Mas sua igreja nunca teve
coragem de te contar
I – O MOTIVO DO ARTIGO
Um dos temas mais controversos,
mais abusados e mal compreendidos de toda a Bíblia é a questão do dízimo.
Infelizmente, os abusos cometidos por muitas igrejas nos motivam a esclarecer o
tema, de uma vez por todas, com base na Torá, pois é nela que encontramos as
instruções sobre como deve ser o dízimo.
II -INTRODUÇÃO
João é crente no Messias há
cerca de um ano. Desde sua conversão, em uma pequena congregação evangélica,
João nutre o sonho de que Deus lhe conceda uma vida confortável financeiramente.
Timidamente, João entra pela porta da congregação. Senta-se, assiste o louvor.
Logo, começa a participar animadamente. Chega a hora do apelo por dízimos e
ofertas. O pastor diz à congregação que se derem o dízimo, Deus irá fazer com
que sejam muito prósperos. João observa ao seu redor. As pessoas são simples, o
local também, e todos se levantam para trazer o dízimo. Cheio de esperanças,
João deposita o envelope na caixinha.
Há algumas ruas de distância,
José está reunido em outra congregação. Esta, mais “light”, José sempre
criticou as igrejas que pedem o dízimo avidamente. Está satisfeito por
participar de uma congregação que é sustentada por missionários americanos.
Dificilmente, José dá alguma contribuição significativa ao ministério, além dos
simbólicos 10 reais que deposita na caixinha de ofertas toda semana. Afinal, a
igreja de José é bem abastada.
As histórias acima são fictícias.
Mas, infelizmente, as ações descritas são verdadeiras, visto que a maioria dos
seguidores do Messias parece desconhecer ou não entender o que é a questão do
dízimo.
Muitos acham que o dízimo é uma
fonte de riqueza. Por outro lado, os mais esclarecidos, veem o dízimo como algo
que já passou e que não se refere aos dias de hoje. Sentem-se desconfortáveis
em dar qualquer contribuição financeira significativa a um ministério.
Em meio a tanta confusão, é
necessário que façamos um estudo sobre o dízimo, a fim de evitarmos cair em um
desses dois extremos.
III -EM QUE CONSISTE O
DÍZIMO?
É 10% de TUDO o que
recebemos por QUALQUER trabalho (a Torá torna isto claro ao citar
diversos exemplos de trabalhos diferentes.) Pela Torá, fica estabelecido que é
10% do líquido que obtemos, ou seja, do valor que recebemos pelo trabalho,
menos o que gastamos para exercer o trabalho, e não do ganho bruto.
Alguns tentam alegar que o dízimo
seria só de produtos agropecuários. Contudo, isto não se verifica nas Escrituras,
pois na B’rit Chadashá (“Novo Testamento”) encontramos um parush
(fariseu) dizendo:
Jejuo duas vezes
na semana, e dou o dízimo de tudo quanto ganho. (Lu. 18:12)
Vemos aqui que a concepção de
dízimo sempre foi de fato algo acerca de nossa renda de um modo geral
IV – DÍZIMO É TUDO UMA
COISA SÓ?
É aqui que começa o problema. A
grande maioria das igrejas não menciona, mas, na ausência do Beit HaMikdash (o
Templo), existem PELO MENOS quatro formas diretamente mencionadas
pela Torá. Além desta, com um estudo mais aprofundado, podemos encontrar pelo
menos mais três:
USOS DO DÍZIMO DIRETAMENTE
MENCIONADOS PELAS ESCRITURAS:
#1 – Para o sustento da obra
do Templo (sacerdotes e levitas)
#2 – Para o sustento da obra
numa congregação
#3 – Para o sustento de
necessitados
#4 – Para celebração perante o
Eterno, preferencialmente com a família
A maioria das igrejas ensina
apenas os tipos #1 e #2 (principalmente o #2 por motivos óbvios), e no máximo pode
se referir ao tipo #3. O tipo #4 é praticamente desconhecido pela grande
maioria dos seguidores de Yeshua.
USOS DO DÍZIMO QUE PODEMOS
CONCLUIR A PARTIR DAS ESCRITURAS:
#5 – Para nos ajudar a
praticarmos atos de misericórdia
#6 – Para adquirirmos
conhecimento do ETERNO
#7 – Para cumprirmos outras
mitsvot (mandamentos)
Estas outras 3 formas de usarmos
o dízimo normalmente são completamente ignoradas pela grande maioria das
igrejas. Vamos analisar cada uma delas. Porém, antes disto, é importante que
esclareçamos a questão da validade do dízimo para os dias de hoje.
V – SE NÃO HÁ TEMPLO, POSSO
DAR O DÍZIMO?
Alguns argumentam que dízimo é
coisa de judeu, visto que está definido na Torá que foi dada por intermédio de
Moshe (Moisés). Outros dizem que o dízimo não precisa ser dado porque o Beit
HaMikdash (Templo) não está de pé.
Contudo, ambas as afirmações são
equivocadas. A primeira já está equivocada porque parte do pressuposto de que a
Torá não seria válida para nós, o que é um grande absurdo, mas que não será
tema deste estudo em particular. Já a segunda afirmação, a prática do dízimo é primeiramente
encontrada em Bereshit (Gênesis) 14:30, onde Avraham (Abraão) dá
o dízimo a Malki-Tsedek (Melquisedeque).
O princípio do dízimo foi
iniciado por Avraham, que espiritualmente é tido como pai daqueles que
depositam sua fé em YHWH. Todos os crentes em Yeshua devem seguir o exemplo de
Avraham.
Porém, existe aqui o primeiro
grande furo na lógica de muitas igrejas. Antes de Moshe (Moisés), o
dízimo não é relatado na Bíblia como sendo uma mitsvá (mandamento). Portanto,
ou a Torá ainda é válida (e aí temos que seguir também os outros mandamentos),
ou o dízimo também foi abolido. É preciso haver coerência.
Se uma igreja defende que a Torá
foi abolida e ainda assim cobra o dízimo, está sendo hipócrita. Se o dízimo é
definido na Torá, que direito temos de escolher aquilo que é conveniente da
Torá e aplicar aos dias de hoje, ignorando o restante? Isto é zombar do YHWH!
VI – ANALISANDO AS DIVERSAS
FORMAS DE SE APLICAR O DÍZIMO
FORMA #1 – PARA SUSTENTO DA
OBRA NO TEMPLO
Assim diz a Torá a respeito da
herança da tribo de Levi:
Porque os dízimos
que os filhos de Israel oferecerem ao Senhor em oferta alçada, eu os tenho dado
por herança aos levitas; porquanto eu lhes disse que nenhuma herança teria
entre os filhos de Israel. (Bamidbar / Números 18:24)
Somente os da linhagem de Aharon
(Aarão) atuavam como sacerdotes no Templo. Cabia, porém, aos levitas os
serviços em geral que eram relacionados com o Templo. Normalmente, o dízimo era
repartido entre eles. A décima parte do dízimo era entregue pelos levitas aos cohanim
(sacerdotes), em oferta ao ETERNO:
Também falarás aos
levitas, e lhes dirás: Quando dos filhos de Israel receberdes os dízimos, que
deles vos tenho dado por herança, então desses dízimos fareis ao Senhor uma
oferta alçada, o dízimo dos dízimos. (Bamidbar / Números 18:26)
Este era o conceito original da
parte dos dízimos que cabia aos levitas e sacerdotes. Contudo, na ausência do Beit
HaMikdash (Templo), e praticamente todo o seu sistema religioso, não é
alternativa viável neste momento.
FORMA #2 – PARA SUSTENTO DA
OBRA NA CONGREGAÇÃO
E o que dizer da congregação?
Será que os textos da Torá aplicados aos sacerdotes e levitas se aplicariam também
a quem trabalha na congregação?
Lembremo-nos de Malki-Tsedek
(Melquisedeque). Ele também recebeu dízimos de Avraham. O próprio rabino Sha’
ul (Paulo) usa um conceito rabínico chamado Kal v’ Chomer (Leve e
Pesado) para argumentar que o sacerdócio de Malki-Tsedek é superior ao de Levi,
e curiosamente acaba usando o dízimo como um de seus argumentos:
E, por assim
dizer, por meio de Avraham, até Levi, que recebe dízimos, pagou dízimos, porquanto
ele estava ainda nos lombos de seu pai quando Malki Tsedek saiu ao encontro
deste. (Hebreus 7:9-10)
Portanto, podemos concluir pelo
menos Kal v’ Chomer que se Levi é digno de receber dízimos, quanto mais digno
ainda é Malki-Tsedek (Melquisedeque).
Tanto no caso de Levi quanto no
de Malki-Tsedek (Melquisedeque), o dízimo é dado COMO RETORNO POR
TRABALHAR NO SERVIÇO DE ELOHIM. Então podemos chegar a duas conclusões:
1) Sacerdotes da ordem de Aaron
ou da ordem de Malki-Tsedek (Melquisedeque) podem receber dízimos;
2) Eles servem como fonte de
renda dos sacerdotes que agem no serviço de Elohim.
Bem, o Messias é nosso sacerdote
eternamente pela ordem de Malki-Tsedek (Heb. 5:6). Ora, se o Espírito de Elohim
concede a algumas pessoas a autoridade para trabalhar no serviço de Elohim em
nome do Messias, então estas pessoas também estão fazendo o trabalho de Elohim
em nome dAquele que é da ordem de Malki-Tsedek. Pela Torá, estas pessoas podem
receber dízimos.
A B’rit Chadashá (“Novo
Testamento”) também dá indícios de apoiar este conceito. Aqueles que
trabalhavam na obra de Elohim eram mantidos por dízimos e ofertas da comunidade
primitiva.
Assim diz o rabino Sha'ul
(Paulo):
Pequei por acaso,
humilhando-me a mim mesmo, para que vós fôsseis exaltados, porque de graça vos anunciei
as Boas Novas de Elohim? Outras kehilot despojei, recebendo delas salário, para
vos servir; e quando estava presente com vocês, e tinha necessidade, a ninguém
fui pesado; porque os irmãos, quando vieram da Macedônia, supriram a minha
necessidade; e em tudo me guardei, e ainda me guardarei, de vos ser pesado. (2
Co. 11:7-9 -há passagens similares em 2 Co. 12:13, 1 Ts 2:9, etc.)
Observe que Sha'ul fala de um
salário. Como pode haver salário se a kehilá (congregação) não der
dízimos e ofertas? Lembremo-nos ainda que nosso Messias, ao dar aos seus
discípulos a ordem de irem de casa em casa, determinou que eles deveriam ser
mantidos por aqueles a quem estivessem pregando a Palavra:
Ficai nessa casa,
comendo e bebendo do que eles tiverem; pois digno é o trabalhador do seu
salário. Não andeis de casa em casa. (Lucas 10:7, semelhante a 1 Tim 5:18)
O único tipo de salário definido
nas Escrituras para o serviço na obra de Elohim é o dízimo. Alguns podem perguntar:
mas se era tão óbvia assim a questão do dízimo, porque Sha'ul preferia evitar
ser um fardo para as comunidades onde pregava? A resposta é simples: porque
havia muitos crentes gentios. Eles conheciam pouco da palavra e consequentemente
não estavam acostumados com os princípios do dízimo. Portanto, Sha'ul não
poderia simplesmente dizer a eles “é a lei”, visto que o conselho de
Jerusalém (Atos 15) havia decidido que os gentios não poderiam ser “forçados”
a viver de acordo com a Torá.
Em 1 Co. 9:13-14 é ainda mais
claro sobre os direitos daqueles que vivem para a ministração na obra do
Eterno:
Não sabeis vós que
os que administram o que é sagrado comem do que é do Beit HaMikdash? E que os
que servem ao altar, participam do altar? Assim ordenou também o Senhor aos que
anunciam as Boas Novas, que vivam das Boas Novas.
Um Alerta Importante
Contudo, assim como havia dízimos
que não eram dados aos levitas, conforme nos diz a Torá e veremos mais adiante,
não é lícito também a quem trabalha na obra impor ou mesmo pregar que o dízimo
integral seja dado para sustento da congregação, pois o dízimo também tem
outras finalidades. Pregar que o dízimo integral deve ser dado para sustento da
congregação é não só ilícito, como se caracteriza como roubo aos necessitados (principalmente
viúvas e órfãos), e a mão de YHWH pesará sobre quem fizer tal coisa, pois as
Escrituras dizem que THWH abomina quem devora os necessitados (vide Matitiyahu
/ Mateus 23:14)
FORMA #3 – PARA O SUSTENTO DE
NECESSITADOS
A Torá também menciona que o
dízimo deve ser usado como auxílio para o sustento de necessitados. A Torá cita
explicitamente viúvas, órfãos, e estrangeiros, que eram aqueles que normalmente
passavam dificuldade na época. Contudo, aplicando a quarta lei de Hillel
(Binyan Ab Mishene Ketivum), podemos concluir que “viúva” e “órfão” referem-se
a todos os necessitados.
Da mesma forma, aplicando a mesma
lei de Hillel, podemos concluir que o “se alimentar” e o “se
satisfazer” referem-se ao sustento.
Vejamos o que diz a Torá a
respeito:
Ao fim de cada
terceiro ano levarás todos os dízimos da tua colheita do mesmo ano, e os depositarás
dentro das tuas portas. Então virá o levita (pois nem parte nem herança tem
contigo), o peregrino, o órfão, e a viúva, que estão dentro das tuas portas, e
comerão, e fartar-se-ão; para que o Senhor teu Elohim te abençoe em toda obra
que as tuas mãos fizerem. (Devarim / Deuteronômio 14:28-29)
Podem dizer o que quiserem os
homens, mas a Escritura é claríssima. O dízimo também é fonte de renda para os necessitados.
Repare que NÃO BASTA dar à congregação e “lavar as mãos”
por achar que a congregação fará algo pelos necessitados: a Torá está dando uma
instrução específica para o povo aqui.
Um Aviso Importante
Portanto, pelo texto acima, vemos
que é nosso dever separar parte do dízimo para darmos a pessoas necessitadas,
quer diretamente quer através de instituições de caridade. O importante aqui é
o princípio: o dízimo é do ETERNO, e Ele ordena que o usemos também para o
sustento dos necessitados.
FORMA #4 – PARA CELEBRAÇÃO
PERANTE O ETERNO
Uma outra forma praticamente
desconhecida é a do uso em celebração perante o ETERNO. Podemos aplicar parte
dos dízimos para estarmos reunidos com nossos familiares, celebrando ao ETERNO.
A Torá menciona explicitamente uma refeição, pois culturalmente para um judeu
não há festa sem refeição. Veja o que diz a Torá:
E, perante YHWH teu Elohim, no
lugar que escolher ali fazer habitar o seu nome [isto é, o Templo de Jerusalém],
comerás os dízimos do teu grão, do teu mosto e do teu azeite, e os primogênitos
das tuas vacas e das tuas ovelhas; para que aprendas a temer a YHWH teu Elohim
por todos os dias. Mas se o caminho te for tão comprido que não possas levar os
dízimos [até o Templo de Jerusalém], por estar longe de ti o lugar que YHWH teu
Elohim escolher para ali pôr o seu nome, quando YHWH teu Elohim te tiver
abençoado; então vende-os, ata o dinheiro na tua mão e vai ao lugar que YHWH teu
Elohim escolher. E aquele dinheiro darás por tudo o que desejares, por bois,
por ovelhas, por vinho, por bebida forte, e por tudo o que te pedir a tua alma;
comerás ali perante YHWH teu Elohim, e te regozijarás, tu e a tua casa.
(Devarim / Deuteronômio 14:23-26)
Como estamos bem longe de
Yerushalayim (Jerusalém) e como o Beit HaMikdash (Templo) não está presente,
podemos usar esta parte do dízimo para celebração ao Eterno com nossa família,
conforme diz acima a Torá.
Qual o propósito disto?
Vemos que a família é unidade
imprescindível nos planos do ETERNO, e uma família que celebra junta perante o ETERNO
cria para si mesma laços de união extremamente fortes, além ser uma
oportunidade para que os pais possam dar um excelente exemplo para os filhos.
Dica
Isto posto, recomendamos (embora
não seja obrigatório pela Torá) que parte do dízimo seja usado para custear
despesas com a celebração dos festivais bíblicos. Por exemplo, separe uma parte
do dízimo para que os jantares de Shabat seja bastante agradável para a
família, para que as crianças se alegrem, e para fortalecer a união da família.
Outra forma interessante é na
celebração de outras festas bíblicas, tais como o Pessach, Shavuot,
Sukot, entre outras. Em suma, podemos aplicar o dízimo nestas festas bíblicas,
que unem a família e honram ao Eterno.
FORMA #5 – PARA NOS AJUDAR A
PRATICARMOS ATOS DE MISERICÓRIDA
Agora entramos nas 3 formas que
não são tão explícitas, e que requerem uma análise mais cuidadosa das Escrituras,
embora não sejam em absoluto menos válidas do que as demais.
A primeira destas seria para nos
ajudar a praticarmos atos de misericórdia. O que queremos dizer com isso?
Muitas vezes, para ajudarmos uma
pessoa, precisamos de recursos financeiros. E tais recursos podem vir do dízimo!
Um exemplo disto seria para visitar pessoas necessitadas, principalmente quando
o deslocamento é maior e requer um certo valor. Ou precisamos comprar remédios
para os enfermos, entre outras coisas.
Aqui se encaixa também a pregação
das Boas Novas de salvação, que é o maior ato de misericórdia que podemos
praticar. Podemos, portanto, investir parte do dízimo para adquirirmos bíblias
para distribuirmos, ou material adequado, ou até mesmo para ajudar a sustentar
àqueles que propagam a mensagem das boas novas.
Mas de onde tiramos essa
conclusão? Tudo isso é muito bonito, mas de nada vale se não provarmos isto nas
Escrituras. Portanto, vamos a elas.
Como vimos anteriormente, parte
do dízimo era oferecido em sacrifício de oferta ao ETERNO no Beit HaMikdash (Templo).
Contudo, vemos em Hoshea (Oséias) 6:6 o seguinte:
Pois misericórdia
quero, e não sacrifícios; e o conhecimento de Elohim, mais do que os
holocaustos.
Aplicando a mesma regra de
Hillel, Kal v’ Chomer (Leve e Pesado), sabemos que o dízimo era usado
para ofertas de sacrifício. O Eterno deseja misericórdia mais do que ofertas de
sacrifício. Logo, a misericórdia é maior do que as ofertas. Portanto, podemos
concluir que se podemos dar o dízimo para ofertas de sacrifício, quanto mais
legítimo é aplicar o dízimo para atos de misericórdia. A Bíblia é bem clara!
Dica Importante
Recomendamos, portanto, que parte
do seu dízimo seja separada para esta finalidade: visitações, pregação das boas
novas, materiais etc. Caso você não esteja diretamente envolvido nestas
atividades, procure ajudar a alguém que esteja.
FORMA #6 – PARA ADQUIRIRMOS
CONHECIMENTO DO ETERNO
O raciocínio para chegarmos à
forma #6 é muito semelhante ao da forma #5:
Pois misericórdia
quero, e não sacrifícios; e o conhecimento de Elohim, mais do que os
holocaustos. (Hoshea / Oséias 6:6)
Aplicando a Kal v’ Chomer (Leve e
Pesado), sabemos que:
O dízimo era usado para ofertas
de holocausto. O conhecimento do ETERNO é mais desejável a Ele do que
holocaustos. Logo, o conhecimento do ETERNO é maior do que as ofertas. Portanto,
podemos concluir que se podemos dar o dízimo para ofertas de holocausto, quanto
mais legítimo é aplicar o dízimo para adquirirmos conhecimento do ETERNO.
O que queremos dizer com adquirir
conhecimento do ETERNO?
É tudo aquilo que contribui para
que o seu conhecimento de Elohim, de Sua Palavra, possam aumentar. Ou seja,
você pode usar parte do dízimo para contribuir com o sustento de obras de
ensino, ou para adquirir livros, bíblias etc. Você pode ainda usá-lo para fazer
cursos, entre outras coisas, desde que contribuam para a aquisição de
conhecimento do ETERNO.
Dica Importante
Separe parte do dízimo para que
você possa estar sempre empregando no estudo da Palavra. Esteja sempre lendo um
bom livro, ou fazendo um bom curso, ou artigos. Pois tudo pode ser tirado de
nós, menos o nosso conhecimento.
FORMA # 7 – PARA CUMPRIRMOS
OUTRAS MITSVOT (MANDAMENTOS)
Uma outra análise mais profunda
demonstra que podemos aplicar parte do dízimo para podermos cumprir outras mitsvot
(mandamentos). Como podemos chegar a tal conclusão?
Tehilim (Salmos) 51:16 diz:
Pois tu não te
comprazes em sacrifícios; se eu te oferecesse holocaustos, tu não te
deleitarias
Por que o salmista está dizendo
que Elohim não se alegra com holocaustos? No versículo posterior vemos que, na
realidade Elohim está solicitando ao povo um sacrifício de arrependimento. Ou
seja, de nada adianta trazer ofertas a Elohim se não nos arrependermos de
nossos pecados.
Mas qual a relevância disto para
nós?
Ora, sabemos pela B’rit
Chadashá (“Novo Testamento”) que:
[...] o pecado é a
violação da Torá. (1 Yochanan / João 3:4)
Portanto, podemos concluir que o
cumprir a Torá é superior a sacrifícios. Aplicando a mesma lógica do Kal v’
Chomer (Leve e Pesado), podemos concluir que se um dízimo pode ser usado como
oferta de sacrifício, quanto mais legítimo é o seu uso para cumprir as mitsvot
(mandamentos) do ETERNO.
Mas como assim cumprir as
mitsvot?
Um exemplo interessante que certa
vez ouvi de um rabino é que uma grande mitsvá da Torá é emprestar dinheiro a
alguém, sem cobrar juros. Esse rabino me sugeriu então que de parte do dízimo
poderíamos fazer um fundo para emprestar dinheiro às pessoas sem cobrar juros.
É uma ideia interessante.
Parte do dízimo poderia ser
empregada, por exemplo, para colocarmos mezuzot nas portas (vide Devarim/ Deuteronômio
6), ou ainda para realizarmos a b’rit milá (circuncisão).
VII – COM TANTAS FORMAS DE
SE APLICAR O DÍZIMO, O QUE EU FAÇO?
A grande dúvida agora é: se há
tantas formas de se aplicar o dízimo, o que devemos fazer? Não necessariamente
precisamos aplicar todas elas mensalmente. Contudo, as quatros primeiras formas
são imprescindíveis.
Como a primeira não pode ser
cumprida, devemos, no mínimo, separar o dízimo em três partes (não necessariamente
partes iguais), e buscar do ETERNO sabedoria para administrar tais partes.
Principalmente as #2 e #3 – em hipótese alguma podemos negar a um líder de
comunidade o seu sustento, nem deixarmos de arcar com nossa responsabilidade
perante o necessitado.
Contudo, não se esqueça das
outras formas possíveis de se aplicar o dízimo. E lembre-se sempre de que nossas
ações devem ser regidas pelas duas mitsvot (mandamentos) mais importantes da
Torá: o amor ao ETERNO e o amor ao próximo.
VIII – COMO FICA A FORMA #2
SE EU PARTICIPO DE VÁRIOS GRUPOS?
Muitos seguidores de Yeshua
participam de mais de um mistério. Não é nosso objetivo, com este estudo, fazer
análise desta participação, se é boa ou ruim, ou das vantagens e desvantagens
de se filiar a mais de um ministério. Isto seria tópico para outro estudo. Mas
a questão é lidar com o fato. E a realidade é que existem pessoas que
participam de mais de um ministério.
Como devem, então, proceder? Ora,
o ETERNO espera que usemos o bom senso de acordo com os exemplos contidos em
sua Palavra. Reparem que a Torá deixa claro que o dízimo que cabia aos levitas
era repartido entre eles. Além disto, se algum ministério contribui para o seu
crescimento na palavra de Elohim, também é digno de salário.
Desta forma, podemos concluir que
a forma #2 de se aplicar o dízimo daqueles que participam de mais de um
ministério deve ser distribuída de forma igual ou proporcional entre os
diferentes ministérios que o sustentam. Fazer uso de um ministério e não o
suportar com o sustento é negar o salário de um trabalhador, o que é
francamente contra a Palavra de Elohim.
Observe ainda que não cabe a nós
julgarmos se um ministério “precisa ou não” de sustento. No Templo, isto
era tratado diretamente entre Elohim e os Levitas. Da mesma forma, se um
ministério é muito abundante financeiramente, deve seguir a direção de Elohim para
amparar ministérios menos favorecidos. Esta é a noção de corpo que deve haver
entre ministérios. Contudo, esta é tarefa para quem está à frente dos
ministérios. Não cabe a nós julgarmos se algum ministério “precisa mais ou
menos que outro”. Salário é salário. Se houve trabalho, tem que haver
salário, conforme determinam as Escrituras do Altíssimo.
IX -VOU FICAR RICO DANDO O
DÍZIMO?
Alguns grupos usam Malaquias 3:10
para “arrancar” o dízimo das pessoas. Primeiramente, deve ficar bastante
claro que nosso objetivo ao dar o dízimo deve ser o princípio da obediência por
amor a Elohim. Yeshua deixou claro que qualquer mandamento que nós cumprimos só
é válido se for feito única e exclusivamente por amor a Elohim (ou ao próximo):
Rabino, qual é a
grande mitsvá na Torá? Respondeu-lhe Yeshua: Amarás a HaShem teu Elohim de todo
o teu coração, de toda a tua alma, e de toda sua força. Esta é a grande e
primeira mitsvá. E a segunda, semelhante a esta, é: Amarás ao teu próximo como
a ti mesmo. Destas duas mitsvot dependem toda a Torá e os profetas. (Mt.
22:36-40)
O ETERNO é dono do mundo. Não
precisa fazer negócio com ninguém. Ou damos o dízimo por amor a Ele, ou daremos
em vão.
Em segundo lugar, em Malaquias
3:10 encontramos:
Trazei todos os
dízimos à casa do tesouro [do Templo de Jerusalém], para que haja mantimento na
minha casa, e depois fazei prova de mim, diz o YHWH TSEVA’OT, se eu não vos
abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós tal bênção, que dela vos
advenha a maior abastança.
É forçar a barra ao extremo
querer aplicar o versículo acima à congregação local. Não há NENHUMA
relação entre a congregação local e o Beit HaMikdash (Templo). A única
analogia mais prática que encontramos a respeito do Templo refere-se a nós
mesmos, pois somos templos da Ruach HaKodesh (Espírito Santo). Em nenhum
momento na Bíblia a congregação local substituiu o Templo.
Em terceiro lugar, com que
autoridade a congregação local pode se autoproclamar “casa do tesouro”?
Se não está na Bíblia (como neste caso), não há espaço em nossa fé para
invenções.
Em quarto lugar, a própria Torá
já nos ensina o que fazer em caso de ausência do Templo:
E, perante o YHWH teu Elohim,
no lugar que escolher ali fazer habitar o seu nome [isto é, o Templo de Jerusalém],
comerás os dízimos do teu grão, do teu mosto e do teu azeite, e os primogênitos
das tuas vacas e das tuas ovelhas; para que aprendas a temer a YHWH teu Elohim
por todos os dias. Mas se o caminho te for tão comprido que não possas levar os
dízimos [até o Templo de Jerusalém], por estar longe de ti o lugar que YHWH teu
Elohim escolher para ali pôr o seu nome, quando YHWH teu Elohim te tiver
abençoado; então vende-os, ata o dinheiro na tua mão e vai ao lugar que YHWH teu
Elohim escolher. E aquele dinheiro darás por tudo o que desejares, por bois,
por ovelhas, por vinho, por bebida forte, e por tudo o que te pedir a tua alma;
comerás ali perante YHWH teu Elohim, e te regozijarás, tu e a tua casa.
(Devarim / Deuteronômio 14:23-26)
Logo, é completamente ilegítimo,
pela própria Bíblia, o uso por parte de uma congregação de Malaquias 3:10 para
pedir o dízimo a seus fiéis. A Palavra do ETERNO não muda e não mente.
X -MAS ENTÃO O QUE CONCLUIR
SOBRE MALAQUIAS 3:10?
Mesmo sem o Beit HaMikdash
(Templo), a promessa de Elohim para os que são fiéis ao dízimo permanece, pois
Ele não muda.
Contudo, não é uma promessa de
riquezas. Elohim promete “B'rachah” àqueles que dão o dízimo. B'rachah,
no Hebraico, pode significar bênção, mas neste contexto é melhor entendido como
abundância de recursos. Observe o contexto, se continuar a leitura, você verá
que Elohim está prometendo CAMPOS abundantes e frutíferos. CAMPOS
precisam ser trabalhados. Elohim não promete a ninguém riqueza ou dinheiro
fácil.
O ETERNO não prometeu que enviaria
legiões de anjos com tratores para trabalhar o campo por nós. A promessa é de
que Ele manterá a sua fonte de renda frutífera. Isto é MUITO DIFERENTE
de pensar que ficaremos ricos. Não demos ouvidos à heresia da teologia da prosperidade.
XI – CONCLUSÃO
Esperamos com este artigo
despertar os seguidores de Yeshua sobre a verdade acerca do dízimo. Sabemos que
este artigo vai contra os interesses pessoais de alguns grupos, porém não nos
preocupamos com a aprovação de homens.
Infelizmente, algumas passagens
das Escrituras que apresentamos aqui não costumam ser pregadas em certas
igrejas. Encorajamos, portanto, a todos os leitores a verificarem cada passagem
das Escrituras que se encontram neste artigo, e tirem suas próprias conclusões
sobre o que está sendo apresentado.
Pela graça do ETERNO,
Sha'ul Bentsion
Texto revisado por
Francisco Adriano Germano
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