A Psychopannychia, expressão
derivada do grego que significa "sono durante toda a noite",
foi o nome dado por João Calvino à sua obra escrita em 1542 para refutar o que
ele chamava de heresia do "sono da alma". Os anabatistas e
outros grupos sustentavam que, após a morte, a alma entra num estado de
inconsciência total, aguardando a ressurreição. Curiosamente, embora Calvino
pretendesse defender a ortodoxia cristã, sua obra baseia-se em pressupostos extrabíblicos,
especialmente de origem platônica, ao afirmar que a alma continua consciente
após a morte.
Este apêndice complementa o artigo intitulado "Morte, Alma e Ressurreição no Judaísmo: O que realmente diz a Bíblia". Nele, são examinados criticamente os fundamentos da Psychopannychia à luz das Escrituras Hebraicas (Tanach, comumente conhecido como "Antigo Testamento") e dos escritos apostólicos (Brit Hadashá, popularmente denominado "Novo Testamento"). O texto demonstra que o ensino bíblico postula a morte como um estado de inconsciência total, e que a verdadeira esperança para os justos reside na ressurreição dos mortos.
1. A alma é a pessoa, não uma entidade
separada
Calvino parte da premissa de que
a alma é uma substância imortal que habita o corpo temporariamente. A Bíblia,
contudo, ensina que o ser humano é uma alma, não que possui uma alma:
E formou YHWH
Elohim o homem do pó da terra, e soprou em suas narinas o fôlego de vida; e o
homem tornou-se alma vivente. Gênesis 2:7
Se a alma surge da união entre
corpo e espírito (fôlego de vida), ela não pode existir conscientemente após a
dissolução dessa união na morte.
2. O estado dos mortos é de inconsciência,
não de sono consciente
A Psychopannychia tenta associar
o termo "sono" a uma consciência latente, em repouso. No
entanto, a Escritura é clara ao afirmar que os mortos nada sabem:
Os mortos nada
sabem [...] pois no Sheol, para onde tu vais, não há obra, nem projeto, nem
conhecimento, nem sabedoria. Eclesiastes 9:5, 10
Sai-lhe o
espírito, volta para a terra; naquele mesmo dia perecem os seus pensamentos.
Salmo 146:4
Não há qualquer atividade mental
após a morte. O "sono" bíblico é um eufemismo para a cessação
completa da consciência, não um estado intermediário.
3. A esperança bíblica é a ressurreição,
não a sobrevivência da alma
O ensino bíblico projeta a
esperança dos fiéis para a ressurreição no fim dos tempos. Isso é central tanto
no Tanach quanto nos ensinos de Yeshua e Paulo:
Muitos dos que
dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, e outros para
vergonha e desprezo eterno. Daniel 12:2
Vem a hora em que
todos os que estão nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão: os que tiverem feito
o bem, para a ressurreição da vida... João 5:28–29
Se não há
ressurreição dos mortos, então o Messias não ressuscitou. E, se o Messias não
ressuscitou, é vã a nossa pregação e também é vã a vossa fé. 1 Coríntios
15:13–14
A doutrina de Calvino torna a
ressurreição desnecessária, já que a alma consciente continuaria sua existência
em outra dimensão. Isso distorce a base da fé apostólica.
4. A imortalidade da alma é estranha
à teologia bíblica
A noção de que a alma é
naturalmente imortal vem do platonismo e não da tradição hebraica. A Bíblia
afirma que a alma pode morrer:
Eis que todas as almas são minhas; [...] a alma que pecar, essa morrerá.
Ezequiel 18:4, 20
Yeshua reforça que a vida eterna
é uma dádiva divina a ser recebida após o juízo, não um atributo natural da
alma:
Aquele que crê no Filho tem a vida eterna [...] e eu o ressuscitarei no último dia. João 6:40
Conclusão
A Psychopannychia, embora
influente na tradição protestante, está baseada em uma leitura filosófica da
alma e não em um compromisso com os textos bíblicos. As Escrituras Hebraicas e
os escritos apostólicos são coerentes em afirmar:
·
A alma é a pessoa como
um todo;
·
A morte é um estado de
inconsciência;
·
A esperança dos justos é
a ressurreição no fim dos dias;
·
A imortalidade não é
intrínseca, mas concedida por Elohim.
Diante disso, a Psychopannychia
deve ser considerada uma tese filosófico-teológica sem base nas Escrituras
Sagradas. A verdadeira esperança está em Elohim que “aniquilará a morte para
sempre” (Isaías 25:8) e “chamará” os que estão no pó da terra,
conforme esperava o justo Jó (Jó 14:14-15).
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