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A GRANDE COMISSÃO: UMA PERSPECTIVA JUDAICA

Mateus 28:19 é um dos versículos mais debatidos e, talvez, mal compreendidos do Novo Testamento. Para muitos, a "Grande Comissão" é vista como a base do proselitismo cristão e, em particular, da doutrina trinitária. No entanto, ao examinarmos esta passagem com os olhos do primeiro século, imersos no contexto judaico de Yeshua e de Seus talmidim (discípulos), a mensagem se revela em uma luz totalmente diferente, mais rica e surpreendente.   O objetivo desse artigo é desmistificar a famosa ordem de Yeshua, para oferecer uma correta interpretação da sua famosa frase:   Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado (Mateus 28:19-20)   Para começar, é fundamental entender que Yeshua não era um mestre grego ou romano, mas um rabino galileu, e Seus discípulos eram judeus. Sua missão, portanto, deve ser compreendida à luz do Tanach (o “A...
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A VIRTUDE INTRADUZÍVEL

    No coração da Parashá Re'eh, em meio às leis do ano de shemitah (o ano de "libertação" das dívidas), reside um dos pilares mais significativos do judaísmo: o princípio da tzedacá .   Se houver um pobre entre os seus irmãos em qualquer uma das cidades da terra que YHWH, o seu Elohim lhe dá, não endureça o coração nem seja mesquinho com ele. Ao contrário, seja generoso e empreste-lhe generosamente o que lhe faltar, conforme a sua necessidade. (Deuteronômio 15:7-8)   A tzedacá está no cerne da compreensão judaica das mitzvot de bein adam le-chavero , os deveres interpessoais. É uma ideia que, embora remonte a quatro mil anos, permanece profundamente relevante e desafiadora. Para compreendê-la, é fundamental mergulhar em sua origem e significado.   Tzedacá e Mishpat: O Caminho de Elohim   O fundamento da tzedacá encontra-se em um dos textos mais reveladores do judaísmo, em Bereishit (Gênesis). Nele, a Torá explica a escolha de Abraão: ...

O EFEITO DAS NOSSAS ESCOLHAS

  A Parashá Ekev (ou Eikev), cujo nome significa "calcanhar" ou "consequência", nos apresenta um tema profundo e atemporal: a lei de causa e efeito. Tudo o que fazemos, ou deixamos de fazer, gera consequências – algumas visíveis imediatamente, outras que se manifestam com o tempo. Como bem observa o My Jewish Learning , "Ekev mostra que tudo o que fazemos — ou deixamos de fazer — tem consequências, mesmo que ainda não percebamos". A dualidade da palavra "Equeva" é, por si só, um ensinamento: as escolhas que fazemos nos "calcanhares" da vida, nos pequenos e aparentemente insignificantes detalhes, são as que definem o nosso caminho.   Causa e Efeito na Aliança   No centro da Parashá, Moshê (Moisés) repete ao povo os condicionais da aliança. Em Deuteronômio 11:13-15, ele deixa claro: “Se vocês ouvirem, guardarem e cumprirem os mandamentos” , então Elohim manterá a aliança, derramará chuva, concederá alimento farto e abençoará a ...

COMO NOSSA FIDELIDADE ATRAI AS NAÇÕES

Guardai-os, pois, e cumpri-os, porque esta será a vossa sabedoria e o vosso entendimento perante os olhos dos povos Devarim (Deuteronômio) 4:6   A Parashá Vaetchanan nos conduz a um dos ensinamentos mais poderosos da Torá: que a grandeza de Israel não está na força, na conquista ou no domínio, mas na sabedoria prática e na justiça compassiva que fluem da obediência à Palavra de Elohim.   Segundo as Escrituras, a missão de Israel é ser um exemplo vivo , uma sociedade em aliança com YHWH que inspire o mundo pela forma como vive, age e se relaciona. A Torá não foi dada para permanecer entre quatro paredes ou escondida nos rolos sagrados — foi dada para ser vista pelos olhos das nações .   A sabedoria que se manifesta na prática   O texto de Devarim 4 não diz apenas para crer, mas para guardar e cumprir os mandamentos, porque é através da prática — da vida cotidiana vivida com integridade — que a luz da Torá se irradia.   Yeshua expressa ess...

PALAVRAS, PACTO E JORNADA DE FÉ

A Parashá Devarim , que dá título ao quinto livro da Torá - Deuteronômio -, inicia com as famosas palavras: “Estas são as palavras (Devarim) que Moshê (Moisés) falou a todo Israel…” (Deuteronômio 1:1). Segundo o Rabino Jonathan Sacks, o uso de “premissas ou palavras” como nome não é casual. Ele destaca uma conexão poderosa: aquele que disse “não sou homem de palavras” torna-se o porta-voz mais eloquente de Elohim, cuja fala representa a presença divina atuando através da humildade de Moshê [1] .   Além disso, o livro de Devarim tem estrutura literária semelhante a um documento de pacto : apresenta premissa, narrativa histórica e renovação de compromisso entre YHWH e o povo à beira da Terra Prometida [2] .   Jornada, Lembrança e Repreensão Amorosa   Nesta parashá, Moshê relembra episódios-chave da travessia pelo deserto - desde o envio dos espias até as conquistas sobre Moabe e Amom - mediados por palavras de repreensão e incentivo a um novo povo prestes a...

A JORNADA PARA A TERRA PROMETIDA

E estas são as jornadas dos filhos de Israel… (Bemidbar/Números 33:1)   A Parashá Maasei que encerra o livro de Números listando 42 acampamentos — estações na longa caminhada do povo Israelita desde a saída do Egito até os limites da Terra Prometida. À primeira vista, essa lista pode parecer uma simples crônica de deslocamentos. No entanto, quando lida com atenção espiritual, revela um profundo mapa de transformação interior e coletiva.   A Torá, nesse trecho final de Bamidbar, não nos convida apenas a olhar para trás, mas a perceber o movimento como essência da vida com o ETERNO. É uma memória sagrada do que fomos, uma afirmação do que somos, e um chamado do que ainda podemos ser.   Jornadas como Formação Espiritual   Cada parada no deserto representa não apenas um local físico, mas uma etapa da alma. O deserto não é mero pano de fundo geográfico; é o espaço da dependência radical de Elohim, onde o pão desce do céu, a água brota da rocha, e a nuv...

O VALOR DA PALAVRA DADA

  A Parashá Matot ( בְּמִדְבַּר מַּטּוֹת – Números 30:2–32:42) trata, entre outros temas, da seriedade dos votos ( נְדָרִים nedarim) e juramentos ( שְׁבוּעוֹת shevuot) feitos diante de Elohim. Logo em seus primeiros versículos, a Torá estabelece que aquele que faz um voto ou juramento a YHWH não deve violar a sua palavra, mas deve cumprir tudo o que prometeu.   Quando um homem fizer voto a YHWH, ou juramento, para obrigar-se com renúncia, não violará a sua palavra; segundo tudo o que sair da sua boca, fará. (Bamidbar/Números 30:2)   Esse princípio revela o quanto a Torá valoriza a palavra dada — tanto perante os homens quanto diante de Elohim. A tradição judaica entende que a fala do ser humano, feita “à imagem e semelhança de Elohim”, tem um poder criador e vinculativo. Por isso, o mau uso das palavras ou o descuido nos compromissos pode se tornar um pecado grave diante do Eterno.   A tradição judaica e o peso das palavras   O Talmude (Ne...