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A SEMENTE DA MULHER

  


Esta é considerada a primeira profecia dada na Torá, ou seja, a promessa de Elohim, que através da “semente da mulher” viria àquele que iria matar a serpente e esmagar o Reino das Trevas (Genesis 3:15).

 

Essa profecia é às vezes chamada de “proto-euangelion” (o primeiro evangelho – Boa Nova), uma vez que constitui o ponto de partida de toda a história da redenção subsequente revelada nas Escrituras. Em um sentido, esta promessa faz do “útero” todo o curso do plano Redentor para a humanidade.

 

A primeira profecia da Torá claramente antecipou a vinda do Salvador da humanidade em uma batalha entre a luz e as trevas:

 

… ele (ou seja, o Salvador/Messias) irá esmagar sua cabeça (ראשׁ), e a Serpente (ou seja, a serpente/Satanás) irá ferir seu calcanhar (עָקֵב).

 

É bem provável que Eva, inicialmente, acreditava que seu filho primogênito Kayin (קַיִן), fosse a própria semente prometida. Afinal, o milagre do nascimento certamente foi um grande choque para ela, e a sua fé na promessa de Elohim de que, através de sua semente viria o Goel – Redentor, estava, sem dúvida, sobre seu coração neste momento.

 

Quando Eva chama seu filho de ‘Kain’ (que vêm da raiz hebraica do verbo kaná (קָנָה), ‘obter’), ela estava expressando sua fé na promessa de Elohim:

 

קָנִיתִי אִישׁ אֶת יהוה / kaniti ish et Adonai,

Obtive um homem (Alef Tav) Adonai (Genesis 4:1)

 

A expressão de Eva foi obscurecida pelos tradutores da bíblia, que traduziram a frase acima do hebraico como: “Eu obtive um homem com a ajuda do Senhor (ou seja, eles inseriram a ideia de “ajuda” e traduzido a partícula ET (את Alef Tav – a primeira e última letra do alfabeto hebraico) como “com” e não como o objeto direto para o verbo). Porém, não é a tradução correta.

 

O Targum (tradução para o aramaico), no entanto, está de acordo com o original hebraico. Por exemplo, o Targum Yonatan lê-se: “Eu obtive um homem – o anjo do Senhor (ou Memra)”.

 

Certamente Eva foi dotada de grande sabedoria de Elohim, especialmente depois que ela se virou para Hashem em arrependimento após a sua desobediência. A simples leitura das suas palavras, em seguida, expressou sua esperança de que a própria Palavra (Torá) de Adonai tivesse encarnado como um homem:

 

Obtive um homem את (de) Adonai (Genesis 4:1) - seria a tradução correta.

 

Apesar de sua esperança de que Kain era ninguém menos do que “a Semente prometida” (O Logos, A Palavra) o prometido Redentor, as esperanças de Eva foram frustradas quando ficou claro que seu filho era da semente da Serpente (1 João 3:12).

 

Seu irmão mais novo Abel (הֶבֶל) foi um pastor que evidenciava a fé na promessa do Redentor ao oferecer o sacrifício de sangue (Genesis 4:3-5). Ele foi perseguido e finalmente assassinado por seu irmão Kain, porque seus atos eram justos e os do seu irmão não.

 

Essa batalha espiritual é indicativa da guerra em curso entre os “filhos das trevas” e os “filhos da luz”.

 

O assassinato de Abel exigiu que a semente descesse através de outra criança, e, por conseguinte, a Torá descreve o nascimento de Set (שֵׁת, literalmente Nomeado/Apontado), o terceiro filho de Adão e Eva.

 

As Escrituras afirmam ainda que foram os descendentes de Set, que “começaram a invocar o nome de YHWH” (לִקְרא בְּשֵׁם יהוה), indicando que eles tinham fé em Elohim (אֱלהִים) como O Compassivo Mantenedor da Aliança – YHWH (יהוה) que iria redimir a humanidade por meio da Semente Prometida.

 

Set chama seu filho primogênito de Enosh (“homem”), talvez na esperança de que seu filho seria o Salvador prometido. Curiosamente, em aramaico, Bar Enosh (בַּר אֱנָשׁ), ou ‘Filho do homem’ (Ser Humano), é um dos títulos e atributos do Salvador da Humanidade – Messias (veja Daniel 7:13).

 

De acordo com os antigos sábios judeus, a meta ou o objetivo da atividade criadora de Elohim foi a construção de um Reino com base em “amor Divino” (מַלְכוּת הָאֱלהִים)

 

O próprio Universo foi construído sobre o alicerce da Graça de Elohim (חֶסֶד, Chesed) como é expressa na vida dos Tzadikim (justos). Na verdade, a primeira Mitzvá (mandamento) dada a humanidade foi simplesmente פְּרוּ וּרְבוּ / Pru urvu: “seja fecundo e multiplique”.

 

O primeiro “lô tôv” ( לא־טוֹב / ‘não é bom’) foi feito por Elohim por causa do estado de solidão de Adão, no jardim que ficava no meio do Éden. Ele precisava de uma companheira, um Ezer Kenegdó (עֵזֶר כְּנֶגְדּוֹ), um “auxiliar em frente a ele”.

 

Observe que Eva não foi criada para ficar na subserviência de Adão. Na verdade, Eva foi o “toque final” de Adão, uma contrapartida mais refinada e sensível. Eva refletiria (como num espelho) para Adão as Midot (qualidades) dele mesmo.

 

Adão, para efeitos de genealogia da humanidade, vem de Adamá (אֲדָמָה, - ‘Terra’). Adão literalmente significa terroso, barroso ou em uma linguagem mais moderna, terráqueo ou Humano – Humanidade) 

 

Considerando que Chavah (Eva) cujo nome significa ‘vida’, está relacionado ao verbo hebraico (חָוַה) que significa “declarar” ou revelar (Salmo 19:3), é chamada por Adão de “em kol chai” (אֵם כָּל־חַי), a mãe de todos os viventes (Genesis 3:20), e como tal, ela é também uma imagem e semelhança de Elohim.

 

Por que Adão foi criado no sexto dia, do pó da terra? Por que não foi ele criado yesh me’ayim (do nada) como os anjos?

 

Os sábios judeus da antiguidade respondem que isto foi destinado a instilar humildade em todos nós, uma vez que mesmo um mosquito tem uma linhagem anterior do que o primeiro Ser Humano.

 

E ainda, a própria criação foi projetada para expressar a realeza de Elohim, e para isto o ser humano foi necessário. O Ser Humano é feito a partir da substância mais humilde da Terra, o pó da terra, e ainda assim mesmo a ele é transmitido Haim Nishmat (נִשְׁמַת חַיִּים), o fôlego de vida.

 

No Talmud, os antigos rabinos ensinavam:

 

“se alguém cunha muitas moedas de um mesmo molde, todas elas se assemelham uns aos outras, mas o Rei do Rei dos reis, O Santo, Bendito seja ELE, fez cada Ser Humano à imagem de Adam (Adão), e ainda assim nenhum deles assemelha-se a seus semelhantes. Por conseguinte, cada pessoa está obrigada a dizer; bishvili nivra ha’olam (בִּשְׁבִילִי נִבְרָא הָעוֹלָם) – “O mundo foi criado por minha causa”. (Talmud: Sanhedrim Mishná 4:5).

 

Daí o porquê assassinar outro ser humano criado b’tzelem Elohim (na imagem de Elohim) é considerada tão gravíssima, pois leva o assassino a pena de morte, segundo a Bíblia.

 

Os sábios rabinos fundamentaram que quem destrói uma única vida é contabilizado como se ele tivesse destruído o mundo inteiro; e quem salva uma única vida é contabilizado como se ele houvesse salvado o mundo inteiro.

 

Não foi apenas o sangue do inocente de Abel que gritou, mas sim o sangue de todos os seus descendentes que foram destruídos junto com ele.

 

Um antigo conto Hassídico diz que cada pessoa deve percorrer a sua jornada de vida com duas notas, uma em cada bolso. Em uma nota deve conter as palavras bishvili nivra ha’olam (בִּשְׁבִילִי נִבְרָא הָעוֹלָם) – “Por minha causa foi este mundo criado” e no outro bolso uma nota com as palavras anochi afar ve’efer (אָנכִי עָפָר וָאֵפֶר) – “Eu sou pó e cinza”.

 

Os antigos rabinos perguntavam-se: Como pode uma pessoa feita de pó e cinzas, que hoje está aqui e amanhã já se foi, pode ser tão arrogante e altiva?

 

Cada um de nós deve lembrar (como o nosso pai Abraão – Avraham Avinu) que nós somos Afar ve’efer – Pó e cinza (Gênesis 18:27). Embora seja verdade que nós somos estimados por Elohim como portadores da sua imagem, nossa carne vem do pó da terra.

 

 

Autor Desconhecido

Texto revisado por Francisco Adriano Germano

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