Avraham, um judeu norte-americano, estava com muitas dificuldades financeiras. Ele precisava de 50 mil dólares e conseguiu este valor emprestado em um Gmach (instituição que faz empréstimos por bondade). Avraham combinou com o responsável pelo Gmach que pagaria em dez vezes. Ele deixou dez cheques de 5 mil dólares, mas pediu para que não fossem descontados, pois viria todo mês pagar em dinheiro e levaria o cheque. Assim foi durante dois meses. Porém, no terceiro mês, o responsável se confundiu e depositou o cheque dele.
Enquanto
isto, Avraham estava viajando de carro em uma estrada distante, pouco
movimentada, quando viu que o tanque estava quase vazio. Entrou no posto de
gasolina, mas, para sua surpresa, quando foi passar o cartão de crédito na
máquina, a transação não foi aceita. Imediatamente ele ligou para a empresa do
cartão de crédito e descobriu, para o seu desespero, que o cheque de 5 mil
dólares havia sido depositado, deixando a sua conta negativa e causando com que
o banco automaticamente bloqueasse seu cartão. E agora, como ele faria para
reabastecer o carro, no meio do nada, sem nenhum centavo na carteira?
Avraham
começou a procurar por algum dinheiro perdido no carro. Procurou no
porta-luvas, no porta-malas, embaixo dos bancos. Conseguiu, depois de muito
esforço, encontrar 23 dólares. Ele chamou o frentista e pediu para que
colocasse vinte e três dólares de gasolina, o suficiente para chegar em casa ou
a algum lugar mais habitado. Enquanto o frentista se prepara para encher seu
tanque, ele comentou com Avraham que havia visto sua movimentação anormal,
abrindo e fechando as portas do carro, e perguntou se estava tudo bem. Avraham
contou o que havia acontecido. O frentista ficou maravilhado com a reação de
Avraham, afirmando que se tivesse acontecido com ele, teria entrado em pânico.
Quis saber qual era o segredo para ter mantido a calma.
- Eu tenho fé
- respondeu Avraham - Eu sei que tudo aquilo que Elohim faz é para o bem.
Obviamente fiquei preocupado com o problema, mas com a tranquilidade de que há
alguma bondade escondida no que ocorreu.
- Então eu
tenho algo que pode lhe interessar - disse o frentista - Eu vendo
"raspadinhas da sorte" por 3 dólares. Por que você não coloca apenas
20 dólares de gasolina no carro e compra uma raspadinha?
Avraham
pensou um pouco e decidiu arriscar. Quando raspou o cartão, descobriu que
estava premiado. Era um prêmio de 50 mil dólares..." (História Real)
O que teria
acontecido se Avraham tivesse passado o cartão e a transação fosse aceita? Ele
teria seguido a viagem e nunca teria recebido todo aquele dinheiro. O que
parecia algo ruim era, na realidade, o início de algo muito bom. Assim devemos
enxergar nossas vidas, sempre com olhos positivos e com muita Emuná (Fé).
Nesta semana
lemos a Parashat Vaieshev (literalmente "E habitou"), que descreve a
história de Yossef (José), filho do nosso patriarca Ya’acov
(Jacó), que passou por muitos altos e baixos em sua vida. Ele foi vendido como
escravo ao Egito pelos seus próprios irmãos, acusado de querer roubar a
primogenitura, e foi comprado por Potifar, um ministro do Faraó. Acabou
tornando-se a segunda pessoa mais importante na casa de Potifar, mas foi
injustamente acusado de tentar atacar sua esposa e acabou preso por 12 anos. Da
prisão, ele saiu para interpretar os sonhos do Faraó e se tornar o vice-rei do
Egito.
Porém,
precisamos nos aprofundar na história de Yossef. Se pudéssemos congelar a cena
dele sendo acorrentado e levado como escravo ao Egito, o maior centro de
idolatrias e promiscuidade da época, certamente enxergaríamos como sendo algo
muito ruim, uma terrível tragédia. Yossef havia sido vendido pelos seus
próprios irmãos e ficaria longe de seu querido pai, em uma terra estranha. Será
que havia algo de positivo no que estava acontecendo?
Já na Parashat
Vaigash, que leremos daqui a duas semanas, há outra cena marcante. Yossef
finalmente se reencontra com o seu pai. Se também pudéssemos congelar esta
cena, certamente enxergaríamos como algo muito bom, uma imensa alegria. Pai e
filho estavam se reencontrando após 22 anos. Naquele momento Yossef já havia se
tornado um homem muito poderoso, o vice-rei do Egito, e Ya’acov foi tratado com
todas as honras reais. Será que havia algo de negativo no que estava
acontecendo?
A resposta é que
da história de Yossef aprendemos como somos limitados e o quanto não enxergamos
as bondades de Elohim quando elas parecem ocorrências negativas aos nossos
olhos, e o quanto não percebemos que o que parece ser bom aos nossos olhos pode
ser, na realidade, algo que terá futuras consequências negativas.
A venda de
Yossef parecia realmente ser algo muito ruim e negativo. Porém, na realidade,
era a preparação para que ele viesse a se tornar a segunda pessoa mais
importante no comando do Egito. Ele se tornaria o encarregado de administrar a
economia do país e o responsável por estocar comida nos anos de fartura para os
anos de fome que assolariam a Terra de Israel e o Egito. Foi por causa de sua
venda como escravo que Yossef pôde alimentar seu pai e seus irmãos durante os
anos de fome, garantindo a continuidade do povo judeu.
Ao contrário,
quando Ya’acov foi ao Egito para se reencontrar com Yossef, o que parecia ser
algo muito bom, era, na realidade, o início da terrível escravização do povo israelita,
um processo doloroso que duraria 210 anos e seria uma época de muita tristeza e
sofrimento.
Os seres
humanos sofrem de uma terrível doença, a "Síndrome do buraco da
fechadura". Vemos as ocorrências em nossas vidas de forma limitada,
como alguém que entende o que ocorre dentro de uma casa olhando apenas através
do pequeno buraco da fechadura. Não é provável que esta pessoa chegará
constantemente a conclusões equivocadas em relação ao que realmente está
acontecendo dentro da casa? Da mesma maneira, nenhum ser humano possui o
conhecimento infinito que lhe permite conhecer as consequências finais de cada
ação. Portanto, quando uma situação aparenta ser extremamente negativa, não
devemos nos desesperar, pois Elohim está preparando algo muito bom para o
futuro. De modo semelhante, quando as coisas aparentam estar indo muito bem,
não devemos nos tornar arrogantes, pois não sabemos o que o futuro nos reserva.
Ao internalizar
esta atitude, evitamos muitos sofrimentos desnecessários. Por exemplo, uma
grande fonte de sofrimentos são as situações nas quais tudo parece dar errado.
Devemos sempre confiar em Elohim e dizer para nós mesmos diante de uma situação
difícil: "Provavelmente verei no futuro como o que está acontecendo
agora foi bom para a minha vida".
Esta atitude de
equilíbrio também nos ajuda a evitar um sentimento de euforia extrema quando as
coisas aparentam estar indo muito bem, pois a euforia facilmente leva à
depressão caso a situação mude. Ao evitar reações extremas, seremos capazes de
lidar melhor com as instabilidades da vida. Esta foi a receita de Yossef, que
nunca se desesperou diante das dificuldades e nunca permitiu que o sucesso
subisse à sua cabeça quando estava no topo.
O Chafetz Chaim
zt"l (Bielorússia, 1838 - Polônia, 1933) dizia que as pessoas se enganam
muito ao ficarem sempre reclamando dos acontecimentos em suas vidas, pois se
fossem pacientes, veriam como as coisas são realmente para o seu benefício. Ele
contava o caso de um rabino que precisou abandonar a cidade onde vivia devido a
uma briga que ocorreu lá. Sem escolha, ele precisou morar em uma cidade
pequena, muito diferente do que havia planejado para sua vida. Por anos ele
ficou questionando aquele acontecimento, procurando os motivos pelos quais ele
precisou sair de sua cidade e ir para um lugar estranho. Anos mais tarde ficou
claro que sua mudança para aquela cidade teve um efeito muito positivo na
educação dos seus filhos, que não estavam tendo um bom comportamento na cidade
grande. À primeira vista parecia ter sido algo ruim, mas, com o tempo,
verificou-se que aquela mudança foi o melhor que poderia ter ocorrido. De forma
similar, quando o Rav Israel Salanter zt"l (Lituânia, 1810 - Prússia,
1883) estava doente e alguém perguntava se ele estava melhor, ele respondia: "Que
diferença faz se a situação está melhor ou pior? O que Elohim deseja é sempre o
melhor".
A
preocupação vem de acharmos que somos nós que estamos no comanda da situação. A
tranquilidade vem de sabermos que é Elohim quem está sempre no comando de todas
as situações e que tudo é fruto da Sua bondade infinita, de Alguém que conhece
presente, o passado e o futuro, e que sempre quer o melhor para cada um de nós.
Por R' Efraim Birbojm
Texto revisado por Francisco Adriano
Germano
Shalom! O SENHOR não permite sermos tentados além de nossa maturidade espiritual. Quando Ele nos vê preparados espiritualmente, permite situações que podem ser extremamente "dolorosas ou prazerosas, derrotas ou vitórias" pois sabe que estamos maduros para escolher entre ser fiel à ELE, à Sua Lei e santo, ou pecarmos e termos que passar mais um tempo na escola do deserto, pois Ele corrive o filho que ama!
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