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O PAI DE YESHUA E A SEMENTE DE DAVID

 


O texto bíblico deixa claro que Yeshua nasceu de uma virgem. Devemos tomar cuidado porque frequentemente tiramos conclusões que vão além do que afirma o texto bíblico.

 

O nascimento virginal é um importante sinal que foi dado para confirmar profeticamente a vinda do Mashiach. Aliás, desde os primórdios, nascimentos milagrosos permeiam a vida do povo de Israel. Yitschak (Isaque), por exemplo, nasceu de forma milagrosa, de um casal estéril e de idade avançadíssima.

 

Tais milagres comprovam a bênção de Elohim sobre a semente israelita de forma absolutamente inconfundível. Como era possível a Avraham (Abraão) saber que a promessa que recebera tinha de fato vindo de Elohim?

 

Os sinais acompanham a profecia para confirmá-la, porém temos que tomar cuidado para não irmos em nossas conclusões além daquilo que a Bíblia nos afirma.

 

O nascimento virginal imediatamente leva muita gente a concluir que Yeshua não teve um pai biológico. Porém, a Bíblia não diz isso. A Bíblia simplesmente diz que não houve uma relação sexual nos moldes convencionais no caso do nascimento de Yeshua.

 

A Bíblia jamais afirma que Yeshua não é filho biológico de Yossef (José). Sabemos que isso é afirmado pelo Catolicismo Romano, por causa da doutrina do pecado original: Se a semente do homem é imunda, então não poderia haver semente humana na geração de Yeshua. Todavia, a Bíblia é contrária à teologia católica do pecado original, de forma bastante clara:

 

A alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a iniquidade do pai, nem o pai levará a iniquidade do filho. A justiça do justo ficará sobre ele e a impiedade do ímpio cairá sobre ele. Yechezkel (Ezequiel) 18.20

 

É fato que a virgem concebeu. Mas a Bíblia não diz como. Será que a Ruach HaKodesh (Espírito Santo) fez o óvulo de Miriyam (Maria) gerar um filho? Em outras palavras, houve uma partenogênese? Ou será que a Ruach HaKodesh (Espírito Santo) inseminou Miriyam com a semente de Yossef (José)? Como o relato bíblico é absolutamente silencioso sobre a forma como se deu à gestação de Miriyam (Maria), ambas as leituras são possíveis.

 

Assim sendo, é preciso buscar em outros textos bíblicos algum indício de uma coisa ou de outra. Será que a Bíblia nos afirma que Yeshua é filho biológico de Yossef? Ou será que nada afirma a esse respeito? Ou será ainda que dá a entender o oposto?

 

Vejamos alguns fatos.

 

AS GENEALOGIAS

 

Se analisarmos as genealogias de Matitiyahu (Mateus) 1 e Lucas 3, vemos que são divergentes entre elas. A conclusão evidente é a de que uma das genealogias se refira a Miriyam (Maria) e a outra se refira a Yossef (José), ambos descendentes de David HaMelech (o rei David).

 

A grande questão que devemos nos indagar é: Por que a Bíblia se daria ao trabalho de relatar a genealogia de Yossef (José), se a sua semente não estivesse envolvida no processo?

 

De fato, a Enciclopédia Católica New Advent chega a afirmar:

 

“Se Maria não fosse de descendência davídica, seu Filho concebido pelo Espírito Santo não poderia ser da 'semente de David.'”

 

Se isso é fato, por que falar da genealogia de Yossef (José)? Por que enfatizar que ele, Yossef era um descendente de David?

 

A QUESTÃO DA SEMENTE

 

Biblicamente, a conclusão católica é equivocada. A “semente”, na Bíblia, sempre foi transmitida pelo pai, e não pela mãe. Esta é, inclusive, a razão para o sinal da circuncisão: demonstrar que aquilo que transmite a semente está dentro da aliança com Elohim.

 

Quando YHWH faz aliança com Avraham Avinu, a Torah relata o seguinte:

 

Disse mais Elohim a Avraham: Tu, porém, guardarás a minha aliança, tu, e a tua descendência depois de ti, nas suas gerações. Esta é a minha aliança, que guardareis entre mim e vós, e a tua semente [hebr. zerah] depois de ti: Que todo o homem entre vós será circuncidado. E circuncidareis a carne do vosso prepúcio; e isto será por sinal da aliança entre mim e vós. O filho de oito dias, pois, será circuncidado, todo o homem nas vossas gerações; o nascido na casa, e o comprado por dinheiro a qualquer estrangeiro, que não for da tua descendência. Com efeito, será circuncidado o nascido em tua casa, e o comprado por teu dinheiro; e estará a minha aliança na vossa carne por aliança perpétua. (Bereshit/Gênesis 17.9-13)

 

Para entendermos o significado da palavra zerá, vejamos outro passuk (versículo) da Torah:

 

Também o homem, quando sair dele o sêmen [hebr. zerah] da cópula, toda a sua carne banhará com água, e será imundo até à tarde. (Vayicrá/Levítico 15.16)


Aqui podemos ver claramente como a linguagem bíblica associa a semente/ descendência ao sêmen do homem.

 

YHWH dá a Avraham a circuncisão como sinal da aliança. Por quê? Justamente porque eram os homens que, através do sêmen, transmitiriam a semente da promessa.

 

Obviamente que ao povo também se juntavam prosélitos, e muitas vezes também os filhos somente das mulheres eram contados junto ao povo, mas a questão aqui é a promessa de Avraham, e não a pertinência ou não ao povo.

 

A b'rit milá (circuncisão) marca justamente o fato de que o homem passará a produzir semente para o Reino de YHWH.

 

Outro trecho em que vemos isso está em Bereshit (Gênesis) 38.9:

 

Onan, porém, soube que esta semente [hebr. zerah] não havia de ser para ele; e aconteceu que, quando possuía a mulher de seu irmão, a derramava na terra, para não dar semente [hebr. zerah] a seu irmão.

 

Repare que aqui a Torah usa intercambiavelmente a expressão zerah para se referir à semente e a descendência. Além disso, a própria pertinência a uma dada tribo era sempre relacionada à semente, e, por esta razão, à descendência patriarcal. A própria definição das tribos de Yisra'el era dada por esse meio.

 

E reuniram toda a congregação no primeiro dia do mês segundo, e declararam a sua descendência segundo as suas famílias, segundo a casa de seus pais, pelo número dos nomes dos de vinte anos para cima, cabeça por cabeça; (Bamidbar/Números 1.18)

 

E ainda:

 

Também estes subiram de Tel-Melah e Tel-Harsah, Cherub, Adan e Imer; porém não podiam relatar pela casa de seus pais, e sua semente [hebr. zerá], se eles eram de Yisra'el. (Ezra/Esdras 2.59)

 

A Torah relata que os filhos de Ya'akov tinham irmãs. Pelo menos uma delas, Dinah, é mencionada pelo nome na narrativa de Bereshit (Gênesis) 34. No entanto, ninguém ouve falar de uma “tribo de Dinah”, justamente porque a semente (zerah) era passada pelos filhos. Indubitavelmente, os filhos de Dinah eram contados junto à casa de Ya'akov, mas aqui falamos exclusivamente do assunto da passagem da promessa da aliança.

 

Da mesma maneira, os cohanim (sacerdotes) deveriam ser sempre da semente de Aharon.

 

E estarão sobre Aharon e sobre seus filhos, quando entrarem na tenda da congregação, ou quando chegarem ao altar para ministrar no santuário, para que não levem iniquidade e morram; isto será estatuto perpétuo para ele e para a sua semente [hebr. zerah] depois dele. (Shemot/Êxodo 28.43)

 

Repare que os cohanim (sacerdotes) sempre foram e o são até os dias de hoje, descendentes biológicos diretos de Aharon, por linhagem patriarcal ininterrupta. Nenhum filho de uma filha de Aharon poderia se tornar cohen, porque nele não estaria a semente (zerah) de Aharon.

 

Isso pode, a princípio, soar machista para alguns, mas, na realidade, a mulher também tinha grande vantagem. Era praticamente impossível ao homem atingir um status social maior do que aquele em que havia nascido. Além disso, era impossível para qualquer homem comum que seus descendentes se tornassem nobres, ou cohanim (sacerdotes). Mas, para a mulher a coisa era diferente. Ela poderia dar à luz até mesmo a um rei, independentemente de sua classe social de origem, ou até mesmo de sua ancestralidade biológica.

 

Sobre isso, James A. Sanders escreve:

 

“A mulher que produzisse filhos obtinha status considerável na família, até mesmo nobreza. De fato, se uma mulher estrangeira escrava concebesse filhos ao homem, adquiria grande status.”

 

YOSSEF E A SEMENTE DE DAVID

 

YHWH prometeu a David que Mashiach viria segundo a sua semente:

 

Agora, pois, assim dirás ao meu servo David: Assim diz YHWH Tseva'ot: Eu te tomei da malhada, de detrás das ovelhas, para que fosses o soberano sobre o meu povo, sobre Yisra'el. E fui contigo, por onde quer que foste, e destruí a teus inimigos diante de ti; e fiz grande o teu nome, como o nome dos grandes que há na terra. E prepararei lugar para o meu povo, para Israel, e o plantarei, para que habite no seu lugar, e não mais seja removido, e nunca mais os filhos da perversidade o aflijam, como dantes, e desde o dia em que mandei que houvesse juízes sobre o meu povo Israel; a ti, porém, te dei descanso de todos os teus inimigos; também YHWH te faz saber que te fará casa. Quando teus dias forem completos, e vieres a dormir com teus pais, então farei se levantar depois de ti um dentre a tua semente [hebr. zerá], o qual sairá das tuas entranhas, e estabelecerei o seu reino. Este edificará uma casa ao meu nome, e confirmarei o trono do seu reino para sempre.” (Sh'mu'el Beit/2 Samuel 7.8-14)

 

As próprias Escrituras também esclarecem que a linhagem da semente de David é, de fato, patriarcal:

 

Porque assim diz YHWH: Nunca faltará a David homem que se assente sobre o trono da casa de Israel. (Yirmiyahu/Jeremias 33.17)

 

Vemos, portanto, que para cumprir a profecia, o Mashiach deveria descender da semente (zerah) de David. Mas, será que temos no NT algum indício de que assim o seja?

 

Se olharmos para os originais aramaicos, a resposta é afirmativa! No aramaico, o equivalente ao hebraico “zerah” é o termo cognato “zarah”, e suas inflexões:

 

Em Yochanan (João) 7.42, vemos no aramaico:

 

la hoa k'taba emar d'men zareh d'Dawid u'men Beit-Lechem k'rita d'ileh d'Dawid ateh Meshicha

 

No português, temos:

 

Não é dito nas Escrituras que da semente de David, e de Beit Lechem, cidade do próprio David, é vindo o Mashiach?

 

O termo acima também poderia ser entendido, como já vimos, como o sêmen de David, passado de geração em geração, através dos seus descendentes homens! Seria exatamente assim que um israelita, no primeiro século, entenderia este texto.

 

Ou seja, Yeshua tem um pai biológico que é descendente de David, pois essa seria, como vimos anteriormente, a única forma dEle ser descendente de David.

 

Há ainda um testemunho semelhante da parte de Sha'ul (Paulo) em Timoteus Beit/2 Timóteo 2.8, que diz:

 

et'daker l'Yeshua Meshicha d'kam men beit miyte ho d'itohi men zara d'Dawid aik basbarta d'iyli

 

No português, temos:

 

Lembra-te de Yeshua HaMashiach, que levantou da morada dos mortos, O qual veio da semente de David, segundo as minhas próprias boas novas.

 

Sha'ul (Paulo) vai além, e afirma que Yeshua é, segundo a carne (isto é, de forma bem literal) descendente da semente da Casa de David.

 

Ruhomayah/Romanos 1:3, no aramaico, diz:

 

al bereh ho detiyled b'absar men zara d'beit Dawid

 

No português temos:

 

Acerca de Seu Filho, o qual foi gerado na carne a partir da semente da Casa de David.

 

Novamente, isto só seria possível de uma forma: Yossef não é, ao contrário do que afirmam os católicos, pai adotivo de Yeshua. Yossef é o pai biológico de Yeshua! E isso não invalida nem nega o nascimento virginal.

 

Isso explica a razão da existência da genealogia não apenas de Miriyam (Maria), como de Yossef (José). Tanto o pai quanto a mãe estão sendo considerados, para não deixar qualquer dúvida sobre a legitimidade de Yeshua ao trono de David.

 

Miriyam era uma princesa da Casa de David, assim como Yossef, seu esposo, era um príncipe também da Casa de David. Assim sendo, em seu aspecto humano, o Mashiach cumpre todas as profecias.


Autor desconhecido

 

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