Introdução
Nos dias atuais, embora todos
aqueles que creem em Yeshua digam estarem dispostos a segui-lo, na realidade
poucos o fazem. Existe uma grande diferença entre crer em Yeshua e decidir ser talmid
(discípulo de Yeshua). Muitos estão satisfeitos com apenas crer, mas a
realidade é que Yeshua nos convida a muito mais do que isto. Ele nos convida a segui-lo.
Mas, afinal, o que significa ser
um talmid (discípulo) de Yeshua? Este pequeno estudo visa justamente auxiliar
a esclarecer o que era ser um talmid (discípulo) de Yeshua no primeiro
século. Afinal, Yeshua não espera que sejamos diferentes daquilo que eram os
seus talmidim (discípulos) originais. Seu chamado ao discipulado não
mudou e nunca mudará até o Seu retorno.
Um Talmid no Primeiro
Século
Nossa imagem de um talmid
(discípulo) pode ser a de um homem barbado, trajando um robe e sandalhas. Ou
pode ser simplesmente a imagem de um dos Doze que seguiam a Yeshua. Costumamos
pensar no discipulado como sendo algo exclusivo da Brit Chadasha
("Novo" Testamento), um fenômeno dos evangelhos, iniciado por Yeshua
quando escolheu os seus talmidim (discípulos). Nada é mais distante da
realidade.
Muito antes dos dias de nosso
Mestre, o discipulado já era uma instituição bem conhecida na cultura judaica.
Todos os grandes sábios, e boa parte dos rabinos dentre os P'rushim
(fariseus) tinham talmidim (discípulos).
O que significava ser um Talmid
A palavra talmid, no
hebraico, quer dizer aluno. Talmidim é o plural de talmid. Normalmente
esta expressão é traduzida de forma convencional como discípulos. O talmid
era um aluno de um dos sábios. A tarefa de um talmid era aprender tudo o
que o seu mestre tinha para ensinar.
Os talmidim do Judaísmo no
primeiro século aprendiam tudo do seu mestre, mas mais do que isso, aprendiam a
serem como o seu mestre. Eles aprendiam as histórias contadas pelo seu mestre.
Aprendiam as lições que o seu mestre ensinava. Aprendiam a comer a comida que o
seu mestre comia. Aprendiam a guardar o Shabbat da forma que o seu mestre
guardava e a fazer tsedakah (caridade) como o seu mestre fazia.
Eles aprendiam ainda a orar como
o seu mestre orava, a jejuar como o seu mestre jejuava. Aprendiam as mitzvot
(mandamentos) de Elohim de acordo com a forma em que o seu mestre as guardava.
Os discípulos literalmente moravam com seus mestres, conceito este que para nós
ocidentais do século 21 é bem diferente. Viviam em tempo integral com seus
mestres, faziam suas refeições com ele, seguiam-no a todo lugar que fosse, e o
mestre lhes ensinava tudo o que podia.
Segundo a tradição judaica, um
discípulo deveria cobrir-se do pó de seu rabino. Ou seja, deveria andar tão
próximo ao seu rabino que o pó levantando pelas sandalhas do rabino chegariam a
lhes cobrir. Em outras palavras, deveriam estar o mais próximo possível de seu
rabino a todo momento.
Após serem plenamente treinados,
tornavam-se eles próprios mestres e faziam seus próprios talmidim
(discípulos). A tarefa principal de um talmid (discípulo) era se tornar
como seu mestre. Por isto, encontramos a seguinte frase no evangelho de Lucas:
mas todo o que for
bem instruído será como o seu rabino. (Lucas 6:40b)
Ou seja, quando um talmid
(discípulo) é completamente treinado, torna-se um rabino e forma seus próprios talmidim
(discípulos), os quais também devem ser treinados para serem plenamente como o
seu rabino, e depois também formarem seus próprios talmidim
(discípulos).
O relacionamento entre um Talmid
e seu Rabino
O relacionamento entre rabino e talmid
era um laço bastante estreito e poderoso. Os talmidim (discípulos) consideravam
seus rabinos como tendo maior autoridade do que seus próprios pais. Era um
relacionamento muito maior e mais intenso do que qualquer relacionamento entre
professor-aluno que existe na cultura ocidental. Era uma relação como a de um
servo e um mestre (vide Matitiyahu /Mateus 10:24).
Por isto, os talmidim
(discípulos) do primeiro século se referiam aos seus mestres como “Minha
Excelência” (vide Matitiyahu / Mateus 23:7-8 no aramaico), tratamento que
permanece até hoje entre alguns grupos rabínicos.
Era expressa como uma relação
entre pai e filho. Na literatura rabínica, um sábio da Torah é considerado como
um pai, e seus talmidim (discípulos) são chamados de sua família. Tanto
que as escolas rabínicas eram conhecidas como 'Casas'. Por exemplo, a escola
rabínica de Hillel era chamada de 'Beit Hillel' (Casa de Hillel). É por isto
que temos literaturas como Pirkei Avot (A Ética dos Pais), etc. Os sábios dizem
que ao seu rabino cabe maior deferência do que até mesmo o seu pai biológico,
pois seu pai biológico é aquele que te trouxe para este mundo, mas o seu rabino
é aquele que te leva para o olam haba (mundo vindouro) - vide Bava Metsi'a 2:11
no Talmud.
As quatro tarefas de um
Talmid
No primeiro século, os talmidim
(discípulos) dos sábios tinham quatro tarefas principais, e não seria diferente
com os talmidim de Yeshua.
I – Memorizar as Palavras
do Rabino: Era uma das tarefas de um talmid (discípulo)
memorizar as palavras de seu rabino. O processo de transmissão oral era o único
método praticado pelos sábios na época. A fidelidade em tal processo deve-se à
seriedade com que um talmid (discípulo) encarava tal objetivo, e é um
dos motivos pelos quais podemos confiar plenamente nos relatos dos evangelhos a
respeito das palavras de Yeshua.
Até hoje, a fidelidade no
processo de transmissão oral do povo de Israel impressiona até o mais cético
dentre os historiadores. Os grandes rabinos não escreviam pergaminhos ou compuseram
livros para os seus alunos lerem e estudarem. Ao invés disto, ensinavam
oralmente e seus talmidim (discípulos) estudavam memorizando suas
palavras. O processo de memorização em si era bastante simples, e era feito
através da repetição incessante feita pelo talmid (discípulo) das
palavras do rabino.
II – Aprender as tradições
e interpretações do rabino: era também tarefa de um talmid
(discípulo) aprender a tradição de como o seu rabino guardava as mitzvot
(mandamentos) de Elohim e interpretava as Escrituras. Cada detalhe a respeito
do seu rabino era importante para o talmid (discípulo). O último
aprendia como o seu mestre lavava as mãos, como guardava o Shabbat, como
jejuava, como orava, como fazia tsedakah (caridade), como afixava a mezuzah,
quais b'rachot (bênçãos) recitava antes de comer etc.
Além disto, a forma como o mestre
interpretava certas passagens das Escrituras, o significado que era extraído do
texto, os estudos por ele relatados, as parábolas e histórias contadas para
elucidar um ponto, a forma como ele explicava um passuk (versículo) ou entendia
um certo conceito – cada uma destas coisas era de importância primordial para
um talmid (discípulo). Detalhes deste tipo não eram apenas triviais.
Para um talmid (discípulo), eram como pérolas e pedras preciosas a serem
guardadas e estimadas.
III – Imitar as ações do
rabino: Também era tarefa de um talmid (discípulo) ser como seu
mestre. O maior chamado de um talmid era o de ser um reflexo de seu
rabino. Seu objetivo era o de um dia ser tal como o seu rabino. Um talmid
(discípulo) estudava não apenas para obter o conhecimento de seu rabino, mas
também para aprender como agir, como falar, e como responder exatamente como
seu mestre faria. Um talmid (discípulo) estudava para fazer tudo aquilo
que seu mestre fazia. A passagem de Lucas citada no início deste estudo ilustra
este conceito.
IV – Formar outros talmidim
(discípulos): A última e mais importante tarefa de um talmid
(discípulo), quando seu treinamento fosse concluído, era a de formar seus
próprios discípulos. Ele deveria criar uma geração de novos alunos para
transmitir as palavras que seu rabino lhe havia dito, as quais foram memorizadas
por ele, e que também deveriam ser memorizadas por seus próprios talmidim
(discípulos).
A função dele era a de transmitir
aos seus talmidim todas as tradições, interpretações, ações e
comportamentos de seu rabino, sendo para eles um modelo perfeito daquilo que
seu rabino havia sido. O objetivo era passar a tocha do discipulado de geração
em geração. Ou seja, cada talmid (discípulo) tornava-se um professor, um
rabino, um mestre e um pai para uma nova geração de talmidim
(discípulos).
Estas funções descrevem o
contexto cultural da instituição do discipulado nos evangelhos. Quando Yeshua
chamou os seus talmidim (discípulos), o chamado oferecido foi justamente
de realizarem as quatro tarefas acima. Era assim que os seus talmidim
(discípulos) teriam entendido o chamado do mestre.
Conclusão
Yeshua passou três anos vivendo
com seus talmidim, ensinando-os e treinando-os para serem um reflexo
dEle neste mundo. Quando Ele partiu para o Pai, deixou a seguinte mitzvah
(mandamento):
Portanto ide,
fazei talmidim de todas as nações (Matitiyahu / Mateus 28:19a).
A tão conhecida Grande Comissão
nada mais é do que a instrução de formar novos talmidim, tal qual era
esperado de um talmid do primeiro século. Ou seja, Yeshua disse a eles
que seu período de aprendizado estava concluído e que eles agora deveriam
ensinar a outros exatamente tudo aquilo que haviam aprendido de Yeshua.
Por Sha'ul Bentsion
(Baseado em diversas fontes na
Internet)
Texto revisado por Francisco Adriano
Germano
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