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PARA OUVIR O CHAMADO DE ELOHIM

    A porção da Torá desta semana se inicia com uma cena profundamente significativa: “ E chamou Elohim a Moisés… ” (Vayikrá 1:1). O termo hebraico utilizado é " vayikrá ", indicando um chamado intencional, pessoal e afetuoso. Rashi, o renomado comentarista medieval, observa que esse mesmo Elohim Se dirige ao profeta gentio Bilam (Balaão), em Bamidbar/Números 23:4, com uma palavra semelhante, porém diferente: " vayikar ", que sugere algo casual, quase acidental.   Dois Encontros, Dois Corações   A distinção entre " vayikrá " (Ele chamou) e " vayikar " (Ele apareceu por acaso) carrega um ensinamento profundo. Segundo o mestre chassídico Shem MiShmuel, enquanto Moisés é chamado com ternura e propósito, Bilam apenas “cruza o caminho” de Elohim. A comunicação com o Divino, para Bilam, foi apenas um episódio — um evento passageiro que não transformou sua essência.   Bilam desejava colher os frutos da justiça — “Que eu morra a morte dos ...
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CHUKAT E O SANGUE DO MESSIAS: COMO A NOVILHA VERMELHA APONTA PARA YESHUA

A Parashá Chukat, em Bamidbar (Números) 19:1–22:1, nos apresenta uma das mais enigmáticas e profundas leis da Torá: a Pará Adumá , a Novilha Vermelha. Essa ordenança, com seus rituais aparentemente ilógicos de purificação da impureza de contato com um morto, tem intrigado comentaristas por milênios. Para nós, crentes em Yeshua, a Novilha Vermelha não é apenas um mistério antigo, mas uma sombra profética que encontra sua plenitude e significado derradeiro na obra redentora do nosso Messias Yeshua. Este artigo explorará as ricas conexões entre os ensinamentos de Chukat e as verdades reveladas na B’rit Hadashá (Novo Testamento).   A Novilha Vermelha: Um Paradoxo de Pureza e Impureza   A essência da Pará Adumá reside em seu paradoxo: a mesma substância que purificava o impuro tornava impuro aquele que a manuseava. Aqueles que preparavam as cinzas, ou mesmo aqueles que as aspergiam sobre o impuro, tornavam-se impuros até a tarde (Números 19:7-10). Este aparente contrasse...

UM MANTO INTEIRAMENTE AZUL

    O que o episódio de Korach pode nos ensinar hoje?   O episódio da rebelião de Korach, descrito no livro de Números (Bamidbar), é um dos relatos mais dramáticos da Torá. Mais do que uma simples disputa política, a história revela questões profundas sobre liderança, santidade, obediência e autoridade espiritual.   O rabino Jonathan Sacks (z”l), em seu comentário “A Cloak Entirely Blue” (Um Manto Inteiramente Azul), oferece uma leitura rica e atemporal dessa passagem. Vamos explorar o significado desse Midrash e como ele dialoga com os ensinamentos de Yeshua e os escritos apostólicos.   O que é Midrash?   Antes de tudo, é importante entender o que é Midrash .   Trata-se de um método clássico de interpretação dos textos bíblicos judaicos.   O Midrash vai além da leitura literal da Torá (o peshuto shel mikra , o sentido simples). Ele busca preencher lacunas, explorar contradições e revelar lições morais e espirituais esc...

DESCONHECIDOS CONHECIDOS

  Com medo do que os aguardava, os israelitas se perguntam se não seria melhor retornar ao Egito.   Há uma década, enquanto me preparava para a mudança para Jerusalém, fui agraciada – e por vezes sobrecarregada – com uma profusão de conselhos de amigos. As sugestões variavam amplamente, desde o melhor local para trilhas na Galileia até os melhores (e piores) lugares para comprar comida judaica. Contudo, em meio a essas orientações práticas, surgiram também inúmeros alertas.   "Leve xampu e analgésicos para o ano todo", diziam alguns, "porque será impossível encontrar os seus produtos habituais!" Outros alertavam: "Se você falar hebraico com sotaque americano, as pessoas tentarão se aproveitar de você." Havia até mesmo recomendações mais peculiares: "Lave todas as frutas e vegetais com sabão antes de comer, ou você vai ficar doente!" E, como mulher, recebi um aviso específico e bastante incisivo: "Nunca use um kipá em público; v...

CONSTÂNCIA E COERÊNCIA

  A Parashá desta semana, Behaalotechá , aborda temas significativos, como a Mitzvá (mandamento) do acendimento diário da Menorá (candelabro), os sinais divinos que indicavam quando o povo devia iniciar ou interromper suas jornadas no deserto, bem como alguns erros graves cometidos, tanto individual quanto coletivamente, como a queixa por alimento e o Lashon Hará (maledicência) proferido por Miriam.   Contudo, há um elemento único nesta Parashá que a distingue das demais: no meio da narrativa dos pecados do povo, há uma interrupção abrupta. De forma surpreendente, a Torá insere os versículos:   Acontecia que, partindo a arca, Moisés dizia: Levanta-te, Senhor, e dissipados sejam os teus inimigos, e fujam diante de ti os que te odeiam. E, pousando-a, dizia: Volta, ó Senhor, para os muitos milhares de Israel. Bamidbar/Números 10:35-36   Segundo o Talmud (Shabat 116a), esses dois versículos, destacados no texto por dois "Nun" invertidos, foram deslocado...

A DOUTRINA DA PSYCHOPANNYCHIA (SONO DA ALMA) À LUZ DAS ESCRITURAS

  A Psychopannychia, expressão derivada do grego que significa "sono durante toda a noite", foi o nome dado por João Calvino à sua obra escrita em 1542 para refutar o que ele chamava de heresia do "sono da alma". Os anabatistas e outros grupos sustentavam que, após a morte, a alma entra num estado de inconsciência total, aguardando a ressurreição. Curiosamente, embora Calvino pretendesse defender a ortodoxia cristã, sua obra baseia-se em pressupostos extrabíblicos, especialmente de origem platônica, ao afirmar que a alma continua consciente após a morte.   Este apêndice complementa o artigo intitulado "Morte, Alma e Ressurreição no Judaísmo: O que realmente diz a Bíblia". Nele, são examinados criticamente os fundamentos da Psychopannychia à luz das Escrituras Hebraicas (Tanach, comumente conhecido como "Antigo Testamento") e dos escritos apostólicos (Brit Hadashá, popularmente denominado "Novo Testamento"). O texto demonstra ...

MORTE, ALMA E RESSURREIÇÃO NO JUDAÍSMO: O QUE REALMENTE DIZ A BÍBLIA?

    No imaginário religioso judaico contemporâneo, é comum a crença de que o ser humano possui uma alma imortal que sobrevive à morte do corpo. No entanto, ao investigarmos as Escrituras Hebraicas, surge uma pergunta essencial: essa crença tem fundamento bíblico?   A Enciclopédia Judaica reconhece que a doutrina da imortalidade da alma foi introduzida no judaísmo “provavelmente sob a influência grega”. Tal influência helenística, ao longo do tempo, gerou uma tensão teológica entre duas concepções distintas: a ressurreição dos mortos e a imortalidade da alma. Conforme exposto pela mesma fonte, “essas duas crenças são, em essência, contraditórias”: enquanto a ressurreição pressupõe que os mortos aguardam, na sepultura, um futuro despertar coletivo, a imortalidade da alma pressupõe a existência contínua da alma em outra dimensão, logo após a morte física.   De acordo com a tradição rabínica posterior, tentou-se conciliar esse dilema com a ideia de que a alma...