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POR QUE JEJUAMOS E ORAMOS EM YOM KIPPUR?


Recebemos a seguinte declaração de um grande amigo: ”Se Yeshua consumou a expiação eterna, não se faz necessário orar e jejuar em Yom Kippur para se obter expiação”. Para dizer a verdade, ficamos um pouco assustados com essa declaração. Primeiramente porque ninguém em nossa congregação pensa, que por jejuar e orar em Yom Kippur recebe-se expiação. Se dissermos que o Messias providenciou a expiação e com isso anulou o Dia da Expiação, então também podemos dizer que como o Mashiach Yeshua é a nossa Páscoa e foi sacrificado por nós, não mais precisamos celebrar a festividade de Pessach (Páscoa). Essa declaração nada mais é do que é um reflexo da Teologia da Substituição criada pelo cristianismo e que de uma forma ou de outra, tem persistido até os nossos dias.

 

ENTÃO, PORQUE NÓS COMO CRENTES EM YESHUA ORAMOS E JEJUAMOS EM YOM KIPPUR?

 

Em primeiro lugar, com crentes em Yeshua, somos membros da aliança (do pacto) que Elohim fez como o povo de Israel, e Elohim não cancelou esse pacto. Na Epístola aos Gálatas, Paulo declara que o pacto com o fiel Elohim não pode ser modificado, cancelado ou desfeito. E ainda complementa: as alianças, ainda que feita por homens, também não podem ser desfeitas, modificadas ou canceladas por outra subsequente.

 

As cláusulas de punição da quebra do pacto que Elohim fez com Israel em Levítico e Deuteronômio fornecem, em primeira mão, evidências de que o pacto ainda está em vigor. As horríveis perseguições, exílios e o holocausto fornecem ampla evidência da precisão com que essas cláusulas são executadas. Até mesmo o retorno a Sião, em nossos dias, encontra-se incluído nas cláusulas desse pacto. Elohim declara repetidas vezes, nas Escrituras Sagradas e através dos profetas, que mesmo se Israel for pecaminoso e infiel, Ele permanecerá fiel aos Seus pactos, realizará Sua vontade e Seu plano com e através de Israel.

 

Portanto, se o pacto ainda está em vigor, ignorar Yom Kippur é pecar contra o pacto. Em tempos passados, quando as coisas não eram tão bem entendidas, poderíamos entender que Elohim fazia vista grossa em nossos lapsos, mas nesses últimos dias, quando temos um melhor entendimento das Escrituras, como podemos esperar que Elohim perdoe uma violação deliberada de um dos sete tempos mais apontados de Seu pacto? “Mude-se-lhe o coração, para que não seja mais coração de homem, e lhe seja dado coração de animal; e passem sobre ela sete tempos”. (Dn 4:16b). Não. Como um membro da Aliança, o Dia da Expiação é dado a nós e a toda Nação de Israel, a fim de que seja mantido e guardado.

 

LEMBRANDO A EXPIAÇÃO

 

Em segundo lugar, como crentes em Yeshua, fomos expiados pelo gracioso trabalho de expiação dEle. Isso por si só, é razão suficiente para observarmos o Dia da Expiação. Mais do que isso, como crentes em Yeshua, o fato é que continuamos a pecar – apesar do fato de termos sido expiados por nossos pecados a um custo terrível através da agonia e do sofrimento pessoal do Messias na cruz romana. Esse triste e miserável fato é razão suficiente para nos humilhar e afligir nossas almas em jejum e sofrimento pelo menos um dia do ano e no tempo apontado ao nosso povo por Elohim.  Elohim, em sua graça, nos rodeia com coisas e eventos para induzir-nos ao arrependimento e à santidade, e uma delas é o Dia da Expiação.

 

Se prestarmos a atenção ao confessionário que é recitado no KOL NIDRE (Em aramaico: “Todos os Votos” ou “Todas as Promessas” - serviço religioso presente nos atos litúrgicos de Yom Kippur), não se trata de uma oração, mas sim uma declaração coletiva baseada na anulação de votos, promessas ou juramentos feitos a Elohim não cumpridos, teremos que confessar que muitos dos pecados ali listados são aqueles dos quais temos sido culpados, especialmente os pecados envolvendo a língua e os lábios.

 

A solenidade de Yom Kippur ou Dia da Expiação é uma graciosa oportunidade que Elohim nos oferece para confessarmos os nossos pecados. É também um tempo para pedirmos desculpas pelas falhas determinadas em nossos corações e para evitarmos a repetição desses erros. É tempo de orar ao ETERNO para que nos ajude pelo Seu Espírito, e para que nos dê capacidade para vencer os nossos erros e pecados.

 

Vejo como absurda a ideia de obtermos expiação porque jejuamos e oramos em Yom Kippur. Esse dia nunca proveu expiação para o israelita. Nem nunca foi possível que o sangue de touros e bodes expiasse pecados: “porque é impossível que o sangue de touros e de bodes remova pecados”. (Hb 10:4). Pelo contrário, temos sido santificados através da oferta do corpo do Messias Yeshua por todo tempo. Não obstante, esse crente em Yeshua dará uma resposta a Ele no Dia do Julgamento por cada pecado não confessado.

 

O Dia da Expiação nos dá mais uma oportunidade para confessar nossos pecados ao ETERNO e receber Seu perdão através do trabalho expiatório do Messias. É claro que podemos fazer isso a qualquer tempo, mas certamente devemos fazê-lo também no Dia da Expiação.

 

DEVEMOS ESTAR ATENTOS POR AQUELES QUE NÃO TÊM A EXPIAÇÃO

 

Em terceiro lugar, estamos cercados por pessoas de nossa própria nação, que não têm a expiação provida por Elohim, no Messias, por causa da sua incredulidade. Sentimos que dentre todos os demais dias do ano, o Dia de Expiação é a oportunidade que temos de jejuar e orar diante do ETERNO em prol daqueles que estão perdidos e morrendo ao redor de nós.

 

É claro que podemos fazer e orar assim muitas vezes.  Mas estamos impressionados com o fato de que em Yom Kippur, todo o povo judeu ao redor de nós, está jejuando e orando em um esforço desesperado para fazer pender a balança do julgamento a seu favor por acúmulo de boas obras e orações. Esse fato é o coração se rasgando, e para nós um claro motivo para nos humilhar diante do ETERNO em oração e jejum.

 

O melhor dia do ano para um judeu é o Dia da Expiação, não há melhor dia! Foi dado ao nosso povo por Elohim para orarmos e jejuarmos pela expiação do judeu como povo e por cada um de nós individualmente.

 

O TESTEMUNHO DO DIA DA EXPIAÇÃO

 

Nossa observância ao Dia da Expiação, com jejum e oração, fornece um poderoso e penetrante elemento ao anúncio do evangelho de Yeshua ao nosso povo.  Nós não observamos o Dia da Expiação a fim de sermos um testemunho, mas sim para os pontos listados acima. Mas, o fato de observamos o Dia da Expiação por convicção, serve para aumentar o nosso testemunho para nosso povo.

 

No mundo hoje, e não menos entre o povo de Israel, há uma negação de pecado amplamente espalhado e profundamente enraizado. Esse mecanismo de defesa (do “eu”) psicológico é ainda mais profundo e mais enraizado, porque o povo não tem uma forma segura para expiação de seus pecados.  Nós como crentes no Mashiach Yeshua podemos salientar que em Yom Kippur todos nós dizemos: “nós temos pecado, temos transgredido, temos cometido iniquidade…” e que Elohim não deixou Israel desprovido e sem seu meio designado da Expiação, a oferta do Messias e de Sua alma eterna para expiar os pecados de nosso povo.

 

O SIGNIFICADO PROFÉTICO DO DIA DA EXPIAÇÃO

 

O Dia da Expiação fala daquele dia no futuro quando todo o Israel será salvo. Tal como está escrito em Zacarias 12:10:

 

E sobre a casa de Davi e sobre os habitantes de Jerusalém derramarei o espírito da graça e de súplicas; olharão para aquele a quem traspassaram; pranteá-lo-ão como quem pranteia por um unigênito e chorarão por ele como se chora amargamente pelo primogênito.

 

Os sete tempos designados listados em Levíticos 23, nos quais o Yom Kippur está assim descrito:

 

Disse mais o YHWH a Moisés: Mas, aos dez deste mês sétimo, será o Dia da Expiação; tereis santa convocação e afligireis a vossa alma; trareis oferta queimada a YHWH. Nesse mesmo dia, nenhuma obra fareis, porque é o Dia da Expiação, para fazer expiação por vós perante YHWH, vosso Elohim. Porque toda alma que, nesse dia, se não afligir será eliminada do seu povo. Quem, nesse dia, fizer alguma obra, a esse eu destruirei do meio do seu povo. Nenhuma obra fareis; é estatuto perpétuo pelas vossas gerações, em todas os vossos Sábados de descanso solene vos será; então, afligireis a vossa alma; aos nove do mês, de uma tarde a outra tarde, celebrareis o vosso Sábado. Levíticos 23:26-32

 

São um esboço profético e simbólico do trabalho da salvação de Elohim a Nação de Israel, e para todo o mundo.  De todos esses tempos apontados, a longa espera do grande dia de salvação no qual todo o Israel que sobreviver até aquele dia será salvo – no Dia da Expiação.

 

ENTENDIMENTO BÍBLICO DO LUGAR DO DIA DA EXPIAÇÃO

 

A estrutura hermenêutica clássica da Igreja Cristã tem sido que o Mashiach inaugurou a Nova Aliança a qual toma o lugar da Antiga Aliança e que a Igreja substitui o povo de Israel como o povo de Elohim.  Essa estrutura hermenêutica da Teologia da Substituição conduz os crentes em Yeshua a considerar a Aliança que Elohim fez com o povo de Israel como sendo obsoleta e sem efeito.

 

Porém, nesse século alguns cristãos foram aos poucos encontrando seu caminho de volta ao entendimento da aliança de conexão com Elohim e com o povo de Israel. A Nova Aliança não substitui a Aliança de Elohim, pelo contrário, capacita seus membros a cumprir a Torah de Elohim, em virtude da Torah de Elohim ser escrita nas tábuas de nossos corações:

 

Eis aí vêm dias, diz YHWH, em que firmarei nova aliança com a casa de Israel e com a casa de Judá. Não conforme a aliança que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito; porquanto eles anularam a minha aliança, não obstante eu os haver desposado, diz YHWH. Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz YHWH: Na mente, lhes imprimirei as minhas leis, também no coração lhas inscreverei; eu serei o seu Elohim, e eles serão o meu povo. Não ensinará jamais cada um ao seu próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo: Conhece a YHWH, porque todos me conhecerão, desde o menor até ao maior deles, diz YHWH. Pois perdoarei as suas iniquidades e dos seus pecados jamais me lembrarei. Jeremias 31.31-34

 

Em virtude de ser um membro da Nova Aliança, somos capazes de observar e manter de forma real e espiritual o Dia da Expiação.

 

Yitschak Kugler

Texto revisado e adaptado por Francisco Adriano Germano

 

 

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