Pular para o conteúdo principal

A JORNADA PARA A TERRA PROMETIDA



E estas são as jornadas dos filhos de Israel…

(Bemidbar/Números 33:1)

 

A Parashá Maasei que encerra o livro de Números listando 42 acampamentos — estações na longa caminhada do povo Israelita desde a saída do Egito até os limites da Terra Prometida. À primeira vista, essa lista pode parecer uma simples crônica de deslocamentos. No entanto, quando lida com atenção espiritual, revela um profundo mapa de transformação interior e coletiva.

 

A Torá, nesse trecho final de Bamidbar, não nos convida apenas a olhar para trás, mas a perceber o movimento como essência da vida com o ETERNO. É uma memória sagrada do que fomos, uma afirmação do que somos, e um chamado do que ainda podemos ser.

 

Jornadas como Formação Espiritual

 

Cada parada no deserto representa não apenas um local físico, mas uma etapa da alma. O deserto não é mero pano de fundo geográfico; é o espaço da dependência radical de Elohim, onde o pão desce do céu, a água brota da rocha, e a nuvem guia os passos.

 

Somos lembrados de que a jornada com Elohim não é sempre linear. Há avanços e recuos, acampamentos prolongados e progressos velozes. O deserto é onde o povo aprende a confiar, tropeça, levanta-se e é moldado — até tornar-se apto a entrar na herança prometida.

 

Este mesmo padrão se manifesta nos ensinos de Yeshua, quando Ele afirma:

 

Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me.

(Lucas 9:23)

 

Seguir o Messias é se comprometer com uma jornada. Não com conforto ou estagnação, mas de movimento, lapidação e confiança constante no Pai.

 

Movimento e Promessa: O Padrão Apostólico

 

O apóstolo Paulo também vê a vida como peregrinação. Em sua carta aos Filipenses, ele escreve:

 

Esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo...

(Filipenses 3:13-14)

 

A linguagem é nítida: estamos em trânsito. Para Paulo, como para a geração do deserto, o presente é um lugar de preparo. O objetivo não é apenas sair do Egito, mas entrar em Canaã — alcançar a maturidade em Mashiach e herdar o Reino.

 

Kefa (Pedro) igualmente nos chama de “peregrinos e forasteiros” (1 Pedro 2:11), deixando claro que a fidelidade ao ETERNO não é vivida a partir de estruturas estáticas, mas em constante deslocamento espiritual.

 

Acampamentos, Recomeços e a Compaixão Divina

 

A cada acampamento descrito em Maasei, Israel recomeça. Mesmo após quedas como o bezerro de ouro ou as murmurações contra Moisés, o povo é chamado a seguir. A compaixão divina se revela na presença constante que nunca os abandonou no caminho — a nuvem de dia e o fogo à noite.

 

Da mesma forma, o Messias Yeshua nos acompanha no caminho, mesmo quando tropeçamos. Ele não apenas aponta o destino — Ele caminha conosco. Conforme disse os discípulos de Emaús:

 

Não ardia o nosso coração quando Ele nos falava pelo caminho?

 (Lucas 24:32)

 

A jornada se torna sagrada porque Ele caminha conosco. Mesmo quando não O reconhecemos de imediato.

 

O Final de Bamidbar: Uma Terra à Vista, um Coração Preparado

 

A Parashá Maasei termina com a promessa quase ao alcance das mãos. Israel está nas campinas de Moav, às margens do Jordão. A Terra está ali, mas a entrada exigirá fé renovada, coragem e compromisso.

 

Isso também ecoa na nossa realidade. Vivemos na esperança da plena redenção — o Reino vindouro — aguardando a restauração de todas as coisas (Atos 3:21). Ainda não entramos plenamente, mas já caminhamos sob a direção do Espírito.

 

Conclusão

 

A lição de Maasei, à luz do ensino de Yeshua e dos apóstolos, é clara: a jornada é tão formativa quanto o destino. O deserto, com suas dificuldades, é onde o caráter se purifica, a fé se fortalece e a aliança se aprofunda.

 

Ainda temos quilômetros a percorrer. Mas não caminhamos sozinhos. Caminhamos com Aquele que prometeu estar conosco até o fim da estrada. E, por isso, seguimos.

 

Que cada passo nos leve mais perto da herança eterna que nos aguarda no Reino do nosso Messias.


Francisco Adriano Germano

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O QUE SIGNIFICA A EXPRESSÃO BARUCH HASHEM?

  A expressão judaica Baruch Hashem é a mais emblemática manifestação judaica de gratidão e reconhecimento, significando " Bendito seja o Senhor " ou " Louvado seja o Senhor ".   Baruch Hashem ( ברוך השם ) que traduzida para o português significa “ Bendito seja o Nome ” (em referência ao nome YHWH), é usada pelo povo judeu em conversas cotidianas como uma forma de expressar gratidão a Elohim por tudo. Muitas vezes é colocado no topo de cartas pessoais (ou e-mails), às vezes abreviado como B”H ou ב”ה .   É comumente usada em gentilezas trocadas. Por exemplo, quando se pergunta “ como vai você ”, a resposta apropriada é “ Baruch Hashem, vai tudo bem ”. Os usos mais típicos são: “ Baruch Hashem, encontramos uma vaga de estacionamento ” ou “ Deixei cair aquela caixa de ovos, mas Baruch Hashem, nenhum deles quebrou ”.   Em suas peregrinações pelas modestas comunidades judaicas da Europa Oriental, o sábio Baal Shem Tov indagava sobre a condição de seus conter...

FAÇA O QUE TEM QUE SER FEITO

    A história que reproduzirei a seguir foi contada pelo Rav Israel Spira zt"l (Polônia, 1889 - EUA, 1989), o Rebe de Bluzhov, que a testemunhou no Campo de Concentração de Janowska:   Todos os dias, ao amanhecer, os alemães nos levavam para fora do acampamento, para um dia de trabalho pesado que só terminava ao anoitecer. Cada dupla de trabalhadores recebia uma enorme serra e deveria cortar sua cota de toras. Por causa das condições terríveis e da fome, a maioria de nós mal conseguia ficar de pé. Mas nós serrávamos, sabendo que nossas vidas dependiam daquilo. Qualquer um que desmaiasse no trabalho ou deixasse de cumprir sua cota diária era morto na hora.   Um dia, enquanto eu puxava e empurrava a serra pesada com meu parceiro, fui abordado por uma jovem da nossa equipe de trabalho. A palidez em seu rosto mostrava que ela estava extremamente fraca.   - Rebe - sussurrou ela para mim - você tem uma faca?   Imediatamente entendi sua intenção...

O TERCEIRO TEMPLO E A PROFECIA: UM RITUAL QUE PODE REDEFINIR A HISTÓRIA

Nas próximas semanas, um acontecimento de grande relevância espiritual e geopolítica poderá marcar um novo capítulo na história de Israel e do Oriente Médio. Autoridades religiosas israelenses planejam realizar o aguardado sacrifício da novilha vermelha, um ritual ancestral descrito no livro de Números 19:2-10 , essencial para a purificação ritual e diretamente associado à reconstrução do Terceiro Templo — um elemento central nas profecias escatológicas judaicas.   Atualmente, um grande altar branco está em construção na Cidade Velha de Jerusalém, preparando o cenário para uma cerimônia que não ocorre desde os tempos bíblicos. O local escolhido para o rito, o Monte das Oliveiras, é estratégico e altamente sensível, situado em frente ao Monte do Templo, onde se encontram a Mesquita de Al-Aqsa e o Domo da Rocha — dois dos locais mais sagrados do islamismo. A realização do sacrifício nesse contexto pode intensificar tensões religiosas e políticas, com possíveis repercussões no e...