As pérolas, gemas orgânicas que se formam dentro das ostras, são itens apreciados por joalheiros e objetos de desejo das mulheres. Joias adornadas com estas pequenas gemas redondas e brilhantes podem valer muito dinheiro.
O que poucas pessoas não sabem é que as pérolas são
produtos do desconforto das ostras. Uma pérola é, na realidade o resultado da
entrada de uma substância estranha e indesejável no interior de uma ostra, como
um parasita ou um grão de areia. Na parte interna da ostra há uma substância
lustrosa chamada nácar. Quando um corpo estranho entra na ostra, as células do
nácar começam a trabalhar e cobrem o grão de areia com camadas e mais camadas,
para proteger o corpo indefeso da ostra. Como resultado, uma linda pérola vai
se formando. Portanto, uma ostra que não foi ferida não produz pérolas, pois a
pérola é uma ferida cicatrizada.
O mesmo pode acontecer conosco.
Você já passou por dificuldades? Já foi ferido pelas palavras rudes de alguém?
Suas ideias já foram rejeitadas ou mal interpretadas? Então, produza uma
pérola! Cubra suas mágoas com várias camadas de compreensão. Utilize as
dificuldades como oportunidades na vida.
A maioria aprende apenas a
cultivar ressentimentos e mágoas, deixando feridas abertas. Eles as alimentam
com vários tipos de sentimentos negativos, não permitindo que elas cicatrizem.
Muitos desistem diante das dificuldades e se entregam. Assim, na prática, o que
vemos são muitas "ostras vazias". Não porque não tenham sido feridas,
mas porque não souberam perdoar, compreender, superar e transformar a dor em
oportunidade.
Nesta semana lemos a Parashá
Bamidbar (literalmente "No deserto"), que começa descrevendo a
contagem do povo israelita, uma demonstração do imenso amor de Elohim pelo Seu
povo. Esta Parashá sempre antecede a Festa de Shavuót (“Pentecostes” para os
cristãos), também conhecida como "Chag Matan Torá" (Festa da Entrega
da Torá). Não apenas relembramos algo que ocorreu no passado, mas revivemos
este momento especial, no qual Elohim nos entregou Seu presente mais valioso: a
Torá.
Na Festa de Shavuót temos alguns costumes interessantes, como passar a noite inteira estudando Torá, comer refeições de leite e enfeitar a sinagoga com flores e plantas. Porém, um dos mais importantes costumes é a leitura da Meguilat Rute (Livro de Rute), que descreve a história de uma mulher do povo de Moav (Moabe), chamada Rute, que se converteu ao judaísmo e posteriormente se casou com um Tzadik chamado Boaz.
O
bisneto de Rute foi David Hamelech (O rei David), um dos maiores símbolos do
amor do povo judeu pelo estudo da Torá. Além disso, há outro motivo para lermos
a Meguilat Rute. Se analisarmos alguns aspectos da sua história, poderemos
entender de uma maneira mais profunda a importância em nossas vidas da Festa de
Shavuót.
Certamente uma das
características mais marcantes da Meguilat Rute é o auto sacrifício que Rute
demonstrou na sua decisão de se unir ao povo judeu. O Talmud (Brachot 5a) nos
ensina que Elohim deu ao povo judeu três bons presentes, mas todos eles só
podem ser adquiridos através de muitas dificuldades e esforços. Os três
presentes são: a Torá, a Terra de Israel e o Olam Habá (Mundo Vindouro). A
Meguilat Rute vem justamente nos ensinar as dificuldades e desafios enfrentados
por Rute para conquistar a Terra de Israel e o Olam Habá.
A Meguilat Rute começa com a ida de um israelita chamado Elimelech, sua esposa Naomi e seus dois filhos para a terra de Moav. O processo de saída de Israel é descrito em um único e simples versículo:
"Um homem e sua família saíram de Beit Lechem (Betel) para viver nos campos de Moav"
(Rute 1:1).
Em contraste, quando Naomi decidiu retornar com suas duas noras, Rute e Orfa, para a Terra de Israel, este processo é descrito de uma maneira muito mais extensa e dramática:
"Ela e suas noras se levantaram e voltaram dos campos de Moav [...] e ela saiu do lugar onde estava, e suas duas noras estavam com ela, e elas foram ao caminho para voltar à terra de Yehudá (Judá)" (Rute 1:6,7).
É interessante perceber
quantos verbos diferentes foram utilizados para descrever o processo de volta
para a Terra de Israel. O forte contraste entre um único versículo descrevendo
a saída de Israel com o extenso e dramático relato da volta nos ensina que é
muito mais fácil abandonar a Terra de Israel do que voltar para ela. Além
disso, depois da volta de Naomi e Rute para Israel, a Meguilat descreve a
enorme dificuldade que elas tiveram para conseguir sustento. Desta maneira, a
Meguilat Rute se torna um exemplo impressionante de como a Terra de Israel é
adquirida somente com muitas dificuldades.
A característica principal de Rute
é sua força de vontade e disposição de se submeter a um grande desconforto para
se unir ao povo israelita. Segundo a tradição, Rute e Orfa eram filhas de
Eglon, rei de Moav. Portanto, elas teriam uma vida de luxos e status social.
Seriam mulheres ricas e cobiçadas. Ao se juntar ao povo israelita, Rute teve
que se defrontar com uma vida de pobreza e com a possibilidade de ser socialmente
rejeitada.
A Parashá Bamidbar é o início de
muitas narrativas durante os 40 anos em que os israelitas permaneceram no
deserto, antes de entrarem na Terra de Israel. O deserto é um local inóspito.
Não há comida, água e nem mesmo sombra. Para sobreviver no deserto é preciso
lutar. Elohim nos entregou a Torá no deserto, para nos ensinar que o mais
importante em nossa vida não são os luxos, o conforto e o comodismo, mas as
conquistas verdadeiras, que só acontecem com a superação das dificuldades. Ninguém
conquista os conhecimentos de Torá deitado no sofá e assistindo televisão. É
preciso esforço e constância para adquirir este presente.
Os "bons presentes" de Elohim, que são a Torá, a Terra de Israel e o Olam Habá, só podem ser adquiridos com dificuldades. De acordo com o Rav Noach Weinberg zt"l (EUA, 1930 - Israel, 2009), normalmente queremos fugir dos esforços e das dificuldades. Porém, prazeres realmente significativos somente podem ser adquiridos através de desafios.
Por exemplo, se olharmos para trás e
procurarmos quais foram os momentos mais satisfatórios de nossas vidas,
perceberemos que foram justamente as conquistas que envolveram grandes
esforços, como se formar na faculdade ou ocasiões muito alegres, como o dia do
casamento e o nascimento dos filhos. Porém, qualquer um que já passou por estas
alegrias sabe o quanto o casamento e a criação dos filhos envolvem uma enorme
quantidade de dificuldades e desafios. Apesar disso, eles se tornaram causas de
grandes alegrias para aqueles que se esforçaram e conseguiram vencer as
dificuldades.
A Torá, a Terra de Israel e o
Olam Habá são as coisas mais significativas que a pessoa pode adquirir. E,
justamente pelo seu gigantesco valor, eles só podem ser adquiridos com
dificuldades. Rute reconheceu este fato e fez a incrível decisão de renunciar
os prazeres que a vida tem a oferecer, em troca de viver uma experiência muito
mais profunda e significativa, de se unir ao povo israelita na Terra de Israel.
Este ensinamento é extremamente
importante para aproveitarmos bem a Festa de Shavuót. O povo judeu entendeu que, apesar das
responsabilidades que recairiam sobre eles ao aceitar a Torá, este seria o
maior dos presentes. Esta decisão do povo judeu, de escolher o caminho que é
mais significativo, apesar de ser mais trabalhoso, é a escolha que todos nós
devemos almejar em Shavuót. É o momento de entendermos que cumprir as Mitzvót
da Torá é a única forma de alcançar o verdadeiro preenchimento na vida.
R' Efraim Birbojm
Texto adaptado por Francisco Adriano Germano


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