Pular para o conteúdo principal

O NASCIMENTO DE YESHUA DURANTE SUCOT

 



 

Um fato fácil de documentar, mas não muito conhecido é a data de nascimento de Yeshua. Isso é feito se estabelecermos algumas coisas:

 

- A data em que o anjo Gabriel conta a Zacarias (futuro pai de Yochanan/João), sobre o nascimento de seu filho.

- A data aproximada da concepção de Yeshua.

- A data da morte de Herodes.

 

A data em que o anjo Gabriel disse a Zacarias que ele e sua esposa teriam Yochanan é estabelecida a partir do seguinte:

 

Lucas 1.5 afirma que Zacarias é um sacerdote da turma de Abias. O rei Davi, de acordo com I Crônicas 24, dividiu as famílias sacerdotais em vinte e quatro grupos. Cada grupo era chamado de turma e recebia o nome do chefe daquela família específica.

 

Cada turma servia por uma semana no primeiro semestre do ano e por outra semana no segundo semestre, além das semanas de Hag haMatzah (pães ázimos), Shavuot e Sucot, quando todas as turmas serviam juntas no Templo (Deuteronômio 16.16).

 

Portanto, a primeira turma servia na primeira semana do ano (Aviv); a segunda turma, a segunda semana; depois todas as turmas na terceira semana porque era Hag haMatzah, e assim por diante. Em I Crônicas 24. 10 lista a turma de Abias como sendo a oitava turma. Esta turma servia na décima semana da primeira metade do ano, sendo duas semanas para Hag haMatzah e Shavuot. É nessa época que Zacarias recebe a profecia do nascimento de Yochanan:

 

E aconteceu que, exercendo ele o sacerdócio diante de Elohim, na ordem da sua turma, segundo o costume sacerdotal, coube-lhe em sorte entrar no templo do Senhor para oferecer o incenso. E toda a multidão do povo estava fora, orando, à hora do incenso. E um anjo do Senhor lhe apareceu, posto em pé, à direita do altar do incenso. E Zacarias, vendo-o, turbou-se, e caiu temor sobre ele. Mas o anjo lhe disse: Zacarias, não temas, porque a tua oração foi ouvida, e Isabel, tua mulher, dará à luz um filho, e lhe porás o nome de Yochanan /João. (Lucas 1:8-13)

 

Devido às leis de separação (Levítico 12.5; 15.19,25), duas semanas adicionais devem ser contadas. Permitindo isso e com uma gravidez normal, a época do nascimento de Yochanan (se esta for a primeira metade do ano) seria aproximadamente Pessach, quando se espera que o profeta Elias aparecesse.

 

Seis meses após a concepção de Yochanan/João, o anjo Gabriel é enviado a Miriam (Maria), prima de Isabel.

 

E, no sexto mês, foi o anjo Gabriel enviado por Elohim a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um homem, cujo nome era José, da casa de Davi; e o nome da virgem era Miriam. E, entrando o anjo onde ela estava, disse: Salve, agraciada; o Senhor é contigo; bendita és tu entre as mulheres. E, vendo-o ela, turbou-se muito com aquelas palavras, e considerava que saudação seria esta. Disse-lhe, então, o anjo: Miriam, não temas, porque achaste graça diante de Elohim. E eis que em teu ventre conceberás e darás à luz um filho, e pôr-lhe-ás o nome de Yeshua. Este será grande, e será chamado filho do Altíssimo; e o Senhor Elohim lhe dará o trono de Davi, seu pai; E reinará eternamente na casa de Jacó, e o seu reino não terá fim. (Lucas 1:26-33)

 

Começando em Chanukkah, que começa em 25 de Kislev e contando até os nove meses de gravidez de Miriam, chega-se à época aproximada de Sucot.

 

Surge a pergunta: “Como se pode saber que Zacarias recebeu a profecia sobre Yochanan na primeira metade do ano e não na última?”

 

A chave é encontrada na vida e morte do rei Herodes. Herodes, um homem odiado pelo povo judeu, foi a figura mais proeminentemente no nascimento de Yeshua. Em Mattatiyahu (Mateus) capítulo 2, ele é visitado por "homens sábios do Oriente".

 

E, tendo nascido Yeshua em Belém de Judéia, no tempo do rei Herodes, eis que uns magos vieram do oriente a Jerusalém, dizendo: Onde está aquele que é nascido rei dos judeus? Porque vimos a sua estrela no oriente, e viemos a adorá-lo. (Mateus 2:1,2)

 

A partir das informações desta passagem, pode-se entender que os “sábios” são judeus. Embora o versículo não diga quantos homens sábios existem, ele dá uma referência de onde eles eram. Na Bíblia, a “terra do Oriente” está sempre relacionada a terra da Babilônia (ver Gênesis 29.1; Juízes 6.3). Durante o primeiro século EC, a maior população judaica estava na Babilônia. Essas pessoas eram remanescentes do cativeiro de Nabucodonosor. Embora Esdras, Neemias e outros tenham retornado, a maioria das pessoas permaneceu no cativeiro.

 

Deve-se notar o fato de que os sábios estão procurando pelo Messias, que só era esperado pelo povo judeu. Uma profecia relacionada ao Messias que apenas o povo judeu conhecia é encontrada no livro de Números.

 

Vê-lo-ei, mas não agora, contemplá-lo-ei, mas não de perto; uma estrela procederá de Jacó e um cetro subirá de Israel, que ferirá os termos dos moabitas, e destruirá todos os filhos de Sete. (Números 24:17)

 

Por causa da profecia, uma estrela foi relacionada à vinda do Messias. Um exemplo disso é visto quando, cerca de cem anos após a época de Yeshua, Rabi Akiva erroneamente proclamou que um líder militar era o Messias. Ele foi intitulado "Bar Kochba", que significa "Filho da Estrela".

 

Os rabinos ou sábios eram conhecidos como "chakamim", que significa "os sábios". O sábio Daniel foi referido por este mesmo título. É uma conclusão óbvia, então, que os sábios judeus ou homens sábios da Babilônia, conhecendo a profecia de Números 24.17, relacionando-a corretamente com o Messias, e tendo visto Sua estrela, viajaram a Jerusalém para prestar homenagem.

 

Herodes foi possivelmente um dos homens mais frios e sanguinários que já existiram. Ele matou seus filhos, sua esposa favorita e milhares de pessoas inocentes. Seu medo de perder o trono o levou à loucura. Augusto César, tendo notado que Herodes observava a Lei Judaica e, portanto, não comia carne de porco, certa vez fez uma declaração de que era melhor ser um porco na casa de Herodes do que ser um de seus filhos.

 

Não é nenhuma surpresa que Herodes procurasse exterminar a criança, nem que toda Jerusalém ficasse preocupada quando Herodes soubesse da notícia:

 

E o rei Herodes, ouvindo isto, perturbou-se, e toda Jerusalém com ele. (Mateus 2:3)

 

O ensino tradicional é que os “homens sábios” apareceram cerca de um ano a dezoito meses após o nascimento de Yeshua. Isso se baseia no fato de Herodes ter mandado matar crianças do sexo masculino com menos de dois anos, de acordo com a data que os magos lhe deram para o aparecimento da estrela.

 

Então Herodes, depois de chamar secretamente os sábios, perguntou-lhes diligentemente a que horas a estrela apareceu. E ele os enviou a Belém, e disse: Ide, e procurai diligentemente o menino; e quando o tiverdes encontrado, traze-me resposta, para que eu também possa ir e adorá-lo. [...] Então Herodes, quando viu que era zombado dos sábios, muito irou-se, e enviou, e matou todos os filhos que estavam em Belém, e em todos os seus limites, de dois anos para menos, de acordo com o tempo que ele diligentemente inquiriu dos sábios. (Mateus 2.7-8,16)

 

É importante notar que até então ninguém em Jerusalém, incluindo os sacerdotes do Templo, tinham ouvido falar que o Messias havia nascido. Conhecendo a natureza de Herodes e sua prática de ter espiões por todo o reino, é impossível que ele não tivesse ouvido falar de seu nascimento. O relato de Lucas sobre o nascimento relata a experiência dos pastores de Belém, que depois de ver o recém-nascido Yeshua, transmitiram o que viram e ouviram para toda a região.

 

E, vendo-o, divulgaram a palavra que acerca do menino lhes fora dita. E todos os que a ouviram se maravilharam do que os pastores lhes diziam. (Lucas 2:17,18)

 

Belém fica a oito quilômetros de Jerusalém, o que torna muito improvável que Herodes ou os sacerdotes do Templo não soubessem do Seu nascimento.

 

Outra prova poderia ser encontrada quarenta dias após o nascimento de Yeshua, quando Miriam (Maria) carrega Yeshua para o Templo para sua purificação e dedicação. É aqui que duas pessoas bem conhecidas dentro do Templo compõem e fazem profecias sobre a criança:

 

E, cumprindo-se os dias da purificação dela, segundo a lei de Moisés, o levaram a Jerusalém, para o apresentarem ao Senhor (Segundo o que está escrito na lei do Senhor: Todo o macho primogênito será consagrado ao Senhor); E para darem a oferta segundo o disposto na lei do Senhor: Um par de rolas ou dois pombinhos. Havia em Jerusalém um homem cujo nome era Simeão; e este homem era justo e temente a Elohim, esperando a consolação de Israel; e o Espírito Santo estava sobre ele. E fora-lhe revelado, pelo Espírito Santo, que ele não morreria antes de ter visto o Messias do Senhor. E pelo Espírito foi ao templo e, quando os pais trouxeram o menino Yeshua, para com ele procederem segundo o uso da lei, Ele, então, o tomou em seus braços, e louvou a Elohim, e disse: Agora, Senhor, despedes em paz o teu servo, Segundo a tua palavra; Pois já os meus olhos viram a tua salvação, A qual tu preparaste perante a face de todos os povos; Luz para iluminar as nações, e para glória de teu povo Israel. E José, e sua mãe, se maravilharam das coisas que dele se diziam. E Simeão os abençoou, e disse a Maria, sua mãe: Eis que este é posto para queda e elevação de muitos em Israel, e para sinal que é contraditado (E uma espada traspassará também a tua própria alma); para que se manifestem os pensamentos de muitos corações. E estava ali a profetisa Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser. Esta era já avançada em idade, e tinha vivido com o marido sete anos, desde a sua virgindade; E era viúva, de quase oitenta e quatro anos, e não se afastava do templo, servindo a Elohim em jejuns e orações, de noite e de dia. E sobrevindo na mesma hora, ela dava graças a Elohim, e falava dele a todos os que esperavam a redenção em Jerusalém. (Lucas 2:22-38)

 

Percebe-se que é impossível para os homens sábios chegarem depois desses eventos. Presumimos que eles falaram com Herodes a época de Seu nascimento.

 

Viajando para Belém, eles encontraram a criança e Seus pais em uma casa (Mateus 2.11), ao passo que, no relato de Lucas, os pastores O encontraram em uma manjedoura (Lucas 2.7,16). Não há discrepância entre esses dois relatos, pois provavelmente a criança foi retirada da manjedoura após o nascimento. O fato dele ter sido posto em uma manjedoura é uma pista da época de Seu nascimento, pois em hebraico manjedoura é chamada de “sucá” (Gênesis 33.17).

 

“Sucot”, o nome do festival, é a forma plural desta palavra. É até significativo que eles tiveram que procurar abrigo na “sucá” devido “não haver lugar na estalagem” (Lucas 2.7). Foi apenas durante os três festivais de peregrinação (Pessach, Shavuot e Sucot) que Belém transbordaria de pessoas. Os milhares de peregrinos que vinham a Jerusalém para os festivais iriam se espalhar pelas cidades vizinhas.

 

Como declarado acima, José e Miriam (Maria) trouxeram a criança para Jerusalém quarenta dias após o nascimento de Yeshua. Isso indica que Herodes morreu dentro desses quarenta dias. A cronologia desses quarenta dias é fundamental para encontrar corretamente a data de seu nascimento. O cenário provável é o seguinte:

 

José e Miriam (Maria) vêm a Jerusalém para a festa de Sucot (setembro ou outubro), planejando ficar nas proximidades de Belém para se registrar para o censo. Incapazes de encontrar um quarto na pousada, eles recebem abrigo em uma sucá. Durante a noite, os magos chegam a Jerusalém e falam com Herodes. Enquanto isso, Miriam dá à luz. As hostes celestiais aparecem aos pastores, proclamando que o Messias havia nascido. Eles vão homenageá-lo na sucá, enquanto os magos se dirigem a Belém. Os pastores partem para “proclamar as boas novas” e Miriam é transferida para uma casa. Os magos chegam e durante a noite são avisados ​​por Elohim sobre as intenções de Herodes. José e Miriam pegam a criança e fogem para o Egito e permanecem lá até que Elohim diga que Herodes está morto. Ao retornar à Judéia, eles dedicam Yeshua de acordo com a Lei, recebendo as profecias de Ana e Simeão. Depois disso, eles se dirigem à Galileia, onde viverão.

 

É evidente que, enquanto Herodes estava vivo, eles não poderiam aparecer no Templo. Portanto, se a data aproximada da morte de Herodes pudesse ser determinada, isso estabeleceria a época do nascimento de Yeshua.

 

O historiador judeu Josefo, que viveu durante o primeiro século EC, documenta em detalhes a morte de Herodes.

 

Josefo relata que Herodes ficou muito doente imediatamente após um ato de impiedade contra o sacerdócio, quando ocorreu um eclipse da lua. Este eclipse, o único mencionado por Josefo, aconteceu em 13 de março do quarto ano antes da Era Comum. A doença de Herodes durou vários meses e é documentada em detalhes, sendo descrita como muito dolorosa e angustiante. Muitas vezes, certos tratamentos traziam alívio temporário; no entanto, não eram eficazes para impedir a morte iminente. De acordo com os cálculos de Josefo, a morte de Herodes ocorreu por volta de setembro, no quarto ano antes da Era Comum.

 

Portanto, sabendo que Herodes morreu no outono, na mesma época do ano de Sucot, sua morte ocorreu dentro dos quarenta dias após o nascimento de Yeshua, indicando que Yeshua nasceu nesta época do ano.

 

Joseph Good

Traduzido e adaptado por Francisco Adriano Germano

 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O QUE SIGNIFICA A EXPRESSÃO BARUCH HASHEM?

  A expressão judaica Baruch Hashem é a mais emblemática manifestação judaica de gratidão e reconhecimento, significando " Bendito seja o Senhor " ou " Louvado seja o Senhor ".   Baruch Hashem ( ברוך השם ) que traduzida para o português significa “ Bendito seja o Nome ” (em referência ao nome YHWH), é usada pelo povo judeu em conversas cotidianas como uma forma de expressar gratidão a Elohim por tudo. Muitas vezes é colocado no topo de cartas pessoais (ou e-mails), às vezes abreviado como B”H ou ב”ה .   É comumente usada em gentilezas trocadas. Por exemplo, quando se pergunta “ como vai você ”, a resposta apropriada é “ Baruch Hashem, vai tudo bem ”. Os usos mais típicos são: “ Baruch Hashem, encontramos uma vaga de estacionamento ” ou “ Deixei cair aquela caixa de ovos, mas Baruch Hashem, nenhum deles quebrou ”.   Em suas peregrinações pelas modestas comunidades judaicas da Europa Oriental, o sábio Baal Shem Tov indagava sobre a condição de seus conter...

FAÇA O QUE TEM QUE SER FEITO

    A história que reproduzirei a seguir foi contada pelo Rav Israel Spira zt"l (Polônia, 1889 - EUA, 1989), o Rebe de Bluzhov, que a testemunhou no Campo de Concentração de Janowska:   Todos os dias, ao amanhecer, os alemães nos levavam para fora do acampamento, para um dia de trabalho pesado que só terminava ao anoitecer. Cada dupla de trabalhadores recebia uma enorme serra e deveria cortar sua cota de toras. Por causa das condições terríveis e da fome, a maioria de nós mal conseguia ficar de pé. Mas nós serrávamos, sabendo que nossas vidas dependiam daquilo. Qualquer um que desmaiasse no trabalho ou deixasse de cumprir sua cota diária era morto na hora.   Um dia, enquanto eu puxava e empurrava a serra pesada com meu parceiro, fui abordado por uma jovem da nossa equipe de trabalho. A palidez em seu rosto mostrava que ela estava extremamente fraca.   - Rebe - sussurrou ela para mim - você tem uma faca?   Imediatamente entendi sua intenção...

A INCOERÊNCIA DA TEOLOGIA DA SUBSTITUIÇÃO

     Não pretendemos aqui fazer um estudo detalhado sobre a origem e a evolução desta teologia, que surgiu nos primórdios do cristianismo. Para obter uma descrição completa de suas bases e fundamentos, qualquer livro sobre a história da igreja cristã pode ser consultado.   Essa teologia é a mais nociva de todas, pois semeia o ódio ao povo judeu, a Israel e às doutrinas do Antigo Testamento. Em particular, ela despreza a Torah, a parte mais sagrada da Bíblia, escrita por Moisés sob inspiração divina, que contém os primeiros cinco livros e os fundamentos da fé judaica.   O Concílio de Nicéia, ocorrido logo após esses eventos, marcou um ponto de inflexão na história do cristianismo. Além de definir o Credo, o concílio oficializou a substituição de Israel por Roma como centro da Igreja, rompendo definitivamente os laços com Jerusalém.   Essa mudança, aliada às ideias antissemitas de teólogos como Marcião, que condenava qualquer prática judaica ent...