À
luz das Escrituras Sagradas, quando os gentios aceitavam Yeshua, observavam os
mandamentos juntamente com os seus irmãos judeus crentes. Há evidências na Brit
Chadashá (Nova Aliança – conhecido na cristandade como “Novo Testamento”),
mais precisamente na carta de Paulo aos Colossenses, a qual indica que tanto judeus
quanto “gentios” crentes observavam as Festas Bíblicas:
Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber,
ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados, que são sombras
das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo. (Colossenses 2:16,17)
Ao
analisar o contexto desse capítulo, verifica-se que Paulo está rebatendo uma heresia
colossense, que era algum tipo de síntese greco-judaica, talvez uma forma de
protognosticismo, na qual se preconizava o culto aos anjos (judeu não adora
anjo), ao ascetismo (ou seja, abster-se de um prazer lícito não pecaminoso), pela
observância de dogmas, ou seja, mandamentos humanos - “não toques”, “não
proves”, “não manuseies”:
Ninguém
vos domine a seu bel-prazer com pretexto de humildade e culto dos anjos,
envolvendo-se em coisas que não viu; estando debalde inchado na sua carnal
compreensão, e não ligado à cabeça, da qual todo o corpo, provido e organizado
pelas juntas e ligaduras, vai crescendo em aumento de Elohim. Se, pois, estais
mortos com Mashiach quanto aos rudimentos do mundo, por que vos
carregam ainda de ordenanças, como se vivêsseis no mundo, tais
como: Não toques, não proves, não manuseies? (Colossenses
2:18-21)
Encontramos
em Lucas 2.1 o seguinte:
E aconteceu naqueles dias que saiu um decreto
da parte de César Augusto, para que todo o mundo se alistasse. (Lucas 2:1)
Decreto
(ou dogma) de César Augusto. Essa é a mesma palavra grega que aparece no texto
de Colossenses 2.14, 20, a qual é bem diferente do termo grego dikaiōmata (Strong
1345 - um ato que O ETERNO aprova).
Esses
interlocutores a quem o apóstolo se dirige também observavam “os rudimentos
do mundo” e não conforme o Messias Yeshua. A expressão grega - stoicheiōn
tou kosmou - que foi traduzida como “rudimentos do mundo”, pode
significar, em uma linguagem mística, aos “espíritos elementares cósmicos”
(fogo, água, ar, terra), que os gnósticos diziam haver espíritos para cada
elemento da natureza.
Esta
palavra “stoicheiōn” também aparece em Gálatas 4.9:
Mas agora, conhecendo a Elohim, ou, antes, sendo
conhecidos por Elohim, como tornais outra vez a esses rudimentos
fracos e pobres, aos quais de novo quereis servir? (Gálatas 4:9)
O
interessante dessa passagem é que Sha’ul (Paulo), no versículo anterior,
protesta contra os gentios crentes da Galácia dizendo:
Mas, quando não conhecíeis a Elohim, servíeis aos que por
natureza não são Elohim. (Gálatas 4:8)
Evidenciando
que Sha’ul estava se referindo diretamente aos gentios, que possuindo origem
pagã, estavam sendo aproximados a Elohim. Ou seja, tinham abandonado o
paganismo idolátrico para aceitarem a genuína fé no ETERNO, mediante Yeshua
HaMashiach.
Em
outras palavras, fica claro que Sha’ul estava se referindo ao sistema
místico-gnóstico pagão, de onde vieram os gentios crentes, e que queriam impor “de
novo” aos Colossenses!
Terminantemente,
ainda que alguém possa alegar que essa passagem de Colossenses 2.16,17 se refira
às Festas Judaicas e ao seu calendário, este argumento seria impossível, visto
que os gentios não poderiam retornar para algo que eles não abraçaram.
Outra
passagem que é muito mal compreendida:
Havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas
ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de
nós, cravando-a na cruz. (Colossenses 2:14)
A
“cédula que era contra nós”, que foi riscada e cravada pelo Mashiach
(Messias) no madeiro em seu sacrifício expiatório, terminantemente não foi,
como costumam alegar, a Torá (Lei do ETERNO). A palavra grega que aparece no
referido texto é o termo grego cheirographon, que significa “certificado
de dívida”. Lembrem-se que Yeshua pagou o preço por todos os pecados. Portanto,
veio para destruir no madeiro toda influência dos pecados, cancelando a dívida
do homem diante do ETERNO.
Por
conseguinte, não se pode conceber que a Torá foi riscada como “dogma”
(ordenanças humanas). As ordenanças da Torá são de Elohim, visto que ela não
foi abolida pelo Messias Yeshua:
Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas: não
vim abrogar, mas cumprir. Porque em verdade vos digo que, até que
o céu e a terra passem, nem um jota ou um til jamais passará da lei, sem que
tudo seja cumprido. (Mateus 5:17,18)
O
termo que aparece como cumprir no texto grego é plērōsai, que também significa “trazer
à plenitude”, “completar”, “terminar uma construção iniciada” e não
derrubar a construção iniciada, ou seja, abolir a torá. Os mandamentos da Torá devem
ser cumpridos em plenitude (matar não é só tirar a vida, mas também odiar).
Portanto,
os gentios com o passar do tempo foram progressivamente abandonando as bênçãos,
das quais são participantes pelo seu enxerto na Oliveira Natural (Romanos 11.17;
15.27; 9.4,5).
Por
fim, a passagem de Efésios 2.15:
Na sua carne desfez a inimizade, isto é, a lei dos
mandamentos, que consistia em ordenanças, para criar em si mesmo
dos dois um novo homem, fazendo a paz. (Efésios 2:15)
Mais
uma vez aparece o termo grego “dogma” (traduzida pela palavra
ordenanças), referindo-se a mandamentos de homens e não aos mandamentos do ETERNO
(dikaiōmata), podendo ser traduzido da seguinte forma: Ele aboliu na sua
carne a Torá dos Mandamentos na forma de dogmas (ordenanças humanas).
Na
verdade, o que Yeshua veio fazer “na sua carne” (na sua vida, veja
Hebreus 5) foi desfazer a “parede de separação que estava no meio” (a
qual provocava a “inimizade” entre judeus e gentios). Os rabinos colocaram uma “parede”
ou “cerca” ao redor da Torá. Este muro era constituído dos dogmas
mencionados por Sha’ul e que produzia a inimizade (a falta de comunhão com a
comunidade de Israel) entre os gentios e judeus.
No
Talmud Babilônico, o Tratado Shabat 13b menciona as chamadas “18 medidas”
aprovadas pela Escola de Shamai, as quais tinham o propósito de criar uma maior
separação entre judeus e gentios, mas a Escola de Hilel se opôs tenazmente às
18 medidas, por não concordar com essa inimizade ou separação. Fica claro,
portanto, que não foi a Torá que foi abolida, mas essas medidas de separação
estabelecidas por homens. Sha’ul nunca teria sido contrário ao Messias (Mt
5.17).
Judaizar,
no contexto do “Novo Testamento”, significa obrigar o gentio a viver
como judeu, circuncidando-se e guardando toda a Torá como meio de salvação.
O ensino apostólico sempre foi contrário a essa vertente, como pode ser lido
sobre o primeiro concílio de Jerusalém (Atos 15). A motivação para a
observância dos mandamentos não deve estar na salvação. Mas aquele que é salvo
pelo Mashiach, a observa como expressão de amor e obediência.
A
essa altura, os cristãos já deveriam ter entendido que o cálice da Ceia é um
costume e tradição “judaico”, criado pelo Rabino Hilel antes do
nascimento de Yeshua e de nenhuma maneira é “substituta” da Páscoa, como
alega os cristãos (mas sendo uma parte importante, de onde Yeshua instituiu
como Seu memorial – ver Atos 2.46 e 20.7), celebrada por “Estatuto Perpétuo”
pelas gerações do seu povo.
Não
se sinta constrangido ou com medo de cair da graça do ETERNO, por estar
usufruindo das bençãos (como celebrar as Festas Bíblicas, por exemplo) que Ele ordenou
para o seu povo, assim como o dízimo (que não é uma ordenança encontrada em
nenhuma linha sequer das cartas de Sha’ul). Mas sim, na Torá (Deuteronômio) e
nos Profetas (Malaquias). Muitos até dizem que o dízimo é antes da Lei. Também podemos
afirmar categoricamente que o Sábado é antes da Lei (Gênesis 2 e Êxodo 16). Portanto,
o mesmo argumento para o dízimo é o mesmo para o Sábado.
Sha’ul
(Paulo) nunca deixou de ser observador da Torá. Ele sempre a observou em toda a
sua vida, mesmo entre os gentios (leia Atos 25.8; 28.17). Ele nunca deixou de
ser judeu observante da Torá e das (boas) tradições judaicas, inclusive
ensinando aos seus discípulos. Nunca o contrário!
Francisco Adriano Germano
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