A Parashá Chukat, em Bamidbar
(Números) 19:1–22:1, nos apresenta uma das mais enigmáticas e profundas leis da
Torá: a Pará Adumá, a Novilha Vermelha. Essa ordenança, com seus rituais
aparentemente ilógicos de purificação da impureza de contato com um morto, tem
intrigado comentaristas por milênios. Para nós, crentes em Yeshua, a Novilha
Vermelha não é apenas um mistério antigo, mas uma sombra profética que
encontra sua plenitude e significado derradeiro na obra redentora do nosso
Messias Yeshua. Este artigo explorará as ricas conexões entre os ensinamentos
de Chukat e as verdades reveladas na B’rit Hadashá (Novo Testamento).
A Novilha Vermelha: Um
Paradoxo de Pureza e Impureza
A essência da Pará Adumá reside
em seu paradoxo: a mesma substância que purificava o impuro tornava impuro
aquele que a manuseava. Aqueles que preparavam as cinzas, ou mesmo aqueles que
as aspergiam sobre o impuro, tornavam-se impuros até a tarde (Números 19:7-10).
Este aparente contrassenso aponta para uma verdade espiritual profunda: a santidade
de Elohim é tão absoluta que mesmo aquilo que Ele designa para purificação,
quando em contato com a impureza inerente à carne, adquire uma dimensão de
impureza ritual.
As cinzas da Novilha Vermelha
removiam a impureza cerimonial, permitindo o acesso ao Tabernáculo e,
posteriormente, ao Templo. No entanto, elas não podiam remover a impureza do
pecado em si, a impureza moral e espiritual que afeta a alma. O apóstolo
Paulo, em sua epístola aos Hebreus, ecoa essa verdade ao afirmar:
Porque é impossível que o
sangue de touros e de bodes tire pecados.
Hebreus 10:4
As ofertas e rituais, incluindo a Pará Adumá,
serviam como um lembrete constante da necessidade de purificação e da
insuficiência dos esforços humanos para alcançar a verdadeira santidade diante
de YHWH.
Águas de Purificação e Água
Viva
As cinzas da Novilha Vermelha
eram misturadas com "água corrente" (água viva, ou águas de
purificação) e aspergidas sobre o impuro. Essa água de purificação é
central para o ritual. Em todo o Tanach (Antigo Testamento), a água
frequentemente simboliza purificação, vida e o agir do Espírito de Elohim. O
profeta Ezequiel, por exemplo, fala da aspersão de “água pura” para
purificar o povo de suas idolatrias (Ezequiel 36:25).
Essa conexão com a água nos
remete imediatamente aos ensinamentos de Yeshua. Ele se apresenta como a "água
viva" que sacia a sede espiritual da alma. No Evangelho de João,
Yeshua declara:
Se alguém tem sede, venha a
mim e beba. Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão
rios de água viva.
João 7:37-38
Essa água viva não é apenas uma
metáfora para a salvação, mas também para a presença e atuação do Espírito
Santo (Ruach HaKodesh), que nos purifica internamente e nos capacita a
viver uma vida santa.
A Pará Adumá lidava com a
impureza externa, aquela que impedia o acesso ao santuário físico. Yeshua, por
sua vez, lida com a impureza interna, a contaminação do pecado que nos separa
do Santo de Israel.
Ou seja, sua “água viva” é
a fonte de purificação espiritual que nos permite ter comunhão com o Pai
e entrar em Seu Santo dos Santos celestial por uma transformação interior!
O Sacrifício Sem Mácula: A
Novilha e o Messias
A Novilha Vermelha deveria ser "perfeita,
sem mancha, na qual não houvesse defeito, e sobre a qual nunca tivesse sido
posto jugo" (Números 19:2). Essa exigência de perfeição é crucial e
aponta diretamente para a pessoa de Yeshua. Ele é o Cordeiro de Elohim, sem
mancha e sem mácula, que se ofereceu uma vez por todas para remover o pecado do
mundo (1 Pedro 1:18-19).
Assim como a Novilha era levada
para fora do acampamento e sacrificada, Yeshua também sofreu fora das portas
de Jerusalém (Hebreus 13:11-13). Esse detalhe geográfico não é apenas um
acaso, mas um cumprimento profético que liga o sacrifício da Novilha Vermelha
ao sacrifício de Yeshua. Ambos os eventos ocorreram fora dos limites da
impureza ritual, no caso da Novilha, para evitar a contaminação do acampamento,
e no caso de Yeshua, para indicar que Ele se tornou o portador de nossos
pecados, sendo “feito pecado por nós” (2 Coríntios 5:21), e assim
purificando-nos de nossa impureza.
A cinzas da Novilha Vermelha eram
guardadas e usadas repetidamente para purificação. De modo semelhante, o “sangue
de Yeshua nos purifica de todo pecado” (1 João 1:7) e sua obra na cruz é
suficiente para nos purificar de uma vez por todas. A Novilha Vermelha, nesse
sentido, é figura da eficácia duradoura e completa do sacrifício de
Yeshua.
A Morte e a Vida: O Legado de
Contaminação e a Vitória sobre Ela
A impureza gerada pelo contato
com um morto é o foco central de Chukat. A morte, na Torá, é a maior fonte de
impureza, representando a consequência final do pecado (Romanos 6:23). O
contato com um cadáver não era apenas uma questão de higiene, mas uma lembrança
da fragilidade da vida e da realidade do pecado que trouxe a morte ao mundo.
Yeshua, no entanto, veio para vencer
a morte e o poder do pecado. Ele não apenas purifica os que estão impuros
pelo contato com a morte, mas Ele mesmo conquistou a morte através de Sua
ressurreição. Ao ressuscitar dos mortos, Yeshua demonstrou Sua autoridade
sobre a impureza mais profunda – a própria morte. Ele é a “ressurreição e a
vida” (João 11:25), e aqueles que creem Nele, mesmo que morram fisicamente,
viverão eternamente.
A Pará Adumá oferecia uma purificação
ritual da impureza da morte, permitindo que o povo de Israel continuasse a
adorar a YHWH. Yeshua oferece uma purificação espiritual e uma libertação do
domínio da morte, inaugurando uma nova aliança onde a vida em abundância e
a comunhão eterna com Elohim são a nossa herança.
As Leis Inexplicáveis
(Chukkim) e a Fé em Yeshua
A Novilha Vermelha é classificada
como um chok, uma lei que não possui uma explicação racional óbvia. Sua
observância dependia da confiança na sabedoria e autoridade de Elohim.
Para nós crentes em Yeshua, isso ressoa profundamente com o chamado à fé nEle.
Muitos aspectos da nossa fé em Yeshua – a encarnação de Elohim, a ressurreição,
a expiação através de Seu sacrifício – são, em última análise, mistérios que
transcendem a compreensão humana plena.
A aceitação da Pará Adumá
requeria fé na Palavra de Elohim. Da mesma forma, a aceitação de Yeshua como o
Messias de Israel e o Filho de YHWH requer um salto de fé baseado na
revelação divina. Não podemos compreender plenamente todos os “porquês”
de Elohim, mas podemos confiar em Seu caráter e em Sua fidelidade. Assim como
os nossos antepassados obedeciam ao chok da Novilha Vermelha pela fé,
nós obedecemos ao chamado do Messias Yeshua pela fé, crendo que Ele é o
Caminho, a Verdade e a Vida (João 14:6).
Conclusão: A Plenitude em
Yeshua
A Parashá Chukat, com sua Novilha
Vermelha e suas águas de purificação, é uma lente fascinante através da qual
podemos ver a glória de Yeshua. Ela é um testemunho da sabedoria divina em
revelar verdades profundas de redenção e purificação através de tipos e sombras
que apontam para o Messias.
Para nós que cremos em Yeshua, a
Pará Adumá não é um ritual obsoleto, mas uma rica prefiguração de nosso
Salvador. Nela, vemos a necessidade de purificação, a incapacidade das
obras humanas, a importância do sacrifício sem mácula, o poder da água viva e a
vitória sobre a morte. Tudo isso se manifesta de forma completa e final em
Yeshua HaMashiach.
Ele é a nossa Novilha Vermelha
perfeita, cujo sacrifício nos purifica de toda impureza, e cuja ressurreição
nos dá vida eterna!
Que possamos sempre contemplar a
profundidade de Sua obra redentora, encontrando em Chukat mais uma razão para
louvar o nosso bendito Messias.
Francisco Adriano Germano
Comentários
Postar um comentário