Jon Krakauer descreve chegar ao
topo do Monte Everest em seu livro Into Thin Air:
“Montando no topo do mundo, um
pé na China e outro no Nepal, tirei o gelo da minha máscara de oxigênio, curvei
um ombro contra o vento e olhei distraidamente para a vastidão do Tibete. Eu
entendi em algum nível sombrio e desapegado que o movimento da terra sob meus
pés era uma visão espetacular. Eu estava fantasiando sobre esse momento e a
liberação de emoção que o acompanharia por muitos meses. Mas agora que
finalmente estava aqui, na verdade, no cume do Monte Everest, não conseguia
reunir a energia necessária para me cuidar.” (Jon Krakauer, Into Thin Air, p.5)
Fiquei tão surpresa com a
descrição dele que tive que ler o parágrafo algumas vezes. Fiquei impressionada
com o fato de uma pessoa poder trabalhar durante anos, treinando para uma
escalada como essa, sonhando em ficar no topo daquela montanha, olhando para os
milhares e milhares de metros que encontrou para subir e ficar cansada demais
para importar-se.
Mas isso acontece frequentemente
na vida. Imaginamos que quando chegarmos ao nosso destino, ficaremos em êxtase.
Fantasiamos sobre esse momento de felicidade, mas é ilusório, caindo tão
facilmente de nossas mãos, decepcionando-nos exatamente quando estamos no topo
do mundo.
Como podemos encontrar e manter a
alegria neste mundo sem que ela escorregue de nossas mãos? Em Simchat Torá
fornece uma resposta. Ao dançarmos com a Torá, nos deliciamos com a felicidade
eterna e única que somente a Torá pode trazer para nossas vidas.
"É uma árvore
da vida para quem a compreende" (Provérbios 3:18).
Indico a seguir, cinco maneiras
pelas quais a Torá nos traz essa alegria e vida duradouras.
1. Ela nos dá objetivos
mais altos. O maior indicativo da felicidade duradoura de uma pessoa é
uma meta que transcende a si mesma. Todos os nossos objetivos pessoais, por
mais importantes que sejam, fazem parte de uma missão maior que todos os judeus
compartilham - trazer luz ao mundo e honrar o Nome do ETERNO. A Torá nos dá
objetivos mais altos pelos quais lutar.
2. Mostra-nos como ser
gratos. A maioria das pessoas entende por que a gratidão aumenta nossos
níveis de felicidade, mas não sabemos necessariamente como se sentir gratos
diariamente. A Torá nos mostra isso, várias vezes ao dia, mediante a oração ou
com as bênçãos sobre comida e demais mandamentos. Ao realizarmos essas ações, dentro
de nós gera uma consciência constante de que estamos recebendo bondades desde o
momento em que abrimos os olhos pela manhã.
3. Ensina-nos a esperança.
A vida é difícil e muitas vezes imprevisível. Muitos de nós têm desafios
diferentes que dificultam o caminho a seguir. Mas a Torá nos ensina que nada é
impossível. Elohim nunca permite circunstâncias pelas quais não podemos lidar.
Que o amanhã será mais brilhante. Essa redenção está no nosso futuro e de que
não estamos lutando em vão.
4. Ele nos conecta.
Em um mundo em que muitas pessoas estão solitárias e dependem de companhia
virtual, a Torá nos puxa para fora de nosso isolamento. Ela nos mostra como
criar comunidades e unir pessoas. Ensina-nos que precisamos uns dos outros.
Isso nos ajuda a dar, mesmo quando não sabemos ao certo como. Ela preenche as
lacunas culturais que tantas vezes nos dividem. Isso nos dá uma linguagem comum
e uma verdade compartilhada. Ela nos conecta um ao outro.
5. Isso nos dá fluxo.
Nossos momentos mais felizes ocorrem quando estamos no "fluxo",
completamente envolvidos e absorvidos por uma atividade que estamos realizando.
Transcendemos nossas limitações físicas e emocionais, imergindo-nos na energia
do momento. A Torá nos dá essa sensação de fluxo quando fazemos uma mitzvá/mandamento
que é desafiador para nós, mas dentro de nossas possibilidades. Visitamos os
doentes, mesmo quando os hospitais nos deixam nervosos. Convidamos a viúva do
outro lado da rua para o jantar de Shabat, mesmo que não fiquemos a vontade com
visitas. Damos tzedakah, apesar de estarmos ansiosos com nossas finanças.
Optamos por superar uma limitação dentro de nós e seguir em frente mesmo quando
precisamos nos esforçar para fazê-lo.
Mas a Torá também nos dá esse
senso de fluxo através da música e da dança. Este é o fluxo da Simchat Torá,
celebrando a Torá que nos ensina como transcender nossos limites, como ser feliz,
como estar conectado. Como cantar músicas que tecem círculos em círculos que
vão além dos próprios dançarinos. As palavras que cantamos nos traz de volta ao
âmago de quem somos.
Para esse momento Ele nos criou.
Por essa alegria, Ele criou o mundo. É uma felicidade que não vai desaparecer mesmo
se estivéssemos no topo do mundo ou apenas começando nossa escalada. Na
verdade, está ali mesmo em nossos braços - o presente da Torá que Ele nos dá.
Uma felicidade, uma alegria que dança além de si mesma.
Sara Debbie Gutfreund
Texto revisado por Francisco Adriano
Germano
Comentários
Postar um comentário