A maioria de nós passa a vida procurando a presença de Elohim
no mundo, esperando ter um vislumbre.
Lembro-me da primeira vez que vi
uma foto do “Olho Mágico”. Crescendo na década de 1990, eles estavam em
toda parte. À primeira vista, um Olho Mágico (também conhecido como imagem de
autoestereograma) parece ser um padrão bidimensional ocupado com muita cor e
textura, mas quando você desacelera e aprende a olhar para ele de uma maneira
particular, uma segunda imagem surge, totalmente diferente do primeiro. Parece
ter três dimensões saindo da página. Você precisa aprender a ver a imagem em
camadas adicionais, mas mesmo o espectador mais experiente não verá a imagem
oculta à primeira vista. Você tem que olhar com intenção ou perderá completamente
a magia.
Lembro-me da primeira vez que vi
um Olho Mágico na porção da Torá desta semana. Como todos os padrões de olhos
mágicos, há muito para ver na superfície. Em apenas dois capítulos de Levítico,
somos instruídos a cuidar dos pobres, a ser honestos, a nunca nos vingar nem
guardar rancor. Diz-nos quando e como oferecer sacrifícios, guardar o Shabat e
o que nos é permitido comer. Diz-nos como guardar relacionamentos, como tratar
nossos animais e como colher nossos campos. Esta porção contém o que Rabi Akiva
nos diz como mensagem central da Torá:
Ame o seu próximo como a si mesmo
(Levítico 19:18)
Gerações de judeus têm procurado
entender e viver de acordo com esses mandamentos. No entanto, se lermos esta
parte apenas como um código de conduta, podemos perder o Olho Mágico. Porque em
meio a esses versos agitados, encontramos um convite direto para fazer parte da
santidade de Elohim.
As palavras Ani Adonai
(“Eu sou SENHOR”) aparecem 20 vezes nesta porção. Isso parece difícil de
perder, mas a repetição pode nos levar a confundir o convite com mera
pontuação. No entanto, se lermos este trecho com a intenção correta, uma nova
imagem emerge e nos encontramos imersos em um convite à santidade. Elohim está
falando diretamente conosco – e na primeira pessoa. Depois de ver isso,
torna-se difícil ignorar. Elohim está nos convidando a viver uma vida que é
mais do que apenas seguir regras e fazer o que é certo. Estamos sendo
convidados a um relacionamento com o divino.
Rashi comenta estas 20
apresentações de Elohim e não há duas iguais. Às vezes, Rashi pensa que o “eu
sou Elohim” é um aviso – um lembrete de que Elohim pode nos punir. Às vezes
é uma promessa de recompensa – “Eu sou Elohim” e, portanto, você pode
depender de mim para se manter seguro. Às vezes, “eu sou Elohim” é um
lembrete de que Elohim sabe tudo, até mesmo nossos segredos mais profundos. E
às vezes é um lembrete de que nunca estamos verdadeiramente sozinhos. Para
Rashi, o significado desta frase muda dependendo de qual mandamento está sendo
dado ao mesmo tempo.
O mesmo é verdade em nossas
vidas. Cada revelação do divino carrega seu próprio sabor e significado. O Elohim
que experimentamos nos momentos difíceis é diferente do Elohim que
experimentamos nos momentos alegres. O Elohim que encontramos à beira de uma
cachoeira é diferente do Elohim revelado a nós quando embalamos um bebê
recém-nascido. O Elohim que emerge em um momento de profunda culpa é diferente
do Elohim que sentimos quando um ente querido morre.
O que Elohim é muda
dependendo do que estamos fazendo e do que temos que aprender a cada momento.
Viver uma vida de santidade é ver que cada momento de nossas vidas traz uma
oportunidade única de experimentar o sagrado.
Este convite não está separado
das leis que regem nosso comportamento. Ele está diretamente entrelaçado, assim
como o padrão plano faz parte da imagem multidimensional. Aprender a ler a
Parashá desta semana como um Olho Mágico significa aprender a ver nossas vidas
da mesma maneira. Cada ação que tomamos, em todas as áreas de nossas
vidas, é uma oportunidade de ver e buscar a santidade.
Algumas pessoas não conseguem ver
um Olho Mágico, assim como algumas nunca veem a presença de Elohim no mundo.
Outros experimentam o mundo como cheio de santidade, encontrando revelação a
cada passo. A maioria de nós cai em algum lugar no meio. Passamos nossas vidas
na busca, esperando ter um vislumbre.
Pelo Rabino Avi Killip
Texto revisado e adaptado por
Francisco Adriano Germano
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