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TESHUVÁ PASSO A PASSO – DEIXANDO DOUTRINAS HUMANAS (EP. 11)

 


DEIXANDO DOUTRINAS HUMANAS – PARTE II

 

A quarta história, de Alfredo, tem um viés ligeiramente diferente. Chanuká é uma palavra hebraica que significa “dedicação” e que se refere à dedicação do altar ou do próprio templo. A celebração de Chanuká é legítima e bem fundamentada nas Escrituras. Tanto que o próprio Yeshua dela participa, como podemos ler a seguir:

 

E em Yerushalayim havia a festa de Chanuká, e era inverno. E Yeshua andava passeando no Santuário, no alpendre de Salomão.” (João 10:22-23)

 

Ainda não iremos entrar no mérito de como celebrar essa festa, até porque ela é muito mais um feriado nacional, diferentemente das solenidades instituídas pela Torá.

 

Como essa festa ocorre ao final do ano, muitos a consideram uma alternativa ao Natal - essa última de origem comprovadamente pagã. E é esse o espírito com o qual Alfredo busca celebrá-la. A chamada “festa das luzes” como uma forma de ver luz em meio às trevas.

 

Alfredo aprendeu que, após a revolta dos Macabim (Macabeus), quando estes foram dedicar novamente o templo, não havia óleo suficiente para a Menorá, o candelabro de sete pontas. Havia óleo somente para um dia. Por milagre, porém, o óleo durou oito dias, tempo supostamente necessário para preparar o óleo para manter a Menorá acesa.

 

Mal sabe Alfredo que a própria Bíblia e a história narram algo muito diferente sobre os eventos de Chanuká:


Durante oito dias, fizeram uma festa semelhante à de Sukot, relembrando que, pouco tempo antes, haviam passado essa festa vagueando pelos montes e cavernas, como animais. Por isso, trazendo hastes e ramos verdes e folhas de palmeiras, entoavam hinos àquele que lhes estava dando a alegria de purificar o seu lugar santo. Depois, com um decreto público, assumido por todos, prescreveram que toda a nação dos judeus celebraria estes dias de festa cada ano.” (2 Macabeus 10:6-8)

 

Em outras palavras, os oito dias de Chanuká ocorreram porque os Macabim (Macabeus) não puderam celebrar a festa de tabernáculos, Sukot, antes disso, e não por um pretenso - e jamais mencionado - milagre do óleo!

 


A história em que Alfredo acredita piamente não apenas não tem origem bíblica, como só aparece pela primeira vez mencionada entre os séculos V e VI d.C., isto é, de 650 a 750 anos após a revolta dos Macabeus!

 

Dentre os historiadores e os próprios documentos judaicos anteriores a isso, nada é dito sobre esse suposto milagre. De onde, então ele surge?

 

Para saber, basta consultar Tertuliano, apologista cristão que viveu por volta do século II d.C.:

 

Mas para nós, a quem os shabatot são estranhos, assim como o rosh chodesh e as festas amadas por Deus, a saturnália, os festivais de ano novo e meio do inverno e a matronália são frequentados[...] 'Que as suas obras brilhem,' disse ele. Mas agora todas as nossas oficinas e portões brilham! Tu hoje encontrarás mais portas de pagãos sem lâmpadas e coras de louros do que cristãos... Então, dirás: 'as lâmpadas perante minhas portas, e os louros em meus portões são para honrar a Deus? Elas, obviamente, não estão lá para honrarem a Deus, mas àquele que é honrado no lugar de Deus por cerimônias religiosas dessa natureza... Portanto, que aqueles que não têm luz acendam suas lâmpadas diariamente." (Tertuliano, sobre a idolatria, caps. 14 e 15)

 

A “festa das luzes” era nada menos do que a saturnália. A mesma saturnália que deu origem ao Natal! Ou seja, Alfredo achava que havia se libertado de um engano pagão, e na realidade acabou enredado pelo mesmo engano, agora em outra embalagem!

 

Isso é muito grave. E a razão para esse erro está na postura que as comunidades que restauram as raízes judaicas da fé assumem: a de ter dois pesos e duas medidas. Tudo que tem origem “cristã” é imediatamente investigado, avaliado, pesquisado, esmiuçado e, ao menor sinal de dúvida, desprezado. Até aí tudo bem. Nada mais justo do que provar todas as coisas com as Escrituras.

 

Porém, quando diz respeito a algo de origem judaica, a postura é outra. Agarra-se com um zelo descomunal - confundindo amor ao povo judeu com abraçar todos os erros e desvios do Judaísmo Rabínico. E qualquer pretexto é utilizado para se justificar a adoção, não apenas de mandamentos extrabíblicos, como ainda de elementos que foram importados pelo farisaísmo de religiões pagãs.

 

Nos tempos do profeta Isaías, o ETERNO já alertava que o povo de Israel estava se desviando de seu caminho, para seguir preceitos puramente humanos:

 

A quem, pois, se ensinaria o conhecimento? E a quem se daria a entender doutrina? Ao desmamado do leite, e ao arrancado dos seios? Porque é mandamento sobre mandamento, mandamento sobre mandamento, regra sobre regra, regra sobre regra, um pouco aqui, um pouco ali. (Isaías 28:9-10)

 

Vale à pena ler o contexto dessa passagem antes de continuar, pois ele mostra que foi justamente o descaso e a iniquidade dos líderes que levou o povo a essa situação. Ele fala de líderes bêbados, e de mesas cheias de vômito e imundícia - mesas essas onde o povo se alimenta!


Até hoje se percebe isso tanto em igrejas quanto em sinagogas. Nas primeiras, cada vez mais se segue aquilo que o homem inventa, pela criação de novos moveres, novas doutrinas, cada vez mais se distanciando das Escrituras.




Nas sinagogas, também não é diferente. Como pode um judeu tradicional hoje compreender a diferença entre o que é revelado na Torá e o que foi ensinado pelos rabinos, se tudo é colocado perante eles como tendo peso equivalente?

 

E o que dizer então, em ambos os casos, sobre pesquisar as raízes daquilo que não se origina na bíblia, mas sim em outras religiões? O clero e o rabinato se tornaram peritos profissionais em ocultar a verdade sobre as raízes de muitas de suas práticas, de modo que é preciso muito esforço para que um leigo se desvencilhe delas.

 

E qual é então a solução do ETERNO para tudo isso que ocorre? Afinal, como você sabe, o ETERNO ama demais o seu povo e jamais permitiria tal situação sem oferecer uma salvação.

 

Eis a solução do ETERNO:

 

Portanto, assim diz Adonai YHWH: eis que eu assentei em Tsiyon uma pedra, uma pedra já provada, pedra preciosa de esquina, que está bem firme e fundada; aquele que crer não se apresse. (Isaías 28:16)

 

O que quer dizer que aquele que crer não precisa se apressar? O texto fala do Juízo do ETERNO. Portanto, aquele que crê nessa “pedra de esquina” não precisará se apressar em se esconder no Juízo do ETERNO, pois sabe que está em segurança.

 

Mas a quê, ou a quem, se refere essa profecia sobre a pedra de esquina? Ela não é a única profecia sobre isso. Nos salmos, também encontramos:

 

Louvar-te-ei, pois me escutaste, e te fizeste a minha salvação. A pedra que os edificadores rejeitaram tornou-se a cabeça da esquina. Da parte de YHWH se fez isto; maravilhoso é aos nossos olhos.” (Salmos 118:21-23)

 

“seja conhecido de vós todos, e de todo o povo de Israel, que em nome de Yeshua HaMashiach, o Nazareno, aquele a quem vós crucificastes e a quem Elohim ressuscitou dentre os mortos, em nome desse é que este está são diante de vós. Ele é a pedra que foi rejeitada por vós, os edificadores, a qual foi posta por cabeça de esquina. E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos.” (Atos 4:10-12)

 

Ou seja, a pedra de esquina é Yeshua. E crer na pedra de esquina, para ser salvo na situação que é descrita em Yeshayahu (Isaías) é crer em Yeshua. Vale ressaltar que crer neste contexto não é acreditar, e sim confiar.

 

Claro, é importante ressaltar que o fato de ter tradições não são inerentemente mau. Por exemplo, se você for da cidade de São Paulo, pode ter tradição de comer pizza aos domingos.

 

Mesmo uma congregação pode ter tradições, tais como a ordem em que se posicionam as cadeiras, o tempo de duração de um serviço, músicas que são mais frequentemente utilizadas nos períodos de louvor etc. Porém, o problema ocorre quando essa tradição ganha peso de obrigatoriedade ou de espiritualidade. É exatamente o que aconteceu quando os fariseus acusam Yeshua de não lavar as mãos!

 

Isso é particularmente comum no meio daqueles que dizem restaurar as raízes judaicas. Como pretensa forma de retornar às veredas antigas, resgatam uma série de costumes e tradições judaicas que passam a ter peso de elementos de fé.

 

O mais grave é que muitas vezes isso ocorre de uma forma na qual o discurso não condiz com a prática. Sem medo de errar, 90 por cento de tais comunidades muitas vezes afirmam que um costume é apenas um costume, mas na prática o tratam como espiritualidade, ou obrigatoriedade, ou coisa que tem valor para o ETERNO.

 

Não podemos nos iludir: para o ETERNO, costumes humanos não têm valor algum. Por mais belos ou emocionantes que possam ser, para o ETERNO o que importa é o coração voltado para ele, tendo a fé em Yeshua e inclinados para voltarmos à sua palavra.

 

Leia as palavras de Yeshua através dessa ótica. Entenda que uma de suas principais missões aqui na terra foi nos levar de volta para uma fé 100 por cento bíblica, e que por isso muitas vezes combateu ferozmente o peso do jugo da religiosidade humana. Tenha isso em mente da próxima vez que você for ler alguma coisa sobre Yeshua confrontando outros grupos religiosos de sua época.

 

Se você está vindo de uma denominação cristã, não tenha medo de questionar doutrinas e ensinamentos que você recebeu ao longo de sua vida. Pelo contrário: confronte-as à luz das Escrituras. Se elas forem verdadeiras, você irá prová-las. Se não forem, você irá se libertar delas.

 


Lembre-se do que Yeshua nos disse:

 

“vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.” (Mateus 11:28-30)

 

Tenha cuidado em sua caminhada para não repetir o mesmo erro, agora tomando como fonte o Judaísmo Rabínico, que é exatamente o herdeiro moderno do farisaísmo tão criticado por Yeshua. As Escrituras dizem:

 

“Como o cão torna ao seu vômito, assim o tolo repete a sua estultícia.” (Provérbios 26:11)

 

Muitos quando se aproximam das raízes judaicas se encantam, de forma muitas vezes não-criteriosa. Muitas vezes ignorantes quanto às raízes daquele costume que estão seguindo, ou daquela oração que estão repetindo, ou daquela doutrina a que estão se apegando.

 

A exemplo do que aconteceu com o Cristianismo, o Judaísmo Rabínico também recebeu a sua dose de sincretismo ao longo dos últimos 2 mil anos, trazendo símbolos, ritos e doutrinas extrabíblicas, fora o peso dos mandamentos criados pelos próprios rabinos.

 

E o perigo de quem se encanta por tal sistema religioso pode ser facilmente compreendido: muitos acabam por negar o Messias, ou o relegam a uma posição secundária em sua fé. Enterrado debaixo dos alimentos imundos da espiritualidade vazia.

 

E como se proteger disso? Mantendo o foco no Mashiach. Ele é o nosso único Rabi. E ele nos disse, por diversas vezes, que o que importa é a revelação escrita que o ETERNO deixou para nós.

 

E se você já está vivendo tais coisas aqui descritas, é hora de se arrepender. É hora de tomar mais um passo de fé e voltar para casa, para Yerushalayim (Jerusalém), sem máculas ou adições. É possível praticar uma fé 100 por cento bíblica.

 

Em ambos os casos, lembre-se sempre de não ser contencioso, nem polêmico. O que você aprender com as Escrituras, transmita sempre em amor, sem criar confusões e sem acusações. Porque acusações nada farão além de ferir.

 

 

Francisco Adriano Germano

Compilação de diversas fontes

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