Introdução
Em primeiro lugar, quero deixar
bem claro que não existe interpretação correta das Escrituras se essa
interpretação não levar em consideração o background das Escrituras, ou
seja, o seu contexto, o pensamento por trás de cada palavra, e como entendiam e
criam os seus escritores. Sendo assim, toda interpretação nesse estudo para
refutar as interpretações antijudaicas, será baseada nas Escrituras segundo o
seu contexto original, o contexto judaico.
Qual é o contexto das Escrituras?
1 - Escritores
Todos os escritores da bíblia
eram israelitas (incluindo Lucas que era um sírio convertido ao judaísmo,
segundo Eusébio em “História Eclesiástica”), e, portanto, tinham um
pensamento judaico. Criam segundo era ensinado no judaísmo, através dos rabinos
e dos sábios judeus. Eles escreveram a respeito de um Ungido (heb. “Mashiach”,
gr. “Khristos”), que era esperado dentro do judaísmo, pois foi revelada
a sua existência, a partir do judaísmo:
Sabe e entende:
desde a saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém, até ao Ungido,
ao Príncipe, sete semanas e sessenta e duas semanas; as praças e as
circunvalações se reedificarão, mas em tempos angustiosos. Daniel 9:25
Essas Escrituras eram estudadas
no judaísmo anualmente (cada porção dos profetas é estudada após uma porção da
Torah que é lida a cada shabat. Cada porção é lida uma vez por ano dentro de um
ciclo anual de porções semanais) após um estudo da Torah nas sinagogas. Isso
mostra que o conceito de “Messias/Cristo”, é puramente judaico,
surgiu no judaísmo.
2 - Público-alvo
Quem era o público-alvo dos
escritores da Bíblia? Qual era o povo que sempre estava sendo instruído,
exortado, guiado e ensinado pelo ETERNO? Era o Povo de Israel, o povo eleito
pelo próprio ETERNO em Avraham (Abraão), que gerou Yitzchak (Isaque) que gerou
Ya’akov (Jacó) que passou a se chamar Israel.
Então a Bíblia foi escrita
por judeus e para judeus, isso quer dizer que eles usariam uma
linguagem que os seus leitores e ouvintes entenderiam, e o que os judeus entendiam?
Entendiam o judaísmo, entendiam a Torah, entendiam que o ETERNO Se revelara a
eles e entregou os seus oráculos a eles:
Qual é, pois, a
vantagem do judeu? Ou qual a utilidade da circuncisão? Muita, sob todos os
aspectos. Principalmente porque aos judeus foram confiados os oráculos de Elohim.
Rm 3.1,2
Isso significa que o povo que
entendia as coisas do ETERNO era o povo judeu!!! Nenhum outro povo recebeu as
revelações direto do ETERNO. Nenhum outro povo recebeu a Torah, que foi escrita
pelo dedo do próprio ETERNO. Nenhum profeta era estrangeiro ou gentio
(não-judeu), mas todos eram filhos de Israel. Então, sabemos que os escritores
da Bíblia eram judeus, que escreveram para judeus na linguagem judaica, ou
seja, o judaísmo.
3 - Judaísmo
O judaísmo é uma religião formada
a partir da fé monoteísta de Avraham (Abraão) em Elohim. É uma religião de
alianças, onde o próprio Elohim faz alianças com os seus fiéis, sejam eles
judeus:
Também estabeleci
a minha aliança com eles, para dar-lhes a terra de Canaã, a terra em que
habitaram como peregrinos. Êxodo 6:4
Ou sejam eles gentios:
Eis que estabeleço
a minha aliança convosco, e com a vossa descendência Gênesis 9:9
Essas alianças são imutáveis:
Irmãos, falo como
homem. Ainda que uma aliança seja meramente humana, uma vez ratificada, ninguém
a revoga ou lhe acrescenta alguma coisa. Gálatas 3:15
Então nada ou ninguém pode
revogar essas alianças feitas pelo próprio ETERNO com os homens. Uma das
alianças que o ETERNO fez com o povo judeu tinha como cláusula a obediência aos
Seus mandamentos, de forma incondicional.:
Eis que, hoje, eu
ponho diante de vós a bênção e a maldição: a bênção, quando cumprirdes os
mandamentos de YHWH, vosso Elohim, que hoje vos ordeno; a maldição, se não
cumprirdes os mandamentos de YHWH, vosso Elohim, mas vos desviardes do caminho
que hoje vos ordeno, para seguirdes outros deuses que não conhecestes. Dt
11.26-28
O ETERNO não estipula um “prazo
de validade” para Seus mandamentos ou para a própria aliança que Ele firmou
com Israel, pelo contrário, em muitos mandamentos Ele diz que será “estatuto
perpétuo”, ou seja, até a consumação dos séculos sem interrupção. Significa
que até que o próprio ETERNO diga o contrário, os mandamentos são válidos, e as
alianças vigoram plenamente
4 - Mashiach
Segundo as Escrituras, o ETERNO enviaria
aquele que conduziria o povo de Israel segundo a vontade do ETERNO (Dt. 18.15),
faria a restauração espiritual de Israel (Is 53), herdaria o trono de David (1
Sm 7.12,13). Estas seriam as funções do Messias*, que segundo o judaísmo não é
apenas um, mas dois, o primeiro, Mashiach ben Yossef (Messias filho de José,
que cumpriria as duas primeiras profecias, e o Mashiach ben David (Messias
filho de David), que reinaria sobre Israel). Para nós, esses dois Messias são
apenas um, mas em diferentes “fases” ou “vindas”. Cremos que
Yeshua cumpriu a primeira parte das profecias a respeito do Messias, a parte
destinada ao Mashiach ben Yossef, e retornará como Mashiach ben David para concluir
as profecias a seu respeito.
Mas Yeshua era judeu? Claro, e as
Escrituras atestam isso (Mt 1.1-17), foi circuncidado no oitavo dia como todo
judeu (Lc 2.21), ou seja, Yeshua cumpria as alianças ordenadas pelo ETERNO. O
Messias deveria ser um cumpridor da Torah, como profetizou Moisés (“...um
profeta semelhante a mim...”)
Então essa foi uma pequena
introdução ao contexto judaico das Escrituras, o qual é indispensável para uma
correta interpretação. Então, agora vamos às refutações contra as doutrinas antijudaicas
criadas em decorrência do afastamento desse contexto original.
Refutações
1º - Mt 5.17 – Não
cuideis que vim destruir a lei ou os profetas. Não vim destruir, mas cumprir.
Interpretação comum:
Yeshua não revogou a lei nem os
profetas, mas ele os cumpriu, sendo assim, ninguém mais precisa cumpri-los pois
Yeshua fez isso por nós.
Refutação:
Em primeiro lugar, Yeshua em
momento algum disse que ninguém mais precisa praticar a lei ou as palavras dos
profetas, mas sim que ele veio dar pleno cumprimento a elas. É muito comum as
pessoas usarem essa passagem para justificarem a “anomia” (doutrina que
prega o afastamento da lei judaica), mas não conseguem interpretar esse
versículo corretamente.
O que diz o restante do texto?
Porque em verdade
vos digo: até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da
Lei, até que tudo se cumpra. Mt 5.18
Então, vemos que o texto diz algo
completamente oposto do que diz a interpretação cristã mais comum para esse
versículo. Vemos Yeshua dizendo que até que o céu e a terra passem, a Torah
continuará válida até o fim dos tempos. Detalhe: a palavra para "cumpra"
na frase "até que tudo se cumpra", não é a mesma utilizada por
Yeshua quando ele disse que veio "cumprir" a lei e os
profetas, veremos isso adiante. Vamos continuar no texto:
Aquele, pois, que
violar um destes mandamentos, posto que dos menores, e assim ensinar aos
homens, será considerado mínimo no reino dos céus; aquele, porém, que os
observar e ensinar, esse será considerado grande no reino dos céus. Mt 5.19
Agora vemos que o próprio texto
bíblico refuta essa interpretação completamente fora do contexto original das Escrituras,
pois quem ensinar que os mandamentos não são mais válidos, terá a devida
punição, ou seja, a Torah e as alianças entregues pelo Eterno, continuam
plenamente válidas.
Tradução
O texto grego traz a palavra “plerosai”,
que foi traduzida como “cumprir”. Vejamos os demais significados da
palavra grega “plerosai” segundo o léxico de Strong (o mais usado no
mundo inteiro):
1) tornar cheio, completar,
i.e., preencher até o máximo
1a) fazer abundar, fornecer ou
suprir liberalmente
1a1) Tenho em abundância,
estou plenamente abastecido
2) tornar pleno, i.e.,
completar
2a) preencher até o topo:
assim que nada faltará para completar a medida, preencher até
borda
2b) consumar: um número
2b1) fazer completo em cada
particular, tornar perfeito
2b2) levar até o fim,
realizar, levar a cabo, (algum empreendimento)
2c) efetuar, trazer \a
realização, realizar
2c1) relativo a deveres:
realizar, executar
2c2) de ditos, promessas,
profecias, fazer passar, ratificar, realizar
2c3) cumprir, i.e., fazer a
vontade de D-us (tal como conhecida na lei) ser obedecida como deve ser, e as
promessas de D-us (dadas pelos profetas) receber o cumprimento
Então, vemos que o significado
mais utilizado para a palavra “plerosai” é “tornar cheio, completar,
i.e., preencher até o máximo”. Então a melhor tradução para esse versículo
seria:
“Não penseis que
vim destruir a Torah ou os Profetas. Não vim destruir, mas completar”
Agora o texto concorda totalmente
com o contexto original das Escrituras, ou seja, Yeshua não veio para acabar
com a lei, ou os profetas, não veio para levar Israel à apostasia, pelo contrário,
ele veio trazer o sentido completo da Torah, em um momento em que o legalismo
e a hipocrisia estavam desviando Israel da verdade (cumprindo as funções do
Mashiach ben Yossef, que era conduzir Israel através da vontade do Eterno e
restaurar espiritualmente Israel).
Já vi pessoas dizendo que quanto
Yeshua diz "até que tudo se cumpra", ele está se referindo ao
cumprimento da Torah e dos Profetas por ele, só que a palavra usada aqui tem um
significado completamente diferente, vamos ver o significado da palavra "ginomai"
(cumpra - usada nessa frase):
1) tornar-se, i.e. vir \a
existência, começar a ser, receber a vida
2) tornar-se, i.e. acontecer
2a) de eventos
3) erguer-se, aparecer na
história, aparecer no cenário
3a) de homens que se
apresentam em público
4) ser feito, ocorrer
4a) de milagres, acontecer,
realizar-se
5) tornar-se, ser feito
Então a melhor tradução para a
frase "até que tudo se cumpra", para evitar confusão deveria
ser "até que tudo o que tiver de acontecer, aconteça".
Curiosamente, existem pessoas que
atribuem a passagem de João 19.30, quando Yeshua toma o vinagre e diz: "Está
consumado!" à passagem de Mateus 5.17-19, afirmando que ali se deu o
cumprimento que Yeshua falou em "até que tudo se cumpra". Vou
mostrar aqui que a palavra usada não tem nenhuma relação com a palavra
utilizada em Mateus 5.18, pois a palavra usada naquele momento deriva da
palavra grega "teleo", que significa:
1) levar a um fim, finalizar,
terminar
1a) que passou, que finalizou
2) realizar, executar, completar,
cumprir, (de forma que o realizado corresponda \aquilo
que foi dito; ordem, comando
etc.)
2a) com especial referência ao
assunto tema, cumprir os conteúdos de um comando
2b) com referência também \a
forma, fazer exatamente como ordenado, e geralmente
envolvendo a noção de tempo,
realizar o último ato que completa um processo,
realizar, cumprir
3) pagar
3a) de tributo
Então temos três palavras
diferentes, com significados diferentes, usadas em contextos diferentes, e por
isso não têm nenhuma relação entre si.
2º - Mateus 12:8 Porque
o Filho do Homem é senhor do sábado
Interpretação Comum
Yeshua é o senhor do sábado e por
isso quem crê nele não tem de guardar o sábado (Shabat) como manda a lei.
Refutação
Vamos ver o texto completo:
Por aquele tempo, em dia de
sábado, passou Yeshua pelas searas. Ora, estando os seus discípulos com fome,
entraram a colher espigas e a comer. Os fariseus, porém, vendo isso,
disseram-lhe: Eis que os teus discípulos fazem o que não é lícito fazer em dia
de sábado. Mas Yeshua lhes disse: Não lestes o que fez Davi quando ele e seus
companheiros tiveram fome? Como entrou na Casa de Elohim, e comeram os pães da
proposição, os quais não lhes era lícito comer, nem a ele nem aos que com ele
estavam, mas exclusivamente aos sacerdotes? Ou não lestes na Lei que, aos
sábados, os sacerdotes no templo violam o sábado e ficam sem culpa? Pois eu vos
digo: aqui está quem é maior que o templo. Mas, se vós soubésseis o que
significa: Misericórdia quero e não holocaustos, não teríeis condenado inocentes.
Porque o Filho do Homem é senhor do sábado Mt 12.1-8
O texto diz que os discípulos
colheram espigas no shabat e os fariseus repreenderam Yeshua por isso. Não
vemos em nenhum momento Yeshua dizendo que a partir daquele momento não teriam
mais que guardar o shabat, mas sim que em certas ocasiões era permitido que
a lei fosse “quebrada”, como por exemplo quando David e seus homens
comeram dos pães que só os sacerdotes podiam comer, pois tinham fome, tinham
necessidade de se alimentar. Outro exemplo é que os sacerdotes “transgridem”
o shabat para executar as tarefas no Templo. Da mesma forma os discípulos
precisam transgredir o shabat para que se alimentassem.
Acontece que na Torah existe uma
hierarquia de mandamentos, ou seja, pode acontecer de um mandamento ser
transgredido para que outro maior seja cumprido. Por exemplo, o caso da
circuncisão no shabat: Caso o 8º dia de um menino caia no shabat, ele deve ser
circuncidado da mesma forma, pois o mandamento da circuncisão é superior ao
mandamento da guarda do shabat. Então preservar a vida é mais importante do que
guardar o shabat, e é por isso que os discípulos de Yeshua ficaram sem culpa
por terem colhido espigas no shabat. Aqueles fariseus também sabiam disso, mas
buscavam pegá-lo em alguma armadilha.
Esse texto está imediatamente
ligado ao texto seguinte que diz:
Tendo Yeshua partido dali,
entrou na sinagoga deles. Achava-se ali um homem que tinha uma das mãos
ressequida; e eles, então, com o intuito de acusá-lo, perguntaram a Yeshua: É
lícito curar no sábado? Ao que lhes respondeu: Qual dentre vós será o homem
que, tendo uma ovelha, e, num sábado, esta cair numa cova, não fará todo o
esforço, tirando-a dali? Ora, quanto mais vale um homem que uma ovelha? Logo, é
lícito, nos sábados, fazer o bem. Então, disse ao homem: Estende a mão.
Estendeu-a, e ela ficou sã como a outra. Mt 11.9-13
Esse texto ilustra claramente o
que disse anteriormente, que um mandamento deve ser quebrado para o cumprimento
de outro mais importante. Segundo a lei, é lícito fazer o bem no shabat,
mas o que é fazer o bem no shabat? Coisas como comprar comida, comprar
remédios, curar, salvar vidas, enfim, tudo o que estiver relacionado com a
preservação da vida. E foi exatamente o que eles perguntaram: “É lícito
curar no shabat?” Todos eles sabiam que sim, só que mais uma vez queriam
testar Yeshua, que respondeu com toda a sua sabedoria: “logo, é lícito, nos
sábados, fazer o bem”. Inclusive vemos em Lucas o inverso, Yeshua indagando-os
se era lícito fazer o bem no shabat, salvar uma vida ou deixá-la perecer (Lc
6.9). Vemos que a reação daqueles fariseus a essa resposta foi a de conspirarem
contra Yeshua por medo de tanta sabedoria e conhecimento da Torah do ETERNO.
Outro versículo que
frequentemente é usado para refutar a guarda do shabat é este:
No primeiro dia da
semana, estando nós reunidos com o fim de partir o pão, Paulo, que devia seguir
viagem no dia imediato, exortava-os e prolongou o discurso até à meia-noite.
Atos 20.7
Segundo a interpretação cristã,
os discípulos se reuniam no primeiro dia da semana, e não mais no shabat como
era costume deles enquanto judeus. O fato é que a expressão "primeiro
dia" no idioma original quer dizer "imediatamente após o
shabat", ou seja, em uma cerimônia que termina o shabat, e o separa
dos demais dias da semana. Prova disso é que o discurso de Sha’ul durou até a
meia-noite, é muita incoerência pensar que Paulo pregou do domingo de manhã até
à meia-noite.
Acontece que no calendário
judaico, o dia começa no pôr do sol do dia anterior, por exemplo, o shabat
começa no pôr do sol da sexta-feira, e o domingo começa no pôr do sol do
shabat. Foi também nesse momento que Yeshua ressuscitou confirmando mais uma
vez a santidade do shabat.
3º - Mt 15.11 não
é o que entra pela boca o que contamina o homem, mas o que sai da boca, isto,
sim, contamina o homem.
Interpretação Comum
Yeshua falou que o que o homem
come não o contamina, portanto ele aqui aboliu as leis alimentares.
Refutação
Na verdade, o texto nem sequer
fala sobre as leis alimentares. O contexto aqui é o não lavar das mãos antes de
comer (tradição chamada de “netilat iadáim”). Yeshua quis dizer que não
é porque o homem não lava as mãos antes de comer, que ele vai ser contaminado (relativo
a pureza cerimonial e não física), porque é muito mais perigoso o que sai da
boca do homem do que o que entra pela boca através de mãos que não foram
lavadas. Basta ver o contexto específico do texto, e ver que esse texto não
permite generalização.
Ainda nesse tema de kashrut
(leis alimentares), gostaria de citar outro texto:
No dia seguinte, indo eles de
caminho e estando já perto da cidade, subiu Pedro ao eirado, por volta da hora
sexta, a fim de orar. Estando com fome, quis comer; mas, enquanto lhe
preparavam a comida, sobreveio-lhe um êxtase; então, viu o céu aberto e descendo
um objeto como se fosse um grande lençol, o qual era baixado à terra pelas
quatro pontas, contendo toda sorte de quadrúpedes, répteis da terra e aves do
céu. E ouviu-se uma voz que se dirigia a ele: Levanta-te, Pedro! Mata e come.
Mas Pedro replicou: De modo nenhum, Senhor! Porque jamais comi coisa alguma
comum e imunda. Segunda vez, a voz lhe falou: Ao que Elohim purificou não
consideres comum. Sucedeu isto por três vezes, e, logo, aquele objeto foi
recolhido ao céu. Atos 10.9-16
A interpretação cristã comum
sobre esse texto é de que o ETERNO purificou todos os animais e que por isso as
leis alimentares estavam abolidas. Só que mais uma vez as Escrituras esclarecem
esse aparente problema. Alguns versos mais para frente, Kefá (Pedro) nos
informa qual é a interpretação correta da visão que ele teve no terraço de
Cornélio:
Mas Pedro o
levantou, dizendo: Ergue-te, que eu também sou homem. Falando com ele, entrou,
encontrando muitos reunidos ali, a quem se dirigiu, dizendo: Vós bem sabeis que
é proibido a um judeu ajuntar-se ou mesmo aproximar-se a alguém de outra raça;
mas Elohim me demonstrou que a nenhum homem considerasse comum ou imundo; Atos
10.26-28
Vemos que a visão que o ETERNO deu
a Kefá, nada tem a ver com kashrut, mas sim com preconceito que os judeus
tinham com os gentios, a ponto de nem comerem na mesma mesa.
Vejamos este:
Um crê que de tudo
pode comer, mas o débil come legumes; quem come não despreze o que não come; e
o que não come não julgue o que come, porque Elohim o acolheu. Romanos 14.2,3
Por incrível que pareça, tem
gente que usa esse texto para dizer que quem ainda observa as leis alimentares
é “débil”. Aqui claramente fala sobre os vegetarianos que acham que se
comerem carne pecarão ou coisa parecida.
Textos como:
Não é a comida que
nos recomendará a Elohim, pois nada perderemos, se não comermos, e nada
ganharemos, se comermos. I Coríntios 8.8
São “campeões de audiência”
entre os que são tirados do contexto. O texto acima está inserido no contexto
dos alimentos sacrificados aos ídolos (I Cor 8.1-11), uma recomendação dos
apóstolos para os crentes gentios, para se absterem desse tipo de alimento.
Sha’ul diz para não investigarem a procedência do alimento, porém se souber que
foi oferecido a ídolos, não se deve comer.
O texto diz também que nem
todo alimento que é servido onde existe idolatria é oferecido a ídolos, mas
deve-se evitar comer nesses lugares pois se um irmão que não tem esse
conhecimento te vê comendo nesse lugar, vai ser levado a crer que se pode comer
o que for contaminado com ídolos, e você o terá feito pecar.
4º - Gálatas 3.10-13 Todos
quantos, pois, são das obras da lei estão debaixo de maldição; porque está
escrito: Maldito todo aquele que não permanece em todas as coisas escritas no
Livro da lei, para praticá-las. E é evidente que, pela lei, ninguém é
justificado diante de Elohim, porque o justo viverá pela fé. Ora, a lei não
procede de fé, mas: Aquele que observar os seus preceitos por eles viverá.
Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em
nosso lugar (porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado em
madeiro).
Interpretação Comum
Paulo pregava contra o
cumprimento da lei, chamando a lei de maldita e amaldiçoando aqueles que
estavam debaixo da lei. Cristo nos resgatou da maldição da lei, por isso quem
cumpre a lei, é maldito.
Refutação:
O que Sha’ul (Paulo) fala aqui é
a respeito do legalismo, e das obras do legalismo. O que é
legalismo? É o cumprimento da lei sem fé, e isso leva a cumprir a lei
mecanicamente e a interpretações completamente pesadas e sem sentido da Torah.
O legalismo é algo terrível, como podemos ver nos evangelhos. Por exemplo,
imagine que alguém tenta “burlar” a lei sem transgredi-la.
O texto bíblico manda não
adulterar, porém a pessoa mantém relações sexuais com seu cônjuge imaginando
outra pessoa. Essa pessoa imagina assim não estar pecando, pois não adulterou
de verdade. Isso é legalismo, pois a verdadeira interpretação do mandamento de
não adulterar é explicado por Yeshua quando ele diz que até mesmo olhar para
uma mulher com intenção impura, já adulterou.
A lei pode trazer maldição, mas
ela é maldita? De forma alguma!!! Como Sha’ul mesmo disse, a lei é santa; e o
mandamento, santo, justo e bom. (Romanos 7.12).
Mas então o que é “maldição da
lei”? É a maldição pelo não cumprimento da lei. Como está escrito:
Eis que, hoje, eu
ponho diante de vós a bênção e a maldição: a bênção, quando cumprirdes os
mandamentos de YHWH, vosso Elohim, que hoje vos ordeno; a maldição, se não
cumprirdes os mandamentos de YHWH, vosso Elohim, mas vos desviardes do caminho
que hoje vos ordeno, para seguirdes outros deuses que não conhecestes Dt
11.26-28
Então fica bem claro contra o que
Sha’ul pregava: legalismo!!! O legalismo leva a um cumprimento incorreto da
Torah, e o cumprimento incorreto é a mesma coisa que a transgressão da lei, e a
transgressão da lei traz a maldição.
Outro texto muito usado é:
De maneira que a
lei nos serviu de aio para nos conduzir a Cristo, a fim de que fôssemos
justificados por fé. Mas, tendo vindo a fé, já não permanecemos subordinados ao
aio. Gálatas 3.24,25
A palavra "aio"
quer dizer "tutor". O único caminho que o homem tinha para
seguir era o cumprimento da Torah. Ora, a Torah mostra o quanto o homem é
falho, pois sendo um espelho do caráter de Elohim e reflexo de Sua santidade, o
homem consegue enxergar as suas limitações, e isso nos leva ao Mashiach
(Messias), que com sua obra cobre todas as nossas limitações perante o ETERNO,
e por isso agora não precisamos mais morrer por causa da transgressão da Torah
que é natural ao homem, pois somos justificados pela fé em Yeshua que apaga
essas transgressões, porém a Torah é santa, e o mandamento, santo, justo, e
bom; e segundo o próprio ETERNO, é perpétuo. Então, não mais nos justificamos
no cumprimento da Torah, porém ainda devemos obedecê-la. Por quê? Porque ela
nos mostra o que é pecado aos olhos do Eterno:
Todo aquele que
pratica o pecado também transgride a lei, porque o pecado é a transgressão da
lei. 1 João 3:4
O próprio texto bíblico mostra
que Sha’ul, como um judeu e fariseu (Fp 3.5) cumpria a Torah e seguia a
tradição dos antepassados:
Uma vez em Roma,
foi permitido a Paulo morar por sua conta, tendo em sua companhia o soldado que
o guardava. Três dias depois, ele convocou os principais dos judeus e, quando
se reuniram, lhes disse: Varões irmãos, nada havendo feito contra o povo ou
contra os costumes paternos, contudo, vim preso desde Jerusalém, entregue nas
mãos dos romanos. Atos 28.16,17
Porque, no tocante
ao homem interior, tenho prazer na lei de Elohim. Romanos 7.22
Sabemos, porém,
que a lei é boa, se alguém dela se utiliza de modo legítimo. I Timóteo 1.8
No dia seguinte, Paulo foi
conosco encontrar-se com Tiago, e todos os presbíteros se reuniram. E, tendo-os
saudado, contou minuciosamente o que Elohim fizera entre os gentios por seu
ministério. Ouvindo-o, deram eles glória a Elohim e lhe disseram: Bem vês,
irmão, quantas dezenas de milhares há entre os judeus que creram, e todos são
zelosos da lei; e foram informados a teu respeito que ensinas todos os judeus
entre os gentios a apostatarem de Moisés, dizendo-lhes que não devem
circuncidar os filhos, nem andar segundo os costumes da lei. Que se há de
fazer, pois? Certamente saberão da tua chegada. Faze, portanto, o que te vamos
dizer: estão entre nós quatro homens que, voluntariamente, aceitaram voto;
toma-os, purifica-te com eles e faze a despesa necessária para que raspem a
cabeça; e saberão todos que não é verdade o que se diz a teu respeito; e que,
pelo contrário, andas também, tu mesmo, guardando a lei. Atos 21.18-24
A lei não salva, mas não cumprir
a lei por rebeldia, traz maldição. E as Escrituras ainda dizem que o pecado é a
transgressão da Torah (I Jo 3.4), como podem então pregar contra o cumprimento
da Torah se o pecado é a transgressão da Torah?
Então, vemos que, na verdade,
existe a pregação contra o legalismo. Resumindo, a pregação de Paulo é a
seguinte: Judeus vivam como judeus crendo em Yeshua e cumprindo as alianças
perpétuas firmadas pelo ETERNO, e gentios aprendam primeiramente a Torah sem o
peso do legalismo, conforme as recomendações de Atos 15 e crendo em Yeshua.
5º - Mt 11.13 Porque
todos os Profetas e a Lei profetizaram até João.
Quem lê esse versículo de forma
isolada, tem a impressão de que quando chegou Yochanan haMatbil (João, o
batista), a Torah e os profetas se tornaram obsoletos. Na verdade, o texto quer
dizer que chegaram com poder e força até João, sendo até então as únicas
revelações e fontes de informações sobre o ETERNO, mas então as Boas-Novas começaram
a ser proclamadas. No texto do "Novo Testamento Judaico"
(tradução do texto grego do Novo Testamento que restaura o contexto judaico das
Escrituras), está escrito:
"Até o tempo
de Yochanan, havia a Torá e os Profetas. Desde então, foram proclamadas as
boas-novas do Reino de Elohim, e todos tentaram forçar sua entrada nele."
O texto reforça a explicação que
foi dada acima, de que a ideia a ser passada é a de que somente havia a Torah e
os Profetas até que Yochanan chegou, pois a partir desse momento as Boas-Novas foram
anunciadas.
Espero que esse artigo ajude a
esclarecer alguns pontos do contexto original das Escrituras e que ajude a
enxergar, por trás de tanta névoa, o Yeshua judeu, rabino, fariseu, que amou a
Torah e a ensinou corretamente.
Autor Desconhecido
Texto revisado por Francisco Adriano
Germano
Notas
*Existem muitas outras
profecias a respeito do Messias, porém não é objetivo desse artigo tratar desse
assunto detalhadamente, mas sim resumido
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