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O PODER DA UNIÃO



Uma professora trouxe balões para a escola e pediu às crianças que os enchessem e que cada um escrevesse seu nome em um deles. As crianças então jogaram os balões no centro da classe e a professora misturou bem todos eles. Ela deu cinco minutos para que cada um encontrasse o balão que continha seu nome.

 

As crianças correram contra o tempo, se esforçando muito, mas de forma totalmente desorganizada, se empurrando e pisando um no outro. Eram muitas crianças e, por isso, a classe ficou um caos. Após os cinco minutos terem passado, nenhuma criança havia encontrado seu próprio balão. Além disso, algumas crianças choravam e reclamavam por terem sido machucadas por outras crianças naquela enorme confusão.

 

Quando todos se acalmaram, a professora disse às crianças que, ao invés de cada um procurar seu próprio balão, elas deveriam pegar o balão mais próximo e dar à criança cujo nome estivesse escrito nele. Novamente elas teriam os mesmos cinco minutos para realizar a tarefa.

 

Foi então que algo incrível aconteceu. De forma rápida e organizada, em menos de dois minutos cada criança já segurava seu próprio balão. Desta vez todos estavam felizes e sorrindo. Finalmente a professora ensinou:

 

- Queridos alunos, estes balões são como a felicidade que buscamos tanto em nossas vidas. Ninguém a encontrará se buscar apenas a sua, pisando sobre os outros. Ao contrário, desta forma as pessoas apenas se machucarão. Porém, se todos se preocuparem uns com os outros, todos encontrarão a felicidade mais rápido.

 


 

Nesta semana lemos a Parashá Shelach Lechá (literalmente "Envie para você"), que continua descrevendo os principais acontecimentos do povo judeu no deserto. Logo após receber a Torá no Monte Sinai, o povo se encaminhou para a Terra de Israel, onde poderia cumprir as Mitzvót (Mandamentos) de forma completa. Porém, apesar de Elohim já ter garantido que a terra era muito boa, de onde fluía leite e mel, e que a conquista seria milagrosa, ainda assim o povo não confiou e exigiu que espiões fossem enviados.

 

Após se aconselhar com Elohim sobre o pedido do povo, Moshé (Moisés) recebeu como resposta [1]: "Eu não concordo, Moshé. Mas se o povo quer enviar espiões, que assumam a responsabilidade e as consequências deste ato. Entretanto, Eu garanto que esta atitude do povo terá consequências catastróficas e esta geração não herdará a Terra de Israel".

 

O povo estava tão obstinado que ainda assim insistiu em enviar os espiões. Um total de doze homens foram escolhidos para espionar a terra, sendo um de cada tribo. E, conforme Elohim havia advertido, a missão terminou em uma terrível tragédia.

 

Dez espiões voltaram falando mal da terra, afirmando que seria impossível derrotar os seus habitantes, os quais eram gigantes e que viviam protegidos por imensas fortalezas. Disseram ainda que a terra era amaldiçoada, engolindo seus habitantes. Além de olharem para a terra de forma negativa, eles se reportaram diretamente ao povo, ao invés de fazerem o relato apenas para Moshé, causando pânico e um choro sem motivo. Esta reação do povo, demonstrando uma total falta de Emuná, deixou Elohim furioso. Em consequência, foi decretado que o povo passaria 40 anos no deserto e que aquela geração perderia o direito de entrar na Terra de Israel.

 

Poderíamos apreender deste acontecimento que enviar espiões seria uma demonstração de falta de Emuná e, portanto, é algo errado. Mas esta hipótese é derrubada ao lermos a Haftará desta semana, que descreve o momento no qual Yehoshua (Josué), o sucessor de Moshé, se preparava para a entrada na Terra de Israel. Umas das preparações foi justamente o envio de dois homens para espionar a cidade de Yerichó (Jericó), a primeira conquista dentro da Terra de Israel. A missão foi um sucesso, pois os espiões voltaram com notícias animadoras, e em nenhum momento foi descrito que a atitude de Yehoshua foi desaprovada por Elohim. Qual foi a diferença?

 

Em primeiro lugar, na época de Yehoshua, a missão de enviar espiões para a Terra de Israel foi bem-sucedida, pois eles não tinham dúvidas sobre a Terra de Israel ou questionamentos sobre a proteção Divina. Os espiões foram por motivos estratégicos, para definir como deveriam entrar na terra e conquistá-la. Por isso a missão recebeu a ajuda de Elohim.

 

Já a missão descrita na nossa Parashá foi baseada em uma total falta de confiança do povo judeu em Elohim. Eles não queriam definir uma estratégia para conquistar a terra, e sim verificar se a Terra de Israel, prometida ao povo judeu desde os dias de Avraham, Ytzchak e Yaacov, era realmente boa. Por isso Elohim tirou deles qualquer proteção espiritual, resultando na grande tragédia.

 

Entretanto, há mais uma diferença importante entre as duas missões, que fica clara na enorme desproporção entre o número de homens que foram enviados em cada uma delas. Enquanto Moshé enviou doze espiões, Yehoshua considerou suficiente enviar apenas dois homens. Por que Moshé considerou necessário para o sucesso da missão enviar tantos homens, se Yehoshua enviou apenas dois espiões e eles tiveram sucesso?

 

Explicam os nossos sábios que um dos principais motivos do fracasso do envio de espiões na época de Moshé foi a desunião do povo judeu. Realmente não eram necessários doze homens para a missão. Porém, as tribos não confiavam umas nas outras e insistiam em ter seu próprio representante. Isto revelava uma falta de união, o que acabou contribuindo para o erro, pois cada um dos espiões foi para a missão motivado por razões egoístas. Já na época de Yehoshua, o sentimento de união estava mais firmemente estabelecido e somente dois homens foram suficientes para representar o povo todo. Esse novo senso de união foi o fator determinante para o sucesso daquela missão.

 

Há um interessante Midrash que ressalta esta diferença. Na época de Yehoshua, os espiões foram orientados a se disfarçarem de surdos, "Cheresh" em hebraico, para não despertarem a atenção dos povos da terra. Porém, o Midrash nos ensina que não devemos ler "Cheresh", e sim "Cheres", que significa "barro". Para não serem descobertos pelos moradores, eles se disfarçaram de vendedores de utensílios de barro. E nossos sábios explicam que este incrível Midrash nos ajuda a entender as intenções verdadeiras dos espiões.

 

Com relação às leis de "Tumá", impureza espiritual, um utensílio de barro se torna impuro somente se o contato com a impureza ocorrer no seu interior, enquanto um utensílio de metal absorve a impureza mesmo por um contato externo. A diferença está na importância que cada utensílio tem. Um utensílio de barro não tem valor pelo material que é feito, e sim pela sua função de armazenar. Portanto, quando está vazio, ele não possui um valor intrínseco.

 

Já um utensílio de metal possui um valor intrínseco, independentemente se está armazenando algo ou não. Por exemplo, um vaso de ouro é importante mesmo estando vazio. Por isso, os utensílios de metal recebem impurezas tanto externamente quanto internamente, pois possuem um valor que é independente do seu conteúdo, enquanto o de barro só recebe impureza se o contato for no seu interior, onde se encontra o seu verdadeiro valor.

 

Seguindo este raciocínio, podemos explicar que os espiões da época de Moshé eram como utensílios de metal, isto é, estavam preocupados com o seu próprio valor, pois quando entrassem na Terra de Israel perderiam seu status, seriam como qualquer um do povo, e assim acharam melhor manter suas honrarias ficando fora da terra. Não foi um pensamento consciente, mas eles foram traídos pelo seu subconsciente.

 

Já os espiões da época de Yehoshua não pensavam em si mesmos, em seu próprio valor. Eles estavam preocupados com a missão que Elohim havia lhes ordenado, como um vaso de barro, que não tem um valor próprio intrínseco, e sim a sua missão de armazenar.

 

O Baal Shem Tov utilizava uma parábola para enfatizar a importância da união do povo judeu. Um rei estava passeando na floresta com alguns soldados quando avistou uma espécie rara de pássaro no alto de uma árvore. Ele ordenou que lhe trouxessem aquele pássaro, para que pudesse apreciá-lo mais de perto. Como não havia nenhuma escada por perto, os soldados fizeram uma "escada humana" para conseguir alcançar o pássaro. Cada homem subiu nos ombros do seu companheiro, até que o último soldado conseguiu chegar bem perto do pássaro. Porém, quando ele já estava quase conseguindo pegá-lo, o primeiro soldado, que era a base da escada, resolveu ir embora. Como resultado, toda a escada desmoronou, fazendo com que os soldados caíssem e não conseguissem cumprir a vontade do rei.

 

Da mesma forma que cada homem era necessário para a formação da "escada humana", também cada israelita é essencial para a formação de Israel [2]. A vida de cada um está interligada à de seu companheiro e, desta forma, se uma parte deste elo se abre, toda a corrente vai acabar se desmanchando. Portanto, quando um israelita está passando por dificuldades ou em risco de abandonar a Torá, cabe ao seu companheiro vir em sua ajuda. Se o ignorarem, esquecendo assim o espírito de união, toda a nação se enfraquecerá.

 

Esta é a lição da nossa Parashá. Cada um deve pensar em sua missão na vida, no que veio particularmente construir neste mundo. Porém, ao mesmo tempo, devemos sempre pensar em formas de também ajudar os outros em suas missões. Quando ajudamos os outros, automaticamente também somos ajudados, como em uma "escada humana" que nos deixa mais próximos de Elohim.

 

O egoísmo nos transforma em pessoas pequenas, arrogantes, focadas somente nos nossos próprios objetivos. O amor pelos outros e o altruísmo nos transforma em pessoas grandes, e nos ajuda a verdadeiramente alcançar nossos objetivos mais elevados.

 

 

R' Efraim Birbojm

Texto revisado e adaptado por Francisco Adriano Germano

 

NOTAS

1. Texto parafraseado da Torah pelo pensamento rabínico contido no Midrash

2. No original o autor faz menção ao termo judeu.

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