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CHANUKÁ - VERDADE, MENTIRAS, TRAIÇÃO E RESTAURAÇÃO (PARTE I)

 


PARTE I

Introdução: A Festa contra o Paganismo

 

Chanuká é uma festa cuja temática é de extrema importância para todos nós, pois fala da vitória dos Chashmonaim (Hasmoneus), contrariando todas as expectativas humanas, contra as forças que impunham a cultura helenizada do império selêucida. Uma luta bastante semelhante à que travamos neste mundo que não apenas se esqueceu completamente dos valores bíblicos, como cada vez mais tenta nos forçar a um estilo de vida paganizado, fazendo-nos esquecer de nossa identidade. Muitos seguidores de Yeshua, inclusive, contrastam Chanuká com o Natal, para exemplificarem a diferença entre o conformismo e a capacidade de seguirmos a Elohim, acima da vontade humana.

 

Dentro desse contexto, é uma triste ironia que os p'rushim (fariseus) e, por consequência, o Judaísmo Rabínico, tenham transformado um evento que celebrava a vitória contra a assimilação em uma festa pagã!

 

Igualmente triste é o fato de que os seguidores de Yeshua deixam de lado o Natal e, acreditando estar agora dentro da verdade, acabam por seguir boa parte das mesmas tradições pagãs celebradas no próprio Natal. Digo isto sem qualquer juízo de valores sobre tais pessoas, pois até pouco tempo nós nos encontrávamos entre elas. Pesquisando, todavia, as origens de algumas práticas realizadas em Chanuká, descobrimos a verdade.

 

Com as palavras “Mi L'YHWH Elai” (Quem for por YHWH, siga-me) Matitiyahu haCohen (Matatias o sacerdote) iniciou a revolta dos Macabim (Macabeus), evento que comemoramos em Chanuká. Agora, é hora de fazermos o mesmo, para livramos de qualquer influência pagã.

 

Este artigo parte de um pressuposto importante: Que o leitor já conheça minimamente a festa de Chanuká. O termo “Chanuká” (חנכה) significa “dedicação”, e vem da expressão “Chanukat HaMizbeach” (חנכת המזבח) que aparece em Bamidbar/Números 7:84 e significa literalmente “dedicação do altar” - evento que inaugurava o uso do Mishkan/Tabernáculo ou Beit HaMikdash (Templo). Caso o leitor não esteja familiarizado com a festa de Chanuká, recomendamos que leia sobre ela antes de dar prosseguimento a este material.

 

Chanuká segundo o Judaísmo Fariseu (Rabínico)

 

No Judaísmo Rabínico, a principal celebração de Chanuká gira em torno do acendimento da Chanukiá, uma menorá de 9 pontas. O motivo pelo qual milhões de pessoas em todo mundo celebram Chanuká dessa forma é baseada no relato talmúdico sobre o suposto milagre de Chanuká.

 

O Judaísmo rabínico faz questão, inclusive, de apontar o milagre como o principal motivo da celebração, ao ponto de deixar a vitória militar em segundo plano, conforme relata o rabino Avi Geller, em seu artigo “Lively Overview of Chanukah”, onde afirma:

 

“Os sábios enfatizam o milagre do óleo sobre a vitória militar. Mencionamos a vitória militar em nossas orações, mas toda família judia acende a menorá por oito dias para comemorar o retorno da presença do Eterno ao Templo.”

 

Esse milagre, segundo a tradição rabínica, teria acontecido da seguinte maneira: Ao encontrarem o Beit HaMikdash (Templo) profanado, os macabim (macabeus) viram que havia somente um vaso de óleo com o selo/lacre do Cohen HaGadol (Sumo Sacerdote) e, portanto, sem contaminação. O óleo duraria apenas um dia, mas eram necessários oito dias para produzir mais desse óleo, e, portanto, o óleo que era suficiente para apenas um dia, teria durado oito, milagrosamente.

 

Esse milagre, exaltado pelos fariseus acima da vitória militar dos Chashmonaim (Hasmoneus), é, infelizmente, uma grande farsa.

 

É razoavelmente simples demonstrar que, originalmente, Chanuká nada tinha a ver com o óleo mágico, pois nenhuma fonte anterior ao século VI traz qualquer informação sobre esse milagre -inclusive, os próprios livros dos Macabim (Macabeus) que relatam com bastante detalhe os episódios dos eventos de Chanuká.

 

Oito Dias para Preparar o Óleo?

 

O primeiro problema dessa narrativa já começa no fato de que não existia qualquer recomendação da Torá sobre um suposto lacre do Cohen HaGadol (Sumo Sacerdote) para a preparação do óleo da Menorá. Mesmo assim, vamos supor que tal lacre existisse de fato, para indicar o óleo que era especialmente designado para a Menorá.

 

O óleo era relativamente simples de ser preparado, e vinha do próprio povo:

 

Tu, pois, ordenarás aos filhos de Israel que te tragam azeite puro de oliveiras, batido, para a Menorá, para fazer arder as lâmpadas continuamente. (Shemot/Êxodo 27:20)

 

E falou YHWH a Moshe, dizendo: Ordena aos filhos de Israel que te tragam azeite de oliveira, puro, batido, para a Menorá, para manter as lâmpadas acesas continuamente. (Vayicrá/Levítico 24:1-2)

 

O óleo puro utilizado para a Menorá era simplesmente óleo vindo da primeira prensa da colheita. Não é razoável supor que os selêucidas destruíram todas as prensas de Israel, visto que o óleo de oliva era utilizado para diversos fins, inclusive para aquecimento, alimentação etc.

 

Ou seja, a produção de óleo suficiente para a Menorá poderia levar algumas horas. Não é razoável supor, ainda mais considerando a disposição natural do povo de doarem o óleo para a Menorá, que o processo levaria oito dias. Simplesmente não faz o menor sentido.

 

A Verdadeira Origem de Chanuká

 

Segundo a própria Enciclopédia Judaica, os livros de Macabim Alef e Beit (1 e 2 Macabeus) foram compilados, respectivamente, no início e no fim do século I a. C. Ou seja, os livros trazem relatos bastante próximos dos acontecimentos propriamente ditos, escritos por pessoas que testemunharam os eventos em questão. O primeiro livro foi escrito como uma espécie de crônica real da dinastia dos Chashmonaim (Hasmoneus), enquanto o segundo foi escrito como carta aos judeus que estavam no Egito, relatando o episódio ocorrido.

 

Os livros explicam, em detalhes, o motivo da comemoração e trazem, inclusive, a razão pela qual a celebração durou oito dias. Vejamos o que dizem os relatos:

 

Disse então Yehudá, junto com seus irmãos: “Nossos inimigos estão derrotados. Vamos subir a Yerushalayim, para purificar o lugar santo e restaurá-lo. Todo o exército se reuniu e subiram para o monte Tsiyon. Aí viram o Santuário abandonado, o altar profanado, as portas incendiadas, o mato crescendo nos átrios como num bosque ou na montanha, os aposentos dos cohanim, destruídos. Rasgaram suas vestes e choraram amargamente, cobrindo-se de cinza. Prostrados por terra, começaram a gritar, ao som das trombetas, clamando ao céu. Yehudá ordenou a alguns de seus homens que contivessem os que estavam na cidadela, enquanto era purificado o Beit HaMikdash. Para esta função escolhera cohanim sem defeito, observantes da Torá, os quais purificaram o lugar santo e removeram para um lugar impuro as pedras que o profanavam. Deliberaram também sobre o que fazer do altar dos holocaustos, que tinha sido profanado e tiveram a boa ideia de o demolir. Assim, ele não continuaria a ser motivo de desonra, pelo fato de as nações o terem profanado. Demoliram, pois, o altar e deixaram as pedras no monte do templo, em lugar conveniente, até que aparecesse o Profeta esperado, para decidir sobre o que fazer com elas. Tomaram então pedras inteiras, não talhadas, segundo a Torá, e construíram um altar novo, segundo o modelo do anterior. Restauraram o lugar santo e consagraram a parte interna do Santuário e os átrios. Fabricaram novos utensílios sagrados e introduziram no Beit HaMikdash a Menorá, o altar do incenso e a mesa. Acenderam o fogo sobre o altar, bem como as lâmpadas da Menorá, para que iluminassem o Beit HaMikdash. Colocaram em ordem os pães sobre a mesa, penduraram as cortinas e deram por terminados todos os trabalhos. Antes do amanhecer, no dia vinte e cinco do nono mês, isto é, o mês de Kislev, do ano cento e quarenta e oito, eles se levantaram para oferecerem o sacrifício, de acordo com a Torá, sobre o novo altar dos holocaustos que tinham construído. Exatamente na mesma época e no mesmo dia em que os gentios o haviam profanado, o altar foi consagrado em meio a cânticos e cítaras e liras e címbalos. Todo o povo prostrou-se por terra, em adoração, e fez subir para o céu os seus louvores, para Aquele que lhes tinha concedido o sucesso. Durante oito dias celebraram a dedicação do altar, oferecendo holocaustos com alegria e sacrifícios de comunhão e de ação de graças. Enfeitaram a fachada do Beit HaMikdash com coroas de ouro e pequenos escudos, e consagraram os portais bem como os aposentos, onde colocaram portas. Foi muito grande a alegria do povo, tendo sido cancelado o opróbrio causado pelas nações. Então, Yehudá e seus irmãos, e toda a assembleia de Israel, determinaram que os dias da dedicação do altar [hebr. Chanukat haMizbeach] seriam anualmente celebrados, no seu devido tempo, pelo espaço de oito dias, a partir do dia vinte e cinco do mês de Kislev, com júbilo e alegria. (Macabim Alef/1 Macabeus 4:36-59)

 

O mais impressionante do relato de Macabim Alef (1 Macabeus) é justamente a ausência do relato sobre o milagre do óleo mágico. Repare que o autor é bastante detalhista com relação aos acontecimentos ocorridos na ocasião da restauração do Beit HaMikdash (Templo), e, no entanto, se omite completamente no que diz respeito ao suposto milagre.

 

O texto não diz a razão pela escolha dos oito dias de celebração da dedicação do altar. Pelo Tanach (Primeiro Testamento), vemos que Israel nunca teve um período fixo para celebração da dedicação do altar. Era uma festividade mais livre.

 

Nos tempos do Mishkan (Tabernáculo), por exemplo, houve uma celebração de doze dias, devido ao fato de que os doze líderes das doze tribos iriam, simbolicamente, apresentarem seus primeiros sacrifícios:

 

E ofereceram os príncipes para a consagração do altar, no dia em que foi ungido; apresentaram, pois, os príncipes a sua oferta perante o altar. E disse YHWH a Moshe: Cada príncipe oferecerá a sua oferta, cada qual no seu dia, para a consagração do altar. (Bamidbar/Números 7:10-11)

 

Já nos tempos de Shlomo (Salomão), a dedicação do altar durou de sete a oito dias, devido ao fato de ter sido celebrada ao longo das festividades de Sukot (Tabernáculos) e Shemini Atseret (Oitavo Dia):

 

E, assim, naquele mesmo tempo celebrou Shlomo a festa por sete dias e todo o Israel com ele, uma grande congregação, desde a entrada de Hamat, até ao rio do Egito. E no dia oitavo realizaram uma assembleia solene; porque sete dias celebraram a consagração do altar, e sete dias a festa. (Divrei HaYamim Beit/2 Crônicas 7:8-9)

 

Aqui podemos perceber que Shlomo (Salomão) resolveu aproveitar a ocasião da festa de Sukot (Tabernáculos) para celebrar a dedicação do altar. Os dias exatos da festa de dedicação do altar foram de sete dias, embora as festividades tenham se prolongado por um oitavo dia, devido ao fato de que logo em seguida a Sukot, temos Shemini Atseret.

 

A Tanach (Primeiro Testamento) não menciona quanto tempo durou a dedicação do altar no retorno de Ezra (Esdras) do primeiro exílio, porque o altar acabou sendo dedicado antes do Beit HaMikdash (Templo) ser plenamente reconstruído. Mas, pelos outros dois exemplos, fica claro que não havia necessariamente um padrão pré-determinado a ser seguido.

 

Continua na Parte II

 

Por Sha'ul Bentsion

 

 

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