Dadas as controvérsias entre o
Judaísmo e Cristianismo, gostaria de postar um esclarecimento, que, creio eu,
servirá de base para os novatos no Caminho, e também de referência para os
antigos.
A Base da Nossa Fé
Vivemos tempos de restauração da
fé, de voltarmos às nossas origens. Nós somos o princípio. Estamos muito no
começo do processo de cumprimento do que fora profetizado na Palavra:
Assim diz YHWH:
Ponde-vos nos caminhos, e vede, e perguntai pelas veredas antigas, qual é o bom
caminho, e andai por ele; e achareis descanso para as vossas almas.
(Yrmiyahu/Jeremias 6:16a)
Estamos vivendo o tempo de
retorno às veredas antigas, ao Caminho estabelecido por YHWH em Sua Santa
Palavra. Mais especificamente, voltamos qual filho pródigo aos Seus mandamentos.
Mas, qual é a base desse retorno? A Bíblia esclarece:
Assim diz YHWH
Tseva'ot: Naquele dia sucederá que pegarão dez homens, de todas as línguas das
nações, pegarão, sim, na orla das vestes de um judeu, dizendo: Iremos convosco,
porque temos ouvido que Elohim está convosco. (Zekariyah 8:23)
Vemos que no fim dos tempos, os
homens das nações irão atrás dos judeus, por ouvirem que Elohim está com eles.
Assim sendo, podemos ver que as Escrituras nos dizem uma coisa muito clara: NOSSA
FÉ É JUDAICA. O Judaísmo, fé que recebeu esse nome por ter sido
preservada pelos judeus, é a única fé estabelecida pelo único Elohim
verdadeiro.
Meus amados, faço
o meu melhor para vos escrever acerca de nossa vida interior. É importante vos
escrever, para vos persuadir a lutar em prol da nossa fé, a qual foi uma única
vez entregue aos santos. (Yehudá/Judá 1:3)
Essa fé que foi uma única vez
entregue não pode ser o Cristianismo, pois ele é muito posterior. Essa fé é a
fé de Avraham, de Moisés, dos profetas, que confiavam em Elohim para a salvação
e que procuravam viver em obediência. Portanto, estabelecemos que nossa fé é
judaica.
Relacionamento com o
Cristianismo
Reconhecemos que existe povo de
YHWH que ainda se encontra nas igrejas cristãs. Cremos em um tempo de
restauração em que YHWH chamará esse povo, como chamou a nós. Sabemos que isso
ocorrerá antes do fim dos tempos, porque o povo do fim dos tempos tem uma
característica distinta:
E o dragão irou-se
contra a mulher, e foi fazer guerra ao remanescente da sua semente, os que
guardam os mandamentos de Elohim, e têm o testemunho de Yeshua HaMashiach.
(Guilyana/Apocalipse 12:17)
Falo agora do Cristianismo
enquanto instituição, e não dos cristãos enquanto pessoas. O Cristianismo
desconhece Yeshua, o judeu, e justamente por isso, não guarda os mandamentos de
Elohim (claro que sempre há exceções, mas são pouquíssimas).
É escolha da maior parte da
Cristandade, inclusive, opor-se à prática dos mandamentos. Frequentemente, por
exemplo, quem guarda o Shabat, o quarto mandamento, é acusado de ter “caído
da graça” – como se a graça de Yeshua, que afirmamos com todas as nossas
forças, fosse pretexto para pecarmos deliberadamente.
De fato, o Cristianismo se trata
nada mais nada menos do que uma religião criada por grupos que desejavam ter
uma fé completamente desconectada do Judaísmo, com quase nenhuma raiz
nas páginas do chamado “Antigo Testamento” (que não sem um motivo
recebeu tal termo). O Cristianismo optou por negar as raízes da Oliveira, contrariando
as recomendações de Rav. Sha’ul (Paulo) que diz:
Não te glories
contra os ramos; e, se contra eles te gloriares, não és tu que sustentas a
raiz, mas a raiz a ti. (Ruhomayah/Romanos 11:18)
Ao fazer isso, o Cristianismo
usurpou a identidade hebraica da fé. Em sendo “ramos”, foram buscar as
suas raízes, e a encontraram no paganismo romano, cujas origens estão nas
antigas religiões politeístas grega e babilônica, novamente contrariando as
Escrituras. Qual deve ser, portanto, nossa posição com relação ao Cristianismo?
Yeshua disse:
Assim, toda a
árvore boa produz bons frutos, e toda a árvore má produz frutos maus. Não pode
a árvore boa dar maus frutos; nem a árvore má dar frutos bons.
(Mattityahu/Mateus 7:17-18)
Boa parte dos teólogos são unânimes
em identificar a “Grande Meretriz” do Apocalipse com o Império Romano.
Foi esse Império Romano, que perdura até hoje na forma político-eclesiástica,
quem criou o Cristianismo. A “mãe de todas as prostitutas” têm, hoje,
muitas filhas: São as denominações que mudam o suficiente para se diferenciarem
da mãe e dizerem “sou diferente”, mas que não querem abandonar toda a
doutrina criada por Roma e recomeçar.
A Reforma Protestante trouxe
coisas positivas, é verdade, mas para a Grande Babilônia não existe Reforma,
existe total ruptura:
E ouvi outra voz
do céu, que dizia: Sai dela, povo meu, para que não sejas participante dos seus
pecados, e para que não incorras nas suas pragas. (Guilyana/Apocalipse 18:4)
Saí do meio dela, ó
povo meu, e livrai cada um à sua alma do ardor da ira de YHWH... Vós, que
escapastes da espada, ide-vos, não pareis; de longe lembrai-vos de YHWH, e suba
Yerushalayim a vossa mente. (Yirmiyahu/Jeremias 51:45,50)
As instruções são claras: Romper
total e completamente com o sistema religioso impostor que foi construído para
usurpar o Reino de Israel e seguir em direção a Jerusalém sem parar.
Como dissemos antes, estamos
falando do sistema religioso, e não de pessoas. Nossa posição é: Temos que
ajudar a restaurar pessoas. Porque somente uma pessoa restaurada pode almejar o
retorno. Tenho certeza de que muitos existem nas igrejas cuja vontade de
obedecer e de viver a Bíblia são maiores do que muitos de nós juntos, e que não
o fazem simplesmente por não conhecer a verdade. Creio na salvação, e na
pertinência deles ao povo amado de YHWH. E creio justamente que aí está a nossa
missão principal: Esclarecer. Como a própria palavra, etimologicamente, sugere,
levar luz onde há trevas. Mostrar o que é bíblico, e o que não é.
Mas e quanto às práticas cristãs?
E quanto ao Cristianismo em si? A resposta bíblica é clara. Nada temos com
eles. Nada temos com esse sistema religioso, exceto a distância absoluta. Como
se trata de um sistema impostor, idólatra, antinomiano, e enganador, não há
bons frutos. Não temos por que consideramos suas doutrinas, imitarmos seus
caminhos, ou tomarmos para nós as suas práticas.
Temos sim, que amar, instruir e
ter longanimidade para com os cristãos, sem acusá-los, sem maltratá-los (pois
isso não é fruto do Reino) nem proferir qualquer palavra que não seja em amor.
Se pudermos contribuir para que um mandamento apenas, um sequer, seja cumprido
por qualquer pessoa, é um passo dado na direção do Reino, e devemos nos
alegrar, pois um planta, o outro rega, e um terceiro colhe.
O Judaísmo e Nós
Como vimos, nossa fé é judaica.
Portanto, nossa identidade não pode ser desconectada do Judaísmo. O Judaísmo é
aquilo que praticamos e que nos define, pois somos o Reino de YHWH.
“Qual é, pois, a
vantagem do judeu? Ou qual a utilidade da circuncisão? Muita, em toda a
maneira, porque, primeiramente, as palavras de Elohim lhe foram confiadas.”
(Ruhomayah/Romanos 3:1-2)
Aqui Sha’ul (Paulo) nos diz que
as palavras de Elohim foram confiadas aos judeus. Nossa religião, repito e
reforço, é judaica. Somos, acima de tudo, Judaísmo. Portanto, o nosso ponto de
partida é sempre o Judaísmo. Ao longo desses dois mil anos em que a Torá foi
brutalmente perseguida, foi no povo judeu que ela foi preservada, mesmo em meio
a erros e acertos.
Se nós, enquanto movimento de
restauração, somente agora temos nos aproximado da Torá, a forma mais prudente
de fazê-lo é aprendendo com os judeus.
Como, portanto, estabelecemos a
nossa prática de fé? A primeira coisa que fazemos é olhar para como o Judaísmo
normativo faz. Nossa premissa é muito simples: Toda prática é derivada do
Judaísmo normativo, até que tenhamos atingido a maturidade em nossos estudos
para tirarmos qualquer outra conclusão. Enquanto não estudamos a fundo
as práticas da Torá, não temos base para questionar a forma como os judeus a
vêm praticando há milênios. Mas, tais elementos só podem ser encontrados se
conhecemos a palavra.
Consideramos que levantar-se
contra uma prática judaica, sem ter base bíblica para fazê-lo, simplesmente por
não querer fazer “da forma judaica” (coloco aqui entre aspas) é uma
atitude de rebeldia. Ou adentramos o povo de YHWH de corpo e alma, ou é melhor
não adentrarmos. Não podemos ficar com um pé dentro e outro fora, nem frios nem
mornos.
Isso significa que TUDO que o
Judaísmo normativo faz está certo? De forma alguma. Existem muitos erros.
Yeshua mesmo apontou alguns deles:
E assim
invalidastes, pela vossa tradição, o mandamento de Elohim. (Mattityahu/Mateus
15:6)
Yeshua aqui não inventa uma nova
postura, mas sim trabalha com uma premissa já estabelecida desde os tempos dos
profetas:
Porque YHWH disse:
Pois que este povo se aproxima de mim, e com a sua boca, e com os seus lábios
me honra, mas o seu coração se afasta para longe de mim e o seu temor para
comigo consiste só em mandamentos de homens, em que foi instruído.
(Yeshayahu/Isaías 29:13)
O segundo passo pode ser visto já
nos versículos supracitados. Em nossos estudos sobre a Torá, já demonstramos
que não existe uma Torá Oral. YHWH deixou por escrito tudo aquilo que Ele
espera que cumpramos. Toda prática que não deriva de e nem se refere a um
mandamento não pode ser considerada como tal. Pode ser até mesmo praticada como
uma boa tradição, mas nunca mais do que isso.
Se concluímos que o Judaísmo
tradicional tem alguma prática fora da Torá, então o terceiro passo também é
igualmente lógico: Procuramos se a Bíblia nos dá alguma diretriz explícita. Em
alguns casos, o NT revela a halachá (forma de caminhar) de Yeshua. Isso,
contudo, não acontece sempre. Se não encontrarmos a resposta explicitamente,
podemos pelo menos estabelecer uma hipótese bíblica.
O quarto passo é igualmente
lógico: Se a resposta não está no Judaísmo de hoje, então devemos estudá-la no
Judaísmo de ontem. Se olharmos para o Judaísmo histórico, nas práticas dos
fariseus antes do período Mishnaico (especialmente as Casas de Hillel e
Shamai), ou dos sacerdotes zadoquitas, ou mesmo de outros grupos judaicos que
persistem até hoje (caraítas, falashas etc.), é possível verificar se algum
desses grupos se aproxima de uma prática mais bíblica.
Quando a solução parece
improvável, isto é, quando cada grupo tem a sua própria opinião e parece-nos
muito difícil encontrar a verdade, então existe ainda um quinto passo,
orientado por YHWH. Ele nos diz:
Mas os sacerdotes
levíticos, os filhos de Tsadok, que guardaram a ordenança do meu santuário
quando os filhos de Israel se extraviaram de mim, eles se chegarão a mim, para
me servirem, e estarão diante de mim, para me oferecerem a gordura e o sangue,
diz Adonai YHWH... E a meu povo ensinarão a distinguir entre o santo e o
profano, e o farão discernir entre o impuro e o puro. (Yehezkel/Ezequiel
44:15,23)
Aos sacerdotes zadoquitas,
exilados da vida política de Israel, e cujos escritos podemos encontrar nos
manuscritos do Mar Morto, pertence a incumbência de ensinar a Israel o que é
santo e o que é profano. Assim sendo, o quinto passo é analisar as suas
práticas e ensinamentos, pois certamente são o grupo que o próprio YHWH afirmou
estar mais próximo da verdade.
Ainda assim, quero assegurar-lhes
de que nós cometeremos erros em nossas interpretações sobre as práticas
bíblicas. Se não cometêssemos, não seríamos humanos. Mesmo assim, estamos
honrando a YHWH em, de forma absolutamente ordenada, coerente e responsável,
buscarmos o máximo que conseguimos a verdade. Erraremos sim, mas erraremos
buscando acertar.
Sabemos que é justamente onde nos
falta a perfeição que a graça de Yeshua nos inunda e nos preenche, tornando-nos
dignos onde jamais seríamos:
E todos nós recebemos
também da sua plenitude, e graça por graça. (Yochanan/João 1:16)
Alguns poderiam sugerir que a
linha é tênue entre rejeitarmos o Cristianismo enquanto sistema doutrinário
romano, e rejeitarmos as pessoas. Ou entre aceitarmos a identidade judaica, e nos
prendermos a mandamentos de homens. Ou ainda entre negarmos os acréscimos à
Torá, e negarmos a nossa própria identidade israelita. Eu percebo e entendo que
não são tarefas fáceis – e entendo que todos nós, em diversos momentos, pela
nossa total dificuldade, enquanto seres humanos, de caminharmos em linha reta,
tropeçaremos.
Provavelmente, haverá momentos em
que pisaremos mais para a esquerda, ou mais para a direita. E é bem provável
que, ao fazer isso, haja conflitos. É da natureza humana. Não podemos fingir
que isso não ocorrerá e, se e quando ocorrido, tratar pontualmente, caso a
caso.
Contudo, apesar de ter ciência da
dificuldade humana, também tenho fé e convicção de que a nossa posição, e os
nossos objetivos estão plenamente. Se errarmos, enquanto indivíduos, creio eu,
será puramente por inabilidade humana, e não por falta de clareza de identidade
e objetivo. E, por fim, rogo para que YHWH Yeshua nos permita sermos tudo
aquilo que devemos ser, pois o mundo carece da mensagem de Teshuvá.
Por Sha’ul Bentsion
Comentários
Postar um comentário