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O SOPRO E A GRATIDÃO

 


 

I - Introdução

 

É do conhecimento de todo aquele que já há algum tempo vivencia as Festas Bíblicas que Yom Teruá está intimamente associado ao toque do shofar ou de uma trombeta de prata, como podemos ver nas Escrituras:

 

Quando tocardes alarme [hebr. teruá], partirão os arraiais que se acham acampados da banda do oriente. (Bamidbar/Números 10:5)

 

A Torá nos diz que a festa de Yom Teruá é um memorial de teruá, isto é, do soar a trombeta ou shofar:

 

Fala aos filhos de Israel: No sétimo mês, no primeiro dia do mês, haverá para vós um descanso solene, um memorial, de sonidos de trombetas [hebr. zikaron teruá], uma santa convocação. (Vayicrá/Levítico 23:24)

 

Quando pensamos no movimento do shofar, percebemos que na realidade a única contribuição que damos para o memorial é o assoprar. O shofar é capaz de transformar o sopro em som de alarme.

 

II - A Importância do Sopro

 

O sopro é algo fundamental nas Escrituras, pois o termo “ruach” (רוח), que é traduzido popularmente como “espírito”, significa literalmente “sopro” ou “fôlego”:

 

Cria em mim, ó Elohim, um coração limpo, E renova dentro de mim um espírito [hebr. ruach] reto. (Tehilim/Salmos 51:10)

 

O nosso fôlego é exatamente aquilo que faz a ponte entre o mundo físico e o espiritual, pois é a porta para o nosso espírito. Não é à toa que as religiões “new age” e filosofias alternativas querem ensinar as pessoas a “respirarem corretamente”, ou aplicam técnicas de respiração em suas práticas meditativas. Assim como na magia negra, sopra-se sobre uma pessoa para, por exemplo, “fechar o corpo”, entre outras coisas.

 

A Bíblia nos diz em Bereshit/Gênesis 2:7 que foi exatamente a partir do sopro de Elohim que o homem se tornou um ser vivente:

 

Do pó da terra formou YHWH Elohim ao homem, e soprou-lhes nas narinas o fôlego de vida; e o homem tornou-se um ser vivente. (Bereshit/Gênesis 2:7)

 

Podemos perceber que tudo começa com um sopro. Foi por causa do sopro de Elohim que pudemos receber a vida. Tudo começou quando Ele, após nos formar, soprou em nós e nos tornamos seres viventes.

 

III - O Memorial da Gratidão

 

Por que realizamos um memorial? Normalmente porque desejamos lembrar-se de algo. E quando isso se refere ao ETERNO, essa lembrança normalmente se deve à gratidão que temos por Ele.

 

Nesse momento, devemos nos recordar justamente do primeiro e primordial motivo pelo qual devemos nos relacionar com Ele com gratidão: Ele nos deu a vida!

 

Yeshua nos afirma:

 

Por isso vos digo: Não estejais ansiosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer, ou pelo que haveis de beber [...] (Matitiyahu/Mateus 6:25)

 

Todavia, nós praticamente só nos relacionamos com Elohim por causa da ansiedade. E nossa principal ansiedade é: Para onde vamos depois de morrermos?

 

Yom Teruá, contudo, nos ensina que muito antes disso, devemos nos relacionar com Elohim pela gratidão do fato dEle ter nos dado esta vida. Mesmo que não nos fosse prometida a vida eterna, já teríamos motivo suficiente para passarmos o restante de nossas vidas louvando ao nosso Criador.

 

Semelhantemente, foi por meio do seu Sopro (Ruach) que Elohim nos reconciliou com Ele para que pudéssemos ter vida com Ele pela eternidade.

 

O que é nascido da carne, é carne; e o que é nascido da Ruach, é espírito. (Yochanan/João 3:6)

 

Mais uma vez, nosso relacionamento com Elohim deve ser na base da gratidão pela segunda oportunidade de vivermos, e não na esperança de obtermos algum tipo de recompensa no mundo vindouro.

 

Muitos me perguntam qual será a recompensa no mundo vindouro para aqueles que cumprem a Torá. Afinal, cumprir a Torá neste mundo significa renunciar a muitas coisas. A resposta a essa pergunta, por mais frustrante que possa ser para alguns, é: Não devemos cumprir a Torá esperando recompensa no mundo vindouro. Devemos cumprir a Torá por honrarmos e valorizarmos o sacrifício de Yeshua por nós. Afinal, se Ele morreu por causa de nossas transgressões à Torá, por que continuarei a transgredir voluntariamente?

 

Semelhantemente, devemos adotar uma postura de gratidão pela vida espiritual que temos através da Ruach HaKodesh (Espírito de Santidade). E essa é a principal mensagem do shofar.

 

Assim como no princípio, o ETERNO soprou em nós e vivemos, sopramos agora o shofar e a trombeta, em um ato simbólico de “devolvermos” o sopro a Elohim. Ao fazermos isso, estamos reconhecendo que a nossa vida deve ser “devolvida” a Ele no serviço à Sua obra.

 

IV - Conclusão

 

O maior ato de gratidão que podemos ter para com Ele, simbolizado pelo toque do shofar ou da trombeta, é dizermos através do “sopro”, simbolicamente, que aquilo que dEle recebemos (isto é: as nossas próprias vidas) serão dedicadas a Ele por gratidão, e não na espera de qualquer recompensa, quer material ou no mundo vindouro. As recompensas até existem, mas devem ser para nós algo secundário com o qual não devemos nos ocupar. Pois a gratidão ao que já foi feito por nós é o suficiente para que nos relacionemos com Ele no mais profundo amor.

 

No próximo Yom Teruá, faça algo simples, que certamente transformará a sua vida: Mude o foco do seu relacionamento com Elohim, da ansiedade por respostas, pela mais profunda gratidão por tudo aquilo que Ele fez.

 

Por Sha’ul Bentsion

Texto revisado por Francisco Adriano Germano

 

Comentários

  1. Esse espírito ao qual Deus soprou nas narinas de Adão tem muito mais do que um simples sopro relacionado a respiração. Tanto que quando a pessoa para de respirar, as células ainda continuam ativas por certo tempo. Esse termo Hebraico para espírito pode ter significado muito mais abrangente.

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