Na parashá desta semana, a
análise dos regulamentos referentes aos sacrifícios prossegue, elucidando as
normas que governavam tais rituais. À primeira vista, o foco parece recair
exclusivamente sobre os kohanim, os sacerdotes oficiantes. Contudo,
surge um questionamento pertinente: qual a relevância desta porção da Torá para
os crentes hoje?
Esta porção da Torá ainda é muito
relevante para nós. Além de nossa crença de que Yeshua é divino, que Ele é o
Messias e o Filho do Elohim vivo, também O vemos como o sumo sacerdote.
Hebreus capítulo 8 explica isso
muito bem:
Ora, a suma do que temos dito
é que temos um sumo sacerdote tal, que está assentado nos céus à destra do
trono da majestade, 2 Ministro do santuário, e do verdadeiro
tabernáculo, o qual o Senhor fundou, e não o homem. 3 Porque
todo o sumo sacerdote é constituído para oferecer dons e sacrifícios; por isso
era necessário que este também tivesse alguma coisa que oferecer. 4 Ora,
se ele estivesse na terra, nem tampouco sacerdote seria, havendo ainda
sacerdotes que oferecem dons segundo a lei, 5 Os quais servem
de exemplo e sombra das coisas celestiais, como Moisés divinamente foi avisado,
estando já para acabar o tabernáculo; porque foi dito: Olha, faze tudo conforme
o modelo que no monte se te mostrou.
Hebreus 8.1-5
Este texto começa com uma
declaração: temos um sumo sacerdote, que se senta à direita de Elohim. Ele
serve no Santo dos Santos Celestial. Este sumo sacerdote é o nosso caminho para
alcançar os portões do céu e receber o perdão, a misericórdia, o conforto e a
esperança de Elohim.
O escritor de Hebreus continua
dizendo que o serviço dos sacerdotes terrestres é a sombra daquele que está no
céu, e que o Tabernáculo é a sombra do santuário celestial. Esta foi a razão
pela qual Moisés teve que estudar e copiar o Santuário celestial e seus
artefatos, para fazer “tudo conforme o modelo que lhe foi mostrado no monte”.
(Êxodo 25:40)
Isso mostra que o santuário
terrestre era temporário desde o começo. Além disso, Êxodo 29 explica que o
serviço do holocausto tinha o objetivo de aproximar as pessoas de YHWH, como
lemos semanas atrás na porção da Tetzave:
Este será o holocausto
contínuo por vossas gerações, à porta da tenda da congregação, perante o
Senhor, onde vos encontrarei, para falar contigo ali. 43 E ali
virei aos filhos de Israel, para que por minha glória sejam santificados. 44 E
santificarei a tenda da congregação e o altar; também santificarei a Arão e
seus filhos, para que me administrem o sacerdócio. 45 E
habitarei no meio dos filhos de Israel, e lhes serei o seu Elohim,
Êxodo 29:42-45
E então, o propósito de todo esse
trabalho e dos serviços era aproximar as pessoas de Elohim. Era para pavimentar
o caminho para Yeshua, o Messias, vir e oferecer graça e esperança a toda a
humanidade.
É o serviço sacerdotal e os
sacrifícios que ensinam o significado do pecado e do sacrifício, bem como
adorar a Elohim. A progressiva compreensão de Suas leis, Sua Palavra e Seus
mandamentos nos levam ao próximo passo e à coisa real: a Yeshua, o Messias, que
toma os pecados do mundo sobre Si.
A ideia de que Israel ainda
estava esperando o próximo estágio, o Rei e Messias que viria para redimir a
todos nós, está profundamente enraizada no Judaísmo: mesmo quando o Templo
estava de pé e os sacerdotes serviam nele.
Por gerações, e de acordo com a
medida da justiça e de acordo com a Torá, o mundo merece ser destruído junto
com todos os seus habitantes, como aconteceu durante o dilúvio, nos dias de Noé
ou com Sodoma e Gomorra. O mundo inteiro precisa da redenção e do perdão de Elohim.
Precisamos do Sumo Sacerdote, do sacrifício e do Messias.
Yeshua é o único que é descrito
como perfeito e justo, sem a menor transgressão; no entanto, Ele sofreu uma
morte horrível. No entanto, Paulo escreve que por causa disso, Ele nos redimiu
da “maldição da Torá”.
Mas o que significa a “maldição
da Torá”?
Na parashá Ki-Tavo (Deuteronômio 26-29), Moisés nos diz que quem não guarda a Torá é “condenado
e amaldiçoado”:
Maldito aquele que não
confirmar as palavras desta lei, para cumpri-las. E todo o povo dirá: Amém!
Deuteronômio 27.26
Será, porém,
que, se não deres ouvidos à voz do Senhor teu Deus, para não cuidares em
cumprir todos os seus mandamentos e os seus estatutos, que hoje te ordeno,
então virão sobre ti todas estas maldições, e te alcançarão: 16 Maldito
serás tu na cidade, e maldito serás no campo. 17 Maldito o teu
cesto e a tua amassadeira. 18 Maldito o fruto do teu ventre, e
o fruto da tua terra, e as crias das tuas vacas, e o rebanho das tuas ovelhas. 19 Maldito
serás ao entrares, e maldito serás ao saíres. 20 O Senhor
mandará sobre ti a maldição; a confusão e a derrota em tudo em que puseres a
mão para fazer; até que sejas destruído, e até que repentinamente pereças, por
causa da maldade das tuas obras, pelas quais me deixaste.
Deuteronômio 28.15-20
Conforme delineado neste texto,
nossas famílias, juntamente com tudo aquilo que produzimos, encontram-se sob a
égide da condenação e desta maldição. Paulo, imbuído de profunda seriedade,
indaga, tanto a si mesmo quanto a nós, sobre a possibilidade de libertação de
nossas famílias e de nós mesmos desta condição (Gálatas 3.13). Sua resposta reside no Messias,
que nos redimiu através de Seu sangue, assumindo sobre Si a maldição e a
pregando na cruz.
Esta é uma visão diferente sobre a
redenção que está muito mais próxima da definição bíblica original. Na Bíblia,
a ação comum daquele chamado redentor é geralmente uma compensação. Uma pessoa
paga a dívida de outra e redime ao fazê-lo. O redentor não invade uma prisão
para libertar aquele que deve a dívida à força, mas paga a dívida até o último
centavo.
No que tange à nossa condição, a dívida contraída é perante o próprio Elohim, e, consoante os ensinamentos de nossos sábios, "não há homem no mundo capaz de saldar sua dívida com Elohim". A transgressão, o pecado, acarreta a pena capital, e, em nossa natureza pecaminosa, todos somos merecedores dessa punição.
A concepção de salvação e
redenção através do sangue de Yeshua, o Messias, não se apresenta como um
conceito árduo de assimilar, uma vez que estamos imersos em um paradigma de
sacrifício e redenção. Por incontáveis gerações, empregamos essa terminologia e
a praticamos, primeiramente através do tabernáculo, e subsequentemente durante
os dois períodos do templo em Jerusalém.
Assim, a estrutura do tabernáculo
e posteriormente do templo, com seus rituais meticulosos, servia como um
lembrete constante da necessidade de expiação. Os sacrifícios de animais, as
ofertas de cereais, e a liturgia sacerdotal, todos apontavam para a gravidade
do pecado e a necessidade de reconciliação com Elohim. Essa prática enraizada
na tradição judaica, preparou o terreno para a compreensão da magnitude do
sacrifício de Yeshua, o Cordeiro de Elohim, que se ofereceu como o sacrifício
supremo e definitivo pela redenção da humanidade.
Nossa porção continua a lidar com
sacrifícios, e as perguntas surgem novamente: como isso é relevante para minha
vida hoje? Como isso é relevante para nós como crentes?
A resposta é que o sacrifício é
relevante em nossas vidas, porque todos nós fazemos sacrifícios todos os dias e
o tempo todo. Começamos com a ideia de rejeitar satisfações momentâneas, com
sacrificar o momento, com sacrificar o agora, para obter algo melhor no futuro.
Trabalhamos, ganhamos um salário
e economizamos dinheiro para a aposentadoria para viver confortavelmente no
futuro, em um tempo que não é 'agora'. Um sacrifício, qualquer sacrifício, tem
o poder de melhorar o futuro; e, quanto maior o sacrifício ou investimento em
educação ou carreira, mais lucrativo será no futuro.
Como pais e como cônjuges,
sacrificamos muito por aqueles que amamos. Quando amamos, estamos dispostos a
sacrificar muito por isso.
E aqueles que amam a Elohim?
Sacrificamos muito por Elohim:
nosso tempo, foco e finanças. Esses não são sacrifícios de seres vivos; no
entanto, esses sacrifícios são reais, pois vêm de um coração amoroso.
E quanto a Elohim? João 3:16
resume todo o Novo Testamento:
Porque Elohim amou o mundo de
tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê
não pereça, mas tenha a vida eterna.
João 3:16
Por Seu grande amor pelo mundo,
Ele deu Seu único filho, para nos dar esperança e redenção. Yeshua redimiu-me
da punição que eu merecia por todos os mandamentos positivos que negligenciei,
e por todos os mandamentos proibitivos que transgredi.
Quais sacrifícios são exigidos de
nós hoje?
A resposta difere de uma pessoa
para outra. Frequentemente é a coisa mais importante e preciosa que temos. YHWH
pediu a Abraão seu único filho, a quem ele amava. E o que YHWH sacrificou? Seu
único Filho, pelo bem do mundo, pelo bem da humanidade.
E qual é o nosso sacrifício?
Muitos soldados sacrificam suas
vidas por seu povo, por seu país. As mães muitas vezes sacrificam suas
carreiras, sua autossatisfação pelo bem da família. Minha mãe era assim, e
minha esposa também, e tenho certeza de que há muitas mães que se sacrificam
por suas famílias. Os pais também se sacrificam por suas famílias, porque
fazemos tudo por nossas famílias, por nossos filhos, para que nada lhes falte. Se
pararmos de nos sacrificar, tudo desmorona. Quando os cônjuges param de se
sacrificar um pelo outro, os casamentos são destruídos.
Quando uma sociedade perde o
conceito de sacrifício, ela não tem futuro e seus dias estão contados. Aquele
que não está disposto a sacrificar o presente, não tem futuro.
Todo o Novo Testamento é baseado
no fundamento sólido de que Yeshua é o Cordeiro de Elohim que foi
sacrificado por nós. Ele é nosso sacrifício de Páscoa e nosso sacrifício para o
Dia da Expiação, por que o que são essas festas sem seus sacrifícios?
No Templo, os sacrifícios eram
oferecidos repetidamente, dia após dia, ano após ano. Esses sacrifícios nos
lembravam de nossos pecados e da necessidade de arrependimento. No entanto,
depois de um tempo, perdemos nossa inocência e propósito. A maioria de nossos
profetas fala duramente contra a instituição de sacrifícios. Isso não significa
que esses profetas – Isaías, Jeremias e outros – queriam cancelar as ofertas de
sacrifício.
No entanto, eles falam duramente
contra a ideia de que sacrifícios e o serviço do Templo podem expiar qualquer malfeito,
sem o arrependimento real e a mudança de coração. Não podemos
subornar Elohim nem comprar Seu perdão apenas oferecendo o "caro ou
generoso o suficiente".
Por exemplo, do livro de Jeremias
entendemos que quando a corrupção moral e religiosa é muito profunda, um
recomeço é necessário. Jeremias diz que é hora de “arrancar e derrubar,
destruir e derrubar” (Jeremias 1:10)
O objetivo é recomeçar,
voltar à fundação original de nossa fé e moralidade. Então, em vez de
destruição, em vez de arrancar e quebrar, será o tempo de “Construir e
plantar”.
Nossa participação no
sacrifício do Messias requer que a Palavra de Elohim seja escrita em nossos
corações. O próprio significado da 'Nova Aliança' é que Elohim entrará em
nossos corações. Nossa responsabilidade para com a Palavra dEle não será
'apenas para exibição', não para a aparência externa, mas será gravada
profundamente em nossos corações e em nossa vida cotidiana. Este é o requisito
para sermos participantes do sacrifício do Messias.
Quem é Yeshua para nós?
Ele é nosso Senhor e Mestre!
Ele é nosso sacrifício, segundo
as palavras do Profeta Isaías:
Todos nós andávamos
desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho; mas o Senhor
fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos.
Isaías 53:6
Yehuda Bachana
Texto revisado e adaptado por
Francisco Adriano Germano
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