Com apenas 10 anos, Jacques,
um menino inteligente e bem-intencionado, já demonstrava uma fragilidade que
preocupava seus pais: desistia com facilidade diante de qualquer desafio. Essa
falta de persistência era como uma sombra que pairava sobre seu futuro,
alimentando o medo de que ele não desenvolvesse a resiliência necessária para
enfrentar os obstáculos da vida adulta.
O pai de Jacques então teve
uma ideia genial. Certa noite, entregou a ele uma tábua de grande espessura e
um canivete. Jacques não entendeu o que o pai queria. O pai então pediu ao
filho que fizesse com o canivete um risco em toda a largura da tábua. O garoto
obedeceu às instruções do pai, mas sem entender o propósito daquilo. Em
seguida, a tábua e o canivete foram trancados em uma gaveta.
A mesma coisa foi repetida em
todas as noites seguintes. Ao fim de um mês, Jacques já não aguentava mais de
curiosidade. O que seu pai queria com aquela "cerimônia" que se
repetia diariamente? Todas as noites, sem exceção, o pai trazia o canivete e a
tábua para que o filho passasse o canivete mais uma vez sobre aquele risco, que
se aprofundava, de forma quase imperceptível, a cada dia.
Finalmente chegou o dia em que
Jacques, ao passar o canivete sobre a tábua, sem fazer muito esforço, fez com
que ela se separasse em duas metades. O pai de Jacques olhou por algum tempo
para ele e depois disse:
- Meu filho, você nunca
acreditaria que isto era possível, não é verdade? Você teria começado o
trabalho se eu tivesse te pedido, desde o início, para cortar esta tábua grossa
com um simples canivete? Certamente que não. Pelo que eu te conheço, você teria
desistido após algumas poucas tentativas. Este é um ensinamento que eu quero
deixar para a sua vida. O êxito ou o fracasso na vida não dependem tanto de
quanta força colocamos em nossas tentativas, mas sim da persistência no que
fazemos. Nunca desista de seus objetivos, não importa as dificuldades que
apareçam no seu caminho.
Foi uma lição impossível de
esquecer, mesmo para um garoto de dez anos. A persistência é o segredo do
sucesso, em todas as áreas da vida.
Nesta semana lemos a Parashá Lech
Lechá (literalmente "Vá para você"), que descreve os primeiros
desafios através dos quais Elohim testou a integridade e a Emuná (fé) de
Avraham Avinu (Abraão nosso Pai). Um dos primeiros testes foi "Lech
Lechá", quando Elohim mandou Avraham sair de sua casa, abandonar sua
família e todo o seu conforto para ir a uma terra estranha. Foi um teste
difícil, pois Avraham teve que confiar plenamente em Elohim e partir para um
destino desconhecido. Porém, Avraham era um vencedor. Ele conseguiu juntar
forças e passou no teste. Acompanhado de sua esposa Sara e seu sobrinho Ló, ele
cumpriu com sucesso a sua missão, como está escrito:
E saíram para ir à Terra de
Kenaan (Canaã) e chegaram à Terra de Kenaan (Bereshit/Gênesis 12:5)
Porém, a linguagem deste
versículo desperta um grande questionamento. Sabemos que a Torá, que foi
escrita por Elohim, é um "documento" perfeito e, portanto, é
extremamente preciso em cada informação que transmite. Entretanto, neste
versículo há uma informação aparentemente desnecessária. Se a Torá já havia nos
informado que Avraham saiu para ir à Terra de Kenaan, por que é necessário
também dizer que ele chegou à Terra de Kenaan? Isto não parece óbvio?
Explica o Rav Yehuda Leib
Chassman zt"l (Lituânia,1869 - Israel, 1935) que uma regra importante em
nossa jornada espiritual é nunca esquecer, nem mesmo por um único instante, do propósito
de vida. Se distrairmos deste fundamento estaremos sujeitos a queda, enfraquecendo
no nosso serviço a Elohim. Ou seja, estaremos entregues a preguiça e a tudo o
que se deriva dela. Portanto, é uma obrigação nossa prestar atenção no caminho e
ter sempre a consciência de seu propósito.
Com frequência, traçamos planos
para evoluirmos como indivíduos, definindo comportamentos a serem aprimorados e
ambições a serem conquistadas. No início, por algum tempo, nos inspiramos e
conseguimos caminhar na direção do objetivo que estabelecemos para nós. Porém,
com o passar do tempo, os esforços vão se enfraquecendo, até o ponto de
estarmos completamente fracos e alheios aos objetivos traçados.
Mas por que isto acontece?
Deveria ocorrer justamente o contrário! Quanto mais nos acostumamos com algo,
mais domínio deveríamos ter sobre ele. O tempo deveria nos levar a um
despertar, a um fortalecimento e um crescimento no nosso serviço A Elohim.
Então, por que o passar do tempo nos prejudica ao invés de nos ajudar?
Acontece que, com o passar do
tempo, nos acostumamos e nos distraímos dos nossos objetivos. Este é um dos
maiores desafios atualmente: conseguir manter o foco nos objetivos de vida.
A solução reside em manter o
coração inflamado pela mesma chama que acendeu nosso primeiro passo.
É justamente por isso que a Torá
nos ensina:
E estas são as palavras que Eu
te ordeno hoje (Devarim/Deuteronômio 6:6).
Para nos ensinar que não devemos
permitir que a Torá se transforme, aos nossos olhos, em decretos velhos e ultrapassados,
com os quais não nos importamos mais. O esforço deve ser para manter a Torá
sempre viva em nosso coração. Em outras palavras, precisamos renovar sempre os
nossos pensamentos, para manter a alegria como se fosse a primeira vez que
cumprimos os mandamentos de Elohim.
Assim, cada passo que Avraham
dava em seu caminho na direção da Terra de Kenaan, seu objetivo, o comando de
Elohim se renovava dentro dele. Ou seja, a chama da fé que acendeu em Abraão no
início de sua jornada nunca se apagou. Ao chegar à Terra de Canaã, ele a
contemplava com os mesmos olhos de esperança e expectativa de quando partiu,
como se o chamado divino fosse renovado a cada passo.
A maior armadilha da má
inclinação (Yetzer Hará) é a cegueira que ela impõe. Aquele que se entrega a
ela, perde de vista seu propósito de vida, exigindo uma luta diária para se
manter no caminho certo.
A vida é uma batalha constante,
mas a persistência é a nossa maior arma. Com objetivos claros em mente, podemos
superar qualquer obstáculo. As derrotas são apenas etapas do caminho para a
vitória final.
Por R' Efraim Birbojm
Texto revisado e adaptado por
Francisco Adriano Germano
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