Introdução
Aqui há sabedoria.
Aquele que tem entendimento, calcule o número da besta; porque é o número de um
homem, e o seu número é seiscentos e sessenta e seis. (Guilyana/Apocalipse
13:18)
O verso acima tem sido motivo de
muita controvérsia ao longo dos séculos. Inúmeras tentativas mirabolantes já
foram feitas para explicá-lo, fazendo os cálculos mais variados, nos mais
diversos idiomas (especialmente o latim).
Porém, não devemos nos esquecer
que Yochanan (João) era um judeu e, portanto, sua forma de pensar era
completamente semita. Para entendermos corretamente a mensagem de Yochanan, é
preciso interpretar as Escrituras como um judeu do primeiro século.
Análise Textual
Na forma semita de interpretação
das Escrituras, utilizando o sistema PaRDeS, existem 4 formas de interpretação:
P’shat, Remez, Drash e Sod.
Utilizaremos aqui todas essas formas para podermos entender a mensagem de Yochanan.
O Contexto: P’shat e Remez
Evidentemente, pelo contexto de Guilyana
(Apocalipse), a besta é associada a um reino cujo domínio se estende por todo o
mundo. Isso fica bastante evidente pela autoridade sobre o comércio,
explicitada no verso 16 e 17:
E faz que a todos,
pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e servos, lhes seja posto um sinal
na sua mão direita, ou nas suas testas, para que ninguém possa comprar ou
vender, senão aquele que tiver o sinal, ou o nome da besta, ou o número do seu
nome. (Guilyana/Apocalipse 13:16,17)
Lembrando que a divisão de
capítulos foi feita artificialmente muito tempo depois, e que muitas vezes uma
mudança de capítulos não significa uma mudança de assunto, vemos que o próprio
Yochanan esclarece que Reino é esse, o qual aparece em conexão com a besta e a
sua marca:
Um segundo anjo o
seguiu, dizendo: Caiu, caiu a grande Bavel, que a todas as nações deu a beber
do vinho da ira da sua prostituição. Seguiu-os ainda um terceiro anjo, dizendo
com grande voz: Se alguém adorar a besta, e a sua imagem, e receber o sinal na fronte,
ou na mão. (Guilyana/Apocalipse 14:8-9)
É quase que consenso entre os
estudiosos que a referência a Bavel aqui seja uma forma indireta que Yochanan
tinha de indicar Roma. Isso se torna evidente quando lemos o relato de
Guiliyana (Apocalipse) 18:9-21. Lembremos que o texto foi escrito por Yochanan
para um público do primeiro século. Quem é que esse público identificaria
como o centro do poder (18:9-10), do mercantilismo (18:11-13) e da riqueza
(18:14-15)? E quem perseguia os santos, emissários e profetas de Yeshua
(18:20)? A resposta é bem evidente: o Império Romano!
Reparem ainda que existe uma
conexão entre a besta e o seu reino, feita através da palavra prostituição. No
Tanach, essa palavra, quando em conexão com um povo/reino (especialmente as
Casas de Israel), é sempre usada como sinônimo do abandono dos caminhos e da
Torá de YHWH, para cair na rebeldia e na desobediência. Em Hoshea (Oséias),
chegamos a ver que é justamente o espírito de prostituição (de negação da Tora)
que impede a Efrayim de fazer teshuvá (vide Hoshea 5:4).
Portanto, o reinado de Bavel
(Roma) é um reinado de rebeldia para com a Torá de YHWH. Mas onde entra a
conexão com a besta? Sha’ul (Paulo) identifica a besta como
sendo o “homem que se opõe à Torá"
(anomia), que é justamente o que representa a
prostituição:
Ninguém de modo
algum vos engane; porque isto não acontecerá sem que venha primeiro a apostasia
e seja revelado o homem contrário à Torá, o filho da perdição. (2 Tess. 2:3)
Portanto, a besta e seu reino têm
como propósito deturpar a Torá e os desígnios de YHWH. Portanto, em uma análise
simples do contexto (P’shat) vemos que a marca da besta tem conexão com Bavel,
o qual implicitamente (Remez) se refere a Roma.
A Guematria: Sod
O texto nos diz para calcularmos o número da besta. Isto
pressupõe o uso da guematria, técnica em que números são associados a
palavras, visto que o Alef-Beit (alfabeto hebraico) possui valores numéricos
para cada letra. O grande erro da maioria das pessoas é tentarem fazer o
cálculo com base no alfabeto latino, quando claramente Yochanan (João), como
judeu, utilizou a guematria hebraica.
Já vimos anteriormente que a besta é um “homem”, e que
há uma conexão evidente com Roma. Ou seja,
um romano. Curiosamente, analisemos a palavra “Romano” no hebraico, à
luz da guematria:
Aqui temos uma conclusão sólida, não baseada em teorias conspiratórias, mas no próprio contexto de Guilyana, com base na guematria (Sod).
A Dica de Yochanan: Remez e Sod
Yochanan diz que o número da
besta é o número do homem. O que significa isso no pensamento semita? Dentro do
Judaísmo, o número 6 é tido como “o número
do homem”, e fica bem claro aqui que é essa a alusão que Yochanan faz.
Mas por que número do homem? E o
que significa?
- O número 6 é o número do dia
em que o homem foi criado
- Ao homem foram apontados 6
milênios antes da Era Messiânica
- O homem trabalha 6 dias, e
depois vem o Shabat
Enfim, o “número do homem” representa algo que é
mundano, em oposição a algo que é santo. Tradicionalmente, o número 6 também é
associado à palavra hebraica Sheker (mentira), pois a soma dos algarismos
(desconsiderando dezenas) da palavra sheker é “6”.
Portanto, o número 6 é associado àquilo que é mundano ou falso - algo que vem do homem, ao invés de YHWH. Dentro do contexto de Guilyana (Apocalipse), podemos dizer que se trata de um engano, uma fabricação humana em oposição à verdade de YHWH. A repetição trina do número 6 expressa uma ênfase neste fato, mostrando que é algo que deve ser levado fortemente em consideração.
Examinando o Tanach: Drash
Um fato que é praticamente
ignorado é o de que não é apenas em Guilyana (Apocalipse) que o número 666
aparece. Na realidade, há dois momentos em que ele aparece no Tanach (“Antigo
Testamento”). Lamentavelmente, a maioria dos estudos acerca da marca desconsideram
essa informação, quando na realidade ela é essencial.
É inegável que Yochanan (João)
tivesse bom conhecimento do Tanach, e soubesse que os leitores de Guilyana
(Apocalipse) também estariam familiarizados com essas duas passagens. Na realidade,
quando Yochanan cita a necessidade de “sabedoria” para o entendimento do
número da besta, faz uma referência à necessidade de se fazer um drash,
buscando as Escrituras para poder entender as próprias Escrituras.
Para fazermos este drash, temos
que ter em mente a informação de que o número da besta é “o número do homem”, e,
portanto, refere-se a uma construção humana/mundana, algo mentiroso (sheker) e
maligno.
A primeira passagem em que
encontramos 666 está em Divrei HaYamim Beit (2 Crônicas) 9:13, que diz:
Ora, o peso do
ouro que se trazia cada ano a Shlomo era de seiscentos e sessenta e seis talentos.
Ora, é inevitável estabelecer uma
relação entre Shlomo (Salomão) e a besta através do número 666. Mas que relação
seria essa? É simples: Quem foi Shlomo? Foi o Filho de David, herdeiro do trono
e rei de Israel.
Portanto, podemos aqui dizer que
o número da besta simboliza que a besta alega ser como Shlomo, ou seja,
ser filho de David, herdeiro do trono, e rei de Israel. Mantenhamos em
mente, porém, que se trata de uma mentira maligna e não algo de fato e de
direito.
A segunda passagem em que
encontramos 666 é em Ezra (Esdras) 2:13 que diz:
Os filhos de
Adonikam, seiscentos e sessenta e seis.
Aqui, podemos estabelecer um
drash conectando os filhos de Adonikam com o número da besta. Mas, qual a
conexão? Ora, os filhos/seguidores da besta são como os filhos de Adonikam. Mas
o que significa Adonikam no hebraico? Adonikam significa literalmente “Meu
Senhor se levantou”. Num nível sod de
interpretação, podemos dizer que os filhos da besta alegam que ele é “o
senhor que se levantou dos mortos”.
Conclusão
Juntando todos esses elementos,
que são puramente bíblicos, acerca do número da besta, temos uma impressionante
revelação acerca de sua identidade: trata-se de uma grande mentira/engano
de um homem romano que alega ser filho de David (messias), rei de Israel,
ressuscitado dentre os mortos e cujos seguidores chamam de Senhor. Ou
seja, a besta é uma mentira criada por homens (e inspirada por Satan,
evidentemente, pois ele deu poder à besta para ser adorada), um homem romano
que tenta se fazer passar por Yeshua.
Se juntarmos a isso o fato de que
Rav. Sha’ul (Paulo) o chama de “homem que se opõe à Torá”
(anomia), então vemos que a besta é o cristo romano, uma falsa versão antinomiana
do verdadeiro Messias Yeshua.
A marca da besta é, portanto,
algo que identificará justamente esse personagem. Poderá ser o seu nome, ou
algo que o identifique (como a letra “Qui”, símbolo
da palavra “Cristo”), ou qualquer coisa do gênero. Esse é o ardil de
Satan. A única forma de enganar a humanidade e fazê-la aceitar tal marca é se a
marca for um símbolo do falso salvador romano.
Pare e reflita por um minuto:
Quantas pessoas você conhece que alegremente receberiam “a marca de Jesus
Cristo” na sua testa ou mão?
Sha’ul Bentsion
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