Pular para o conteúdo principal

DANIEL E A VINDA DE MASHIACH

 


Introdução

 

Uma das primeiras perguntas que todo estudante sério do Tanach (“Antigo Testamento”) deveria fazer é se existiria alguma referência com respeito ao tempo da vinda de Mashiach. E para essa pergunta existe um sonoro sim! A resposta pode ser encontrada no livro do profeta Dani’el (Daniel). Este livro do Tanach descreve, de forma detalhada, o tempo da vinda de Mashiach. E se há uma resposta para esta indagação, então ela foi dada por YHWH a nós e aos nossos filhos, para sempre:

 

As coisas ocultas (pertencem) a YHWH Eloheinu, mas as reveladas (pertencem) a nós e aos nossos filhos para sempre, para que pratiquemos todas as palavras desta Torah. (Devarim/Deuteronômio 29.29)

 

Deste modo, o que está registrado pelo profeta Daniel, quanto ao tempo da vinda de Mashiach, deve ser cuidadosamente investigado e analisado, sob pena de negligência e desprezo à revelação da Palavra de YHWH, a qual, segundo Devarim 29.29, foi dada por Ele para produzir operosos praticantes da Sua Torah. Rejeitar, então, a palavra profética é rejeitar a obediência à Torah, o que foi e continua sendo causa de maldição ao povo de Elohim.

 

A investigação do livro de Daniel se faz necessária. Quanto ao profeta, seu ofício profético é inquestionável, pois seu livro compõe o Tanach. Ele registra com exatidão em Dn 2.31-45 a profecia do florescimento dos futuros Impérios Medo-Persa, Grego e Romano, em um tempo que, se olhado exclusivamente da ótica humana, seria absolutamente impossível que a hegemonia do grande Império Babilônico fosse quebrada. Além disso, há o preciso e surpreendente registro profético com respeito aos principais conflitos, guerras e conspirações que se seguiriam entre o tempo da divisão do império grego (pós morte de Alexandre), até a sua conquista pelo Império Romano, os quais estão relacionados com o povo de Israel, conforme Daniel capítulo 8.

 

A tremenda acurácia nas profecias deste livro, já cumpridas historicamente, tem levado aqueles que se antepõem às Sagradas Escrituras questionarem a data e autoria do livro, argumentando falsamente que o livro foi escrito muito tempo depois do profeta Daniel, o que é uma acusação sem nenhuma prova, nem evidência. É entendido que o livro do profeta Daniel deve ter sido completado por volta de 530 a.C.

 

Antes de analisar em detalhe a profecia a respeito da vinda de Mashiach, é importante olhar o contexto que cerca esta profecia, conforme Daniel capítulo 9.

 

No primeiro ano de Daryavesh Ben Achashverosh (Dario filho de Assuero), da descendência dos maday (medos), o qual foi feito rei sobre o reino dos casdim (caldeus), no primeiro ano do seu reinado, eu, Daniel compreendi pelos Livros (que) os números de anos, que viriam (em decorrência) da palavra de YHWH ao profeta Yirmeyahu (Jeremias), que (Ele) faria durar para as desolações de Yerushalayim (Jerusalém) seriam de setenta anos. (Daniel 9.1,2)

 

De acordo com Dn 9.1, a data da profecia ocorreu no primeiro ano de Dario, o que de acordo com os registros históricos, significa que ocorreu por volta do ano 539 a.C. Sendo assim, este episódio ocorreu por volta de 66 ou 67 anos após o início do exílio do povo Judeu na Babilônia.

 

Em Daniel 9.2 lê-se que Daniel estava estudando os Livros, e que entre eles estavam o livro do profeta Jeremias. Tanto em Jeremias 25.11,12, quanto em Jeremias 29.10, foi registrado, profeticamente, que o tempo de exílio do povo Judeu na Babilônia seria de 70 anos:

 

E toda esta terra será uma desolação e um horror. E estas nações servirão o rei de Babilônia por setenta anos. E será que, quando terminarem os setenta anos, eu punirei o rei de Babilônia e aquela nação, e a terra dos caldeus, por causa de sua iniquidade, diz YHWH, e tornarei a terra dos caldeus em ruínas (que permanecerão) para sempre. (Yirmeyahu/Jeremias 25.11,12)

 

Pois assim diz YHWH: quando de acordo com (as palavras) de minha boca se cumprirem os setenta anos para a Babilônia, eu vos visitarei e confirmarei a minha boa palavra a vosso respeito, para vos trazer de volta a este lugar. (Yirmeyahu/Jeremias 29.10)

 

Que outros Livros (do Tanach) Daniel estava estudando, não podemos afirmar com certeza, mas a atitude de Daniel registrada nos versículos seguintes do capítulo 9, de confissão por identificação dos pecados de Israel, conclui-se que existe alta probabilidade de que ele estivesse estudando também alguns trechos do Tanach que ensinavam que o arrependimento e a confissão dos pecados de Israel eram pré-requisitos para o retorno do exílio. Entre tais trechos estão por exemplo, Devarim (Deuteronômio) 30.1-3 e Vayikra (Levítico) 26.40-42 [ver também Alef Melachim (1 Reis) 8.46-51:

 

E será que, quando vos sobrevierem todas estas coisas, a bênção e a maldição, que pus diante de vós; e quando vos recordares (delas) por entre as nações que YHWH vosso Elohim vos espalhou, e tornares vós e vossos filhos de todo o vosso coração e alma a YHWH vosso Elohim e ouvires a Sua voz, então YHWH vosso Elohim vos fará voltar do cativeiro, e terá misericórdia de vós, e voltará e vos congregará de todas as nações por onde YHWH vosso Elohim vos espalhou. (Devarim/Deuteronômio 30.1-3)

 

E (se) confessarem a sua iniquidade, e a iniquidade de seus pais, naquilo que pecaram contra mim; e confessarem que andaram (halacha) de modo contrário a mim, de modo que também andei de modo contrário a eles, levando-os para a terra dos seus inimigos. Se o seu coração incircunciso se humilhar, de modo que reconheçam que foram punidos por causa de suas iniquidades; então Eu me lembrarei da minha aliança (b’rit) com Yacov (Jacó), e também da minha aliança com Yitzchak (Isaque), e também da minha aliança com Avraham (Abraão), e também me lembrarei da Terra (de Yisrael). (Vayikra/Levítico 26.40-42)

 

Além disso, a expectativa do profeta de que o Reino Messiânico seria estabelecido imediatamente em seus dias, com o subsequente envio do Malach Gavri’el (anjo Gabriel) trazendo a mensagem de Elohim de que a vinda do Messias e o estabelecimento do Reino Messiânico não seria nos seus dias, nos leva a concluirmos com grandes chances, que Daniel também estava estudando o livro do profeta Isaías, pois este homem de Elohim profetizara muitos anos antes a respeito do levantamento de Koresh (Ciro) como um mashiach de YHWH para decretar a libertação do povo Judeu de Babilônia, conforme Isaías 44.28-45.1:

 

Que diz a Koresh (Ciro): És Meu pastor, e farás toda a Minha vontade, a fim de que diz a Yerushalayim: ela será edificada - e ao Templo: ele será estabelecido (em seus alicerces). Assim diz YHWH a seu mashiach, a Koresh, a quem tomei pela mão direita, para abater (e subjugar) as nações a olhos vistos, para tirar (o manto de autoridade) de sobre os lombos os reis. Abrirei diante dele portas e portais (de cidades) que não se fecharão. Por causa de meu servo Yacov, e de Yisrael, meu escolhido, é que chamei-te pelo nome, e te pus sobrenome, mesmo sem me conheceres. (Yeshayahu/Isaías 44.28-45.1,4)

 

Sabedor de quando se iniciou o cativeiro do povo Judeu para a Babilônia (por volta de 605 a.C) e de que o tempo do exílio seria de 70 anos, temos então que o profeta concluiu a respeito do tempo exato que restava para terminar o cativeiro (por volta de 3 anos). Com a consciência de que nenhuma palavra profética se cumpre sem que antes seja gerada pela oração intercessora, Daniel orou para o cumprimento desta profecia. Do mesmo modo, ciente de que o pré-requisito para o retorno do cativeiro era a confissão dos pecados da nação, Daniel confessou os pecados de Israel.

 

Porque os que ouvem a lei não são justos diante de Elohim, mas os que praticam a lei hão de ser justificados. (Romanos 2:13)

 

A Oração de Daniel

 

Com vistas a uma melhor compreensão da oração de Daniel, se pode dividi-la em duas partes principais: a primeira, em Daniel 9.3-15 que irá tratar da confissão do pecado:

 

“E voltei a minha face para Adonai HaElohim, para buscá-lo pela oração e pelas súplicas, com jejum, pano de saco e cinza. E intercedi diante de YHWH meu Elohim, e fiz minha confissão, dizendo: Ó Adonai, Elohim grande e tremendo, que guardas a aliança e a misericórdia a favor daqueles que o amam e guardam as tuas mitzvot (mandamentos). Nós temos pecado, e cometido iniquidade, e feito o mal, e nos afastado de tuas mitzvot (mandamentos) e de teus mishpatim (juízos). E não ouvimos a teus servos os profetas (neviim) que falaram em Teu Nome aos nossos reis, aos nossos príncipes, aos nossos pais, e a todo o povo da Terra (de Yisrael). Ó Adonai, a tsedakah (a justiça) pertence a Ti, mas a nós, a vergonha das nossas faces, como hoje se vê, e também aos homens de Yehudah (Judá), aos habitantes de Yerushalayim (Jerusalém), e a todo o Yisrael, tanto aos que estão perto, quanto aos que estão longe, os quais foram espalhados por causa de toda a infidelidade com que procederam contra ti. Ó Adonai, a nós, aos nossos reis, aos nossos príncipes e aos nossos pais pertence a vergonha das nossas faces, porque nós temos pecado contra Ti. A Adonai Eloheinu pertence as misericórdias e o perdão, pois nós temos nos rebelado contra ele. Nós não temos obedecido a Voz de YHWH Eloheinu para andar na Sua Torah, a qual Ele nos deu por meio de seus servos os profetas. Todo o Yisrael transgrediu a Tua Torah (passou para além dos Seus limites de sua proteção), e desviou-se, para que que não viesse a obedecer a Tua Voz. Por esta razão, a maldição e a imprecação derramaram-se sobre nós, de acordo com tudo o que está escrito na Torah de Moshe (Moisés), servo de Elohim, porque temos pecado contra Ele, e por isso Ele confirmou Suas Palavras que falou contra nós, e contra nossos juízes que nos julgavam, trazendo sobre nós grande mal, o qual nunca sucedeu debaixo do céu como à Yerushalayim. Como está escrito na Torah de Moshe, assim todo este mal veio sobre nós, e ainda assim não oramos diante de YHWH Eloheinu, nem nos convertermos de nossas iniquidades, a fim de atentarmos a tua verdade. Por isso YHWH cuidou para que todo este mal viesse sobre nós. Pois YHWH Eloheinu é Tsadik (Justo) em todas as Suas obras que executa, pois não obedecemos a Sua voz. E agora, ó Adonai Eloheinu, que tiraste o Teu povo da terra do Egito com mão poderosa, tornando o Teu Nome exaltado, como hoje se vê, nós temos pecado e agido iniquamente. (Daniel 9.3-15)

 

Daniel reconheceu tanto o pecado quanto a culpa do seu povo (v.5), a qual, segundo a sua confissão, foi determinada tanto pela desobediência à Torah de Moshe (v.11), quanto pela desobediência aos profetas (v.6), os quais foram enviados por YHWH para exortarem o povo ao arrependimento (teshuvah) e retorno/conversão a Ele - Bendito seja - e à Sua Santa Torah.

 

Daniel não procurou desculpas nem negações para o pecado de sua nação e do seu povo, mas procurou ser totalmente transparente diante de Elohim em plena confissão, e assumiu a postura de um intercessor, na medida em que plenamente se identificou com todo o seu povo em todos os seus pecados, o que pode ser percebido pela utilização do pronome nós no transcorrer de toda a oração.

 

Sua oração expressa que Daniel tinha total consciência de que fora o pecado e desobediência do seu povo que trouxera sobre eles mesmos o juízo divino (v.11), juízo este cumprido através do cativeiro na Babilônia, o qual fora predito pelas palavras dos profetas, em confirmação à "Torah de Moshe", a qual ensina que o juízo Divino é trazido sempre que há perseverança na desobediência à Palavra de Elohim. Ele reconheceu que a desobediência de Israel, tanto à Torah quanto aos Neviim (profetas), trouxera sobre Israel a vergonha das nossas faces (v.7), uma expressão idiomática referente a um profundo sentimento de vergonha, vergonha esta que trouxe sobre Daniel o espírito de arrependimento por identificação, e a necessidade de suplicar o perdão de Elohim a favor de todo o seu povo.

 

A segunda parte da oração de Daniel, em Dn 9.16-19, é uma súplica pelas misericórdias de Elohim, para que trouxesse perdão a Sua nação, e súplica pela graça (favor imerecido) de Elohim, para que trouxesse restauração à Sua nação:

 

Ó Adonai, de acordo com todas as Tuas Justiças, aparte-se a tua ira e o teu furor da tua cidade de Yerushalayim, o teu santo monte, pois por causa dos nossos pecados e das iniquidades dos nossos pais é que Yerushalayim e o teu povo tornaram-se motivo de reprovação por todos os que estão ao redor de nós. E agora, ouve, ó Eloheinu, a oração e as súplicas do teu servo, e por amor de Adonai, faze resplandecer o Teu rosto sobre o Teu santuário, que está desolado. Ó meu Elohim, inclina os Teus ouvidos e ouve, abre os Teus olhos e olha para a nossas desolações e para a cidade que é chamada pelo Teu nome. Pois suplicamos a ti, não firmados em nossas próprias justiças, mas sim em tuas grandes misericórdias. Ó Adonai, perdoa; ó Adonai, ouve, e age sem detença, por amor de Ti mesmo, ó Elohim, pois Tua cidade e o Teu povo são chamados pelo Teu Nome. (Daniel 9.16-19)

 

Daniel fez estas súplicas, firmado tanto na tsedakah (justiça) (v.16), quanto nas rachamim (misericórdias) (v.18b) do próprio Elohim. Daniel percebeu que não havia tsedakah em sua nação para determinar o perdão e a restauração de Elohim (pois não havia mérito na nação para isto, muito pelo contrário, pois fora o pecado e a desobediência da nação que trouxera o juízo de Elohim), mas que a base do perdão e favor divinos seriam concedidos por teshuvah (arrependimento) dos pecados, e emunah (fé) em Elohim (incluindo a fé no perdão, bem como nas justiças de Elohim em cumprir as Suas promessas a favor do seu povo). A conclusão da oração de Daniel no v.19, expressa um profundo clamor, e agonizante intercessão a favor da restauração de sua nação: “Ó Adonai, ouve; ó Adonai, perdoa; ó Adonai, atende-nos e age; não te retardes, por amor de ti mesmo, ó Elohim meu; porque a tua cidade e o teu povo são chamados pelo teu nome.”

 

A chegada de Gabriel

 

Enquanto ainda falava e orava e confessava o meu pecado e o pecado do meu povo Yisrael, e prostrava-me em súplicas diante de YHWH meu Elohim, a favor do santo monte do meu Elohim, e enquanto falava (ainda) em oração, então o homem Gav’riel (Gabriel), a quem observara em visão no princípio, veio voando rapidamente, e tocou-me por volta do sacrifício da tarde. E querendo instruir-me, falou comigo, dizendo: ó Daniel, agora vim para trazer-te entendimento (a respeito dos tempos e épocas da redenção de Yisrael). No princípio das tuas súplicas, a Palavra (de Elohim) foi liberada, e então vim para fazer-te saber, pois és mui amado. Considera, pois, o assunto e entende a visão. (Daniel 9.20-23)

 

Enquanto Daniel intercedia fervorosamente pelo seu povo, foi interrompido (v.21). Ele aparentemente tinha a intenção de orar mais (v.20) quando Gabriel chegou. A interrupção veio pelo toque da mão do anjo Gabriel (v.21), à hora do sacrifício da tarde. Isto faz referência ao sacrifício diário da tarde que era oferecido enquanto o Beit haMikdash (o Templo de YHWH em Yerushalayim) permanecia, mostrando o profundo desejo de Daniel pelo retorno do cativeiro e pela restauração do Templo pois estava orando na hora do sacrifício.

 

Os versículos subsequentes vão mostrar que os propósitos do envio de Gabriel por YHWH foram:

 

- Corrigir o entendimento de Daniel quanto ao tempo do estabelecimento do Reino Messiânico e;

- Apresentar a revelação de Elohim, quanto ao tempo da vinda do Messias.

 

O Decreto dos 70 Shavuim

 

A profecia entregue por Gabriel a Daniel, de acordo com Dn 9.24a, inicia dizendo:

 

Setenta shavuim estão decretados sobre o teu povo e sobre a tua santa cidade...

 

Neste versículo, aparece a palavra hebraica shavuim, plural da palavra shavua. Esta palavra é utilizada no Tanach como um período de "sete". De acordo com a Strong’s Concordance, esta palavra pode se referir a um período de sete de qualquer coisa, seja de dias, ou semanas, ou meses, ou anos etc., sendo que será o contexto que determinará o significado do período. Aqui se encontra evidente de que Daniel estava pensando em termos de anos, especificamente a respeito dos 70 anos do cativeiro. Como Daniel entendeu pelo Tanach que o cativeiro duraria 70 anos, passou a supor também que o Reino Messiânico seria estabelecido depois destes 70 anos, ou seja, nos seus dias. Mas então veio o anjo Gabriel, para dizer a Daniel que o Reino do Messias, não viria depois daqueles 70 anos de cativeiro, mas sim depois de 70 Shavuim (70 Setes), ou seja, pelo contexto, depois de 70 setes de anos, totalizando um total de 490 anos (70 vezes sete).

 

Este período de 490 anos fora decretado sobre o povo de Daniel - o povo Judeu, e sobre a santa cidade de Yerushalayim. A palavra hebraica traduzida por "decretados" é chatak (02852), que de acordo com a Concordância de Strong, assume no tempo Niphal (o qual é utilizado neste versículo, com respeito a este verbo) o significado de "estar determinado".

 

Nos capítulos 2, 7 e 8, YHWH revelou a Daniel o tempo da história da humanidade em que as nações gentílicas teriam um papel dominante sobre o povo Judeu (chamado de tempo dos gentios). Este longo período, que começou com o Império Babilônico, irá terminar com o estabelecimento do Reino do Messias. Então, foi dito ao profeta, que durante todo o tempo dos gentios, haveria 490 anos que seriam contados para o cumprimento da restauração final de Israel e para o estabelecimento do Reino do Messias.

 

O ponto focal deste período de 70 setes de anos seria "o teu povo... (e) a tua santa Cidade”. O povo do profeta Daniel é o povo Judeu, e a sua santa Cidade é a cidade de Yerushalayim (Jerusalém). Embora tivesse passado a maior parte dos seus dias na Babilônia, a mensagem de YHWH através do anjo era que a cidade de Daniel era Yerushalayim. Isto mostra que na ótica de YHWH, a cidade do povo de Israel sempre será Yerushalayim, esteja onde estiver.

 

O Propósito dos 70 Shavuim

 

Setenta shavuim estão decretados sobre o teu povo e sobre a tua santa cidade, para acabar a transgressão, para dar fim aos pecados, para fazer expiação da iniquidade, para trazer uma Era de Justiça. (Daniel 9.24)

 

Foi dito a Daniel por Gabriel, que os 70 Shavuim (70 Setes) eram para levar a cabo seis propósitos:

 

Primeiro propósito: acabar a transgressão

 

A palavra hebraica traduzida por acabar é kala (03607), e significa restringir firmemente e restringir completamente.

 

A palavra hebraica traduzida por transgressão é pesha (06588), sendo uma palavra muito forte com respeito ao pecado, e de maneira mais literal, significa rebelião. O texto hebraico tem esta palavra com o artigo definido (ha), de modo que literalmente significa a rebelião ou a transgressão. O ponto chave é que algum ato específico de rebelião será completamente dominado e levado a um fim. Este ato de transgressão será posto sobre controle completo, de modo que não mais florescerá. A apostasia de "Yisrael" será firmemente restringida e extinta.

 

Segundo propósito: dar fim aos pecados

 

A palavra hebraica traduzida por pecados é chatah (02403). Esta palavra significa errar o alvo. Ela se refere aos pecados da vida diária. A profecia está dizendo que mesmo estes pecados serão levados a um fim. Isto com certeza está de acordo com outras profecias que afirmam que no Reino Messiânico, o chatah será removido de Israel (veja por exemplo, Ezequiel 36.24-31).

 

Terceiro propósito: fazer expiação da iniquidade

 

A palavra hebraica traduzida por fazer expiação é kaphar (03722), e aparece em vários trechos do Tanach no mesmo tempo verbal (Piel) tendo o mesmo significado (exemplos: Vayikra/Levítico 16.10,20,27,34). Esta palavra tem a mesma raiz da palavra kippur (03725), conhecida por formar a palavra referente ao encontro anual com YHWH (moed) conhecido no Tanach como Yom haKippurim (Dia das Expiações – Vayikra/Levítico 23.27 e 25.9), quando o Cohen haGadol entrava no Kodesh haKadashim (Santo dos Santos) para aspergir o sangue da oferta pelo pecado sobre o Kapporeth (03727), a favor de toda a nação de Israel (ler Vayikra/Levítico 16).

 

A palavra hebraica traduzida por iniquidade é avon (05771), e se refere ao pecado interior. Este termo é conhecido por alguns como natureza pecaminosa. Entre o povo judeu, o termo é mais comumente conhecido por yetzer hara (má inclinação).

 

Deste modo, o terceiro propósito dos 70 Shavuim, é, de alguma forma, seja feita a expiação pela iniquidade.

 

Quarto propósito: trazer uma Era de Justiça

 

A palavra traduzida por Era é olam (05769) e embora também possa significar algo para sempre, é melhor traduzida aqui por Era, na medida que esta Era de Justiça a respeito da qual o trecho se refere é a própria Era Messiânica (ou Reino do Messias), confirmado pelos profetas (por exemplo Isaías 11.1-9, a respeito do futuro Reino do Messias, descrito no trecho como um Reino firmado na Justiça). É exatamente esta Era Messiânica que Daniel esperava ver estabelecida ao fim daqueles 70 anos de cativeiro, sendo-lhe revelado, no entanto, que ela viria somente após a contagem de 490 anos de entre os tempos dos gentios.

 

Quinto propósito: selar a visão e a profecia

 

A palavra hebraica traduzida por selar, a saber, a palavra chatam (02856) transmite a ideia, pelo contexto, de cumprir completamente ou fazer cessar. Assim, a visão e a profecia seriam completamente cumpridas. Chegará o dia que todas as profecias da Palavra de YHWH serão cumpridas e por isso, elas cessarão.

 

Sexto propósito: ungir o Santo dos Santos

 

Certamente que isso é uma referência ao Beit haMikdash (Templo) que será construído quando o Messias vier (Zc 6.12,13), e à vinda da Shekinah (Presença) e da Kavod (Glória) de YHWH para este Templo.

 

O Início da Contagem dos 70 Shavuim

 

Sabe, então, e entende: desde a liberação da ordem para restaurar e edificar Yerushalayim até Mashiach, Princípe, sete shavuim (setes) e sessenta e dois shavuim... (Daniel 9.25)

 

Foi dito claramente a Daniel quando os 70 Setes deveriam começar a ser contados. Gabriel disse "Sabe, então, e entende: desde a liberação da palavra para restaurar e edificar Yerushalayim...". Os 70 setes se iniciariam com um decreto relativo à reconstrução da cidade de Jerusalém. Dos registros históricos e bíblicos, temos os seguintes decretos relacionados com a restauração do povo Judeu do cativeiro babilônico:

 

- O decreto de Ciro, entre 538 e 536 A.E.C. (B.C.E) relativo a reconstrução do Templo, conforme 2 Crônicas 36.22,23 e Esdras 1.1-4.

- O decreto de Dario Hispates, por volta de 521 A.E.C., conforme Esdras 6.6-12, que foi uma reafirmação do decreto de Ciro, a fim de que a reedificação do Templo continuasse.

- O decreto de Artaxerxes para Esdras, por volta de 458 A.E.C., conforme Esdras 7.11-26, para que a adoração do Templo continuasse.

- O decreto de Artaxerxes para Neemias, por volta de 444 A.E.C, conforme Neemias 2.1-8, autorizando a reedificação da cidade de Jerusalém.

 

Enquanto os três primeiros decretos estão relacionados com a reedificação do Templo e a continuidade de sua adoração, o quarto decreto é específico à restauração da cidade de Jerusalém, donde concluímos que o decreto de restauração da cidade de Jerusalém do cativeiro babilônico é o de Artaxerxes por volta de 444 A.E.C. conforme Neemias 2.1-8. Deste modo, foi com a emissão deste decreto que foi iniciada a contagem dos 70 Setes.

 

Os Primeiros 69 Shavuim (69 Setes)

 

Sabe, então, e entende: desde a liberação da ordem para restaurar e edificar Yerushalayim até Mashiach, Princípe, sete shavuim e sessenta e dois shavuim. As ruas e fossos serão reedificados, porém em tempos de aflição. (Daniel 9.25)

 

Os 70 Shavuim (70 Setes) são divididos em três blocos - 7 Setes, 62 Setes e 1 Sete. Durante o primeiro período de 7 Setes, ou seja, de 7 x 7 = 49 anos, Jerusalém seria reedificada, porém em tempos angustiosos. O segundo bloco de tempo (62 Setes = 62 x 7 = 434 anos) seguiram imediatamente o primeiro bloco, totalizando então os dois primeiros blocos 69 Setes = 69 x 7 = 483 anos.

 

Então a profecia nos diz que o ponto de fim dos 69 Setes: "até Mashiach, Princípe". Assim, esta profecia nos ensina claramente que 483 anos depois da emissão do decreto para reedificação da cidade de Jerusalém, Mashiach estaria aqui na terra.

 

Os Eventos entre o 69º Sete e o 70º Sete

 

E depois das sessenta e duas semanas será cortado Mashiach e não estará. E a cidade e o santuário serão destruídos por um povo de um príncipe que ainda virá, e o fim da cidade será avassalador (como num dilúvio) e até o (tempo do) fim guerras e destruições estão determinadas”. (Daniel 9.26)

 

Embora o primeiro e o segundo bloco de setes tenham sidos subsequentes, a Escritura ensina que o terceiro bloco de sete não seguiria imediatamente o segundo bloco. De acordo com o v.26, três coisas deveriam ocorrer depois do segundo bloco de setes e antes do início do terceiro bloco.

 

A primeira coisa que a Escritura ensina que ocorreria depois do fim do segundo bloco de setes é que Mashiach seria cortado e já não estaria. A palavra hebraica traduzida por cortado é karat (03772). Esta palavra assume em outros trechos da Escritura o significado de morrer e perecer (por exemplo Lv 17.14). A Escritura é clara ao ensinar que após o fim do segundo bloco de setes, Mashiach seria morto.

 

A segunda coisa que a Escritura ensina que ocorreria depois é que "a cidade (de Yerushalayim) e o santuário serão destruídos por um povo de um príncipe que ainda virá, e o fim da cidade será avassalador (como num dilúvio)".

 

O Tanach está mostrando que a cidade de Jerusalém, que seria reedificada a partir do decreto que iniciaria a contagem dos 70 Setes, seria destruída, bem como o seu Templo. Assim, algum tempo depois que o Messias fosse morto, a cidade de Jerusalém e o seu Templo sofreriam outra destruição.

 

Nosso conhecimento de história quanto a este período é extremamente acurado e claro: o povo responsável pela destruição da cidade e do Templo foram os romanos, e esta destruição ocorreu em 70 d.C. De acordo com este versículo, Mashiach deveria vir e morrer antes do ano 70 d.C.

 

A terceira coisa que a Escritura ensina que ocorreria é que "até o (tempo do) fim guerras e destruições estão determinadas". Isto mostra que depois da destruição de Jerusalém em 70 E.C. no tempo que restasse entre o 69º Sete e o 70º Sete, a terra de Israel seria caracterizada por um estado de ausência de shalom, por meio de conflitos e desolações e guerras. Isto seria a preparação para o fim, o 70º Sete.

 

O 70º Sete

 

E ele confirmará uma aliança (b´rit) com muitos por um sete (shavua), e na metade do sete ele fará cessar o sacrifício e oferta, e como sobre asas, (virá) o abominável da desolação, até que no fim, a destruição venha sobre ele. (Daniel 9.27)

 

No tempo atual, o 70º sete, ou seja, os últimos sete anos da profecia de Daniel ainda estão para se cumprirem.

 

Estamos vivendo hoje no intervalo de contagem entre o 69º Sete e o 70º sete. Os seis propósitos dos 70 setes da profecia de Daniel, descritos em Dn 9.24, só estarão plenamente cumpridos a favor de Israel depois do cumprimento do 70º sete.

 

Entretanto, a profecia é clara em primeiro lugar para indicar quando o último sete de anos proféticos começará a serem contados: com a assinatura de uma aliança (tratado) entre Israel e um líder político maior de entre as nações, representativo do antigo império romano.

 

Em segundo lugar, a profecia ensina que na metade deste período de sete, ou seja, três anos e meio depois, este líder gentio irá quebrar a sua aliança com Israel e fazer com que a adoração e os sacrifícios no Templo cessem (a implicação disso é que haverá um Templo reconstruído e restabelecido todos os sacrifícios de acordo com a Torah, mas que, algum tempo depois, todo o funcionamento do Templo será interrompido à força deste líder gentio).

 

Em terceiro lugar, depois desta interrupção da adoração e sacrifício no Templo, ele se tornará abominável. A palavra hebraica traduzida por abominação (shikitz - 08251) é utilizada em outros trechos do Tanach com respeito a abominação referente aos ídolos e à idolatria (com todas as suas imagens). Assim foi nos dias de Antíoco Epifânio, e assim será no futuro, quando este líder gentio irá tornar o Templo abominável por meio da idolatria.

 

Em quarto lugar, a Escritura ensina que depois desta quebra de aliança, interrupção do Templo, e abominações no Templo, um período de grande ira, perseguição e desolação virá durante os três anos e meio seguintes. Este período é conhecido no Tanach como tempo de angústia para Yacov (Yermeyahu/Jeremias 30.6 - leia a profecia de Jeremias 30.1-9).

 

Por fim, a profecia ensina que ao final deste 70º sete, esse líder gentio será destruído e o Reino Messiânico será estabelecido, cumprindo-se então tudo aquilo que foi explicado em Daniel 9.14, com respeito aos propósitos de Elohim para com Israel.

 

É evidente que o Reino Messiânico irá requerer Mashiach governando como Rei. Isso significa que Mashiach se manifestará ao final do 70º sete. No entanto, esta profecia do livro de Daniel ensina que Mashiach seria morto depois do 69º Sete.

 

Isto seria uma contradição, ao menos que Daniel estivesse falando em duas manifestações de Mashiach, sendo que a última será para estabelecer o Reino Messiânico. No entanto, como ele foi morto após o 69º sete, isso certamente implica na sua ressurreição.

 

Conclusões

 

Esta tremenda profecia do livro de Daniel é muito clara em todos os seus aspectos:

 

- Primeiro, ela ensina que Mashiach esteve sobre a Terra 483 anos depois do decreto para a reconstrução de Jerusalém.

- Segundo, depois desta manifestação messiânica, ele foi morto.

- Terceiro, sua morte ocorreu antes da destruição de Jerusalém e do Templo em 70 d.C.

- Quarto, o tempo depois da destruição de Jerusalém a do Templo, deve seguir com ausência de shalom permanente sobre Israel até o início do 70º sete.

- Quinto, o 70º sete será iniciado com a assinatura de uma aliança entre Israel e um líder político maior de entre os gentios.

- Sexto, na metade deste 70º sete a aliança será rompida, cessarão os sacrifícios do Templo, abominação estará no Templo, seguindo-se de um período de grande perseguição.

- Sétimo, ao fim do 70º sete, o líder gentio será destruído e o Reino Messiânico estabelecido. Para isto ocorrer, Mashiach, que foi morto, deve novamente se manifestar.

 

Se as profecias do livro de Daniel estão corretas, Mashiach veio e morreu. Se estas profecias estão corretas, não há outra opção para quem seja Mashiach, a não ser Yeshua de Natzeret (Jesus de Nazaré). Se elas estão corretas, Yeshua está destinado a voltar e estabelecer o Reino Messiânico, na qualidade de Melech haMashiach Ben David.

 

Diretor do Cafetorah

 

Bibliografia

 

Anderson, Sir Robert. The Coming Prince. London: Hodder and Stoughton, 1909.

Biblia Hebraica Stuttartensia. Stuttgard: Deutch Bibelgesellschrift, 1990.

Brenton, Sir Lancelot C. L. , Septuagint With Apocrypha Greek and English. Peabody: Hendrickson, 1986.

Brown, Dr. Francis, Driver, Dr. S.R., and Briggs, Dr. Charles A. A Hebrew and English Lexicon of the Old Testament. Oxford: The Clarendon Press: 1966.

Encyclopedia Judaica. Jerusalem: Keter Publishing.

Fruchtenbaum, Arnold G. The Messianic Time Table According to Daniel the Prophet. Ariel Ministries.

Green, Jay P. The Interlinear Hebrew Aramaic Old Testament - Vols 1 to 3. Peabody: Hendrickson, 2nd edition, 1985.

Hatch, Edwin and Redpath, Henry A. A Concordance to the Septuagint : And the Other Greek Versions of the Old Testament. Grand Rapids: Baker Book House.2nd Edition, 1998.

Strong, James. Exhaustive Concordance of the Bible. Peabody: World Bible Publishers, 1980

Mansoor, Menahem. Biblical Hebrew Step By Step, Vols 1 e 2. Grand Rapids: Baker Book House, 2nd edition, 1979.

Moore, Philip Nicholas. The End of History - Messiah Conspiracy. Atlanta: The Conspiracy Inc., 1st Edition, 1996.

 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A INCOERÊNCIA TEOLÓGICA

    Dias atrás estava conversando com alguns evangélicos e sobre o porquê de seguirem aquilo que seguem. Por exemplo: a mulher não poder usar calça, o crente não poder fazer tatuagens, dentre outras coisas.   Quando questionados, claramente em alto e bom som, a maioria fala que não! Retruquei com um simples por quê? Um respondeu: - "Acho que pode sim, não vejo problema algum!"   Outro contrariando, falou: - "O pastor diz que a mulher não pode usar calça e pronto!"   E outro complementou: - "O pastor disse, mas eu não vejo nada na Bíblia que fala de mulher não poder usar calça!"   Um mais ferrenho disse: - "Isto é doutrina, então deve ser seguido!"   Aí perguntei: - "Doutrina? Baseada em que? Por acaso está na Bíblia?"   Recebi uma resposta: - "Tem sim! Na Bíblia, numa parte fala que a mulher não pode usar roupa de homem, e homem não pode usar roupa de mulher!"   Está aí a resposta, ent

EM QUE DIA MORREU YESHUA: SEXTA OU QUARTA-FEIRA?

    É verdade que Yeshua (Jesus) ressuscitou no domingo de manhã? Alguns advogam que o domingo se tornou o dia de guarda, baseados nesta ideia. Seria isto verdade? É certo considerar parte de um dia, como sendo 24 horas?   O MASHIACH E O SINAL DE JONAS   Sem levar em conta a história de Jonas, não haveria prova positiva com a qual refutar o protesto de que o Mashiach (Messias) da Bíblia era um impostor; porque Ele mesmo disse para alguns incrédulos escribas e fariseus, os quais duvidaram de sua verdadeira identidade, embora o tenham visto fazer milagres, que não seria dado outro sinal além daquele de Jonas, para justificar a sua afirmação messiânica.   Então alguns escribas e fariseus lhe disseram: Mestre, gostaríamos de ver da tua parte algum sinal. E Ele lhes respondeu: Uma geração má e adúltera pede um sinal, porém não se lhe dará outro sinal senão o do profeta Jonas. Pois como Jonas esteve três dias e três noites no ventre do grande peixe, assim estará o Filho do home

FÉ NO FUTURO

    Alguma medida do radicalismo que é introduzido no mundo pela história do Êxodo pode ser vista na tradução errada das três palavras-chave com as quais Elohim Se identificou a Moisés na Sarça Ardente.   A princípio, Ele se descreveu assim:   “Eu sou o Elohim de teu pai, o Elohim de Abraão, o Elohim de Isaque e o Elohim de Jacó” .   Mas então, depois que Moisés ouviu a missão para a qual seria enviado, ele disse a Elohim:   “ Suponha que eu vá aos israelitas e lhes diga: 'O Elohim de seus pais me enviou a vocês', e eles me perguntam: 'Qual é o nome dele?' Então o que devo dizer a eles? Foi então que Elohim respondeu, enigmaticamente, Ehyeh Asher Ehyeh (Ex. 3:14).   Isto foi traduzido para o grego como ego eimi ho on , e para o latim como ego sum qui sum , significando 'Eu sou quem sou', ou 'Eu sou Aquele que é'. Todos os teólogos cristãos primitivos e medievais entenderam que a frase falava de ontologia, a natureza metafísica da e