Porque eles vos afligiram a vós com os seus enganos com que vos enganaram no caso de Peor, e no caso de Cosbi, filha do príncipe dos midianitas, irmã deles, que foi morta no dia da praga no caso de Peor.
(Bamidbar/Números 25:18)
1. Uma adoração deformada: o
culto a Ba’al Peor
As porções anteriores da Torá
revelam o perverso plano de Balak (Balaque) para corromper Yisra’el por meio da
idolatria. Induzido por Bila’am (Balaão), Balak não atacou diretamente com
espada, mas por sedução: promoveu a imoralidade sexual e a adoração a Ba’al
Peor, resultando na morte de 24 mil israelitas atingidos pela praga da parte de
YHWH.
O nome Ba’al Peor significa “senhor
da abertura” ou “senhor da cavidade”. O culto a esse ídolo pagão
envolvia práticas sexuais obscenas e até mesmo defecação diante do ídolo,
conforme relatado em Sifrei Balak 1 e em comentários talmúdicos. Esse ritual
grotesco era promovido como libertação dos padrões morais da Torá.
Mas por que tal prática atrairia
um povo que havia testemunhado os sinais e milagres do Elohim vivo?
O segredo do apelo de Ba’al Peor
está em algo sutil, porém poderoso: a ilusão de liberdade sem
responsabilidade. O culto promovia a completa ausência de limites e
pudor, treinando os adoradores a se livrarem de toda inibição e consciência
moral.
O rabino Chaim Shmuelevitz afirma
que Ba’al Peor era, em essência, um “deus” que validava a autonomia absoluta
do ser humano. O indivíduo podia fazer o que quisesse, como quisesse, sem
prestar contas a ninguém — nem mesmo à divindade que adorava. Era o culto à
própria vontade.
2. A oposição entre Ba’al Peor
e a Torá
Essa adoração, portanto, era
diametralmente oposta à Torá, que nos ensina que:
YHWH é nosso Rei,
nosso Legislador e nosso Salvador (cf. Isaías 33:22)
A Torá revela um Reino com ordem,
temor e graça. Ela nos chama a viver com equilíbrio entre misericórdia e
responsabilidade, reconhecendo que a graça não é uma licença para o pecado
(cf. Romanos 6:1-2).
O ensino de Yeshua HaMashiach
reforça isso ao dizer:
Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos Céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus.
(Mateus 7:21)
Enquanto Ba’al Peor encorajava a
libertinagem sob aparência de “liberdade espiritual”, Yeshua chama os
Seus a tomarem o jugo suave da obediência (Mateus 11:29), que conduz à
verdadeira vida.
3. A coragem de Pinchás e o
zelo que gera reconciliação
Pinchas Ben El’azar Ben Aharon
haCohen, desviou a minha ira de sobre os filhos de Yisra’el, pois foi zeloso
com o meu zelo no meio deles; de modo que, no meu zelo, não consumi os filhos
de Yisra’el. (Bamidbar/Números 25:11)
O gesto de Pinchás não foi movido
por impulsividade, mas por zelo santo (kiná), fundamentado no amor por YHWH e
por Yisra’el (ahavat Yisra’el). Ele enfrentou o pecado abertamente, arriscando
sua própria vida ao confrontar o líder da tribo de Shimeon, e, por isso,
recebeu o B’rit Shalom — a Aliança de Paz — e a Kehuná (sacerdócio) eterna.
Yeshua ensinou que os verdadeiros
pastores são aqueles que dão a vida pelas ovelhas (João 10:11). Assim
foi Pinchás: colocou o bem-estar espiritual de todo o povo acima de sua própria
segurança. O zelo de Pinchás reflete o coração do próprio Messias, que intercedeu
pela nação e se entregou voluntariamente por ela.
4. A vocação sacerdotal e o
chamado messiânico
Ao ser honrado por YHWH com a
Kehuná eterna, Pinchás se tornou símbolo do que todo israelita é chamado a
ser: um sacerdote fiel, alguém que intercede, protege, e luta contra a
idolatria, mesmo que sozinho.
A Brit Chadashá (Nova Aliança)
declara:
Vós, porém, sois raça eleita,
sacerdócio real, nação santa, povo adquirido, para que anuncieis as virtudes
dAquele que vos chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz. 1 Pedro 2:9
A comparação entre Pinchás e
Eliyahu HaNavi (Elias), feita pelos sábios, também aparece nos escritos
apostólicos, especialmente em Romanos 11:4, onde Sha’ul cita:
Reservei para mim
sete mil homens, que não dobraram os joelhos a Ba’al.
Esse remanescente fiel, embora
pequeno, será o instrumento que YHWH usará para trazer restauração a todo
Yisra’el, conforme a promessa profética (Romanos 11:26).
5. Chamados a ser como Pinchás
Assim como Pinchás agiu com zelo
pela santidade de YHWH, somos chamados a resistir ao espírito de Ba’al Peor
em nossos dias — não com violência, mas com firmeza, ensino e amor
verdadeiro.
Vivemos em uma geração que prega
liberdade sem limites, identidade sem raiz, espiritualidade sem santidade. Mas
a verdadeira liberdade está na obediência à Torá e no caminhar com Yeshua:
Se permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sereis meus discípulos; e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. (João 8:31-32)
6. Conclusão
A Parashá Pinchás nos desafia a:
- Rejeitar toda forma de
adoração que ensine que “tudo é permitido”;
- Viver em fidelidade à
Torá e ao Reino de YHWH;
- Agir com ahavat Yisra’el
— o amor sacrificial que protege e intercede por nosso povo;
- Ser zelosos como Pinchás,
firmes como Elias, e fiéis como o próprio Mashiach.
Assim, se nos revestirmos do
temor de YHWH, do ahavat Yisra’el — o amor sacrificial pelo povo da aliança —,
e permanecermos firmes em nosso testemunho de Yeshua, sem nos envergonhar dEle,
nem renunciar à nossa vida moldada pela Torá, então seremos achados dignos da
kehuná eterna.
Seremos como precursores de
restauração, instrumentos nas mãos de Elohim para anunciar e preparar o retorno
da Casa de Yisra’el ao coração do Pai. Que, como Pinchás, sejamos encontrados
zelosos, fiéis e prontos para cooperar com a obra redentora do Reino.
Por Sha’ul Bentsion
Revisado e adaptado por Francisco
Adriano Germano
Comentários
Postar um comentário