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O QUE DISSE YESHUA EM SHEMINI ATSERET/SIMCHAT TORÁ?

 



Quando se leem as Escrituras de Yochanan (João), chega-se a uma das mais belas declarações de Yeshua HaMashiach:

 

Eu sou a luz do mundo; quem me segue nunca andará em trevas, mas terá a luz que dá vida (Yochanan/João 8:12).

 

Ao se analisar todo o capítulo 7 de Yochanan, juntamente com o capítulo 8:1-2, verifica-se que a fala de Yeshua ocorreu em Shemini Atseret (8º dia de Sukot), atualmente conhecido como Simchat Torá (Alegria da Torá). Eis a cronologia dos eventos:

 

1) “No último dia da festa (Hoshaná Rabá), Yeshua se levantou e disse...” (Yochanan/João 7:37). Como se sabe, Hoshaná Rabá é o sétimo dia de Chag HaSukot (Festa das Cabanas);

 

2) “Yeshua, porém, foi para o monte das Oliveiras. Ao amanhecer, apareceu outra vez no pátio do templo...” (Yochanan/João 8:1-2). Percebe-se, pois, que depois do último dia da festa (Jo 7:37) Yeshua foi ao templo ao amanhecer (Jo 8:2), ou seja, tratava-se do dia seguinte: o oitavo dia, conhecido como Simchat Torá (Alegria da Torá).

 

Em Simchat Torá, a alegria é tão grande que há o costume de levar a Torá para as ruas e dançar com intenso júbilo, ao som de belos cânticos. Foi neste contexto que Yeshua falou: “Eu sou a luz do mundo”. E o que o Messias queria dizer?

 

Vejamos. Yeshua aproveitou a ocasião em que, durante a celebração, havia vários candelabros de ouro que iluminavam toda a cidade. Durante a Festa das Sukot (incluindo Simchat Torá), esses diversos candelabros altíssimos irradiavam luz para todos os lados de Yerushalayim (Jerusalém), destacando-se o local em que se realizava uma cerimônia especial de derramamento de água (Beit hashoevá). Muitos chamavam Sukot de “Festa das Luzes”.

 

O Talmud Bavli, massechet Suká, diz o seguinte:

 

“Todo aquele que jamais viu a alegria do Bet hashoevá durante a festa de Sukot jamais viu o que é alegria em sua vida. [...] No ezrat nashim havia diversos candelabros festivos de ouro. No topo de cada candelabro festivo havia quatro xícaras de ouro. E ao lado de cada uma delas havia quatro escadas que levavam a cada uma das quatro xícaras do candelabro festivo. Então, quatro jovens sacerdotes, segurando em suas mãos 72 litros de azeite, subiam cada um em uma das escadas, e vertiam o líquido na xícara correspondente. [...] Não havia sequer um pátio de Yerushalayim (Jerusalém) que não era iluminado com a luz proveniente do Bet hashoevá [...] Os chasidim (piedosos) e pessoas de feitos maravilhosos dançavam na frente deles” (Talmud, massechet Suká 51a).

 

É nesse contexto de muita luz que Yeshua se proclama como “a luz do mundo” (Yochanan/João 8:12). De acordo com o Tanach (“Antigo Testamento”), o vocábulo “luz” (אור) é usado metaforicamente como sinônimo de “Torá”:

 

Pois a mitsvá [mandamento] é lâmpada, a Torá é luz (Mishlei/Provérbios 6:23).

 

Tua palavra [Torá] é uma lâmpada para meus pés e uma luz em meu caminho (Tehilim/Salmos 119:105).

 

Respondam: À Torá e aos mandamentos! Se eles não falarem conforme esta palavra, jamais verão a luz (Yeshayahu/Isaías 8:20).

 

Pois a Torá procederá de mim; eu os acalmarei com minha justiça como uma luz para os povos (Yeshayahu/Isaías 51:4).

 

Conclui-se com facilidade que a Torá é simbolizada pela luz. Aliás, no Judaísmo Antigo, vigente à época de Yeshua, os essênios faziam uma contraposição entre aqueles que andavam na luz, ou seja, de acordo com a Torá, e aqueles que seguiam o caminho das trevas, isto é, uma vida distanciada dos mandamentos do ETERNO.

 

Por essa razão, tanto os essênios quanto os netsarim (nazarenos) se intitulavam “os filhos da luz”:

 

Porque noutro tempo éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor; andai como filhos da luz (Efessayah/Efésios 5:8)

 

Enquanto têm luz, creiam na luz, para que sejam filhos da luz (Yochanan/João 12:36).

 

Essênios: “Para o sábio, para que instrua e ensine todos os filhos da luz...”

(Regra da Comunidade, Col.III, 13).

 

Ora, “filho da luz” significa ser obediente à Torá, uma vez que a Torá é identificada como sendo a luz (Mishlei/Provérbios 6:23; Tehilim/Salmos 119:105).

 

Tanto os netsarim (nazarenos) quanto os essênios se contrapunham aos que estavam em trevas (distantes da Torá):

 

Nazarenos: Porquanto vós todos sois filhos da luz e filhos do dia; nós não somos da noite, nem das trevas. (Tessalonissayah Álef/1ª Tessalonicenses 5:5).

 

Essênios: “O primeiro ataque dos filhos da luz será lançado contra a porção dos filhos das trevas, contra o exército de Belial.” (Regra de Guerra, Col.I, 1).

 

Yeshua foi chamado de “Príncipe” (At 5:31) e Yochanan expressa que Yeshua é “a luz” (Yochanan/João 1:9). O Salvador proclamou: “eu sou a luz do mundo” (Yochanan/João 8:12). Ou seja, é correto identificar o Messias como o “Príncipe da Luz”. Este era exatamente o título do Messias esperado pela comunidade de Qumran, que não era um simples homem, mas Aquele que auxiliava Israel desde a antiguidade:

 

“Desde antigamente, encarregaste o Príncipe da Luz que nos ajudasse...” (Regra de Guerra, Col.XIII, 10).

 

Na mentalidade qumrânica, o Príncipe da Luz é relatado como sendo o próprio ETERNO, que levantou Moshé (Moisés) e Aharon (Aarão). Para os nazarenos, Yeshua, o Príncipe da Luz, é YHWH:

 

“Porque nos tempos antigos surgiram Moshé e Aharon pela mão do Príncipe da Luz...” (6Q15).

 

“que toda língua reconheça que YHWH é Yeshua HaMashiach...” (tradução do aramaico da Escritura de Filipissayah/Filipenses 2:11).

 

Retornemos ao texto de Yochanan (João) 8:12. Feche os olhos, pegue a “máquina do tempo” e tente retornar mentalmente para os tempos de Yeshua. A cidade de Yerushalayim (Jerusalém) está festejando com muita felicidade o dia de Simchat Torá (Alegria da Torá). De frente para os grandes candelabros luminosos, as pessoas dançam, cantam e louvam ao ETERNO, alguns chegando até mesmo a fazer malabarismo com tochas de fogo na mão (Talmud Bavli, m. Suká 51a, parte final, e 51b, início).

 

Neste momento, valendo-se das belas luzes existentes, Yeshua declara: “Eu sou a luz (a Torá) do mundo”. Que lição majestosa! Yeshua é a Torá Viva, a própria luz de YHWH!

 

Tendo-se em mente que a Torá é simbolizada pela luz, releia-se Yochanan Álef (1 João):

 

Se afirmamos que temos comunhão com ele, mas andamos nas trevas, mentimos e não vivemos a verdade. Se, porém, estivermos andando na luz [Torá], como ele está na luz [Torá], temos, então, comunhão uns com os outros, e o sangue de seu Filho Yeshua nos purifica de todo o pecado

(Yochanan Álef/1ª João 1:6-7).

 

Fica claro no texto que o sangue de Yeshua HaMashiach somente purifica aqueles que se arrependeram de seus pecados e praticam a Torá (“andam em luz”). Do contrário, quem vive à margem dos mandamentos da Torá de YHWH está em trevas e, consequentemente, não recebe o perdão dos pecados caso não venha a arrepender-se com sinceridade, fazendo Teshuvá.

 

Lembremo-nos das lições de Yeshua HaMashiach, ministradas durante o oitavo dia de celebração, a seguir parafraseadas:

 

Andemos na Luz,

na Luz da Torá.

Na Torá Viva andemos,

com Yeshua HaMashiach,

a Luz do mundo!

 

Fábio Moraes de Aragão

Texto revisado por Francisco Adriano Germano

 

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