Já houve bastante polêmica acerca
dos eventos registrados em 1 Samuel 28:7-20. Nesta passagem, o primeiro rei de
Israel, Saul, já nos últimos dias da sua vida, pede para uma necromante invocar
o espírito de Samuel. Saul quer pedir conselhos de Samuel apesar de Samuel,
ainda em vida, ter se recusado a dar mais conselhos. Aparentemente, Samuel
aparece e se comunica com Saul, confirmando o que já havia profetizado, que o
ETERNO[*] virou contra ele e que deu o reinado dele a outro – Davi.
A polêmica levantada na interpretação
desta passagem é em relação à possível comunicação com os mortos. Alguns
acreditam que Saul de fato comunicou-se com Samuel. Outros acreditam que não.
Dos que acreditam que Saul não se comunicou com Samuel, há quem acredite que
Saul foi enganado pela necromante. Outros afirmam que foi um espírito
enganador, talvez até um demônio que se comunicou com Saul. Evidentemente, uma
das preocupações dos intérpretes é com a possibilidade de reconhecer que a
comunicação com os mortos é possível.
Apresentaremos os indícios que
nos levam a crer que de fato Saul falou com o espírito do profeta morto Samuel.
Em seguida apresentaremos evidências para confirmar esta conclusão. Finalmente,
examinaremos a questão das implicações desta interpretação.
As Evidências
a. A evidência da Palavra
A evidência mais convincente de
que Saul de fato se comunicou com o profeta morto Samuel é o testemunho da
própria Bíblia. Veremos esta evidência com uma análise do próprio texto da
passagem. Às vezes os intérpretes se esquecem de um dos princípios básicos da
interpretação – o exame detalhado do texto. Como resultado, alguns começam a
atribuir, sem fundamento, palavras ou conceitos ao texto que jamais existiam na
Palavra. Em nossa análise da passagem veremos que um exame objetivo do texto,
mesmo em tradução, revelará que de fato Saul se comunicou com o espírito do
falecido Samuel.
A passagem começa com Saul movido
pelo medo à procura da médium de En-Dor (1 Sam 28:5-10). Os filisteus juntaram
um grande exército contra Israel e, no início da passagem em questão Saul
começa a perceber que ele vai perder a guerra. Ele pede para a médium ou
necromante de En-Dor chamar Samuel (v.11), o profeta já morto (v.3). Samuel
havia o guiado antes, mas o deixou depois que ele desobedeceu ao Senhor (1 Sam
15:26).
Em uma sessão de necromancia
digna de um filme de terror, Saul se junta com a mulher quando ela tenta trazer
de volta para esta vida o espírito do falecido Samuel. Assustada com a aparição
do ser que ela invocou, a mulher grita em alta voz (v. 12).
Quando a mulher descreve o homem
que ela vê, Saul entende que é Samuel (vv.12-14). Alguns intérpretes se detêm
muito com a percepção de Saul, como se o resto do relato fosse apenas descrever
o que Saul entendeu. No entanto, o relato segue no formato do resto do livro de
Samuel, dando a entender que o que está sendo contado de fato ocorreu.
Em nenhum momento, nos versículos
posteriores, há qualquer indício de que aquilo que é relatado seja fruto apenas
da imaginação de Saul ou que a mulher o enganou. Não há palavras como “entendeu”
ou “imaginou” descrevendo o que aconteceu. No v. 15, por exemplo, quando
a passagem relata as primeiras palavras do ser que apareceu, o versículo não
diz “Aquele que Saul pensou ser Samuel disse...” ou “Aquele que Saul
entendeu ser Samuel falou ...”. A passagem diz “Samuel disse a Saul...”.
Estas palavras são as mesmas nas traduções de Almeida Atualizada e Corrigida e
na Bíblia de Jerusalém. A NVI apenas muda para “Samuel perguntou a Saul”.
Ou seja, as principais traduções em português dão a entender que aquilo que é
relatado se baseia em fatos verídicos. Portanto não há evidências no texto que apoiam
a interpretação de que Saul se confundiu ou que a necromante o enganou.
Logo no v.12 vemos o primeiro
indício de que aquele que apareceu foi de fato Samuel. v.12 - “Vendo a
mulher a Samuel, gritou em alta voz...” Lendo a passagem em português fica
evidente que a mulher viu o próprio Samuel. A passagem não diz “A mulher
disse que era Samuel” nem “A mulher fez de conta que era Samuel”,
mas “Vendo a mulher a Samuel...”. O texto da própria Bíblia dá a
entender que o que a mulher viu foi Samuel. Isso fica claro no português da
Almeida Revista e Atualizada.
Mas, para quem tiver dúvidas
ainda, apresentamos em seguida o v. 15 no original em hebraico e na tradução
para grego da Septuaginta com interlinear em português (KJV):
וַיֹּ֤אמֶר שְׁמוּאֵל֙ אֶל־שָׁא֔וּל לָ֥מָּה
הִרְגַּזְתַּ֖נִי לְהַעֲל֣וֹת אֹתִ֑י וַיֹּ֣אמֶר שָׁ֠א֠וּל צַר־לִ֨י מְאֹ֜ד
וּפְלִשְׁתִּ֣ים ׀ נִלְחָמִ֣ים בִּ֗י וֵאלֹהִ֞ים סָ֤ר מֵֽעָלַי֙ וְלֹא־עָנָ֣נִי
ע֗וֹד גַּ֤ם בְּיַֽד־הַנְּבִיאִים֙ גַּם־בַּ֣חֲלֹמ֔וֹת וָאֶקְרָאֶ֣ה לְךָ֔
לְהוֹדִיעֵ֖נִי מָ֥ה אֶעֱשֶֽׂה׃ {ס}
καὶ εἶπεν αὐτῇ τί ἔγνως καὶ εἶπεν αὐτῷ
ἄνδρα ὄρθιον ἀναβαίνοντα ἐκ τῆς γῆς καὶ οὗτος διπλοΐδα ἀναβεβλημένος καὶ ἔγνω
Σαουλ ὅτι Σαμουηλ οὗτος καὶ ἔκυψεν ἐπὶ πρόσωπον αὐτοῦ ἐπὶ τὴν γῆν καὶ προσεκύνησεν
αὐτῷ
"E ele lhe
perguntou: De que forma ele é? E ela disse: Um velho sobe, e ele [está] coberto
com um manto. E Saul percebeu que [era] Samuel, e ele se inclinou com [seu]
rosto em terra, e inclinou-se."
Embora seja difícil para alguns
aceitarem é preciso perguntar:
- Quem a Bíblia diz que a
mulher viu? [Veja v.12.]
- Quem a Bíblia diz que falou
com Saul? [Veja v. 15 e 16.]
- A Bíblia diz que Saul foi
tomado por grande medo por causa das palavras de quem? [Veja v. 20.]
As respostas, segundo a própria
Bíblia é Samuel. De acordo com a própria Bíblia a mulher viu Samuel. Segundo a
Bíblia, Samuel falou com Saul e foram as palavras de Samuel que Saul ouviu e
temeu. Se a Bíblia chama este ser de Samuel, quem tem autoridade superior para
negar esta afirmação?
Alguns alegam que aquilo que
apareceu foi um espírito maligno ou enganador. Mas, nas Sagradas Escrituras,
quando um profeta falso ou espírito maligno ou enganador está atuando, é
revelado eventualmente quem aquele espírito representava (Juízes 9:23; 1 Reis
13:18; 22:22-23; 2 Crôn. 18:21- 22).
Observamos que no caso do evento
relatado em 1 Samuel 28 a Bíblia nunca chama aquele que apareceu de um “espírito
enganador” ou um “demônio mentiroso”. De fato, a Bíblia sempre chama
aquele que apareceu de Samuel.
Podemos debater se seria justo ou
lógico o ETERNO[*] permitir Samuel voltar para falar com Saul. Mas, no final,
temos que decidir se vamos basear nossas conclusões em nosso raciocínio ou
naquilo que a própria Bíblia diz. Neste caso, a Bíblia diz que quem apareceu e
quem falou foi Samuel. Quem se sente apto para falar contra o que a própria
Bíblia diz neste caso?
b. A evidência do testemunho do
ser que apareceu.
O ser que apareceu a Saul nunca
falou nada contra a Palavra do SENHOR. Pelo contrário, o ser simplesmente
confirmou tudo que o ETERNO [*] havia profetizado a Saul. Este ser dificilmente
poderia ser um espírito enganador, pois só confirmou tudo que a Palavra do
ETERNO [*] nos dissera até aquele ponto. Observamos ainda que o ser que
apareceu sabia coisas que eram do conhecimento de Saul e Samuel. Se essas
coisas eram sigilosas ou não, ninguém sabe ou pode afirmar. Mas é claro que o
conhecimento deste ser é compatível com o que iríamos esperar de Samuel.
c. A evidência da profecia do ser
que apareceu.
O ser que apareceu a Saul
profetizou que Israel seria derrotado pelos filisteus, e que Saul e seus filhos
iriam morrer logo em seguida. Esta profecia acaba se realizando. Em 1 Sm 31
lemos sobre a derrota de Israel pelos filisteus e a morte de Saul e seus
filhos. Assim entendemos que este ser sabia não somente relatar coisas do
passado de Saul, mas também profetizou com precisão sobre seu futuro.
Alguns pensam que não foi Samuel
que falou porque parece que ele errou na sua profecia. O pensamento destas
pessoas é de que quando o ser disse “amanhã ... estareis comigo” (v.19) ele
errou. Parece que demorou mais de um dia para Saul e seus filhos serem mortos.
Primeiro, é preciso saber que a
palavra “amanhã” no grego da LXX é aurion que pode ser
literalmente “no dia seguinte” (Num 16:16; At. 23:20). Mas, esta palavra
pode também significar “logo” (Mat 6:30; 1 Cor 15:32) ou algum tempo
ainda indefinido do futuro (Gen 30:33; Deut 6:20).
O mesmo se observa no hebraico,
que usa a palavra machar, que pode significar literalmente “amanhã”
(Num, 16:16), ou um tempo ainda indefinido do futuro (Gen 30:33; Deut. 6:20).
Sabendo isto, uma interpretação possível do que o ser disse é, como traduzido
por várias versões, “amanhã tu e teus filhos estareis comigo...”. Porém,
uma outra tradução ainda perfeitamente aceitável do mesmo versículo seria “logo
tu e teus filhos estareis comigo”. Dentro do contexto, tanto no grego como
no hebraico, uma tradução que dá a entender que Saul e seus filhos morreriam “em
breve” é totalmente aceitável.
É importante lembrar que o que
acontece logo em seguida (caps. 29-30) não aconteceu necessariamente em ordem
cronológica após os eventos de Cap. 28. 1 Crôn. 10 fala da morte de Saul (que
ocorre em 1 Sam 31). Mais adiante o mesmo livro, 1 Crôn. 12:19-20, fala dos
eventos que ocorreram antes da morte de Saul, em 1 Sam 29. Isto não significa
que as duas histórias estejam em contradição, mas simplesmente que os
historiadores não se sentiram obrigados a relatar as coisas precisamente em uma
sequência cronológica.
Um exemplo desta prática se vê na
história da fuga da família de Jesus para o Egito. Em Mat 2:15 lemos sobre
Herodes morrendo. Em v. 16, imediatamente em seguida, ele está vivo ainda. Na
primeira sequência o foco da história é a família de Jesus. Na segunda sequência,
o foco é Herodes e sua reação. Embora no relato de Mateus uma história segue
outra, as duas histórias tratam de eventos que aconteceram ao mesmo tempo,
embora em lugares distintos. É bem provável que este é o caso das histórias de
1 Sam 28 e 29. Uma história focaliza a vida de Saul, outra a vida de Davi, mas
não necessariamente em ordem cronológica.
Uma sequência que demonstra a
mesma técnica pode ser encontrada no Evangelho de Lucas 3:19-20, onde Lucas
conta sobre Herodes colocando João Batista na prisão. Mas, em seguida, Lucas
relata o batismo de Jesus, que, segundo os outros Evangelhos, foi realizado por
João Batista antes da sua prisão (Mt 3:13; Mc 1:9). No Evangelho de Marcos
6:17-29 lemos sobre a prisão de João bastante depois que realmente aconteceu,
quando Herodes começa a ouvir falar de Jesus e teme que ele seja João
ressuscitado. Em ambos os casos, um relato histórico acontece ou antes de
outros eventos que seguiu, ou muito tempo depois. Isto não significa que os
Evangelhos estão confusos, apenas que os autores nem sempre relataram um evento
em sua seqüência cronológica.
Concluímos, portanto que o que
este ser falou a Saul acabou acontecendo como profetizado. Isto também seria
compatível com o papel de Samuel como profeta. Isto também seria conhecimento
privilegiado e que apenas alguém com poderes sobrenaturais poderia profetizar.
Outra alegação de que a profecia
do ser que falou a Saul não foi cumprida é baseada no fato de que um dos filhos
de Saul, Isbosete não foi morto (2 Sam 2:10). A única coisa que temos a dizer
sobre isto é que o ser que falou a Saul não disse que todos seus filhos iriam
morrer. Ele apenas falou “tu e teus filhos” (1 Sam 28:19).
Na verdade, todos os filhos de
Saul que estavam lutando com ele naqueles dias morreram. Seria a respeito
destes filhos que o ser estaria se referindo. Embora a passagem nem confirme
nem contrarie, é bem possível que os outros filhos de Saul que morreram com ele
estavam junto ao seu pai quando ele recebeu aquelas palavras de Samuel. Se este
foi o caso, que seria perfeitamente natural, então Samuel estaria se referindo
aos filhos que acompanharam Saul. Exatamente como profetizado, todos eles
morreram.
d. A evidência de outras
traduções e textos antigos
A frase de 1 Sam 28:15a transmite
o mesmo sentido no Latim: “dixit autem Samuhel ad Saul quare inquietasti me
ut suscitarer” Disse, pois, Samuel a Saul: Por que me inquietaste para
subir/suscitar…?
Na Septuaginta (LXX), a tradução
em grego do Antigo Testamento, o texto que resume a condenação de Saul em 1
Crôn. 10:13 diz: “Por isso Saul morreu pelas suas transgressões cometidas
contra o Senhor, contra a Palavra do Senhor, que ele não guardara, porque
interrogara e consultara uma necromante, e Samuel o profeta o respondeu.” (kai
apekrinato autw Samouhl o profhthv)
O livro apócrifo de Eclesiástico,
incluído nas traduções Católicas, afirma: “Depois disto, Samuel morreu e
apareceu ao rei, predisse-lhe o fim da sua vida, e levantou a sua voz de
debaixo da terra, profetizando, para destruir a impiedade do povo.” (Eclesiástico
46:23) (conhecido também como Ben Sirach ou Sabedoria de Sirach 46:20)
e. Os dicionários de grego e
hebraico mais atuais confirmam a comunicação com Samuel.
“… uma ocorrência
da necromancia se menciona na história da visita que Saul fez à médium em
En-Dor. A história da médium em En-Dor que fez subir o espírito de Samuel não
lança dúvidas sobre a realidade daquilo que aconteceu, mas claramente condena a
aventura.” (Colin Brown, artigo “Magia, Feitiçaria, Magos” em Brown, Colin, O
Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, São Paulo:
Edições Vida Nova, 1978, tradução Gordon Chown, Vol. III, p. 110.)
“A palavra 'ôb
refere-se claramente àqueles que consultavam espíritos, visto que 1 Samuel 28
descreve uma destas pessoas em ação. A famosa 'pitonisa de En-Dor era uma 'ôb.
Embora Saul tivesse proibido 'feiticeiras' e 'mágicos' ele consultou um deles.
Disfarçando-se, pediu que a 'médium' trouxesse Samuel dentre os mortos. Ela foi
bem-sucedida e, embora ele tenha-se queixado de ter sido perturbado, anunciou a
Saul as más notícias…" (Robert L. Alden Artigo bAa ('ôb) “alguém que tem
um espírito familiar” em Harris, R. Laird, Gleason L. Archer Jr. e Bruck K.
Waltke, Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, São Paulo:
Edições Vida Nova, 1998, p. 24. Veja também Schökel, Luis Alonso Dicionário
Bíblico Hebraico-Português São Paulo: Edições Paulus, 1991, p. 32.)
Embora nenhuma obra de
interpretação secundária como dicionários ou comentários possam servir para nos
dar a palavra final, devemos respeitar a experiência de peritos e estudiosos e
considerar com todo respeito as suas conclusões. Quando obras como estas
citadas concordam com todas as outras evidências apresentadas, principalmente
da própria Palavra, temos motivos o suficiente para concluir que uma
interpretação está com uma base confiável.
Conclusão Preliminar
O texto de 1 Samuel 28:7-20 nos
leva a concluir com segurança que o espírito do falecido profeta Samuel de fato
se comunicou com Saul em En-Dor. Podemos não compreender como o ETERNO [*] deixaria algo desta natureza ocorrer. Podemos estranhar tudo que ocorreu no
evento em si e as implicações deste evento diante das proibições da Palavra em
relação à comunicação com os mortos.
Mas, a nossa interpretação
da Palavra do ETERNO[*] tem que se basear não naquilo que nós entendemos como
lógico ou aceitável para nós, mas, naquilo que a própria Palavra diz. A chave
para a interpretação tem que permanecer no texto em si e não em nossa lógica ou
entendimento.
É preciso refletir sobre os
eventos relatados neste texto, nos mandamentos e nas proibições no resto da
Bíblia. Se uma passagem descreve algo que outras passagens condenam, será que
aquilo que é descrito serve para justificar a prática? Se de fato Saul se
comunicou com Samuel podemos concluir que a comunicação com os mortos é
permitida?
Ou, será que o ETERNO[*] fez
algo extraordinário naquela situação por causa dos propósitos insondáveis dEle
e que não cabe a nós questionar Sua soberania? Que o ETERNO[*] guie e guarde a
todos na sua busca de conhecer e seguir a Palavra e Sua a perfeita vontade.
Algumas Dúvidas
a. O ETERNO [*] permitiria um
profeta como Samuel participar numa prática condenada?
Algumas pessoas raciocinam que o
espírito morto de Samuel não poderia ter falado com Saul por causa da proibição
pelo ETERNO[*] de tal prática. O raciocínio destas pessoas é de que o ETERNO[*] não permitiria um servo tão fiel como Samuel participar em uma prática
condenada por Ele. Já demonstramos que o ETERNO[*] condena a prática da
comunicação com os mortos. Concordamos que não faz sentido o ETERNO[*] permitir um servo dEle participar em algo condenado. Achamos, contudo, necessário
lembrarmos duas coisas:
1 - Não devemos tentar limitar o ETERNO[*] pelo nosso raciocínio. O ETERNO[*] não age sempre conforme
nossas expectativas. A própria Palavra dEle nos mostra que há muitas
coisas que Ele faz cujo sentido ou explicação não nos é revelado e não cabe a
nós saber (Deut 29:29). As Escrituras afirmam que Ele faz coisas que não temos
condições de compreender (Jó 5:9; Isa 5:8,9). Por este motivo devemos ter muita
cautela em tentar vincular o que vamos aceitar o ETERNO[*] fazendo com o que é
lógico ou que segue nosso raciocínio humano. Não compete a nós ditar o que Ele
pode ou não pode fazer. Nossa mente, mesmo iluminada pela presença do Espírito
Santo, é capaz de errar na sua lógica. Eis a razão pela qual o ETERNO[*] nos
deu sua Palavra para confirmar as coisas para nós.
2 - Há muitos exemplos na Bíblia
de quando o ETERNO[*] permitiu uma pessoa cometer um pecado e ainda usou
aquela pessoa. Isto não significa que Ele é contraditório ou que ele aprove o
pecado. Isto apenas significa que Ele é soberano e mesmo quando alguém pecar,
ele ainda pode realizar sua vontade.
Alguns exemplos são:
- A mentira é proibida como
pecado pela Palavra do ETERNO[*] (Ex. 23:1). Várias pessoas nos relatos da
Bíblia mentiram, mas até suas mentiras permitiram a realização da vontade do ETERNO[*]. Abraão (Gen. 20:2), Jacó (Gen. 27:18-19) e Raabe (Jos 2:1-7) mentiram, mas
o ETERNO[*] ainda realizou sua soberana vontade através deles. Todos estes
três são contados entre os antepassados de Jesus (Mat 1:1, 2, 5) e entre as
colunas da fé Cristã (Heb 11: 8, 17, 21, 31). Não estamos dizendo, como alguns
alegam, que o ETERNO[*] os abençoou por causa das suas mentiras. Estamos
dizendo que o ETERNO[*] os abençoou apesar das suas mentiras.
Nem por causa de um pecado condenado, o ETERNO[*] deixou de usá-los para
realizar sua vontade.
- O adultério é proibido pelo ETERNO[*] (Ex. 20:14) e a sentença era morte para ambos achados no caso de adultério
(Lev 20:10). Davi cometeu adultério com Bate-Seba (2 Sam 11:2-5). O filho da
sua relação morreu, mas o segundo filho que eles tiveram foi Salomão (2 Sam
12:24), um dos homens mais sábios de toda a história. Nem Davi, nem Bate-Seba
foram mortos pelo seu pecado, e o filho deles veio a ser um dos maiores reis de
Israel e aquele que construiu o templo do SENHOR em Jerusalém.
- Davi também cometeu outro
pecado quando matou o marido de Bate-Seba, Urias (2 Sam 11:14-17; 12:9). Assassinato
era proibido pelo ETERNO[*] (Ex. 20:13) e a sentença também era morte (Ex.
21:14). O ETERNO[*] não matou Davi por causa daquilo que ele fez, embora seu
pecado tenha sido tão terrível como trair e assassinar um homem justo como
Urias. Apesar de tudo isto, o ETERNO[*] ainda continuou abençoando Davi como
rei de Israel. Seu pecado teve consequências, mas Davi continuou sendo elogiado
por Deus como “homem segundo o meu coração” (Atos 13:22), até os dias de
Jesus. A Bíblia indica que, apesar dos seus graves pecados, Davi continua até
hoje a ser um homem que seguia a vontade do ETERNO[*]. Apesar dos seus
pecados, o ETERNO[*] usou Davi para realizar sua vontade. Lembramos também que
Davi foi um dos mais ilustres antepassados de Jesus.
Mais uma vez, não queremos
insinuar que o ETERNO[*] aprova o pecado. Mas, é evidente que o ETERNO[*] pode
permitir algo que vai contra a vontade dEle, ou que transgride os mandamentos
dEle, e ainda realizar sua vontade através daquela pessoa ou aquela situação.
Por isso devemos ter cautela em declarar que o ETERNO[*] jamais permitiria um
servo dEle fazer esta coisa ou aquela outra. Embora a procura pela comunicação
com os mortos é expressamente condenado na Palavra do ETERNO[*], isto não
impede que Ele use uma situação onde houve comunicação com os mortos para
realizar a Sua vontade.
b. Será que quando Saul morreu
ele foi para o mesmo lugar de Samuel?
Algumas pessoas questionam a
afirmação daquele que falou com Saul quando ele disse “amanhã, tu e teus filhos
estareis comigo...”. Estas pessoas acham difícil acreditar que Saul, que
evidentemente morreu em pecado (uma vez que, além de toda sua rebelião, ele se
suicidou), poderia ir, depois de morrer, para o mesmo lugar de Samuel.
Primeiramente, precisamos observar
que quando aquele que falou disse “tu e teus filhos estareis comigo” o
ponto dele não era a ida de Saul para um lugar geográfico, mas para uma
condição ou estado - a própria morte. Se presumimos que aquele que falou foi de
fato Samuel, o que ele quis dizer não era que Saul iria para o mesmo lugar onde
ele estava, mas para o mesmo estado. Ele estava usando uma
expressão, um eufemismo, que significava a morte.
Com uma certa frequência a Bíblia
fala da condição da morte em termos de um determinado lugar. A palavra hebraica
mais comum para isso era “sheol”. As seguintes passagens se referem a um
lugar “sepultura,” “cova,” quando de fato está se referindo a uma
condição - a morte.
...Chorando,
descerei a meu filho até à sepultura (sheol) (Gn 37:35)
O Senhor é o que
tira a vida e a dá; faz descer à sepultura (sheol) e faz subir. (1 Sm 2:6)
Que homem há que viva e não veja a morte? Ou que livre a sua alma das garras do sepulcro (sheol)? (Sl 89:48)
A sua casa é
caminho para a sepultura (sheol) e desce para as câmaras da morte. (Pr 7:27)
Porquanto dizes:
‘Fizemos aliança com a morte e com o além fizemos acordo’. (Is 28:15)
Todos estes versículos (e muitos
outros) vinculam um lugar (sheol), com uma condição, a morte. Ou seja, quando a
Bíblia fala em alguém indo para sheol, fala da pessoa indo para sua morte.
Presumindo que foi Samuel quem falou, ele estaria simplesmente usando uma
expressão figurativa para dizer que Saul ia morrer. Se ele (Samuel) estava em
Sheol (ou seja, morto, “na sepultura”) ele poderia dizer verdadeiramente
que Saul iria para o mesmo lugar (o túmulo, a sepultura, ou seja, a morte).
Jó afirmou que ia para o mesmo
“lugar” que todos os mortos “Pois eu sei que me levarás à morte e à casa
destinada a todo vivente.” (Jó 30:23) Segundo esta passagem há um só lugar para
o qual todos os seres vivos estão destinados, “a casa destinada a todo
vivente.” De certa forma, todos os homens têm o mesmo destino - o além, o outro
lado da vida, a morte. Neste sentido sim, com certeza, Saul foi para o mesmo
lugar que Samuel.
c. Algumas pessoas alegam que o ETERNO[*] não teria respondido a Saul pelo profeta Samuel.
Devemos notar que em Ez 14:1-11, o ETERNO[*] promete que, embora um homem esteja voltado no seu coração para a
idolatria, o ETERNO[*] poderá responder a ele quando ele consultar o profeta.
Mas, a resposta do ETERNO[*] terá como finalidade justamente a destruição
deste homem.
Conclusão
Vale a pena uma observação final.
Se aquele que falou com Saul foi de fato Samuel, mas alguém hoje em dia diz que
foi o demônio, esta pessoa hoje pode estar cometendo um grave pecado diante do SENHOR.
Em Mateus 12:22-32 Jesus
pronuncia uma das condenações mais severas de toda a Bíblia sobre aqueles que chamam
uma obra do SENHOR como obra do demônio. Jesus condenou tal erro como “blasfêmia
contra o Espírito Santo”. Não cabe a nós julgar ninguém quanto a este
assunto. Apenas entendemos necessário alertar todos para a possibilidade de
estarem falando mal de um servo do SENHOR quando faz profecia que se cumpre e
quando a própria Bíblia diz que ele era mesmo o profeta Samuel.
A Bíblia condena claramente a
comunicação com os mortos:
- Lv 19:31 - Não vos voltareis
para os necromantes, nem para os adivinhos; não os procureis para serdes contaminados
por eles: Eu sou YHWH vosso Elohim.
- Lv 20:6 - Quando alguém se
virar para os necromantes e feiticeiros, para se prostituir com eles, eu me
voltarei contra ele e o eliminarei do meio do seu povo.
- Lv 20:27 - O homem ou a
mulher que sejam necromantes, ou sejam feiticeiros, serão mortos: serão
apedrejados; o seu sangue cairá sobre eles.
- Dt 18:9-12,14 - Quando
entrares na terra que YHWH teu Elohim te der, não aprenderás a fazer conforme
as abominações daqueles povos. Não se achará entre ti quem faça passar pelo
fogo o seu filho ou sua filha, nem adivinhador, nem prognosticador, nem mágico,
nem quem consulte os mortos; pois todo aquele que faz tal coisa é abominação a
YHWH ...
- Is 8:19 - Quando vos
disserem: Consultai os necromantes e os adivinhos, que chilreiam e murmuram, acaso
não consultará o povo ao seu Elohim? A favor dos vivos se consultarão os
mortos?
A comunicação com os mortos
é possível? Tudo que vimos no episódio de necromancia envolvendo Samuel e Saul
nos leva a crer que é. Contudo, devemos ressaltar a proibição divina contra
esta prática. Ainda lembramos que o evento em que Saul participou de modo algum
pode ser usado como autorização para comunicação com os mortos, uma vez que a mesma
Palavra que relata este evento condena claramente o que Saul fez:
Assim morreu Saul
por causa da sua transgressão cometida contra o Senhor, por causa da palavra do
Senhor, a que ele não guardara; e também porque interrogara e consultara uma
necromante. (1 Cr 10:13)
O ETERNO[*] proibiu de forma
categórica e clara a prática da comunicação com os mortos, embora haja
evidência na Bíblia de que tal prática é possível. Se uma pessoa hoje em dia
quer ignorar tal condenação e proibição, aquela pessoa tem esta liberdade. Ela
pode até conseguir a façanha da comunicação com o além-túmulo. Mas, um dia ela
terá que responder ao ETERNO[*] pelas suas ações. A evidência da Bíblia indica
que ela receberá a mesma resposta que o ETERNO[*] deu a Saul: “Assim morreu
Saul por causa da sua transgressão cometida contra o Senhor, por causa da
palavra do Senhor, a que ele não guardara; e também porque interrogara e
consultara uma necromante.” – 1 Cr 10:13.
A morte de Saul a qual 1 Cr 10:13
se refere foi a morte física. Morrer a morte física já é bastante triste. Mas,
há uma morte pior. A pessoa que desobedeça a clara proibição do SENHOR,
buscando a comunicação com os mortos apesar das condenações na Palavra Do ETERNO[*], tem outra morte à sua espera, a segunda morte:
Quanto, porém, aos
covardes, aos incrédulos, aos abomináveis, aos assassinos, aos impuros, aos
feiticeiros, aos idólatras e a todos os mentirosos, a parte que lhes cabe será
no lago que arde com fogo e enxofre, a saber, a segunda morte. (Ap. 21:8)
Esta segunda morte espera todos os
que desobedeçam ao ETERNO[*], inclusive, como menciona Ap. 21:8, os
feiticeiros. Dificilmente a maioria das pessoas que praticam a comunicação com
os mortos iriam se considerar como feiticeiros. Esse termo hoje traz a ideia de
magia negra, encantamentos e maldições. Mas, precisamos entender os termos
bíblicos no seu sentido original, e não no sentido que as traduções modernas às
vezes reproduzem.
A palavra traduzida “feiticeiros”
no grego original foi a palavra “pharmakos”. No período em que o livro
de Apocalipse foi escrito, o termo original, pharmakos, se aplicava a
todo tipo de magia e feitiçaria, inclusive a comunicação com os espíritos.
Segundo O Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, no artigo
sobre magia e feitiçaria:
“atestam-se
numerosas formas de magia no mundo greco-romano. … A evocação dos espíritos dos
mortos já ocorre em Homero, Od. 11, e os necromantes eram reconhecidos como uma
classe de mágicos.” (C. Brown, artigo “Magia, Feitiçaria, Magos” em Brown,
Colin, O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, São
Paulo: Edições Vida Nova, 1978, tradução Gordon Chown, Vol. III, p. 109.)
Referente ao termo pharmakos,
o dicionário explica que, no trabalho destas pessoas “tem havido uma
tradição mágica de ervas colhidas e preparadas para encantos, e também para
encorajarem a presença de espíritos em cerimônias de magia.” (J. Stafford
Wright, artigo “Magia, Feitiçaria, Magos” em Brown, Colin, O Novo Dicionário
Internacional de Teologia do Novo Testamento, Vol. III, p. 114) A palavra pharmakos,
embora traduzida por “feiticeiros” nas traduções em português, se
referia no grego original também àqueles que se comunicavam com os espíritos.
Como o livro de Apocalipse alerta, estas pessoas enfrentarão a segunda morte,
que é a condenação eterna da alma.
Embora houve pelo menos um
exemplo na Bíblia de busca e verdadeira comunicação com os mortos, no caso de
Saul e Samuel em En-Dor, este episódio jamais deve servir como exemplo, a não
ser daquilo que devemos evitar. As condenações e proibições da Palavra quanto à
comunicação com os mortos são suficientemente claras a não deixarem dúvidas.
Que todos possam dar ouvidos às alertas da Palavra do ETERNO[*] e voltar a
ouvir e seguir a orientação do único espírito que devemos atender – O Espírito
Santo:
Nós somos de Elohim;
aquele que conhece a Elohim nos ouve; aquele que não é da parte de Elohim não
nos ouve. Nisto reconhecemos o espírito da verdade e o espírito do erro. (1
João 4:6).
Que o ETERNO[*] possa dar
ouvidos a todos e que todos possam atender e seguir as palavras dEle.
Dennis Downing
Texto corrigido e adaptado
por Francisco Adriano Germano
Notas:
[*] Substituído o termo Deus.
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Algo chama minha atenção no testo desta história, Não sei quem de fato é o escritor da visão, mais atentando-me para ele, vejo que ele enfatizou categoricamente, Samuel ser quem de fato ele era não deixando qualquer sombra de dúvida. O escritor deste texto Bíblico, escreve a história como ele ver ou como ele viu podendo ter sido enganado pela visão. Partindo desse ponto de vista, tenho dúvida sobre sua interpretação.
ResponderExcluirShalom!
ExcluirSegundo a tradição judaica, o livro foi escrito por Samuel, com adições feitas pelos profetas Gade e Natã. Entendo a sua preocupação porém, não devemos ter dúvidas sobre a veracidade da narrativa. Não há qualquer indício de que o texto tenha sofrido qualquer adulteração e é uma forte lição contra a prática!
O texto bíblico procura deixar bem claro sobre as consequências:
"O ETERNO proibiu de forma categórica e clara a prática da comunicação com os mortos, embora haja evidência na Bíblia de que tal prática é possível. Se uma pessoa hoje em dia quer ignorar tal condenação e proibição, aquela pessoa tem esta liberdade. Ela pode até conseguir a façanha da comunicação com o além-túmulo. Mas, um dia ela terá que responder ao ETERNO pelas suas ações. A evidência da Bíblia indica que ela receberá a mesma resposta que o ETERNO deu a Saul: “Assim morreu Saul por causa da sua transgressão cometida contra o Senhor, por causa da palavra do Senhor, a que ele não guardara; e também porque interrogara e consultara uma necromante.” – 1 Cr 10:13."
E finaliza dizendo:
"Embora houve pelo menos um exemplo na Bíblia de busca e verdadeira comunicação com os mortos, no caso de Saul e Samuel em En-Dor, este episódio jamais deve servir como exemplo, a não ser daquilo que devemos evitar."
Por último, faço minhas as palavras do autor quando ele diz:
"Mas, a nossa interpretação da Palavra do ETERNO tem que se basear não naquilo que nós entendemos como lógico ou aceitável para nós, mas, naquilo que a própria Palavra diz. A chave para a interpretação tem que permanecer no texto em si e não em nossa lógica ou entendimento."
Que YHWH te abençoe!