Nesta semana lemos a Parashá Reê
(literalmente "Veja"), que continua com os discursos finais de Moshé
Rabeinu (Moisés, nosso mestre) diante do povo israelita. Moshé estava
especialmente preocupado com um povo que estava na iminência de sua entrada na
Terra Prometida. Como seria o contato com outros povos, com pessoas idólatras e
de comportamento moral questionável? Moshé queria preparar o povo, para que
soubessem lidar com todos os tipos de influências negativas e não permitissem
que estas influências os desviassem do caminho correto.
Entre os muitos assuntos
ressaltados por Moshé está a advertência em relação àquele que tenta persuadir
seus companheiros a abandonarem a Emuná (fé) em Elohim e se voltarem
para a adoração de ídolos. A Torá prevê inclusive a situação na qual uma pessoa
pressiona os membros de sua própria família, em um esforço para levá-los a
servir outros deuses. A Torá ainda levanta o risco de pessoas conseguirem "contaminar"
uma cidade inteira e convencer seus habitantes a se tornarem idólatras.
De fato, sabemos que muitas vezes
a fonte mais forte de pressão negativa em relação à nossa espiritualidade vem
justamente dos próprios membros da família. Quando uma pessoa decide elevar
seus padrões de observância da Torá, alguns parentes podem desaprovar suas
mudanças de estilo de vida e, por isso, tentam dissuadi-lo de embarcar nessa
estrada de crescimento espiritual.
A situação é ainda mais difícil
nas casas de "Baalei Teshuvá" (pessoas não religiosas que
começaram a seguir os caminhos da Torá), onde verdadeiras guerras acabam
ocorrendo entre os familiares. As pessoas que fizeram Teshuvá muitas vezes são
rotuladas pelos familiares como "extremistas" e "pessoas
de cabeça fraca, que se submeteram a uma lavagem cerebral". Portanto,
a "torcida contra" dos familiares próximos é uma das maiores
dificuldades para o crescimento espiritual, conforme Moshé já havia advertido o
povo.
Percebemos que a Torá trata desta tentativa de desviar alguém do caminho correto de uma maneira bastante severa, condenando à pena de morte aqueles que tentam convencer outros a adorarem ídolos. Ao formular esta lei, a Torá explica por que tal indivíduo é tratado com tanta severidade:
"Pois ele tentou atrair você para longe de YHWH,
teu Elohim" (Devarim/Deuteronômio 13:11).
Mais do que apenas transgredir e
desrespeitar as Leis Divinas, esta pessoa também influenciou outras pessoas a
transgredirem, e isto é muito grave. Mesmo que os portões do arrependimento
estejam sempre abertos para aqueles que tropeçam e se desviam do caminho, aquele
que leva outros aos caminhos da transgressão é julgado de forma mais rigorosa.
Porém, há algo que chama a
atenção na linguagem do versículo. Não está escrito que a pena de morte se
aplicava a alguém que havia causado com que outra pessoa servisse outros
deuses, e sim que se aplicava a alguém que havia tentado causar este
afastamento entre a pessoa e Elohim. Ou seja, a pessoa já era considerada
merecedora da pena de morte apenas pela "tentativa", mesmo que
seus esforços não fossem bem-sucedidos e as pessoas permanecessem firmemente
comprometidas com Elohim e com a Torá. A mera tentativa de levar outros para
longe da Torá já é, por si só, um ato condenável e uma gravíssima transgressão.
O Rav Simcha Zissel Ziv zt"l
(Lituânia, 1824 - 1898), mais conhecido como Saba MiKelem, observa que a
misericórdia de Elohim é muito maior do que o Seu julgamento estrito. Portanto,
se a Torá atribui um castigo tão rigoroso à simples tentativa, bem-sucedida ou
não, de desviar outras pessoas do caminho correto e afastá-los de Elohim, então
certamente muito maior será a recompensa guardada para aqueles que se esforçam
para aproximar os outros da observância da Torá.
Quer sejamos ou não bem-sucedidos, há um grande valor em apenas nos esforçarmos, iniciando qualquer tipo de tentativa sincera de trazer nossos companheiros a padrões espirituais mais elevados. Certamente, se formos bem-sucedidos e fizermos com que outros se aproximem da Torá, mesmo que seja apenas em algumas poucas áreas, não podemos sequer imaginar a recompensa que receberemos. Mas, independentemente disso, nosso trabalho é tentar, fazer a nossa parte, como ensinam nossos sábios:
"Não está sobre você a responsabilidade de acabar todo o trabalho, mas você também não está isento de participar dele" (Pirkei Avót 2:16).
Isto significa
que Elohim não cobrará de nós o resultado, mas sim cobrará de nós o esforço e,
no mínimo, a preocupação com os outros.
Explica o Rav Eli Mansour que
certamente a Mitzvá de trazer de volta ao caminho correto pessoas que estão
afastadas é uma das mais importantes em nossa geração. Infelizmente atingimos
nos nossos dias altíssimos índices de assimilação e abandono dos ensinamentos
da Torá.
Não é necessário ser um rabino treinado ou um profissional para cumprir esta Mitzvá, é necessário apenas coração e a preocupação com o próximo, conforme ensinam os nossos sábios:
"No lugar onde não há pessoas (que façam o que é necessário fazer), seja a pessoa" (Pirkei Avót 2:5).
Esta é um Mitzvá que se aplica a todos.
Cada um de nós, utilizando suas forças específicas, pode alcançar este
objetivo. A grande maioria das pessoas afastadas nunca teve ao menos a
oportunidade de conhecer o que é uma vida de Torá e Mitzvót e, por isso, cada
pequena tentativa é valiosa. É verdade que os resultados estão apenas nas mãos
de Elohim, mas cabe a nós ao menos fazer o esforço.
Por R' Efraim
Birbojm
Texto corrigido e adaptado por Francisco Adriano Germano
Comentários
Postar um comentário