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LIVRE-SE DOS MAUS COMPORTAMENTOS

  


Avraham era uma pessoa muito honrada, com muitas qualidades. Porém, ele tinha um terrível defeito, que muitas vezes acabava anulando suas qualidades: ele sentia um desejo incontrolável por dinheiro. Sempre que ele passava por algum teste nesta área, ele perdia a cabeça, jogava tudo para cima e corria com fervor atrás de seus desejos.

 

Muitos anos se passaram e Avraham, já em sua velhice, adoeceu e sentiu que a morte se aproximava. Seus amigos e parentes estavam todos em volta de sua cama, preparando-se para a última despedida. Avraham quis aproveitar aquele momento para ensinar uma preciosa lição aos seus amigos e familiares. Juntando suas últimas forças, ele fez um gesto para que todos se aproximassem. Com a voz já muito fraca, ele disse:

 

- Gostaria que minhas últimas palavras pudessem ensinar algo importante a vocês. Apesar de estar sentindo que meu fim se aproxima e que mais um pouco me levarão deste mundo, eu garanto a vocês que se alguém me oferecesse agora dinheiro, eu não conseguiria impedir de estender a mão para pegá-lo e guardá-lo sob meu travesseiro. Infelizmente, até mesmo neste momento o desejo pelo dinheiro ainda me controla desta maneira...

 

Estas foram suas últimas palavras. Alguns minutos depois, a alma dele partiu deste mundo. (História Real)

 

Nossos sábios ensinam uma importante regra: todos os traços de caráter negativos de uma pessoa, caso ela não se esforce para arrancá-los pela raiz, os acompanharão até o túmulo.

 


 

Nesta semana lemos a Parashá Tzav (literalmente "ordene"), que continua descrevendo detalhes do principal serviço realizado no Mishkan (Tabernáculo): a oferenda dos Korbanót (sacrifícios). Porém, a Parashá começa com uma linguagem um pouco diferente:

 

E disse Elohim para Moshé (Moisés): Comande a Aharon (Arão) e seus filhos e diga: Esta é a lei do Korbán Olá (Sacrifício de Elevação). Este é o Korban que queima no altar a noite toda até a manhã seguinte, e o fogo do altar queimará com ele (Vayikrá/Levítico 6:8,9).

 

Ao contrário dos outros serviços, quando Elohim ordenou a Moshé que "diga" as coisas para Aharon e seus filhos, neste caso a Torá utilizou uma linguagem mais dura, "comande". Qual é a diferença entre o Korban Olá e os outros Korbanót?

 

Explica Rashi (França, 1040 - 1105) que normalmente os Cohanim (Sacerdotes) tinham o direito de comer parte dos Korbanót oferecidos. O Korban Olá era uma exceção, pois como ele era completamente queimado no altar, os Cohanim não podiam consumir nenhuma parte dele. Preocupado com o possível desprezo que os Cohanim poderiam ter com a oferenda deste Korban, por não terem nenhum benefício dele, Elohim usou uma linguagem mais dura, para que os Cohanim fossem ágeis neste Korban como eram em todos os outros.

 

Porém, se pararmos para refletir, este comando está sendo feito a Aharon, o irmão de Moshé, e aos seus filhos, homens mais maduros espiritualmente. Será que alguém em um nível tão alto seria negligente com o Serviço Divino apenas porque não receberia nenhuma parte do Korban? Elohim está mesmo suspeitando de pessoas tão elevadas espiritualmente?

 

Responde o Rav Elyahu Lopian zt"l (Polônia, 1876 - Israel, 1970) que a nossa Torá é baseada em "Emet" (verdade), e a Emet foi entregue para ser aplicada a todas as pessoas, sem distinção, desde alguém muito jovem ou espiritualmente imaturo, que recém começou a entender a vida, até pessoas experientes e espiritualmente mais maduras. A Torá, incluindo todas as Mitzvót, as advertências e todos os seus detalhes, foi entregue a todos, igualmente.

 

Porém, como isto explica a linguagem mais dura da Torá ao se referir a Aharon e seus filhos? Se eles eram tão maduros espiritualmente falando, provavelmente já tinham conquistado seu Yetser Hará (má inclinação)! A resposta é surpreendente: quanto maior o nível espiritual da pessoa, a força do seu Yetser Hará será proporcionalmente maior, para que cada pessoa tenha, em todos os momentos, a possibilidade completa da escolha entre o bem e o mal.

 

Durante toda a vida não há nada que force a pessoa a andar em um bom caminho ou o contrário. Mesmo a pessoa espiritualmente elevada, que não dá ouvidos ao seu Yetser Hará, ou a pessoa que está se afogando no mar dos desejos, cujo coração está espiritualmente bloqueado por causa de suas transgressões, ainda assim a Torá se aplica a todos, sem distinção, nas suas Mitzvót e advertências. Em qualquer nível que a pessoa esteja, ela sempre estará igualmente sujeita a testes equilibrados, de acordo com o seu nível espiritual. Pois o livre arbítrio foi entregue ao ser humano, isto é, cada um tem a permissão de, a cada momento, se inclinar e se tornar um grande Tzadik (Justo), ou se inclinar e se tornar um grande Rashá (malvado).

 

Por isso, até o dia da nossa morte, mesmo as pessoas mais elevadas, devemos ser cuidadosos com os ataques do Yetser Hará.

 

Portanto, até o dia de sua morte a pessoa não deve confiar em si mesma e achar que já conquistou seu Yetser Hará. O correto é que devemos pedir, até o fim da vida, misericórdia dos Céus para que nos ajude a evitar os tropeços. O Talmud (Kidushin 30b) nos ensina que é a isto que se refere o versículo "O Rashá aguarda o Tzadik e quer matá-lo" (Salmos 37:32). "Rashá" se refere ao Yetser Hará, que não desiste de ninguém e não deixa para trás nem mesmo o maior Tzadik da geração. Em todos os momentos o Yetser Hará fica espreitando a pessoa, para agarrá-la no local e no momento apropriado, para fazê-la tropeçar.

 

Quando Elohim comandou a Aharon e a seus filhos para serem cuidadosos com o Korban Olá, Ele estava nos ensinando a força do nosso Yetser Hará. Independente da sua condição espiritual, a luta contra o Yetser Hará será constante, e que não há descanso nem possibilidade de se descuidar.

 

A Torá é o nosso guia para escapar do Yetser Hará. Se não nos esforçarmos para arrancar os nossos maus hábitos e nossos traços de caráter negativos, infelizmente eles nos acompanharão até o túmulo. Aqueles que confiam em si mesmos e caminham tranquilamente em terrenos perigosos podem cair a qualquer momento, mas aqueles que seguem as palavras de Shlomo HaMelech (Rei Salomão), "Bem-aventurado é aquele que tem medo sempre" (Mishlei/Provérbios 28:14), isto é, que tem medo de cometer transgressões e está sempre se preparando para lutar contra o Yetser Hará, este certamente terá sucesso em sua caminhada.

 

R' Efraim Birbojm

Texto adaptado por Francisco Adriano Germano

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