Há tempo de
nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se
plantou. (Cohelet/Eclesiastes 3:2)
A passagem acima é bastante
pertinente para a ocasião de Chag haShavu’ot (a Festa das Semanas), pois
a Torá afirma:
Sete semanas
contarás; desde o dia em que começares a meter a foice na seara, começarás a
contar as sete semanas. (Devarim/Deuteronômio 16:9)
E ainda:
Também guardarás a
festa das semanas, que é a festa das primícias da ceifa do trigo, e a festa da
colheita no fim do ano. (Shemot/Êxodo 34:22)
Chag Shavu’ot era
conhecida por esse nome (festa das semanas) porque a colheita do princípio da
primavera, cujo principal elemento era a cevada, durava justamente cerca de
sete semanas. Após isso, começava a colheita do trigo, cujas primícias eram
entregues na ocasião de Chag Shavu’ot (festa das semanas).
Sendo assim, Shavu’ot
marca o fim de um ciclo, e o começo de outro. E a simbologia do número 7, que
na Bíblia está associado à completude, reforça essa ideia. Após as sete
semanas, um novo ciclo se inicia com a colheita do trigo.
O interessante é que a palavra
hebraica para a cevada é seorah (שערה), cuja raiz (שער) significa “cabelo” ou “pelo”. O nome é derivado
do fato de que as espigas de cevada são bastante fibrosas, o que concede à
planta uma aparência de ser peluda.
Porém, essa raiz (שער)
também pode ser lida como uma meta ou objetivo de uma caminhada.
Na B’rit Chadashá (Novo
Testamento), o trigo é frequentemente usado como figura de linguagem para se
referir aos justos, e a colheita do trigo faz alusão ao dia do juízo, no qual
todo homem será provado. Abaixo, um exemplo disso:
Ele, porém, lhes
disse: Não; para que, ao colher o joio, não arranqueis também o trigo com ele.
Deixai crescer ambos juntos até à ceifa; e, por ocasião da ceifa, direi aos
ceifeiros: Colhei primeiro o joio, e atai-o em molhos para o queimar; mas, o
trigo, ajuntai-o no meu celeiro. (Matitiyahu/Mateus 13:29-30)
Durante a colheita da cevada, o
trigo que já havia sido plantado está atingindo a sua maturação. Como visto, a
raiz do termo cevada também pode ser lida como meta, ou objetivo de um caminho.
Ou seja, durante o caminho
espiritual, começa-se a observar o crescimento do trigo e do joio, porém cada
vez mais o trigo irá se diferenciar do joio, até que esteja completamente
diferente desse último, momento em que ocorre o juízo, tipificado pela
colheita. E Shavu’ot simboliza exatamente o princípio da colheita do
trigo.
A reflexão de Shavu’ot,
como o próprio nome indica, não é a colheita que está por vir, mas sim as
semanas que culminaram nela. Ou seja, Chag Shavu’ot é uma
verdadeira celebração do processo da caminhada de uma vida reta na Torá de
Yeshua.
Não é à toa que Yeshua diz aos
seus talmidim (discípulos) que esses deveriam esperar até Shavu’ot, para
então proferirem a Sua mensagem:
E eis que sobre
vós envio a promessa de meu Pai; ficai, porém, na cidade de Yerushalayim, até
que do alto sejais revestidos de poder. (Lucas 24:49)
A vinda do poder da Ruach
HaKodesh (Espírito de Santidade) coincide exatamente o período de
amadurecimento do trigo. Ou seja, é preciso que amadureçamos na nossa caminhada
na Torá de Yeshua, para que possamos dar frutos.
Muitos de nós temos aprendido
muita coisa, a cada dia, acerca da Torá. Todavia, frequentemente o nosso conhecimento
ou mesmo o nosso discurso não condiz com a realidade de nossa prática.
Temos vivido aquilo que é
pregado? Temos nos apressado em colocar em prática aquilo que descobrimos nas
Escrituras? Temos nos prontificado a, rapidamente, eliminarmos aquilo que
descobrimos que não tem origem bíblica? Essas são perguntas que precisamos nos
fazer, se desejamos amadurecer ao ponto de recebermos o poder da Ruach HaKodesh
para darmos frutos no Reino de Yeshua.
Muitas vezes, nós não
compreendemos o porquê de não conseguimos transmitir a mensagem adiante,
gerando mais frutos. Mas a verdade é que quem não vive e não se apressa a
seguir a Torá do Mashiach jamais irá dar frutos. Tal pessoa pode ter os
argumentos teológicos perfeitos para defender a fé. Porém, a palavra proferida
será vazia, porque não está repleta do poder de Elohim.
Uma passagem que é frequentemente
citada das Escrituras na ocasião de Shavu’ot:
E nós somos
testemunhas acerca destas palavras, nós e também a Ruach HaKodesh, que Elohim
deu àqueles que lhe obedecem. (Ma’assei HaSh’lichim/Atos 5:32)
A verdade, contudo, é que a Ruach
HaKodesh (Espírito de Santidade) – que é o poder de Elohim para gerar
frutos – não é concedida àqueles que sabem intelectualmente qual é a verdade
das Escrituras, mas sim àqueles que vivem as Escrituras.
Não são poucas as pessoas que
procrastinam o cumprimento daquilo que já sabem ser a verdade. Tardam em
cumprir as mitsvot (mandamentos) de Elohim, sob inúmeros pretextos, ou esperando
as condições ou a ocasião adequada para agirem.
Porém, não é essa a forma
adequada de se viver as Escrituras. É preciso que vençamos as nossas desculpas,
a nossa comodidade e as vozes internas que nos inibem de vivermos em
obediência. Fazer isso é morrer para si mesmo, de forma que o Mashiach viva em
nós. E aí, o que ocorre é o que Yeshua nos disse:
Amen, amen e vos
digo que, se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se
morrer, dá muito fruto. (Yochanan/João 12:24)
Shavu’ot diz respeito a
ciclos. Que esta festa possa para nós marcar um novo ciclo, em que nossos
corações estejam tão dispostos a fazer, quanto já estamos a ouvir.
Sha'ul Bentsion
Texto revisado por Francisco Adriano
Germano
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