A palavra
hebraica Torah (תּוֹרָה) é frequentemente
traduzida de forma imprecisa como “Lei” em diversas versões da Bíblia. No
entanto, seu significado original vai além dessa interpretação limitada. O
termo deriva da raiz hebraica Yarah (יָרָה), que carrega o sentido de "lançar uma flecha em
direção a um alvo" ou, de maneira mais específica, "acertar o
centro do alvo". Assim, Torah não se restringe à ideia de um
conjunto de normas legais, mas abrange um conceito mais amplo de ensino,
instrução e orientação, fornecendo diretrizes para que as pessoas vivam de
acordo com a vontade divina.
Ela deve ser
compreendida, de forma mais precisa, como a orientação divina para a vida
humana, ou seja, o ensinamento de Elohim à humanidade. Mais do que um simples
conjunto de normas jurídicas, a Torá representa um guia espiritual e moral. No
hebraico, existem termos específicos para designar mandamentos legais, decretos
divinos e outras prescrições, os quais, embora façam parte da Torá, não a
definem em sua totalidade (discutiremos mais adiante). Assim, a Torá deve ser
vista como um ensino abrangente, que transcende o aspecto normativo e engloba
princípios fundamentais para a vida e a relação do ser humano com o sagrado.
A palavra mais
comumente traduzida como "pecado" em nossas Bíblias é Hata’ah
(חֲטָאָה), termo hebraico que carrega a ideia de
desvio do propósito ou falha em atingir um objetivo. Sua raiz (chata’)
significa literalmente "errar o alvo", remetendo à imagem de
um arqueiro que, ao perder o foco, não consegue acertar seu objetivo. No
contexto bíblico, essa metáfora ilustra a transgressão da vontade divina,
representando qualquer ação, pensamento ou atitude que se afaste dos princípios
estabelecidos por Elohim.
No Novo
Testamento, o pecado é definido como algo que vai além da mera desobediência à
Torá em aspectos da vida cotidiana. A Escritura afirma: "Todo aquele
que pratica o pecado transgride a Torá (Lei, ensinamento, instrução), pois o
pecado é a transgressão da Torá" (1 João 3:4).
O pecado não se
restringe apenas a ações externas, mas é também uma condição interior
caracterizada pela "ilegalidade" ou rejeição à Torá
divina. O termo grego utilizado no versículo, ἀνομία
(anomia), significa literalmente "ausência de lei",
refletindo uma postura de anarquia espiritual e moral. Dessa forma, a recusa em
seguir a Torá de YHWH resulta em uma atitude de oposição aos Seus ensinamentos,
demonstrando um estado de rebeldia e separação dos princípios divinos.
Literalmente
falando, Hata’ah (pecado) é um caso de “Errar o objetivo”, ou seja, a
instrução (Torá) de YHWH para nossas vidas.
Note, em
seguida, e veja como as palavras hebraicas ‘Torah’ e ‘Hata’ah’ são idéias
complementares, e como o pecado é geralmente entendido como falta de instrução
(Torá) de Elohim para sua vida.
Assim como o
termo Torá é utilizado de forma abrangente para se referir à obediência
à vontade de Elohim, o termo Hata’ah funciona como uma designação geral
para a desobediência a Ele, ou seja, o pecado. Da mesma maneira que existem
palavras mais específicas para descrever diferentes aspectos da vontade divina
— como Mishpatim (juízos ou regras), Hukim (decretos ou
estatutos) e Eidot (testemunhos ou rituais) —, também há termos
distintos que categorizam e especificam os diferentes tipos de Hata’ah
(pecado). Esses termos auxiliam na compreensão das nuances das transgressões
dentro do contexto religioso, permitindo uma diferenciação mais precisa entre
os diversos aspectos da desobediência à vontade de Elohim.
Uma das palavras
hebraicas utilizadas para se referir ao pecado é "Pesha"
(פֶּשַׁע), que significa transgressão
intencional. Diferente de outros termos relacionados ao pecado, Pesha
refere-se a uma violação deliberada da vontade de Elohim, muitas vezes cometida
com o propósito de desafiar ou se opor à Sua autoridade.
Esse termo
carrega a ideia de maldade, rebeldia e uma rejeição consciente da instrução
divina. Em diversas traduções bíblicas, Pesha é comumente vertido
como "transgressão", palavra que remete à ação de
ultrapassar limites estabelecidos. No contexto bíblico, esses limites são
aqueles impostos pela Torá (ensinamento, instrução ou lei de Elohim).
Portanto, Pesha
não se trata apenas de um erro ou deslize moral, mas de uma rebeldia
intencional contra Elohim, caracterizada por atitudes cruéis e uma recusa
em seguir Seus ensinamentos.
Outra palavra
utilizada para designar "pecado" na tradição hebraica é Avon
(עָוֹן), que pode ser traduzida como "perversão".
Em diversas versões da Bíblia, esse termo aparece traduzido como "vaidade"
ou "iniquidade".
O termo hebraico
Avon está diretamente associado à ideia de um ato de perversão,
caracterizando uma distorção intencional da vontade ou da palavra de Elohim
para atender a interesses próprios. Essa perversão pode ocorrer em diversas
esferas, como na busca por ganhos financeiros, na imposição de doutrinas
religiosas (ascetismo, dogmatismo, teologias rígidas), bem como na manipulação
moral e ética.
No contexto
bíblico, Avon frequentemente se refere a transgressões morais e
espirituais, sendo amplamente abordado em passagens como Levítico 18:1-30, onde
são listadas diversas práticas condenadas por Elohim por serem consideradas
corrupções da ordem divina e da santidade do povo de Israel.
No Salmo 32, a
Inspiração Divina (Ruach HaKodesh) revela uma profunda verdade
espiritual: a verdadeira felicidade e as bênçãos emergem no coração daquele que
compreende que sua transgressão deliberada (Pesha) foi perdoada, seu
erro involuntário (Hata’ah) foi coberto, e sua perversão moral (Avon)
já não é levada em conta por YHWH. Esse ensinamento enfatiza a misericórdia
divina, mostrando que a restauração e a paz interior vêm àqueles que reconhecem
suas falhas e confiam no perdão do Senhor.
אַשְׁרֵי נְשׂוּי־פֶּשַׁע כְּסוּי חֲטָאָה
אַשְׁרֵי אָדָם לא יַחְשׁב יְהוָה לוֹ עָוֹן
וְאֵין בְּרוּחוֹ רְמִיָּה
Ashrei
nesui-pesha, kesui chata'ah
Ashrei adam lo yachshev YHWH lo avon
Ve'ein berucho remiyah
Bem-aventurado
aquele cuja transgressão é perdoada, e cujo pecado é coberto. 2 Bem-aventurado
o homem a quem o Senhor não imputa maldade, e em cujo espírito não há engano. Salmo
32:1-2
A palavra
hebraica geralmente traduzida como "perdoado" tem origem na
raiz hebraica nasa (נָשָׂא), que significa "levantar,
remover ou levar". Isso sugere que o perdão, no contexto bíblico, está
associado à ideia de ser aliviado do peso da culpa e da transgressão.
Em outras
palavras, é verdadeiramente feliz aquele cuja iniquidade foi removida, cujo
erro foi anulado e que não é considerado culpado de perversidade por Elohim.
Além disso, essa felicidade se estende àquele cujo espírito é íntegro, livre de
hipocrisia e engano.
Em Isaías
capítulo 53 explica como nossas transgressões foram “levadas”.
O Messias
Yeshua, nosso Senhor (Adoneinu), filho de José (ben Yosef), foi ferido por
causa de nossas transgressões malignas (Pesha), esmagado devido às
nossas iniquidades (Avon) e carregou sobre si o peso de nossos pecados (Hata’ah)
ao oferecer-se em sacrifício durante a Páscoa, no Calvário.
O sacrifício do
Cordeiro de Elohim — o próprio Mashiach ben Yosef — foi suficiente para expiar
nossas culpas e restaurar nossa comunhão com o Criador, conforme está escrito: "Aquele
que não conheceu pecado, Ele o fez pecado por nós, para que, Nele, fôssemos
feitos justiça de Elohim." (2º Coríntios 5:21).
Diante dessa
dádiva divina, todos somos chamados a tomar parte neste sacrifício, entregando
nossas vidas a Elohim em resposta ao Seu amor e redenção. Como ensinam as
Escrituras: "O Cordeiro foi morto desde a fundação do mundo."
(Apocalipse 13:8) e, ainda, "Se alguém quer vir após mim, negue-se a si
mesmo, tome a sua cruz e siga-me." (Marcos 8:34; Lucas 9:23; Mateus
16:24).
Aqueles que se
mostram confiantes e fiéis ao sacrifício oferecido por Elohim, através do Seu
Cordeiro Pascal, como um Asham (ou seja, "Sacrifício de
Culpa"), são verdadeiramente abençoados e experimentam a verdadeira
felicidade, pois recebem o Shalom concedido pelo Sopro Divino (Ruach
HaKodesh) de YHWH
והוא מחלל מפשׂענו מדכא
מעונתינו מוסר שׂלומנו
עליו ובחברתו נרפא לנו
V'hu
mechalel mip'sa'enu m'dakei
Me'oneinu
musar sh'lomenu
Alav
u'b'chevrato nirpa lanu
Mas
ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas
iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas
pisaduras fomos sarados. Isaias 53:5
Baseado
no texto publicado no fórum: https://www.yeshuachai.org/forums/topic/pecado-chataa-avon-pesha/
Revisado por Francisco Adriano
Germano
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