Pular para o conteúdo principal

O ERRO DO SHABAT LUNAR

 


 

Neste estudo estaremos analisando o sábado lunar, o qual afirma que para determinar quando cai cada sábado, temos que observar a lua nova de cada mês e não a contagem ininterrupta dos dias da semana. Isto nos levaria a celebrar o Shabat em qualquer dia da semana de sete dias normais, podendo cair o sábado, por exemplo, em um domingo ao invés do sábado, como normalmente se celebra. Esta forma de observar o sábado tem sido despertada entre alguns seguidores de YHWH e me vi na necessidade de fazer este estudo.

 

Em primeiro lugar, analisaremos o mandamento e logo em seguida a forma Bíblica que se utiliza para contabilizar o tempo e assim determinar quando cai o Shabat bíblico.

 

Seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o Shabat de YHWH teu Elohim; não farás nenhuma obra, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o teu estrangeiro, que está dentro das tuas portas. Porque em seis dias fez YHWH os céus e a terra, o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou; portanto abençoou YHWH o dia do sábado, e o santificou. Êxodo 20:9-11

 

Aqui vemos que o Criador nos ordena a trabalhar seis dias e descansar no sétimo e no verso onze, nos dá uma referência porque nos ordena isto. Ou seja, para chegar ao Shabat, teremos que contar seis dias de trabalho para logo celebrar Shabat.

 

Identificando o dia bíblico

 

E Elohim chamou à luz dia; e às trevas chamou noite. E foi a tarde e a manhã, o dia primeiro. 

Gênesis 1:5

 

Esse versículo chama a atenção, pois o dia começa ao entardecer e não à meia noite, como sugere o calendário ocidental. Ou seja, o dia (24 horas) se inicia ao anoitecer e conclui no pôr do sol seguinte. Tal conclusão pode ser confirmada na ordem para celebrar o Yom Kipur, o mais sagrado de todos os dias do calendário bíblico, sendo considerado Shabat Shabaton (Sábado dos sábados):

 

Sábado de descanso vos será; então afligireis as vossas almas; aos nove do mês à tarde, de uma tarde a outra tarde, celebrareis o vosso sábado. Levítico 23:32

 

Até aqui as Escrituras não deixam dúvidas de quando começa o dia, bem como a sua duração. Pela tradição judaica, convencionou-se a indicar que o novo dia se inicia com o surgimento de três estrelas. Assim sendo, é prática corrente e antiguíssima que as Solenidades do povo israelita comecem ao pôr do sol.

 

Identificando a semana bíblica

 

O termo bíblico para semana no hebraico é shavua, que vem da mesma raiz de shevá, que significa sete, se escrevem de forma idêntica e chegam até mesmo a ter a mesma grafia, como em Gn. 29.27-28. E o termo não é usado unicamente para se referir a contagens sequenciais e ininterruptas de sete dias, mas também de anos. E assim como nós descansamos a cada sete dias ininterruptos, a terra também deveria descansar a cada sete anos ininterruptos:

 

Fala aos filhos de Israel, e dize-lhes: quando tiverdes entrado na terra, que eu vos dou, então a terra descansará um Shabat a YHWH. Seis anos semearás a tua terra, e seis anos podarás a tua vinha, e colherás os seus frutos; porém ao sétimo ano haverá sábado de descanso para a terra, um Shabat a YHWH; não semearás o teu campo nem podarás a tua vinha[...]. Também contarás sete semanas de anos, sete vezes sete anos; de maneira que os dias das sete semanas de anos te serão quarenta e nove anos. Levítico 25:2-4,8

 

Assim, pois, baseando-se no relato bíblico, a semana começa no primeiro dia (o domingo da cultura cristã) e termina no Shabat (Sábado), o dia consagrado ao descanso. Tanto para judeus, quanto para não-judeus; tanto em Israel, quanto fora de Israel, observa-se que a duração da semana é a mesma.

 

Esse é também o testemunho de Flávio Josefo, falando sobre a prática em Jerusalém e no Templo, quando afirma:

 

"existe um povo chamado judeus, e habitam em uma cidade que é a mais forte de todas as cidades, cujos habitantes chamam de Jerusalém, e estão habituados a repousarem todo sétimo dia;" (Contra Apion 1:209)

 

“... Onde um dos sacerdotes de fato permanecia, e dava um sinal antecipado, com uma trombeta, no princípio de cada sétimo dia, no crepúsculo vespertino, assim como à noite quando o dia se encerrava, de forma a dar notícia ao povo de quando deveriam deixar o trabalho, e quando deveriam voltar ao trabalho novamente.” (Guerras 4:9:12)

 

Ainda que alguns tentem afirmar que mudanças no calendário romano teriam alterado a contagem do Shabat, o fato é que nenhum grupo judaico ou israelita histórico jamais foi documentado guardando outra data. Sejam samaritanos, fariseus, saduceus ou essênios, todos sempre observaram a mesma data historicamente. A saber, o sétimo dia, numa sequência ininterrupta de setes.

 

Além disso, todos os grupos com raízes históricas, a saber: judeus ortodoxos, beta Israel etíopes, judeus caraítas, e samaritanos observam o Shabat exatamente na mesma data. Não é razoável supor que todos esses grupos tenham sido influenciados por alguma mudança no calendário romano.

 

Muito antes dos romanos invadirem Israel, os manuscritos do mar morto e literaturas da época do segundo templo, como o livro dos jubileus, já mostravam semanas corridas de sete dias na literatura judaica, o que demonstra uma independência entre os dois sistemas.

 

Até aqui vimos que a semana bíblica consta de sete dias consecutivos. Esta é a forma correta e bíblica de se contar as semanas. E o começo desta contagem das semanas se baseou na Criação.

 

Identificando o mês bíblico

 

De acordo com o calendário bíblico, o início dos meses é determinado na simples observação direta do primeiro vestígio da lua nova. Em calendários lunissolares, a lua tem um papel fundamental para a determinação dos meses do ano, diferente do que ocorre no calendário gregoriano. E uma vez avistado esse primeiro vestígio, o mês durará até o próximo avistamento, o que, em média, ocorre 29 dias depois.

 

As palavras hebraicas para mês são Chodesh e Yerah, sendo ambas usadas como o comprovam as seguintes passagens.

 

[...] no mês [Yerah] de Zive (este é o mês [Chodesh] segundo [...] (I Reis 6:1)

 

[...] no mês [Yerah] de Bul, que é o mês [Chodesh] oitavo [...] (I Reis 6:38)

 

[...] no mês [Yerah] de Etanim, que é o sétimo mês [Chodesh]. (I Reis 8:2)

 

O mês no calendário bíblico se baseia no ciclo que cumpre a Lua ao circunscrever por completo a Terra, captando o olho humano, da perspectiva deste nosso planeta quatro deferentes estados, a saber: Lua Nova, Quarto Crescente, Lua Cheia e Quarto Minguante. Tal ciclo dura aproximadamente 29 dias e meio.

 

Assombroso comprovar que já os antigos sábios soubessem calcular a duração exata do tal ciclo, e de acordo com seus conhecimentos astronômicos, que o percurso do satélite em torno do planeta Terra tinha uma duração de “29 dias, 12 horas, e outras 793/1080 de hora” (ou seja, outros 44 minutos e 3.33 segundo), sendo seu erro de cálculo de meio segundo.

 

Para que a quantidade de dias em um mês pudesse ser equivalente aos demais, o calendário “estipula” meses de 29 e 30 dias, alternadamente. Para isso, soma-se as 23 horas extras do mês de 29 dias com as 12 horas do mês seguinte, convertendo o segundo mês em um de 30 dias e assim alternadamente.

 

A teoria do Shabat Lunar

 

Tendo ficado claro o que são os dias, as semanas e os meses e como biblicamente se contam, podemos analisar a teoria do Shabat lunar e ver se há alguma verdade bíblica.

 

Segundo a teoria do Shabat lunar, a contagem das semanas começa a partir da Lua Nova. Assim sendo, a contagem determinaria sempre como Shabat os dias 8, 15, 22 e 29. Porém, como já vimos, os meses lunares não são constantes. Haveria meses com uma semana alongada de nove dias, o que fere o princípio bíblico de seis dias de trabalho para descansar no sétimo!

 


Não poderíamos utilizar os ciclos lunares para contar as semanas, pois teríamos que estar modificando os ciclos semanais a cada dois meses, e isto não é bíblico. Contabilizar as semanas desta forma é claramente um erro, porque as semanas se contam baseadas no ciclo de sete dias consecutivos (Shavua) como vimos anteriormente, e não nos ciclos de Rosh Chodesh (Lua Nova) que contam os meses e não as semanas.

 

A teoria do porquê os meses não são 30 dias exatos.

 

Disse Isaías: Isto te será sinal, da parte de YHWH, de que YHWH cumprirá a palavra que disse: Adiantar-se-á a sombra dez graus, ou voltará dez graus atrás? Então disse Ezequias: É fácil que a sombra decline dez graus; não seja assim, mas volte a sombra dez graus atrás.

2 Reis 20.9,10

 

O contexto dessa passagem indica um sinal, da parte de YHWH para um homem enfermo, confirmando a sua cura. Porém, existe algo a mais escondido aqui. O que aconteceria se o sol movesse do seu lugar?

 

Como foi indicado no texto bíblico, a sombra regressou dez graus. Em outras palavras, para que a sombra do relógio de Sol “voltasse” dez graus, a Terra teve que retornar da sua localização naquele momento do dia, até dez graus mais cedo.

 

Quanto tempo são dez graus?

 

Vamos fazer alguns cálculos simples. Num dia solar de vinte e quatro horas, a Terra realiza uma rotação de pouco mais de 360º em torno do seu próprio eixo. Sendo assim, cada hora possui aproximadamente 15º de rotação. Se a sombra do Sol retrocedeu dez graus, isso significa que Elohim inverteu o sentido de rotação, fazendo um planeta inteiro retroceder dez graus! Esse milagre acrescentou pelo menos 39 minutos e 50 segundos àquele dia, sem considerarmos o tempo que a Terra demorou para voltar esses dez graus.

 

Devemos lembrar que o calendário de YHWH utiliza-se do Sol e da Lua. O texto em questão não faz nenhuma menção a Lua. A Terra retornou 40 minutos, porém a Lua continuou seu curso. Facilmente se verifica que esse retrocesso de dez graus alterou a relação do tempo entre o Sol e a Lua.

 

Qual o tipo de mudança se processou aqui?

 

Qualquer um que tenha lido e estudado a Torá de YHWH, sabe que originalmente o calendário de YHWH o mês era de 30 dias. Um exemplo disso se encontra em Gênesis:

 

No ano seiscentos da vida de Noé, no mês segundo, aos dezessete dias do mês, naquele mesmo dia se romperam todas as fontes do grande abismo, e as janelas dos céus se abriram, Gênesis 7:11

 

E as águas iam-se escoando continuamente de sobre a terra, e ao fim de cento e cinquenta dias minguaram. E a arca repousou no sétimo mês, no dia dezessete do mês, sobre os montes de Ararate. Gênesis 8:3,4

 

Portanto, 150 dias divididos por 5 meses será igual a 30 dias para cada mês.

 

Mas qual é o reflexo dos 40 minutos do relógio de Sol de Ezequias, que alterou a relação do Sol e da Lua, ao longo do ano?

 

Então vamos calcular

 

Para aqueles que não são matemáticos como eu, peguem uma pequena calculadora e vejamos. Existe uma diferencia de 40 minuto nas orbitas. Esses 40 minutos por um dia multiplicados por 30 dias, teremos uma diferencia de 1.200 minutos por mês (40 x 30 = 1.200). Os 1.200 minutos por mês multiplicados por 12 meses resultará em 14.400 minutos de diferencia por ano (1.200 x 12 = 14.400). Por fim, os 14.400 minutos multiplicados por 3 anos, teremos 43.200 minutos (14.400 x 3 = 43.200).

 

De quantas horas estamos falando?

 

Esses 43.200 minutos divididos por 60, resultará em 720 horas perdidas em um prazo de 3 anos (43.200 ÷ 60 = 720). Quantos dias representa? 720 horas divididas por 24 será o equivalente a 30 dias, ou seja, o 13º mês, que se produz a cada três anos (720 ÷ 24 = 30).

 

É aqui onde o 13º mês entra no calendário de YHWH. Anterior ao sinal dado ao Rei Hizkiyahu (Ezequias), e durante todo o caminho desde a Criação, o ano possuía apenas 12 meses de 30 dias. Porém, quando YHWH fez a Terra retornar dez graus em sua órbita, causou uma alteração da relação entre o Sol e a Lua, que são as peças fundamentais do Calendário de YHWH.

 

Esta alteração permitiu o surgimento de meses de 29 dias, que acontece ao redor de seis vezes ao ano e a necessidade de um mês extra, o 13º mês (Adar II) para manter o alinhamento dos dias das Solenidades com as estações corretas a cada três anos.

 

Por todos estes motivos, nós que cumprimos o mandamento do Shabat, o sétimo dia da semana, rejeitamos a teoria do Shabat Lunar.

 

Francisco Adriano Germano

 Estudo baseado em diversas fontes

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O QUE SIGNIFICA A EXPRESSÃO BARUCH HASHEM?

  A expressão judaica Baruch Hashem é a mais emblemática manifestação judaica de gratidão e reconhecimento, significando " Bendito seja o Senhor " ou " Louvado seja o Senhor ".   Baruch Hashem ( ברוך השם ) que traduzida para o português significa “ Bendito seja o Nome ” (em referência ao nome YHWH), é usada pelo povo judeu em conversas cotidianas como uma forma de expressar gratidão a Elohim por tudo. Muitas vezes é colocado no topo de cartas pessoais (ou e-mails), às vezes abreviado como B”H ou ב”ה .   É comumente usada em gentilezas trocadas. Por exemplo, quando se pergunta “ como vai você ”, a resposta apropriada é “ Baruch Hashem, vai tudo bem ”. Os usos mais típicos são: “ Baruch Hashem, encontramos uma vaga de estacionamento ” ou “ Deixei cair aquela caixa de ovos, mas Baruch Hashem, nenhum deles quebrou ”.   Em suas peregrinações pelas modestas comunidades judaicas da Europa Oriental, o sábio Baal Shem Tov indagava sobre a condição de seus conter...

FAÇA O QUE TEM QUE SER FEITO

    A história que reproduzirei a seguir foi contada pelo Rav Israel Spira zt"l (Polônia, 1889 - EUA, 1989), o Rebe de Bluzhov, que a testemunhou no Campo de Concentração de Janowska:   Todos os dias, ao amanhecer, os alemães nos levavam para fora do acampamento, para um dia de trabalho pesado que só terminava ao anoitecer. Cada dupla de trabalhadores recebia uma enorme serra e deveria cortar sua cota de toras. Por causa das condições terríveis e da fome, a maioria de nós mal conseguia ficar de pé. Mas nós serrávamos, sabendo que nossas vidas dependiam daquilo. Qualquer um que desmaiasse no trabalho ou deixasse de cumprir sua cota diária era morto na hora.   Um dia, enquanto eu puxava e empurrava a serra pesada com meu parceiro, fui abordado por uma jovem da nossa equipe de trabalho. A palidez em seu rosto mostrava que ela estava extremamente fraca.   - Rebe - sussurrou ela para mim - você tem uma faca?   Imediatamente entendi sua intenção...

A INCOERÊNCIA DA TEOLOGIA DA SUBSTITUIÇÃO

     Não pretendemos aqui fazer um estudo detalhado sobre a origem e a evolução desta teologia, que surgiu nos primórdios do cristianismo. Para obter uma descrição completa de suas bases e fundamentos, qualquer livro sobre a história da igreja cristã pode ser consultado.   Essa teologia é a mais nociva de todas, pois semeia o ódio ao povo judeu, a Israel e às doutrinas do Antigo Testamento. Em particular, ela despreza a Torah, a parte mais sagrada da Bíblia, escrita por Moisés sob inspiração divina, que contém os primeiros cinco livros e os fundamentos da fé judaica.   O Concílio de Nicéia, ocorrido logo após esses eventos, marcou um ponto de inflexão na história do cristianismo. Além de definir o Credo, o concílio oficializou a substituição de Israel por Roma como centro da Igreja, rompendo definitivamente os laços com Jerusalém.   Essa mudança, aliada às ideias antissemitas de teólogos como Marcião, que condenava qualquer prática judaica ent...