A cada ano, ao nos aproximarmos
da celebração de Shavu’ot (conhecida no mundo cristão por Pentecostes), os
olhos da fé se voltam para o relato singular de Ma’assei HaSh’lichim (Atos dos
Emissários), capítulo 2. Ali, lemos sobre a extraordinária descida da Ruach
HaKodesh — o Espírito de Santidade — sobre os primeiros
seguidores de Yeshua.
E de repente veio do céu um
som, como de um vento impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam
assentados. E foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo, as
quais pousaram sobre cada um deles. E todos foram cheios da Ruach HaKodesh, e
começaram a falar noutras línguas, conforme a Ruach lhes concedia que falassem.
(Atos 2:2-4)
A cena descrita é de tirar o
fôlego: um som celestial, línguas de fogo, e um grupo de homens e mulheres
comuns tomados por uma força sobrenatural. É fácil entender por que esse
episódio se tornou o foco central de muitas pregações e celebrações. Mas seria
essa a essência do milagre?
A beleza do texto bíblico está
justamente no que acontece em seguida — naquilo que muitos leem apressadamente
ou deixam de lado por estarem encantados com a manifestação visível.
E, quando aquele som ocorreu,
ajuntou-se uma multidão, e estava confusa, porque cada um os ouvia falar na sua
própria língua. [...] Pois quê! não são galileus todos esses homens que estão
falando? Como, pois, os ouvimos, cada um, na nossa própria língua em que somos
nascidos?
(Atos 2:6-8)
A Forma a Serviço do Propósito
O verdadeiro milagre de Shavu’ot
não reside apenas no espetáculo das línguas de fogo ou no som do céu. Esses
sinais não foram fim em si mesmos — foram meios para um propósito maior.
O que impactou a multidão não foi
o fogo, mas o fato de que cada pessoa compreendia em sua própria língua a
mensagem das Boas Novas. O céu não desceu para impressionar — desceu
para comunicar.
Esse é o cerne da questão: o
milagre da comunicação universal. Em um mundo fragmentado por idiomas, culturas
e histórias, Elohim escolheu um momento preciso para proclamar que nenhuma
barreira linguística seria obstáculo para o anúncio da redenção.
Promessa de Universalidade
Em Yeshua, cumpre-se a promessa
de que nenhuma ovelha se perderia — mesmo que dispersa pelos confins da Terra.
O milagre de Shavu’ot é a afirmação divina de que a mensagem da redenção
chegaria a todos os povos, em todas as línguas, em todas as nações.
É como se o Eterno estivesse
dizendo:
“Eu falarei a
língua do teu coração, ainda que ninguém mais a compreenda.”
Hoje, essa promessa continua
viva. Quando um emissário se comunica por meio de gestos com uma tribo isolada,
quando uma tradução da Torá toca alguém em seu idioma materno, ou mesmo quando
um vídeo simples nas redes sociais comunica o amor de Elohim a alguém sem
religião — a essência do milagre de Shavu’ot se manifesta novamente.
O Espírito que Traduz a
Esperança
Não devemos buscar milagres como
quem busca espetáculo. O foco nunca foi o fogo, mas a clareza da mensagem.
O esforço, portanto, não está em provocar manifestações, mas em nos
tornarmos instrumentos da mensagem.
É um erro espiritual buscar o
fogo e negligenciar o conteúdo. O verdadeiro discípulo de Yeshua compreende
que, se houver necessidade, os céus se abrirão novamente — mas sempre em
favor da transmissão da verdade, nunca para alimentar a vaidade.
Conclusão
O maior milagre de Shavu’ot não
foi sobrenatural no sentido estrito — foi relacional e redentor:
Elohim rompeu as barreiras
humanas para que todos pudessem ouvir que são amados, perdoados e bem-vindos ao
Reino.
Se há uma lição a extrair desta
celebração, é esta: a Palavra precisa alcançar cada alma — e nós somos os
mensageiros. Seja com palavras, com gestos ou com vidas coerentes com a
redenção, que cada um de nós seja parte desse milagre contínuo.
Por Sha'ul Bentsion
Versão revisada e expandida por
Francisco Adriano Germano
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