
já está sendo compelida a seguir costumes extrabíblicos!
Fique tranquilo que a prática do
shabat será abordada em nossa série, mais adiante. Aqui, porém, o ensinamento é
outro: o de que devemos tomar muito cuidado com práticas extrabíblicas. Robson
e sua esposa, assim como tantos outros, se sentem mais israelitas, e mais
espirituais por adotarem costumes do judaísmo moderno, bem como uma série de
práticas extrabíblicas.
O requisito para sermos parte do povo
do ETERNO estão muito claros na Torá, na Lei que Moisés recebeu do ETERNO, e
que foi ratificada por Yeshua:
Se
andardes nos meus estatutos, e guardardes os meus mandamentos, e os
cumprirdes... Andarei no meio de vós, e eu vos serei por Elohim, e vós me
sereis por povo.” (Levítico 26:3,12)
Aquele que, através de Yeshua, é
enxertado em seu povo Israel, torna-se parte do povo se receber a Yeshua como Senhor.
Isto é, se obedecer aos seus mandamentos.
Continua na parte II
Francisco
Adriano Germano
Compilação
de diversas fontes
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