DEIXANDO A ESTRUTURA CLERICAL
Esse é o último passo do processo de
desintoxicação que se faz necessário, para que possamos começar a viver a Teshuvá.
Encaro essa desintoxicação como o tirar o lixo do terreno, antes que possamos
começar a construir propriamente dito. Encare com alegria esse passo, pois
você está sendo liberto de um sistema extrabíblico, e no lugar disso, poderá
construir um relacionamento sincero com o Messias Yeshua.
As três histórias relatadas a seguir parecem muito diferentes, mas na realidade elas trazem uma semelhança bastante singular: a dependência emocional e espiritual de uma estrutura clerical. Estrutura essa que jamais foi encorajada, fundamentada e nem mesmo autorizada pela Bíblia.
[1] Fabiano* (nome fictício) passa
por um estresse familiar intenso. Sente que sua vida parece estar desmoronando.
No intervalo do almoço do seu trabalho, Fabiano resolve passar na bela
congregação que frequenta. Ele se recorda das palavras do diácono vestido
elegantemente de terno no primeiro dia em que Fabiano lá esteve, lhe dirigindo
um sorriso e dizendo: “seja bem-vindo à casa do Senhor!” Não há ninguém no
local naquele horário, mas ali, na casa do Senhor, Fabiano encontra a paz que
precisa para poder orar e derramar seu coração.
A primeira história que iremos avaliar
é a de Fabiano. Fabiano se sente bem ao ir à “casa do Senhor”, mas será que a Bíblia
dá respaldo para chamarmos a um local de culto de “casa do Senhor”?
O termo “casa do Senhor” só aparece nas Escrituras para se referir a três coisas. A primeira delas, o Tabernáculo - que em hebraico é chamado de Mishkan:
“as primícias dos primeiros frutos da tua terra trarás à casa de YHWH teu Elohim.”
(Êxodo 23:19)
A ideia do Tabernáculo era que YHWH
acompanharia o povo onde quer que este fosse. Por esta razão o Tabernáculo era
móvel, e observa-se nas Escrituras que ele era desmontado e remontado sempre
que o povo peregrinava, até seu estabelecimento na terra de Kena’an (Canaã).
O Tabernáculo, portanto, representava
a presença de YHWH em meio ao povo, acompanhando-o onde quer que esse fosse.
A segunda coisa que é chamada de “casa
do Senhor” nas Escrituras é o Templo - ou, como é chamado nas Escrituras, o Heichal
(Santuário ou Palácio):
“E Salomão se aparentou com Faraó, rei do Egito; e tomou a filha de Faraó, e a trouxe à cidade de David, até que acabasse de edificar a sua casa, e a casa do Senhor, e a muralha de Jerusalém em redor.” (1 Reis 3:1)
“E sucedeu que, saindo os sacerdotes do santuário, uma nuvem encheu a casa do Senhor.”
(1 Reis
8:10)
O templo foi desejo do rei David,
realizado por Salomão seu filho, porém, quando David consultou a YHWH sobre a
construção do templo, observe qual é a primeira coisa que YHWH responde:
“Vai, e dize a David meu servo: assim diz YHWH: tu não me edificarás uma casa para eu morar; porque em casa nenhuma morei, desde o dia em que fiz subir a Israel até ao dia de hoje; mas fui de tenda em tenda, e de tabernáculo em tabernáculo. Por todas as partes por onde andei com todo o Israel, porventura falei alguma palavra a algum dos juízes de Israel, a quem ordenei que apascentasse o meu povo, dizendo: por que não me edificai uma casa de cedro?”
(1 Crônicas 17:4-6)
Como ele próprio deixa claro, ele
nunca ordenou que fosse construída a Ele uma casa de cedro, e sempre habitou em
meio à onde o povo estivesse.
"Salomão, porém, edificou lhe uma casa. Mas o altíssimo não habita em casas feitas por mãos; como disse o profeta: o céu é o meu trono, e a terra o escabelo dos meus pés; que casa me edificareis, diz YHWH, ou qual é o lugar do meu repouso? Não fez, porventura, a minha mão todas estas coisas?" (Atos 7:47-50)
Nisto podemos observar que, na
realidade, a “casa do Senhor” nada mais é do que a sua presença no meio do
povo, e não um edifício construído. Até porque, desde o momento da destruição
do Heichal, não existe mais nenhum edifício que a Bíblia afirma ser a “casa do Senhor”.
Esta constatação nos leva à terceira
coisa que é chamada de “casa do Senhor”, nas Escrituras - embora não
diretamente, mesmo assim de forma bem clara:
“Assim vós sois pedras vivas, edificadas como Heichal espiritual, sacerdócio santo oferecendo sacrifícios espirituais, recebidos perante Elohim pela mão de Yeshua HaMashiach.”
(1 Pedro 2:5)
Portanto, a “casa do Senhor” não é um
local específico de culto de uma congregação, e sim YHWH habitando em meio ao
seu povo. Porque Yeshua afirmou:
"Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles."
(Mateus 18:20)
É simples: onde quer que nós nos
reunamos em nome do Messias Yeshua, ele ali estará conosco. Se alguém lhe
disser que recebeu revelação do ETERNO para construir uma casa, ou local, pode
descartar tal revelação sem medo de errar, pois o ETERNO é o mesmo ontem, hoje
e sempre. Ele não muda de opinião, nem de modo de pensar.
Dito isto, vejamos inclusive como eram
as coisas nos tempos dos primeiros seguidores de Yeshua:
"Como
não me esquivei de vos anunciar coisa alguma que era proveitosa e de vo-la
ensinar publicamente, e de casa em casa." (Atos 20:20)
Pense agora em como eram as coisas
quase dois mil anos atrás: as casas eram muito mais precárias e bem pequenas. A
mobília era cara, pois eram todas feitas à mão, de forma rústica. Não havia
geladeira para servir aquele refrigerante refrescante, e frequentemente as
pessoas se sentavam sobre o chão ou contra a parede. Em ambientes bastante
estreitos, e com iluminação pelo fogo - o que os tornava ambientes quentes no
verão.
Nas casas, as pessoas não tinham
sequer acesso às Escrituras. Se desejassem ler os escritos da palavra, tinham
que se dirigir às sinagogas, ou copiar à mão trechos em pergaminhos caríssimos.
Muita coisa era memorizada, por essa razão. E mesmo assim, eles tinham a
alegria de se reunirem nos lares. Compare agora isso com a dependência mostrada
por Fabiano em nossa história.
Perceba que o sentimento de Fabiano,
que se conforta em ir à “casa do Senhor”, é puramente emocional, sem qualquer
base espiritual ou bíblica. É claro que se Fabiano for orar ao ETERNO em
sinceridade e temor, ele o ouvirá onde quer que Fabiano venha estar. Porém, Fabiano
ainda está preso a laços de religiosidade, sem fundamento bíblico.
Alguns podem perguntar: isso significa
que YHWH não deseja que tenhamos um local de reunião? Não é bem por aí o
raciocínio. YHWH jamais proibiu às pessoas de se reunirem em um determinado
local ou que, juntos, optassem por edificar um local para as reuniões.
Se você tem acesso a um local de
reunião, isso é ótimo. Afinal, a estrutura física ajuda muito. Mas isso não
pode ser considerado indispensável para uma vida de um seguidor de Yeshua.
A questão é apenas compreendermos que
o local de culto não tem a função de ser “casa do Senhor”, e sim apenas de
abrigar a “casa do Senhor”, que somos nós, israelitas seguidores de Yeshua, que
podemos nos reunir em qualquer lugar.
[2] Não muito longe dali, Camila*
(nome fictício) aguarda ansiosamente o seu horário de atendimento no gabinete
do pastor. Camila sofre perseguição no trabalho, e está extremamente
angustiada. Ela aguarda ansiosamente o momento em que poderá falar com o pastor
Marcos. Afinal, ele é um homem ungido, um verdadeiro servo do Senhor. Camila
tem certeza de que o pastor terá as respostas que ela tanto precisa, e que sua
oração irá não apenas acalmá-la, mas também será um marco em sua vida. Uma
linha divisória que representará o início do fim de seus problemas.
Analisemos a história de Camila. Ela
queria falar com o pastor, o servo ungido do ETERNO. Mas será que a ela foi
ensinada a seguinte frase de Yeshua? Vejamos:
“vós,
porém, não queirais ser chamados de Rabi; porque um só é vosso Rabi, o Mashiach,
e todos vós sois irmãos. E a ninguém sobre a terra chameis vosso Pai; porque um
só é o vosso Pai, aquele que está nos céus. Nem queirais ser chamados Mestre;
porque um só é o vosso Mestre, que é o Mashiach. Mas o maior dentre vós há de ser
vosso servo. Qualquer, pois, que a si mesmo se exaltar, será humilhado; e
qualquer que a si mesmo se humilhar, será exaltado.” (Mateus 23:8-12)
Se fizéssemos uma lista das dez
passagens mais ignoradas ou mal ensinadas de toda a Bíblia, essa certamente
seria uma delas. Porque quem ensina a Bíblia hoje em dia geralmente faz parte
de uma estrutura clerical. E essa passagem é escandalosamente clara contra esse
sistema, o que a torna objeto de desconforto para quem a ensina. Não à toa,
passa-se muito mais tempo tentando minimizar as palavras de Yeshua do que
tentando entendê-las.
O que Yeshua quer deixar claro para os
seus seguidores é de que não deve existir hierarquia clerical instituída.
Nenhum homem deve se colocar acima de outros, nem ser chamado por títulos.
Apesar dessa passagem ser muito clara,
hoje o que mais se vê é exatamente isso. Raríssimo são os líderes que não
utilizam títulos em seus nomes. Apresentam-se como “Padre Rogério”, ou “Evangelista
Pedro”, ou “Pastor João”, ou “Missionário Carlos”, ou “Bispa
Renata”, ou “Rabino Tiago”, ou seja, o que for.
A realidade é que, numa comunidade,
todos servem de acordo com os seus dons. Uns são bons em ensinar, e
naturalmente organizam aulas e estudos. Outros são bons em cuidar de terceiros,
e são os pastores naturais do rebanho, outros são bons pregadores, outros são
bons cantores, outros em administrar as finanças, outros em limpar e organizar
o local, e assim por diante.
Cada pessoa tem uma função no corpo.
Isso não quer dizer que um tenha recebido o dom de tomar decisões, orar e de
falar no púlpito e os outros tenham recebido o dom de esquentarem o banco.
Mas, então, onde começou essa ideia de
uma subordinação a estruturas clericais que estariam num patamar diferenciado?
“Até o
século II, a igreja (sic) não teve nenhuma liderança oficial. Tais lideranças
nas igrejas (sic) eram certamente raras... Entre o rebanho estavam os anciãos
(pastores ou inspetores). Todos esses homens estavam em pé de igualdade. Não
havia uma hierarquia entre eles. Também estavam presentes obreiros extras que
plantavam igrejas (sic). Estes eram chamados de ‘enviados’ ou apóstolos. Mas
eles não fixavam residência nas igrejas (sic) que cuidavam, tampouco as
controlavam... As coisas funcionaram assim até Inácio de Antioquia (35-107 dc)
entrar em cena. Inácio foi a primeira figura da história da igreja (sic) a dar
o primeiro passo no escorregadio e decadente caminho da fixação de um líder
único na congregação. Pode-se atribuir a ele a gênese do cargo de pastor e da
hierarquia na igreja moderna.” (Cristianismo Pagão, pg. 69)
Inácio, além de lançar as bases do
cristianismo conforme visto no primeiro passo dessa série, cria um personagem
quase celestial - um vigário, por assim dizer, do Messias - que seria um
intermediário entre nós e o Mestre. Algo que nem a Bíblia, nem o próprio Mestre
jamais autorizaram, mas que se tornou base para toda a estrutural clerical de
hoje e suas derivações.
É preciso nos desprendermos das
amarras da religiosidade do sistema clerical que visa escravizar pessoas à
autoridade de homens. Autoridade essa que jamais foi concedida pelas Escrituras.
A autoridade pertence a Yeshua e somente a ele.
Mas é preciso tomar um cuidado ao
chegarmos a essa conclusão. Alguns dos que chegam nesse ponto infelizmente
confundem a falta de base bíblica para uma estrutura clerical com uma permissão
da bíblia para andarem individualmente como lhes convier.
O fato de não haver uma estrutura
clerical não significa uma total ausência de uma liderança. Uma
liderança no sentido organizacional, e não no sentido de uma hierarquia. O
modelo bíblico de liderança é uma liderança puramente pela experiência e
maturidade, uma liderança de pares, e não uma hierarquia de autoridade.
[3] Muitos quilômetros dali, em uma
cidade afastada, José* (nome fictício) encaminha um e-mail cheio de esperança.
Ele ouviu falar sobre os Mandamentos do Eterno e busca agora uma congregação
que tenha a prática da guarda desses mandamentos. José sabe que o grupo que ele
conheceu não tem congregação em sua cidade. José então escreve aos líderes do
grupo, pedindo que abram um trabalho em sua cidade, pois ele quer muito
frequentar um local com aquela visão das Escrituras.
E por fim temos a história de José. O
caso de José pode ser entendido como um resultado da cultura religiosa que
criou os outros dois cenários. Basicamente, José compreende que ele precisa da
estrutura clerical.
Quando o assunto é fé nada melhor do
que olharmos para o exemplo daquele que é chamado o pai da fé. Se ainda não
conhece a história de Abraão, ou se faz muito tempo que não lê sobre ela, vale
à pena fazer uma pausa para ler as Escrituras, e retomar a partir deste ponto.
Abraão não foi chamado para sair de um
sistema religioso para entrar em outro. Ele foi chamado, sozinho, para um lugar
estranho, para viver perante o ETERNO. Apenas ele, sua esposa, e seus criados.
Ninguém mais.
Se você se recorda dos passos
anteriores, vimos que aqueles que foram chamados pelo ETERNO para realizarem a
sua obra em Israel foram frequentemente as pessoas mais improváveis. Moisés
tinha problemas na fala. David era um pastor franzino de ovelhas, os primeiros
emissários de Yeshua eram meros pescadores, sem instrução.
O erro de José é não compreender que
ele não depende de nenhuma estrutura para começar a servir ao ETERNO. Essa
estrutura pode até vir com o tempo, mas muitas vezes temos que começar
sozinhos.
É interessante que nesse momento
alguns argumentam que sentem falta de “comunhão”. É compreensível que o
aspecto social seja bom, agradável e proveitoso. Mas que “comunhão” teve
Abraão, que até a sua família deixou para trás? E que “comunhão” teve Elias,
se ele era um dos últimos profetas do ETERNO e, ainda por cima, estava sendo
perseguido?
O ETERNO nunca nos prometeu que
teríamos uma estrutura, ou mesmo um grupo. Vários dos principais personagens
bíblicos passaram suas vidas servindo ao ETERNO sozinho. Ele nos promete que jamais
nos abandonaria!
E se você está sozinho, você já pensou
que pode haver um chamado do ETERNO para que você seja a pessoa a começar um
grupo? Antes que você responda que não tem condições de fazê-lo, pense que um
gago (ou com algum problema na fala, como Moisés) foi capaz de trazer ao
mundo as palavras do ETERNO. Porque não era ele, mas sim o ETERNO agindo
através dele.
Francisco
Adriano Germano
Compilação
de diversas fontes
Magnífico meu irmão
ResponderExcluirShalom, todah rabah! Que o ETERNO te abençoe!
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